domingo, 22 de maio de 2016

Adriano Nunes: "O sumo quântico dos horizontes"

"O sumo quântico dos horizontes"


Não sei quais foram as noites.
Se eram quentes ou frias.
Só o teu corpo era,
Para mim, a quimera
Que eu, por tempos, abrigaria
Em cada impulso, em cada
Rota regida por cada manhã,
Quando palavras já não calhavam,
Quando teimavam em ser tudo.

Não sei mesmo. Talvez o espelho
Embaçado, os lençóis amassados,
O suor, o epidérmico atrito, a libido
Constatassem que isso
Era algum tipo de amor. Claro
Que não estou corrigindo erros!
Quem disse que tudo precisa ser amor
Para valer a dor ou o riso consolador?
O alicerce do estranhamento veio
Muito cedo. Qual desejo.
Há algo deliciosamente intacto
Nos arredores dos desenganos
Que me faz
Sentir a mesma implacável paz.
Prometi a mim mesmo, mas

Menti. Disse,
Quando ainda estava triste:
"Não volto mais a ler Baudelaire
Nem Balzac!"
Ah, a estupidez como ela é
Violentamente humana!
Dei-me por vencido.
Nada mais de trincheiras ou ataques
De surpresa. Nada adianta.
Era um solilóquio esquisito, preciso.

Pudesse, ao menos, ter-te dado
O quanto merecias. Não só
Trocados, miúdos, coisas já sem uso,
O sumo quântico dos horizontes
Inalcançáveis do olhar que some
Através da fresta da porta entreaberta.
Como quem vencera a guerra.
Medos, modos, mecânicas, moedas.
O lugar era o codinome longe.

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