quinta-feira, 8 de maio de 2014

Adriano Nunes: "Elegia X"

"Elegia X"




Não precisaste mais de uma 
outra
Mentira. Não precisaste dar a
Última carta. A vida poderia 


Vingar sem invasivos desenganos,
Sem os tais festivos desassossegos
Do ego. Não precisaste sequer

Fingir tanto. O amor é mesmo um espanto.
Recontas agora todos milésimos 

De segundo que passaram em branco.

Quais quimeras a ti mais  interessam?
As desventuras do corpo, o fulgor

Do amor que em ti se processou, o medo,

As brutas desenvolturas do  âmago?
Tudo chegara ao ponto de existência 

Arruinada, por falta da palavra.

É que desculpas já não servem. Nada

Serve quando ao lápis a Arte escapa.
O pensamento errou todos os pesos.


Foste desfeito em ti, e o tempo deu-se

À métrica das taras e das máscaras,
Fincou-se em uma das tuas lembranças


Sem cor. O vácuo dos signos, da lei
A doer está sobre a folha anêmica.
Deixaste-te corromper pelo instinto

De algum verbo intransitável, partiste

De ti pra ti, mais cada vez mais triste.
Batida de resgate não havia.


Jamais imaginaste que amar fosse

Essa lança de sabre voraz, fria,
Com qual a ti e a mim feriste um dia.

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