sábado, 30 de março de 2013

Hérib Campos Cervera: "Nivel del mar"

"Nível do mar" (Tradução de Adriano Nunes)


É como eu: sinto-o com minha angústia e meu sangue.
Resplendor de tristeza, vai ao encontro do mar,
para que o sol e o vento refresquem-no a agonia.
Paz na fronte tranquila, o coração em ruínas;
Quer viver ainda para morrer mais tempo.

É como eu: vejo-o com meus olhos perdidos;
também procura o amparo da noite marinha;
também carrega a rota parábola de um voo
sobre o remoto coração.

Vai, como eu, vestido de saudade noturna.
Erguidas as mãos, gerava o rumor oceânico,
está pedindo ao tempo marinho que o liberte
desse golpe de ondas sem tréguas que sacode
seu remoto coração, cheio de sombras.

É como eu: sinto-o como se fosse minha
sua estampa, moldada, pelo furor eterno
de seu mar interior.
Resplendor de tristeza,
está considerando - em vão - em não queimar a areia
co'o ácido amargo de suas lágrimas.

É como eu: sinto-o como se fosse meu
seu remoto coração, cheio de sombras...



Hérib Campos Cervera: "Nivel del mar"



Es como yo: lo siento con mi angustia y mi sangre.
Hermoso de tristeza, va al encuentro del mar,
para que el Sol y el Viento le oreen la agonía.
Paz en la frente quieta; el corazón, en ruinas;
quiere vivir aún para morir más tiempo.

Es como yo: lo veo con mis ojos perdidos;
también busca el amparo de la noche marina;
también lleva la rota parábola de un vuelo
sobre el anciano corazón.

Va, como yo, vestido de soledad nocturna.
Tendidas las dos manos hacia el rumor oceánico,
está pidiendo al tiempo del mar que lo liberte
de ese golpe de olas sin tregua que sacude
su anciano corazón, lleno de sombras.

Es como yo: lo siento como si fuera mía
su estampa, modelada por el furor eterno
de su mar interior.
Hermoso de tristeza,
está tratando -en vano- de no quemar la arena
con el ácido amargo de sus lágrimas.

Es como yo: lo siento como si fuera mío,
su anciano corazón, lleno de sombras...




In: CERVERA, Hérib Campos. "Poesías completas y otros textos" Edición de Miguel Ángel Fernández Argüello. Asunción: El Lector, 1996.

Hérib Campos Cervera: "Pequeña letanía en voz baja" (Para el recuerdo de Roque Molinari Laurin. -Donde estuviere.)

"Pequena ladainha em voz baixa" (Tradução de Adriano Nunes)
(Em memória de Roque Molinari Laurin. -Onde estiver.)

Escolherei uma pedra
E uma árvore.

E uma nuvem.
E gritarei teu nome
até que o cego ar que te carrega
escute-me.
(Em voz baixa).

Golpearei a pequena janela do orvalho;
estenderei uma amarra de cânhamo e resinas;
levantarei teu linho marinheiro
até o Vento Primeiro de teu Signo,
para que o Mar te chame
(Em voz baixa).

Choram-te: quatro pássaros;
um tédio de crianças e de títeres;
os jasmins noturnos de um pátio paraguaio.
E uma guitarra de quadras.
(Em voz baixa).

Chamam-te:
Tudo que é simples debaixo do céu;
a inocência de um pedaço de pão;
o punhado de sal que se derrama
sobre a toalha de um pobre;
o ver subordinado de um cavalo
e um cão desamparado.
E uma carta.
(Em voz baixa).

Também tenho chamado-te,
Em minha noite de altura e rutáceas.
(Em voz baixa).

Só tua saudade de agora e sempre
chamará por ti, na noite e no dia.
Em voz baixa.



Hérib Campos Cervera: "Pequeña letanía en voz baja"
(Para el recuerdo de Roque Molinari Laurin. -Donde estuviere.)



Elegiré una Piedra.
Y un árbol.

Y una Nube.
Y gritaré tu nombre
hasta que el aire ciego que te lleva
me escuche.
(En voz baja).

Golpearé la pequeña ventana del rocío;
extenderé un cordaje de cáñamo y resinas;
levantaré tu lino marinero
hasta el Viento Primero de tu Signo,
para que el Mar te nombre
(En voz baja).

Te lloran: cuatro pájaros;
un agobio de niños y de títeres;
los jazmines nocturnos de un patio paraguayo.
Y una guitarra coplera.
(En voz baja).

Te llaman:
todo lo que es humilde bajo el cielo;
la inocencia de un pedazo de pan;
el puñado de sal que se derrama
sobre el mantel de un pobre;
la mirada sumisa de un caballo,
y un perro abandonado.
Y una carta.
(En voz baja).

Yo también te he llamado,
en mi noche de altura y de azahares.
(En voz baja).

Sólo tu soledad de ahora y siempre
te llamará, en la noche y en el día.
En voz alta. 



In: CERVERA, Hérib Campos. "Poesías completas y otros textos" Edición de Miguel Ángel Fernández Argüello. Asunción: El Lector, 1996.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Adriano Nunes: "Neste momento raro" - Para a minha mãe

"Neste momento raro" - Para a minha mãe


Olhai, meu coração,
Não fiqueis desse jeito.
Se não quiserdes mais
Bater, pensai direito,
Ao menos. Bem estais
Protegido, no peito,

Vós, entre as grãs costelas
E o esterno. Vede o olhar,
Tão voraz, tão liberto,
Quer o mundo bem perto,
Em tudo se embriagar
Quer, às ilusões belas

Atado, sem o amparo
De nada. Minha mão,
Vede, como vos serve,
Como versos escreve,
Célere, coração,
Neste momento raro!

Cantai, meu coração,
Não fiqueis desse jeito.
Se não quiserdes mais
Pensar, batei direito,
É certo. Bem estais
Escondido, no peito.

Adriano Nunes: "Espera, espelho!"

"Espera, espelho!"


Dentro do in
Tangível o id
Entificável 
Ente entre
O que se vê

Enquanto se
Quer o que
Se quer en
Quanto se sente
O que

Se sente en
Quanto se esvai
O que se esvai
Enquanto
Se farta

Por dentro
Do olho
Do outro o in
Dizível até
Rever

Ter-se
Em espectro
Espaço aberto
Ignoto miolo
Casual casca

quinta-feira, 28 de março de 2013

John Keats: "Apollo to the Graces" (Tradução de Adriano Nunes)

"Apolo para as Graças" (Tradução de Adriano Nunes)

"APOLO"

Belíssimas damas, qual das três
Sairá comigo dessa vez?
Meus corcéis estão trotando no auge da aurora:
Belíssimas damas, qual das três
Sairá comigo dessa vez
A cruzar o milharal d' áureo outono que aflora?


"AS GRAÇAS RESPONDEM"

Eu, eu, eu irei
Leva-me a voar, Apolo rei,
Junto do teu ser,
Eu, eu, eu irei,
Para as muitas maravilhas ver
Irei, irei
E tua lira frouxa corda nunca terá:
Irei, irei,
Através do áureo dia soará.


John Keats: "Apollo to the Graces"

"APOLLO"

WHICH of the fairest three
To-day will ride with me?
My steeds are all pawing at the threshold of the morn:
Which of the fairest three
To-day will ride with me
Across the gold Autumn's whole Kingdom of corn?

"THE GRACES all answer"

I will, I - I - I
young Apollo let me fly
Along with thee,
I will- I, I, I,
The many wonders see
I - I - I - I
And thy lyre shall never have a slackened string:
I, I, I, I,
Thro' the golden day will sing.



In: KEATS, John. "Complete poems and selected letters of John Keats". New York: The Modern Library, 2001, pages 303 e 304.

terça-feira, 26 de março de 2013

José de Espronceda: "Himno a la inmortalidad"

"Hino à imortalidade" (Tradução de Adriano Nunes)


Salve chama criadora do mundo,
Língua ardente de eterno saber,
Porém germe, princípio fecundo
Que acorrentas a morte a teus pés!

Tu a inerte matéria espolias,
Tu a ordenas juntar-se ao existir,
Tu seu lodo modelas, e crias
Milhões de seres de formas sem fim.

Dissipa tuas obras em vão
A morte vencedora talvez;
De seus restos ergue tua mão
Novas obras triunfante outra vez.

Tu a labareda de sol fartas,
Tu revestes os cosmos de azul,
Tu a lua nas sombras de prata,
Tu coroas a aurora de luz.

Gratos ecos ao bosque sombrio,
Verde aparato às árvores dás,
Melancólica música ao rio,
Rouquento grito às ondas do mar.

Tu o aroma nas flores exalas,
Nas planícies suspiras de amor,
Tu murmuras da aragem nas asas,
Em Bóreas retumba a tua voz.

Tu derramas o ouro na terra
Em arroios de ardente metal;
Tu realças a joia que encerra
Em seu báratro profundo o mar.

Tu as lívidas nuvens estendes
Negro manto que agita Aquilon;
Com teu alento os ares acendes,
Teus rugidos infundem pavor.

Tu és pura semente de vida,
Manancial sempiterno do bem;
Luz do mesmo Criador desprendida,
Juventude e fulgor é teu ser.

Tu és força secreta que o mundo
Em seus eixos engendra a girar,
Sentimento harmonioso e profundo
Dos sóis que alegra a tua feição.

De teus feitos os séc'los que voam
Incansáveis artífices são,
Do espírito brilhante aprimoram
E embelezam a estreita prisão.

Tu em voraz, veloz torvelinho
Impulsionas-os enérgico, e vão;
E adiante em teu rápido caminho
A outros séc'los ordenas chegar.

Homem covarde, levanta a fronte,
Põe teu lábio em seu eterno ideal;
Tu serás como o sol no Oriente,
Tu serás, como o mundo, imortal.



José de Espronceda: "Himno a la inmortalidad"



"Himno a la inmortalidad"

¡Salve llama creadora del mundo,
Lengua ardiente de eterno saber,
Pero germen, principio fecundo
Que encadenas la muerte a tus pies!

Tú la inerte materia espoleas,
Tú la ordenas juntarse a vivir,
Tú su lodo modelas, y creas
Miles de seres de formas sin fin.

Desbarata tus obras en vano
Vencedora la muerte tal vez;
De sus restos levanta tu mano
Nuevas obras triunfante otra vez.

Tú la hoguera del sol alimentas,
Tú revistes los cielos de azul,
Tú la luna en las sombras de argentas,
Tú coronas la aurora de luz.

Gratos ecos al bosque sombrío,
Verde pompa a los árboles das,
Melancólica música al río,
Ronco grito a las olas del mar.

Tú el aroma en las flores exhalas,
En los valles suspiras de amor,
Tú murmuras del aura en las alas,
En el Bóreas retumba tu voz.

Tú derramas el oro en la tierra
En arroyos de hirviente metal;
Tú abrillantas la perla que encierra
En su abismo profundo la mar.

Tú las cárdenas nubes extiendes
Negro manto que agita Aquilón;
Con tu aliento los aires enciendes,
Tus rugidos infunden pavor.

Tú eres pura simiente de vida,
Manantial sempiterno del bien;
Luz del mismo Hacedor desprendida,
Juventud y hermosura es tu ser.

Tú eres fuerza secreta que el mundo
En sus ejes impulsa a rodar,
Sentimiento armonioso y profundo
De los orbes que anima tu faz.

De tus obras los siglos que vuelan
Incansables artífices son,
Del espíritu ardiente cincelan
Y embellecen la estrecha prisión.

Tú en violento, veloz torbellino,
Los empujas enérgica, y van;
Y adelante en tu raudo camino
A otros siglos ordenas llegar.

Hombre débil, levanta la frente,
Pon tu labio en su eterno raudal;
Tú serás como el sol en Oriente,
Tú serás, como el mundo, inmortal.




In: ESPRONCEDA, José de."Obras poéticas".Paris: Garnier Hermanos, 1873.(http://bib.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/p278/46883896878355496754491/index.htm)

segunda-feira, 25 de março de 2013

José de Espronceda: "Soneto"

José de Espronceda: "Soneto"

"Soneto"

Fresca, lozana, pura y olorosa,
Gala y adorno del pénsil florido,
Gallarda puesta sobre el ramo erguido,
Fragancia esparce la naciente rosa.

Mas si el ardiente sol lumbre enojosa
Vibra, del can en llamas encendido,
El dulce aroma y el color perdido,
Sus hojas lleva el aura presurosa.

Así brilló un momento mi ventura
En alas del amor, y hermosa nube
Fingí tal vez de gloria y de alegría.

Mas ¡ay!, que el bien trocóse en amargura,
Y deshojada por los aires sube
La dulce flor de la esperanza mía.




"Soneto" (Tradução de Adriano Nunes)


Fresca, exuberante, pura e olorosa,
Graça e adorno do suspenso florido,
Galharda posta sobre o ramo erguido,
Fragrância espalha a mais recente rosa.

Mas se o ardente sol fogueira enfadosa
Vibra, do cão em chamas acendido
O doce aroma e o colorir perdido,
Suas folhas lev' aura pressurosa.

Assim brilhou um tempo minha ventura
Nas asas do amor, e grácil fumaça
Fingi talvez de glória e alegria.

Mas ai! que o bem verteu-se em amargura,
E desfolhada pelos ares se alça
A doce flor do que eu esperaria.





In: ESPRONCEDA, José de."Obras poéticas".Paris: Garnier Hermanos, 1873.(http://bib.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/p278/46883896878355496754491/index.htm)

terça-feira, 19 de março de 2013

Adriano Nunes: "às claras"

"às claras"


o tempo não tem alma.
o tempo passa.
a penas, suave, à socapa, às claras.
apenas passa...
e o que de mistério há
sob esse céu nublado
é frio, fome, fúrias, fábricas, feridas, farsas,

a engrenagem enferrujada
do que na fala se acha,
todos os arquétipos e a nata
da falsa felicidade
a flutuar
no leite podre da esperança:
a existência, quem a alcança?

segunda-feira, 18 de março de 2013

César Vallejo: "La araña"

César Vallejo: "La araña"


Es una araña enorme que ya no anda;
una araña incolora, cuyo cuerpo,
una cabeza y un abdomen, sangra.

Hoy la he visto de cerca. Y con qué esfuerzo
hacia todos los flancos
sus pies innumerables alargaba.
Y he pensado en sus ojos invisibles,
los pilotos fatales de la araña.

Es una araña que temblaba fija
en un filo de piedra;
el abdomen a un lado,
y al otro la cabeza.

Con tantos pies la pobre, y aún no puede
resolverse. Y, al verla
atónita en tal trance,
hoy me ha dado qué pena esa viajera.

Es una araña enorme, a quien impide
el abdomen seguir a la cabeza.
Y he pensado en sus ojos
y en sus pies numerosos...
¡Y me ha dado qué pena esa viajera!



"A aranha" (Tradução de Adriano Nunes)



É uma aranha enorme que já não anda;
uma incolor aranha, cujo corpo,
uma cabeça e um abdômen, sangra.

Hoje a avistei de perto. E com que esforço
para todos os flancos
seus pés inumeráveis estendia.
E pensei nos seus olhos invisíveis,
os condutores nefastos da aranha.

É uma aranha que estremecia fixa
num filete de pedra;
o abdômen a um lado,
e por outro a cabeça.

Com tantos pés a pobre, sequer pode
resolver-se. E, ao vê-la,
atônita em tal transe,
hoje tive pena dessa viajante.

É uma aranha enorme, a quem impede
o abdômen acompanhar a cabeça.
E pensei nos seus olhos
E em seus pés numerosos...
E tive grã pena dessa viajante!




In: VALLEJO, César. "Obra Poética Completa". Alianza Editorial, 2006. Ver também em: ( http://www.literatura.us/vallejo/completa.html )

sábado, 16 de março de 2013

César Vallejo: "Yuntas"

César Vallejo: "Yuntas"

"Yuntas"

Completamente. Además, ¡vida!
Completamente. Además, ¡muerte!

Completamente. Además, ¡todo!
Completamente. Además, ¡nada!

Completamente. Además, ¡mundo!
Completamente. Además, ¡polvo!

Completamente. Además, ¡Dios!
Completamente. Además, ¡nadie!

Completamente. Además, ¡nunca!
Completamente. Además, ¡siempre!

Completamente. Además, ¡oro!
Completamente. Además, ¡humo!

Completamente. Además, ¡lágrimas!
Completamente. Además, ¡risas!...

¡Completamente!



"Pares" (Tradução de Adriano Nunes)



Completamente. Ademais, vida!
Completamente. Ademais, morte!

Completamente. Ademais, tudo!
Completamente. Ademais, nada!

Completamente. Ademais, mundo!
Completamente. Ademais, pó!

Completamente. Ademais, Deus!
Completamente. Ademais, quem!

Completamente. Ademais, nunca!
Completamente. Ademais, sempre!

Completamente. Ademais, ouro!
Completamente. Ademais, fumo!

Completamente. Ademais, lágrimas!
Completamente. Ademais, risos!...

Completamente!




In: VALLEJO, César. "Obra Poética Completa". Alianza Editorial, 2006. Ver também em: ( http://www.literatura.us/vallejo/completa.html )

quinta-feira, 14 de março de 2013

Adriano Nunes: "Elegia estoica"

"Elegia estoica"


Que mais me interessa
Senão essa pressa
De viver o agora
Que em mim se elabora?

Os sonhos de ontem
Que se danem. Contem 
Com o que se conta:
A existência pronta!

As dores de outrora
De moda estão fora.
Ah, quão importante
Este raro instante

Que se finca n'alma
E muito me acalma!
O dia de hoje?
Que em tudo se aloje

E dê-me o prazer
De me refazer
A cada segundo,
Um ser outro, a fundo.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Adriano Nunes: "Arte" - Para Antonio Cicero

"Arte" - Para Antonio Cicero 


Quem 
Vai
A
Bordo

Desse
Barco
Sem
Meta

Certa,
Sem
Rota
Feita,

Que

Tempos
Finca-se

Pedra
Sob
O
Riso

Do
Vento,
Nesse
Porto,

Mas
Que
Hoje
Tem

Velas
Tão
Belas,
Soltas?

Todos
Os
Ignotos
Sonhos

E
Os
Tantos
Modos

De
Tê-los
Sem
Ócio,


Brada
O
Bravo
Peito.

E
Para
Onde
Vão,

Com
Tanta
Pressa,
Fúria,

Como
Se
Dessem
As
Rédeas

Do
Des
Ti
No

Para
O
Ímpeto
Mais
Íntimo,

Como
Se
En
Ten

Des
Sem
Por
Que

As
Vidas
São
Como
São,

Com
Sério
Des
Fecho?

Para
As
Terras
Férteis

Da
Grã
Ra
Zão!

terça-feira, 12 de março de 2013

Adriano Nunes: "E, às manhãs, antes da escola" - Para a minha mãe

"E, às manhãs, antes da escola" - Para a minha mãe


Presto, atraído, atenção
Em todo trilho. Na praça
Do Pirulito, criança
Ainda, passava o trem.
Quase sempre era de carga,
Vindo de não sei lugar
Pra um itinerário além.

Ai, que logo me levassem
Os vagões como queria!
E, às manhãs, antes da escola,
A vista e os ouvidos dados
À víbora de metal
Imóvel, na expectativa
Do velho estridente trem.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Paul Verlaine: "Sagesse III-VI"

Paul Verlaine: "Sagesse III-VI"


Le ciel est, par-dessus le toit,
Si bleu, si calme !
Un arbre, par-dessus le toit,
Berce sa palme.

La cloche, dans le ciel qu'on voit,
Doucement tinte.
Un oiseau sur l'arbre qu'on voit
Chante sa plainte.

Mon Dieu, mon Dieu, la vie est là
Simple et tranquille.
Cette paisible rumeur-là
Vient de la ville.

-Qu'as-tu fait, à toi que voilà
Pleurant sans cesse,
Dis, qu'as-tu fait, toi que voilà,
De ta jeunesse ?



"Sensatez III-VI" (tradução de Adriano Nunes) 



Sobre o teto, o cosmo infinito,
Tão azul, calmo!
Sobre o teto, alto eucalipto
Embala a palma.

O sino, no infindo céu visto,
Doce ressoa.
Um pássaro ao eucalipto visto
Lamento entoa.

Meu Deus! Meu Deus! Eis que é a vida
Simples, tranquila.
Essa algazarra comedida
Vinda da vila.

-Tu, que choras tão sem medida,
Que a ti fizeste,
Dize, da juventude tida,
Que bem fizeste?





In: VERLAINE, Paul. "Sagesse". "Oeuvres complètes". Paris: Librairie Léon Vanier, Éditeur, Quatrième Édition, 1908.

Adriano Nunes: "No íntimo"

‎"No íntimo"


Partissem
As naus
Os barcos
As balsas
Os botes
Os tanques
Os caças
As mulas
As motos
As bigas
Os bondes
As bikes
Os trens
Os ônibus
Os jatos
Os carros
Partissem
Pra longe

Partissem
Os sonhos
Os planos
As chances
Os medos
Os frascos
Os pombos
As cartas
Os versos
Os filmes
Os quadros
As músicas
Os cantos
Os prantos
As preces
Às pressas
Partissem
Pra além

Em busca
Do amor
E dar 
Pudessem
Apenas
Por isso:
Que o amor 
Tem um
Só magno 
Acordo
Consigo:
De estar
Em um
Lugar
Que se
Pod'rá
Achar:
No íntimo!