"Elegia X"
Não precisaste mais de uma outra
Mentira. Não precisaste dar a
Última carta. A vida poderia
Vingar sem invasivos desenganos,
Sem os tais festivos desassossegos
Do ego. Não precisaste sequer
Fingir tanto. O amor é mesmo um espanto.
Recontas agora todos milésimos
De segundo que passaram em branco.
Quais quimeras a ti mais interessam?
As desventuras do corpo, o fulgor
Do amor que em ti se processou, o medo,
As brutas desenvolturas do âmago?
Tudo chegara ao ponto de existência
Arruinada, por falta da palavra.
É que desculpas já não servem. Nada
Serve quando ao lápis a Arte escapa.
O pensamento errou todos os pesos.
Foste desfeito em ti, e o tempo deu-se
À métrica das taras e das máscaras,
Fincou-se em uma das tuas lembranças
Sem cor. O vácuo dos signos, da lei
A doer está sobre a folha anêmica.
Deixaste-te corromper pelo instinto
De algum verbo intransitável, partiste
De ti pra ti, mais cada vez mais triste.
Batida de resgate não havia.
Jamais imaginaste que amar fosse
Essa lança de sabre voraz, fria,
Com qual a ti e a mim feriste um dia.
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