quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

José Gorostiza: "Nocturno"

"Nocturno" José Gorostiza
A Eduardo Luquín


Esta noche sin luces y esta lluvia constante
son para las historias de aquellos peregrinos
que dejaban el lodo de sus buenos caminos,
cegados por la recia tempestad del instante,
y con paso más firme seguían adelante,
al lucir de los nuevos joyeles matutinos.

Esta noche sin luces aguardo ante mi puerta
los tres choques de aldaba que tocará un viajero,
y, no obstante, podría negarle mi dinero,
el calor de la alcoba o la paz de mi huerta;
pero vendrá a mi casa y al corazón alerta
porque siempre me busca cuando yo no lo quiero.

E iluminado por el espejo que brilla
-todo un campo de luz en las horas morenas-
al vaivén de las manos blancas como azucenas
me contará su historia agradable y sencilla,
y a sus labios, ocultos por la barba amarilla,
ha de fluir el canto mortal de las sirenas.

Ya no podré vencerle, ya no tendré la mano
fuerte para arrojarle de mi casa tranquila,
si apenas el relámpago negro de su pupila
le da el pequeño orgullo de llamarme su hermano,
mientras retiene un poco del cielo de verano
la lluvia pescadora con sus redes en fila.

Pero tú, que de nobles éxtasis te revistes,
no abras nunca la puerta para dar hospedaje.
Ten el oído sordo cuando ceda un ramaje
bajo la taciturna pisada de los tristes,
o busca el más secreto bálsamo si resistes
a no probar el ímpetu fantástico del viaje.



"Noturno"
(Tradução/transcriação de Adriano Nunes)


Esta noite sem luzes e esta chuva constante
são para tais histórias daqueles peregrinos
que deixavam o lodo de seus brandos caminhos,
cegados pela intensa tempestade do instante,
e com passo mais firme seguiriam adiante,
ao luzir dos joviais tesouros matutinos.

Nesta noite sem luzes ante esta porta
os três choques de aldraba que tocará um viageiro
e, não obstante, pod'ria negar-lhe o dinheiro,
o calor da alcova ou toda paz de minha horta;
porém virá à minha casa e ao coração alerta
porque sempre me procura quando eu não o quero.

E iluminado por um espelho que incendeia
- todo um campo de luz nessas horas morenas -
ao vai-vem das alvíssimas mãos como açucenas
me dirá sua história agradável e singela,
e a seus lábios, ocultos pela barba amarela,
há de fluir o canto mortal duma sereia.

Já não poderei vencê-lo, não terei a mão
forte pra atirá-lo de minha casa tranquila
se apenas o lampejo negro de sua pupila
dá-lhe o pequeno orgulho de chamar-lhe de irmão,
enquanto retém um pouco do céu de verão
a chuva pescadora com as redes em fila.

Porém tu, que de nobres êxtases te revestes,
não abras nunca a porta para dar hospedagem.
Tem o ouvido surdo quando cada uma ramagem
debaixo da taciturna pisada dos tristes,
ou busca o mais secreto bálsamo se resistes
a não provar o ímpeto fantástico da viagem.







In: GOROSTIZA, José. "Poesía y Poética". Madrid: ALLCA XX, 1997, páginas 16 e 17.

Nenhum comentário: