terça-feira, 31 de maio de 2016

Walt Whitman: “Poets to come” (Tradução de Adriano Nunes)

“Poetas a vir” (Tradução de Adriano Nunes)


POETAS a vir! Oradores, cantores, músicos a vir!
Não é o agora que me justifica e responde a que vim,
Mas vocês, uma nova estirpe, nativa, atlética, continental, maior do que o que fora conhecido,
Despertem! Pois vocês devem justificar-me!
Eu mesmo apenas escrevo uma ou duas palavras indicativas para o porvir,
Eu avanço um instante apenas só para ir adiante e retornar nas trevas.
Eu sou um homem que, errando sem parar plenamente, volta um
olhar casual sobre vocês e, a seguir, afasta a face,
Deixando-o para que vocês provem-no e definam-no,
Esperando de vocês as coisas essenciais.

Walt Whitman: “Poets to come”

POETS to come! orators, singers, musicians to come!
Not to-day is to justify me and answer what I am for,
But you, a new brood, native, athletic, continental, greater than
before known,
Arouse! for you must justify me.
I myself but write one or two indicative words for the future,
I but advance a moment only to wheel and hurry back in the
darkness.
I am a man who, sauntering along without fully stopping, turns a
casual look upon you and then averts his face,
Leaving it to you to prove and define it,
Expecting the main things from you.

WHITMAN, Walt. Leaves of Grass. Philadelphia: David McKay, 1891–92. p. 18. In:____. http://www.whitmanarchive.org/…/LG/figures/ppp.00707.026.jpg. Acesso em 31/05/2016.

sábado, 28 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Aos meus 41 anos"

"Aos meus 41 anos"


Tudo passa
Tão depressa,
Os compassos,
As contendas,
Os contratos,
As conversas...
Tudo cessa
Mesmo rápido
E, assim, deixa
Sua marca.
Aqui, nessa
Pausa de
Tédio e táticas
Antitédios,
Resta a régua -
Vácuo e verbo.
Outro início
Menos rígido?
Outra dádiva
Que mais valha?
Ano a ano,
Quatro décadas
Mais um dia,
Quem diria?
Do menino
Muito magro
Que vivia
Sobre mapas
Debruçado,
Fez-se a fala.
Sobre a folha
Alva, anêmica,
Minha lida
Sem enigmas
E sem mágoas,
Em poemas
Fora feita.
Não me falta
Quase nada.
Vez ou outra,
A palavra!

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Fase Foda"

"FASE FODA"

DOFREIRE
DOFREIRP
DOFREIPR
DOFREPRO
DOFRPROF
DOFPROFR
DOPROFRO
DPROFROT
PROFROTA

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Paquera"

"Paquera"

A qui-
Mera
Mágica
Era
Ter-te,
Carne e
Casca,
Aqui,
Entre
Versos,
Para
Tudo
Ou
Nada,
Ter a
Asa
Que
Valha,
Dar-me
À álea
Da tara.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Nihil" - para Alberto Lins Caldas

"Nihil" - para Alberto Lins Caldas

Nem nume
Nem nome
Apenas
O que
Já se
Consome
Ó verso
Assume
Agora
O rumo
As rédeas
Do mundo!
Ó vácuo
Que abraça
A barca
Pra Ítaca!
Ó átimo
Que finca
O nada
Ao longo
Da vida
Que funda
O pathos
Ainda
Qual tinta
Dar à
Vez para
Que haja
Mais que
Palavras?

Adriano Nunes: "Quase um haicai" - para Alice Ruiz

"Quase um haicai" - para Alice Ruiz


Quando por um triz
Estava o verso, três fiz
Pra Alice Ruiz.

domingo, 22 de maio de 2016

Adriano Nunes: "O sumo quântico dos horizontes"

"O sumo quântico dos horizontes"


Não sei quais foram as noites.
Se eram quentes ou frias.
Só o teu corpo era,
Para mim, a quimera
Que eu, por tempos, abrigaria
Em cada impulso, em cada
Rota regida por cada manhã,
Quando palavras já não calhavam,
Quando teimavam em ser tudo.

Não sei mesmo. Talvez o espelho
Embaçado, os lençóis amassados,
O suor, o epidérmico atrito, a libido
Constatassem que isso
Era algum tipo de amor. Claro
Que não estou corrigindo erros!
Quem disse que tudo precisa ser amor
Para valer a dor ou o riso consolador?
O alicerce do estranhamento veio
Muito cedo. Qual desejo.
Há algo deliciosamente intacto
Nos arredores dos desenganos
Que me faz
Sentir a mesma implacável paz.
Prometi a mim mesmo, mas

Menti. Disse,
Quando ainda estava triste:
"Não volto mais a ler Baudelaire
Nem Balzac!"
Ah, a estupidez como ela é
Violentamente humana!
Dei-me por vencido.
Nada mais de trincheiras ou ataques
De surpresa. Nada adianta.
Era um solilóquio esquisito, preciso.

Pudesse, ao menos, ter-te dado
O quanto merecias. Não só
Trocados, miúdos, coisas já sem uso,
O sumo quântico dos horizontes
Inalcançáveis do olhar que some
Através da fresta da porta entreaberta.
Como quem vencera a guerra.
Medos, modos, mecânicas, moedas.
O lugar era o codinome longe.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Adriano Nunes: "O silêncio"

"O silêncio"

O silêncio
Pode ser
Mesmo o nada,
Pode ser
A palavra
Que se diz
Para si
Em silêncio,
A palavra
Que até é.
Pode ser
Um pedido:
Que se faça
O silêncio
Que preciso
For, adentro,
Feito ordem,
Rito e risco:
Dos amantes
Que se beijam,
A tal sorte?
O silêncio
Incontido,
Muito antes
De silêncio
Ser. Ou isso:
Norte nítido.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Quântico poder"

"QUÂNTICO PODER"


OESTADODEMOCRÁTICO
OESTADODEMOCRÁTICS
OESTADODEMOCRÁTISO
OESTADODEMOCRÁTSOB
OESTADODEMOCRÁSOBO
OESTADODEMOCRSOBOM
OESTADODEMOCSOBOMA
OESTADODEMOSOBOMAN
OESTADODEMSOBOMAND
OESTADODESOBOMANDO
OESTADODSOBOMANDOM
OESTADOSOBOMANDOMI
OESTADSOBOMANDOMID
OESTASOBOMANDOMIDI
OESTSOBOMANDOMIDIÁ
OESSOBOMANDOMIDIÁT
OESOBOMANDOMIDIÁTI
OSOBOMANDOMIDIÁTIC
SOBOMANDOMIDIÁTICO

Adriano Nunes: "Yarelim e o Leviatã"

"Yarelim e o Leviatã"


Difícil retornar por essa estrada,
Cercada de sicários e sedentos
Seres pelo poder, pelo prazer
De serem entes ágeis, de momento.
Yarelim segue, passo a passo, claro
Que precisa encontrar quem o acompanhe
Nessa jornada dura: combater
O grã Leviatã. Grave problema
É descobrir quais são e quantos são
Os Leviatãs. Não se sabe mesmo
Nem onde eles estão e o que fazem.
Yarelim está só. Todos são ele.
Todos sofrem bastante a solidão
De serem todos sós. O nosso monstro
Aumenta a cada dia. Já não é tolo,
Conhece bem as regras do vil jogo,
Conhece cada canto do cosmo tático
Das vantagens políticas, não perde
Por devorar os sonhos de Yarelim.
Primeiro, destruindo as fatuais
Verdades, alterando dados, lógicas,
Fazendo a ideia ser o sol do medo.
A seguir, imprimindo a informação
Moldada na moral própria, somente
Para consolidar a lida toda
Como um mérito, sempre argumentando
Que da felicidade se retira
Outro significado para a vida,
Que do trabalho toma-se um propósito
Menos tóxico e fútil para o sangue.
E diz que a liberdade está ao alcance
Do suor maquinário, num contrato.
Yarelim segue tonto. Não está
Pronto para o desastre. A que lugar
É preciso chegar? Àquele poço
Sem fundo? Àquela via para o nada?
Yarelim não aceita o signo "ordem
e silêncio" jogado, em golpe forte,
Em sua face. Vê que a chance pode
Ocorrer a qualquer instante. Sofre.
Segue. São dois agora. Cem milhões?
Yarelim não precisa mais temer
Os bons modos retrógrados do monstro.
Segue. Só. De si solto. Quase pronto
Para reconhecer que alimentava
O grã Leviatã co'a própria alma.

domingo, 15 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Porque só ser não calha"

"Porque só ser não calha"


Manhã de maio, mais
Ou menos nove para
Dez. Os móveis da casa
Festejam os meus ais.
Dói-me já ter a raiva
Dos enganos totais.
Teço mares e cais
Em mim: sentir-me basta.
Manhã de maio. Atrás
De tudo, a vida encara
Ser a vida, sem asas.
As vontades são más
Escolhas e mais nada.
Parece ser demais
O sol dos ideais...
Porque só ser não calha.

sábado, 14 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Ad libitum"

"Ad libitum"

Que se faça amor
Além da conta
Além dos contos
Além das compras
Além das coxas
Além dos cofres
Além dos cômodos
Além da cópula
Além dos corpos
Além do cosmo
Além das cópias
Além do cóccix
Além das colchas
Além dos comos
Além dos códigos
Que se faça amor

Adriano Nunes: "Fora de mim" - para a minha mãe

"Fora de mim" - para a minha mãe

Fora de cogitação
Outra ideia em vão!
Fora de órbita

Outra esperança morta!
Fora de qualquer suspeita
Outra rima é feita!
Fora do coração
Outra pancada não!
Fora da cabeça
Outra ilusão me abasteça!
Fora de moda
Outra fantasia me incomoda!
Fora de ordem
Outra linguagem me morde!
Fora de posição
Outro arranjo então?
Fora de lógica
Outra sinapse soçobra!
Fora de qualquer intenção
Outra frustração!
Fora de propósito
Outro protótipo hipnótico!
Fora do lugar
Outra saída haverá?
Fora do assunto
Outro báratro profundo!
Fora de sintonia
Outra estação bastaria?
Fora de tudo
Outro engano súbito!
Fora da situação
Outra fuga à mão!
Fora do mundo
Outro além espúrio!
Fora de pretensão
Outra dúvida como chão!
Do lado de fora
Do que me invade agora,
Para que eu ficar possa
Fora de mim,
Pôr-me à prova:
Será mesmo o amor
Que bate à porta
Do que se comemora
Em mim sem fim?

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Dar-me ao agora"

"Dar-me ao agora"

Breve, mais
Outra aurora.
A quimera
Já devora
Leis e ais
Orbitais.
Tanto faz
Se, por hora,
O amor fora
Joga a espera.
Ceder à
Luz que jorra,
Dar-me ao agora,
Quem me dera!

domingo, 8 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Ícaro"

"Ícaro"


Vi vo a
Vo  a r
Entre o
Sol e o
Mar
De ser-me
É a asa

Adriano Nunes: "O beija-flor"

"O beija-flor"

Vivo verde
A voar,
Tão
Rápido!
Tão
Frágil!
Tão
Livre!
Dado
Ao Ar!
A beleza
Retida
Esteticamente
Suficiente
Para fazer valer
A vida.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Adriano Nunes: "O que só sou some"

"O que só sou some"

Um estalo e... Logo
Outro estrondo pondo
Is em todo ponto,
Quase a mim impondo
Ter um cupom do
Que somente som
Quer mesmo ser. Como
Se não há propósito
Qualquer, se é óbvio
Que não estou pronto
Para o verso expor
Com um metro longo,
No soneto onde
O que só sou some?

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Adriano Nunes: "Vendem-se deuses"

"Vendem-se deuses"

Vendem-se deuses.
Do mais antigo
Ao mais moderno.
Preço de artigo
Sem importância.
Milagres não
São incluídos.
Não adianta
Reclamar. Não
São feitas trocas.
Devolução
De nenhum tipo.
Tendo defeito,
Nem oração
Que dê um jeito.
Esse é o risco.
Vendem-se deuses.
Do mais moderno
Ao mais antigo.

Adriano Nunes: "Yoravsev e as queixas de Daryn"

"Yoravsev e as queixas de Daryn"


Há pouco, Yoravsev abrira a loja
Que tudo vende e tudo compra.
De vários lugares, muitas pessoas
Vêm à porta do mercado, prontas
Para terem algo. Pouco importa
O valor. Ou o que se entende por
Valor. Da alma ao corpo, do sonho
À vida dura e cruel, mundos expostos
Para todos os mais diversos gostos.
Yoravsev arruma cada peça, com todo
Cuidado. Sabe bem que o seu Senhor
É uma fera ainda sem qualquer modo
Domesticado. E do outro lado do
Bairro podem-se ouvir os gritos soltos,
As queixas histéricas, esses sons
Do alto comando, quase incômodo
Para os que passam. Yoravsev só
Tem um pensamento: tirar o pó
Das horas do inalcançável robótico,
Pois sente que, além de vãos propósitos,
Há uma alegria tirânica e recôndita
Na obediência cega às repetidas ordens
Do Senhor Daryn. Ah, o mercado forte
Do velho Daryn! Parece ser um monstro
Com tantos membros, com tantos olhos
Que monitoram cada coisa posta
À venda. Uns perdem jeitos, juras, joias,
Outros compram rins, rezas, ritos, roubos, rosas.
Outros vendem outros já mortos
De esperanças e desenganos. Moços
Com deliciosos corpos propondo-se
A explodir, desde que lhes possam
Garantir no paraíso dar uma volta,
Ter um harém em troca. Já ouço -
Desculpem-me interromper o negócio
Descritivo! - um grito de horror do
Senhor Daryn: "venham todos! Todos!,
Eis a novidade vinda lá do fundo do fosso
Da mente dos homens! Só hoje
Estão à venda alguns deuses e - ouçam agora! -
A caixa de Pandora! Sim, a de Pandora!
Yoravsev, seu porco preguiçoso,
Traga a caixa para que os senhores
Possam contemplar e preço pôr!"
Bem que Yoravsev poderia, de novo,
Abrir a Caixa. Libertar o nada, o gozo
Espúrio das lembranças, o nome
Letal das ilusões que do amor brotam.
"Yoravsev, seu porco preguiçoso,
Não deixe essa caixa cair, veja o povo
Sedento de desejos por ela, por
Tudo que pode trazer tristeza e dor!"