quinta-feira, 29 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Medo"

"Medo"


Sempre tive medo da existência, do êxtase do existir, do elixir do que exala haver, do ser, do ser em si. Sempre. Do silêncio. Do si. Dos silêncios de silício. Dos simulacros. Do que quero de símio em mim. Medo do dia seguinte. Do segundo a seguir. Do que se esvai. Do que se. Do que se completa. Sem precedente. Sem premissa excludente. Mesmo. Do saber-me corpo e alma. Do sangrar. Do só ser. Apavorava-me a essência de tudo. A excelência. O excerto de mim. O excesso de limite. O espaço demarcado. O espaço em branco restrito. A folha em branco. O vácuo da embalagem plástica. Sempre tive medo de mim em mim. Do domar-me. Do sondar-me. Do ouvir sempre sobre a questão chave para chegar àquele ponto em que parece ser. O ponto. O istmo. Isso. O ego. O erro. Sempre tive medo dessa hora em que a forma se deforma ante modas. Hora sem hora. Porta entreaberta. Medo do íntimo. Medo dos pingos nos is. Dos is. Do êxito. Do id. Do que possa estar doendo. Do end. O em mim. Sempre. Porque sempre tive medo do que pode a palavra eu.

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