sábado, 31 de maio de 2014

Walt Whitman: "Here the frailest leaves of me"

"Aqui as mais frágeis folhas de mim" (Tradução de Adriano Nunes)


Aqui as mais frágeis folhas de mim

Aqui as mais frágeis folhas de mim, e, entretanto, as mais duráveis: 
Aqui sombreio e escondo os meus pensamentos - eu mesmo não os exponho, 
E, entretanto, eles me expõem mais do que todos os meus outros poemas.




Walt Whitman: "Here the frailest leaves of me"

Here the frailest leaves of me

Here the frailest leaves of me, and yet my strongest-lasting:
Here I shade and hide my thoughts—I myself do not expose them,
And yet they expose me more than all my other poems. 





WHITMAN, Walt. The Complete Poems. New York: Penguin, 2005.

WHITMAN, Walt. Leaves of Grass. Philadelphia: DAVID McKAY, PUBLISHER,1891-'2.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Quanto do ser sou"

"Quanto do ser sou"



23:40.

Daqui a pouco,
Serei um outro,
Será tudo -
Não me iludo -

Oito ou oitenta.
Pégasos, Pãs, Proteus...
Quanto do ser sou
Só eu? Ouço o

Que me move
A viável norte,
Este poema
Para os meus

Trinta e nove!

Adriano Nunes: "Medo"

"Medo"


Sempre tive medo da existência, do êxtase do existir, do elixir do que exala haver, do ser, do ser em si. Sempre. Do silêncio. Do si. Dos silêncios de silício. Dos simulacros. Do que quero de símio em mim. Medo do dia seguinte. Do segundo a seguir. Do que se esvai. Do que se. Do que se completa. Sem precedente. Sem premissa excludente. Mesmo. Do saber-me corpo e alma. Do sangrar. Do só ser. Apavorava-me a essência de tudo. A excelência. O excerto de mim. O excesso de limite. O espaço demarcado. O espaço em branco restrito. A folha em branco. O vácuo da embalagem plástica. Sempre tive medo de mim em mim. Do domar-me. Do sondar-me. Do ouvir sempre sobre a questão chave para chegar àquele ponto em que parece ser. O ponto. O istmo. Isso. O ego. O erro. Sempre tive medo dessa hora em que a forma se deforma ante modas. Hora sem hora. Porta entreaberta. Medo do íntimo. Medo dos pingos nos is. Dos is. Do êxito. Do id. Do que possa estar doendo. Do end. O em mim. Sempre. Porque sempre tive medo do que pode a palavra eu.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Invadido pela ilusão"

"Invadido pela ilusão"


Se é para durar ou não,
Isso jamais me questione,
Anote em mim seu telefone,
Com sorte, entrego-lhe a razão

Desenfreada, num poema,
Pra que o ritmo do amor, à mão,
Tenha, com mor satisfação.
O inenarrável tudo algema.

Se é pra ir além ou não,
Meu bem, não me pergunte isso.
Para que serve o paraíso
Invadido pela ilusão,

Pelo o que tanto fora escrito?
Se é para acabar ou não,
Que importa, tonto coração?
Esqueça! O agora é infinito.

domingo, 25 de maio de 2014

Carl Sandburg: "Maybe"

"Talvez" (Tradução de Adriano Nunes)


Talvez

Talvez ele creia em mim, talvez não. 
Talvez possa casar com ele, talvez não. 

Talvez o vento sobre a pradaria, 
O vento sobre o mar, talvez, 
Alguém, algures, talvez possa dizer. 

Repousarei a minha cabeça em seu ombro 
E quando ele me perguntar direi sim, 
Talvez.



Carl Sandburg: "Maybe"

Maybe


Maybe he believes me, maybe not.
Maybe I can marry him, maybe not.

Maybe the wind on the prairie,
The wind on the sea, maybe,
Somebody, somewhere, maybe can tell.

I will lay my head on his shoulder
And when he asks me I will say yes,
Maybe. 





SANDBURG, Carl. The Complete Poems of Carl Sandburg. San Diego: Harcourt Brace Iovanovich Inc., 1970.

sábado, 24 de maio de 2014

Carl Sandburg: "How much?"

"Quanto?" (tradução de Adriano Nunes)


Quanto?

Quanto me amas, um milhão de alqueires? 
Oh, muito mais do que isso, Oh, muito mais. 

E talvez amanhã só meio alqueire? 
Talvez amanhã sequer meio alqueire. 

E esta é tua cardíaca aritmética?
Este é o modo como o vento mede o tempo.




Carl Sandburg: "How much?"



How much?

How much do you love me, a million bushels?
Oh, a lot more than that, Oh, a lot more.

And tomorrow maybe only half a bushel?
Tomorrow maybe not even a half a bushel.

And is this your heart arithmetic?
This is the way the wind measures the weather.





SANDBURG, Carl. The Complete Poems of Carl Sandburg. San Diego: Harcourt Brace Iovanovich Inc., 1970.

Adriano Nunes: "Em sonhos e sobras"

"Em sonhos e sobras"



Agora canto a hora que não passa,
A dor que me corrói, os desenganos
Engavetados em mim, caos e mágoas,
O eterno retorno nietzschiano

A atormentar a fundo todo o âmago. 
Por que em sonhos e sobras se amalgama
O amor? Basta! Deem-me outra metáfora
Mais humana, liberta dos ocasos

Dos acasos, dos ácaros do instante,
Pra que evidente dê-se a vida, a arte
De tê-la atrelada à pura palavra,

Aquela que acalenta e à tona traz
A proeza da voz do coração,
Para que esplêndida esperança haja.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

"Nota de rodapé" - Para Carolina Bezerra

"Nota de rodapé" - Para Carolina Bezerra



O amor pelo estudo:
Um porto preciso,
Pleno paraíso,
Tal portento, tudo 

Que, sinto, o meu âmago 
Quer pra sempre, tanto,
Além das quimeras
Mágicas do agora.

Depois? Verso em volta,
Aquele prazer
Que é tido, até mais,
Do que é pra viver.

domingo, 18 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Sísifo"

"Sísifo"



Eu e o meu silêncio. Parceiros
De sonhos, de tempos inteiros,
De dores, desejos e medos,
De sombras, solidão, aedos
Cegos, nunca prontos pra o verso
Do ser, do que se faz imerso
No existir que sangra, que é breve,
Mas que em amor mor nos inscreve.
Por que agora despenca a pedra,
E tudo se verte em grã perda?
Eu e o meu momento. Guerreiros
De nós mesmos, sós, verdadeiros
Sísifos a reerguer a pedra
Que é sempre mais que qualquer pedra.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Adriano Nunes: lançamento do livro "Antípodas Tropicais"

Evento: Lançamento de "Antípodas tropicais" de Adriano Nunes. Editora Vidráguas

Dia 28/5/2014, às 11 horas 
Editora/Livraria Edufal. Campus da Universidade Federal de Alagoas







" Ao ler, em Antípodas tropicais, poemas em que admiravelmente convivem espontaneidade e virtuosismo, invenção e técnica, ousadia e erudição, inteligência e sensibilidade, fiquei feliz de poder não apenas confirmar, mas reforçar, minha convicção de que se encontra, em Adriano Nunes, um poeta contemporâneo que faz juz à melhor tradição da poesia brasileira."

Antonio Cicero


Se fosse um verso, Antípodas tropicais teria  sete sílabas. E é no andamento do verso curto que Adriano Nunes, neste novo livro, alcança excelentes  resultados. Nele avulta a rigorosa consciência da forma não apenas em seus sinais externos – a  consistente prática do  soneto, por exemplo – mas no domínio rítmico, na amplitude vocabular. Tudo isso, porém, ao largo do mero virtuosismo, pois Adriano conjuga a técnica a um efetivo e intenso temperamento lírico-meditativo, na insaciada  e inestancável  busca do outro, ainda que esse outro resida no próprio eu. A metalinguagem, que em muitos poetas se restringe a receitas domesticadas, em Antípodas tropicais  comparece viva e vigorosa, lançando-se sem cessar  ao “precipício de sentidos”,  destinação derradeira de todo poema. “

Antonio Carlos Secchin




"É impressionante a desenvoltura com que Adriano Nunes passeia pelo amplo repertório de formas, sempre com competência e intimidade no trato com a linguagem, mantendo ao mesmo tempo uma voz própria, original, cheia de belos achados."

Arnaldo Antunes

"Passeando com intimidade e destreza por diferentes ritmos e tons de discurso - da austeridade clássica à coloquialidade modernista, do metro preciso ao verso livre e deste às experiências mais construtivistas - , Adriano Nunes parece uma síntese impossível entre o poeta lírico e o formalista. De suas rimas raras, aliterações e inversões sintáticas, salta sempre uma surpresa, uma solução imprevista, um deslumbre sonoro-semântico que potencializa a linguagem."


Arnaldo Antunes.

Adriano Nunes: "Amor"

"Amor"


Ó quantas folhas rasgadas,
E madrugadas em claro!

A mais ampla tradução,
explicação, sinonímia,
relação, derivação,
conjugação, perspectiva,
totalidade, proeza,
possibilidade, síntese,
infinitude, questão
composição, antítese,
análise, conjunção,
configuração, metáfora,
tese, ponte, problemática,
solução, afirmação,
complementação, sistemática,
acomodação, textura,
definição, conexão,
constatação, quintessência,
lógica, ad infinitum,
para o que ser pode o amor
dá-se em uma só palavra:
Poesia.

Só a Poesia
abrange todos matizes
e os sentidos mais do amor,
o amor-amor, o amor em
si, o amor mor. O amor que
se quer amor. Amor só.

Adriano Nunes: "A nove chaves guarda o"

"A nove chaves guarda o"



A nove chaves guarda o
Vate o seu mor tesouro, 
Dentro do cofre-tempo,
Contra os olhares de um
Crítico esfomeado, 
Contra todo artifício
Da malícia , do ego
Alheio, do seu próprio
Medo de ser tomado
Sob quaisquer vãs medidas,
Abrigando-o no breu
Do móvel, com os ácaros.
Guarda-o, aflito, mas sabe,
No fundo, que um poema
Quer mesmo estar inscrito
Em um livro, e não mais
Que isso, às garras do
Leitor, para ser lido.
A nove chaves guarda o
Vate a beleza, vela
Por ela, pois credita
A esse gesto a vida
Da lida que lhe outorga
A máxima alegria,
A que mais o completa:
A de reconhecer-se,

Sobretudo, poeta.

Adriano Nunes: "O que em meu ser saber-me edito"

"O que em meu ser saber-me edito"



Chove. Desaba o infinito
Sobre a velha casa, sobre-
Tudo, sobre a dor que cobre
O que em meu saber-me edito.

Manhã de assombros. Dito
Líquido que se descobre,
Gota a gota, agora, sobre
O olhar já no instante inscrito.

Chove. Do báratro íntimo,
Tento guardar o que estimo,
Em cada signo, qual ode

De Horácio, o grã sol, o de
Abrigar-me, e que bem pode
O estio à vez dar, no mínimo.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Que além está" - Para Antonio Cicero

"Que além está" - Para Antonio Cicero Oficial 




Dádiva linda
A tua vinda:
O céu desaba
Mais que palavra,
Espanto e praia.

Pessoa e a peça
Macbeth revista,

Sem pressa, perto
Do meio-dia.
Saudade e frio.

Quanta alegria
Lida no quântico
Ser de Caetano,
Nosso elogio.
E a ti, poeta,

Tudo interessa,
Outras conversas,
Outro horizonte
Sem lei ou nome,
O que se rompe:

O olhar fincando
Sobre o infinito
Do barco ao mar
Que além está
Do que é escrito.

domingo, 11 de maio de 2014

Erin Belieu: "Another Poem for Mothers"

"Outro poema às mães" (Tradução de Adriano Nunes)


Outro poema às mães 



Mãe, estou tentando 
escrever 
um poema pra você -

o qual é tal a maioria 
dos poemas às mães 
deve começar - ou, Que queria
dizer, Mãe ... mas
nós quais crias das mães,
mesmo quando mães somos,

não suportamos nossos poemas
a elas. Poemas às
mães fazem-nos sentir

pequenos de novo. Como descrever
esse cosmo em que as mães giram
e consomem e guardam

e amam-nos, que se alarga
além dos anos e homens e milhas?
Aquelas particulares mãos que poderiam

suavizar qualquer coisa: a manteiga no pão,
frescos lençóis ou o tempo. É
o portento delas, bom ou não,

Aquelas mãos maternas que afagam
e moldam e dão tapas,
que junto te preparam
as peças de um lar melhor
ou a vida na qual tentarás
viver. Mãe,

Não tenho feito melhor
que os demais, mas por hora,
eis a tua carência sagaz.




Erin Belieu: "Another Poem for Mothers"



Mother, I’m trying
to write
a poem to you—

which is how most
poems to mothers must
begin—or, What I’ve wanted
to say, Mother...but we
as children of mothers,
even when mothers ourselves,

cannot bear our poems
to them. Poems to
mothers make us feel

little again. How to describe
that world that mothers spin
and consume and trap

and love us in, that spreads
for years and men and miles?
Those particular hands that could

smooth anything: butter on bread,
cool sheets or weather. It’s
the wonder of them, good or bad,

those mother-hands that pet
and shape and slap,
that sew you together
the pieces of a better house
or life in which you’ll try
to live. Mother,

I’ve done no better
than the others, but for now,
here is your clever failure.




From The Poet’s Child (Copper Canyon Press). Copyright © 2002 by Erin Belieu.

Adriano Nunes: "Mãe"

"Mãe"


Desde o ovo a descer, óbvio, 
Pelas trompas de Falópio,
Eu já sabia que o ouro
Da vida eras, que outro
Tesouro era tão pouco
Se comparado aos teus olhos,
Ao amor que sempre é todo.

Depois, implantado, posto
Em teu ventre, parte do
Teu ser, no útero, solto
No sweet playground amniótico,
Sem entender de propósitos,
Mergulhava nesse cosmo
Em que agora sequer posso.

Hoje, a ti proponho um sol:
De abrigar-te em mim o sonho,
Adentro e bem fundo, após
Este abraço forte, em ode.
Do umbilical elo, a ponte
Para ir mais e mais longe
Por amar-te, por compor-te.

Mãe, celebro em mim teu nome,
Arquiteto o existir por
Saber-me, ante o teu rosto,
Grato, abençoado homem,
Pronto para o próprio norte,
Liberto de leis e louros,
Que sente que tudo pode.

Adriano Nunes: "Dever da voz e do olho"

"Dever da voz e do olho"



Cantar o dia! Eis a euforia
Que se dá, vasta, notória, 
No cerne de todo pássaro, 
Quando do infinito salta

O colorido da aurora, 
A sensação plena, nítida, 
De que vinga intacta a vida,
De que se amalgama o amor

Nas fibras da eternidade
Do que se quer recompor,
Que faz da contemplação

Outro canto de alegria:
Dever da voz e do olho
Celebrar o dia novo.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Elegia X"

"Elegia X"




Não precisaste mais de uma 
outra
Mentira. Não precisaste dar a
Última carta. A vida poderia 


Vingar sem invasivos desenganos,
Sem os tais festivos desassossegos
Do ego. Não precisaste sequer

Fingir tanto. O amor é mesmo um espanto.
Recontas agora todos milésimos 

De segundo que passaram em branco.

Quais quimeras a ti mais  interessam?
As desventuras do corpo, o fulgor

Do amor que em ti se processou, o medo,

As brutas desenvolturas do  âmago?
Tudo chegara ao ponto de existência 

Arruinada, por falta da palavra.

É que desculpas já não servem. Nada

Serve quando ao lápis a Arte escapa.
O pensamento errou todos os pesos.


Foste desfeito em ti, e o tempo deu-se

À métrica das taras e das máscaras,
Fincou-se em uma das tuas lembranças


Sem cor. O vácuo dos signos, da lei
A doer está sobre a folha anêmica.
Deixaste-te corromper pelo instinto

De algum verbo intransitável, partiste

De ti pra ti, mais cada vez mais triste.
Batida de resgate não havia.


Jamais imaginaste que amar fosse

Essa lança de sabre voraz, fria,
Com qual a ti e a mim feriste um dia.

Adriano Nunes: "Em que mais me revelo"

"Em que mais me revelo"



Entre o entretenimento
Do entendimento e o belo
Do querer que em mim velo,
Labor em que me invento,

O de, a qualquer momento,
Tecer versos, o elo
Em que mais me revelo,
Amor veraz, violento.

E tudo faz-se leve
Ante o infinito de
Um canto, d'uma ode.

E, à prova, se escreve
O magno dito de
Que um vate tudo pode.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Mesmo minha"

"Mesmo minha"


Manhãzinha
Mesmo minha.
Sol surgindo,
No além, lindo,
E o infinito
Faz-se inscrito
Em meu íntimo.

Manhã viva
Que a voz criva
De incontidos
Alaridos
Do porvir
Vasto ao vir,
Metro e ritmo.

Manhã minha
Que encaminha
Toda a lida
Já vertida
Em precisos
Paraísos
Que em mim rimo!

terça-feira, 6 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Empty"

Adriano Nunes: "Empty"


Empty

I need your dreams
Because I do not have anything.
But you say to me:
Your words are empty!


Let me alone here,
Let me be so free
Beyond rules, beyond me.
I want to see the sea

Of sounds, rhythms and rhymes
That is alive inside me.
Ó verse, I love your signs
And your senses make me fly!

I know, I know why I'm
Flying at this time!
What can my heart and eyes
Do for us?

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Por magna mágica"

"Por magna mágica"


Implacável o coração bate.
Noite adentrando em tantas palavras.
Noite apresentando-me às palavras
Que em mim se veem mesmo minhas, mas
Sem que as perceba ou as tenha à mão
Quando delas preciso demais.

Bate, bate coração,
E, ao céu estrelado do vernáculo,
Lança-me, porque vale
A brusca busca por arte e mágica,
Por um sentido raro,
Quântico tudo ou nada.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Adriano Nunes: "É mesmo pouco e não basta" -Para André Vallias

"É mesmo pouco e não basta" -Para André Vallias 



A banana. Originária
Da Ásia, uma pseudobaga
Do gênero Musa, a Musa
Dos antropoides primatas.

Fonte farta de potássio
E mesmo do artista plástico
Andy Warhol, desde à banda
The Velvet Underground à

Moda de Carmen Miranda,
A banana tropical
Dos balangandãs e da
Atitude indelicada.

Ou da bizarra banana
Nos estádios atirada
Para discriminação,
Distinção torpe de raça,

Moderna mácula humana:
O preconceito sem casca.
A banana sem razão
Como um armamento à mão.

'Marmelada de banana...'
Canta a Chiquita Bacana
Contra esse apartheid sacana,
O racismo radical.

Para tal, uma banana
É mesmo pouco e não basta.
Banana? Coitada! Mas
A reclusão aplicada!






quinta-feira, 1 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Porque mui se quis o amor"

"Porque mui se quis o amor"


Eu não sei o que dói mais:
Se a vida que vinga e voa
Ou se ser essa pessoa
Que, entre ideias, jamais
Entendeu o que a povoa.

Talvez aos poemas dada,
Como se houvesse, pra cada
Palavra pronunciada,
Uma saída escondida
Para iluminar a lida

Desgastante, a reviver
As ululantes quimeras,
Porque mui se quis o amor,
Além das sobras do ver,
Do que se pôde propor

Através do coração.
Não, não são todas as meras
Armadilhas das vontades,
Das tantas taras que ardem
Ante as coisas que só são.

Que dor! Quântica tristeza!
Nem a métrica da esp'rança
Consegue bem resolver
A dicotomia fria
Que em mim finca-se, e alcança

As maiores redondilhas
Que teço para invocar
Erato, a plena beleza
Que existir na poesia
Só deve, o labor mais leve!

E tudo dói porque é tudo.
A vez me decifra. A Esfinge
Que não pude ser me atinge
Em cheio, rasga a laringe
De grafite... E fico mudo!



Diego Hurtado de Mendoza: "Una copla a Venus"

Uma copla a Vênus (Tradução de Adriano Nunes) 



Vênus se vestiu uma vez
em hábito de soldado.
Páris, feito parte e árbitro,
dissera ao vê-la espantado:
"Formusura confirmada
com nenhum traje se muda;
a que vês que vence armada
mui melhor vence desnuda."



Diego Hurtado de Mendoza: "Una copla a Venus"



Una copla a Venus


Venus se vistió una vez
en hábito de soldado.
Paris, ya parte y juez,
dijo de verla espantado:
"Hermosura confirmada
con ningún traje se muda;
la que veis que vence armada
muy mejor vence desnuda."




MENDOZA, Diego Hurtado de. Poesía completa. Edición, introducción y notas de José Ignacio Díez Fernández. Barcelona: Planeta, 1989, p. 201.

Adriano Nunes: "De saber-me"

"De saber-me"


Temo o medo
De saber-me
Sob a métrica
Do desejo,

Rito e erro,
Risco de
Conceber-me
O poeta

Que em mim vejo,
Que conheço
Ao esquecer-me,

Quem me tenho,
Do arremedo
De mim mesmo.