sexta-feira, 25 de maio de 2018

Adriano Nunes: “Poetry"

“Poetry"


Poetry is not this
Nor even this thing
That you are thinking.
Poetry is not what
You say that it is.
Poetry is poetry is...
From the beginning
Only Poetry.

Poetry is not only
This that they say it is.
It is even a strange mix
Of everything
That has been
Said. it is a labyrinth
Where you are at risk,
A dangerous risk

Of entering, of non-being.
Everything seems
To be allowed through it,
Seems to escape the
Abyss of oblivion, of plot,
To be what is and is not.
Poetry is myth
And sign and what

It wants to be, lies or loves.


Adriano Nunes

Adriano Nunes: "À porta do mar"

"À porta do mar"


Cheguei muito cedo àquele lugar.
Se havia algo de mim, se ainda há
Não sei. Só sei que os meus olhos fincaram-se
Na imagem potente - a densa alegria -
Da qual já não mais me posso afastar.
Pus esperanças e os risos à revelia, e a
Paisagem intacta mundos me oferecia.
Ah, dizem que sou o arauto dos desolados,
Dos que estão feridos, dos que só são.
Ah, ser é tão perigoso e até mesmo em vão!
Dizem isto, mas riem porque, de fato,
Não acham que sou. Mas a paisagem também
Parece que falava e, quem sabe, por isso
Estou nela, e ela está em mim, como se
Fincássemos presos a um labirinto íntimo.
Não sabemos quando a saudade arde e vem!
À porta do mar, falar-te de amor, cantar-te
Em amor, eu quis, como têm feito os poetas.
Ah, amplidão de sentidos, ilusão estética!
A seguir, deixei que a água os meus pés roçasse -
Porque quis sentir tato líquido, suave.
Quis gritar que te amava, ó proeza sináptica!
Quis romper os meus horizontes de desejos
E quânticos signos. Estava, ali, na praia,
Vendo o ir-e-vir das ondas e das gaivotas
Que mergulhavam no ar da manhã, daquela
Manhã, prima vez em que uma grã tela
De assombros e sóis pintei em minh'alma.

Adriano Nunes: “Neurônios de aço”

“Neurônios de aço”


Para que tanto stress?
Para que tanto estrago
No peito, no olhar, no
Papo, no gesto, claro,

Quando tudo é revés?
Por que mesmo até dez
Não contas? E mais dez?
Para que tanto amargo

N’alma, no corpo? Arauto
De que portento és?
Por que, já, de viés,
Não queres outro fado?

terça-feira, 22 de maio de 2018

Adriano Nunes: “À noite”

“À noite”


À noite, o meu corpo chama
Parece. Arde em vontades
Que são mais do que vontades.
Tudo em mim tudo além ama.

À noite, o meu ser proclama
A vez de ter liberdades
Que são sóis de liberdades.
Em mim nada se faz drama.

Ah, por que estou só na cama
Dos desejos? Que me invade
Nesta noite que me invade?
Ah, que prazer me programa?

Adriano Nunes: "Do pensar"

"Do pensar"

Noite alta.
Não há corpos
Mesmo próximos 
Nem calor
Para o amor.
Que me assalta?
Só o gozo
Bem gostoso
Do pensar
É que salta.

Adriano Nunes: “Tensão”

“Tensão”


Na fila
Do banco.
Na fila
Do crédito
- Que para! -

Da loja
Durante
A análise.
À espera
De exames,
Sem mágoas.

À espera
De deuses.
À espera
De tudo
Pra tudo
E nada.

Nenhuma
Tensão
Compara-se
À da
Palavra

Que se
Quer dada
À folha
Mais alva,
Sob áleas.

Adriano Nunes: "I do not know how to sing cities"

"I do not know how to sing cities"


I do not know how to sing cities.
My city is beautiful.
This is good for it.
It has many birds
With varied songs,
Exotic fishes that express hatred,
Stones that scream
By the tips of the fingers,
High and low plateaus,
Plains of said-not-said,
Alleys of distracted words,
Streets that need to be digested,
A suspension bridge,
Poles placed in readiness,
Places that embrace joys
And graces - Sometimes,
Some incident that hurts.
People?
I do not know how to sing cities...
My city is beautiful.
This is good for it.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Adriano Nunes: "Mãe"

"Mãe"


Bem antes
De estar
Aqui,

Bem antes
Até
De vir

Do implante
Do ovo
No útero,

Bem antes
De haver
Futuro,

Eu já
Estava
Seguro

Do amor
Que tinha
Pra dar

A ti.
Bem antes
De tudo.

domingo, 13 de maio de 2018

Adriano Nunes: "Mom"

"Mom"


My poem just wants
To say somenthig
About love to you.

First, undestand
My simple heart
That beats so fast

For everything that
Comes from your
Soul, and makes me

Feel very very
Happy happy.
Second, I left

My fears aside.
Mainly, the fear of
Being a beloved son,

Because your love
Is like an Ode
Written by Horace.

It is perfect!
It is eternal like
A Petrarch's sonnet.

Mom, dear Mom,
I know that you
Do not read it

In English, I
Know this, I Know.
But, I know also

That the language
Of love is just one:
This one that does

Not need translation!
Forgive me, Mom,
For my frail verses.

Here, I am, I am
Not interested in
Another aesthetic.

Poetry is naked.
Fully naked. I do
Not need any rules

To say to you
That I love you.
Look at it, look at

It: poetic rule
Does not serve!
Mom, my poem

Will photograph
You! Smile! Is my
Love! Just Smile!

Adriano Nunes: "Mother"

"Mother"


Early she wakes up.
And all Around
Sees: from the yard door
To the entrance
Door. Her heart
Not just be-

Ats (f ) ast: jumps
In broadness
Of infinity love
That she has,
That she keeps.
For us.

Clean clothes.
Ready table.
Only smiles
And even,
Sometimes,
Lesson, and
Reprimand.

Already tired
Of the daily
Great battle,
In bed she lies down.
The high sky plays
With the stars,

With joy, saying:
Down there,
Sleeps, cheerful,
A bright star.
Oh, how she shines!
Oh, how she shines!

Adriano Nunes: "Mãe"

"Mãe"


Cedo acorda.
Tudo em volta
Vê: da porta
Do quintal
À da entrada.
Coração

Não só dis-
Para: salta
À amplidão
Do amor mor
Que nos tem,
Que bem guarda.

Roupa limpa.
Mesa pronta.
Só sorrisos
E, até mesmo,
Umas broncas
Vez ou outra.

Já cansada
Da diária
Grã batalha,
Na cama deita.
O céu brinca
Com os astros,

Já dizendo:
Lá embaixo,
Dorme, alegre,
Uma estrela.

Adriano Nunes: "Who killed her?"

"WHO KILLED MARIELLE?"

WHOKILLEDHER
WHOKILLEDHE?
WHOKILLEDH??
WHOKILLED???
WHOKILLE????
WHOKILL?????
WHOKIL??????
WHOKI???????
WHOK????????
WHO?????????
WH??????????
W???????????
????????????

Adriano Nunes: Quem matou Marielle?"

"QUEM MATOU MARIELLE?"


MARIELLE
MARIELL?
MARIEL??
MARIE???
MARI????
MAR?????
MA??????
M???????
?????????

Adriano Nunes: "Madrugada, madrugada"

"Madrugada, madrugada"


Madrugada, madrugada,
Quem me escuta nesta hora
Em que a verve me devora,
Em que a vida é tudo e nada?

Madrugada, madrugada,
Quem mais me acompanha agora,
Além da vez que me cora,
Além da voz que me guarda?

Madrugada, madrugada,
Que cantam demais, lá fora,
As Bacantes, sem demora?
Paz, a que som és ligada?

Madrugada, madrugada,
A proeza me devora,
Põe-me à prova, e tudo aflora!
Madrugada, madrugada!

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Adriano Nunes: "Como déjà vu"

"Como déjà vu"


Que a tarde bem caia,
Ainda que tarde
Demais. Talvez, seja
Mesmo tarde para
Vir do ser-em-si.

Ah, vou-te pedir
Que venhas aqui,
Para veres se,
No verso, mais raia
O amor que se fez

Nosso, apenas nosso,
Em cada horizonte
Utópico, se
Raia, além das dádivas
Do medo da arte.

Pode ser que venhas
Até bem mais cedo,
Poderá ser mesmo
Que quimeras tragas,
Mancadas, quem sabe,

As falas não ditas,
Tropeços e os erros
Que nos engendraram
Deste jeito, presos
A algum recomeço,

Silêncios inteiros,
Os gozos agônicos,
Os meus mitos gregos...
Quem sabe, o desejo
De o amor ser real.

Ah, porém se a tarde
Cair além do
Que previ, não te
Esqueças de vir,
Ao menos, assim,

Em minhas sinapses,
Tal esta memória,
Como vida agora,
Como sempre quis,
Como déjà vu.

Adriano Nunes: "Maresia" - para Antonio Cicero

"Maresia" - para Antonio Cicero


Vento do mar...
Não há sereias
Silentes, há 
O sol na veia
Da verve, já
À vez se dar.

Passa o pensar...
A grã voz? Eia!
Passa-se a amar
O que incendeia
A vida, lá
Onde o ser há.

Vento no mar,
Quem nos rodeia
Está a par
De tudo ou teima
Em duvidar
Do som ao ar?

O sentir dá
Mil voltas e, à
Flor do olhar,
Sonhos semeia.
O que mais há
Além do lar?

Adriano Nunes: “Noturno”

“Noturno”


Entre o friozinho advindo
De Favônio e um medo de
Não sei o quê que me tira o
Sono, a voz de Bartoli,

Cantando árias de Mozart,
A minha existência invade.
Tudo ferve, tudo arde...
Ah, vácuos de vãs verdades!

Quem me penso ante a beleza
Da canção que ecoa aqui?
De quais eus meu ser se queixa?

Ah, por que me fiz tão só
Em cada verso, em estéticas
De áleas, e alheia espera?

Adriano Nunes: "Só" - para a minha mãe

"Só" - para a minha mãe


Só.
Sempre
Só.


Pedra
Sobre
Pedra.
Queda
Sobre
Queda.

Só.
Sempre
Só.

Louro
Sobre
Louro.
Gozo
Sobre
Gozo.


Sempre
Só.

Ah, sonhar
É tão pouco!
Quem me ouso?

E o fulgor
Atrativo e
Indiscreto

Do universo
A pulsar
Em redor.

Adriano Nunes: "Perder um amigo" - para Moanna Galvão

"Perder um amigo" - para Moanna Galvão


Perder um amigo dói
Ainda mais quando a morte,
Astuta e tão traiçoeira, 
Retira da nossa vista
A sua presença viva,
Dói como se já perdêssemos
Alguém da nossa família.

Perder um amigo é
Imergir em uma dor
Sem fim, num desassossego
Implacável. Mais queremos
Uma explicação legítima
Que nos acalme e nos dê
Sempre, a dele e a nossa vidas.

Perder um amigo é
Estar assim, muito triste,
Sem saber o porquê
De se perder um amigo.
Ah, funesto e rude dia!
Ah, dor que nunca se esvai,
Que dói, fere, mais e mais!

domingo, 6 de maio de 2018

Adriano Nunes: "Medo de amar n° 4" - para Péricles Cavalcanti (por seu aniversário)

"Medo de amar n° 4" - para Péricles Cavalcanti (por seu aniversário)


Todo mundo tem medo
Do amor, do amor mor mesmo.
Todo mundo tem, vejo,
Medo de amar a esmo.

No fundo, o mundo tem
Medo de o mundo ser
Um mundo de amor, ser
Um sem medo também.

Todo mundo tem medo.
Do amor, mito e arremedo.
Do mundo, como é mesmo.
No fundo, de si mesmo

Cada um tem demais medo.
Medo de ser até
Como quer, como é.
Parece amar o medo

Mais do que o amor. Não é
Fácil medos perder.
Não mesmo! Se der pé,
Ama-se a se perder.

Adriano Nunes: "Ah, ser é tão tenso!"

"Ah, ser é tão tenso!"


Os outros de mim
Onde estão?
Na ilusão 
De algum fragil fim

Ou vagam, assim,
Mesmo em vão,
Na emoção
De serem-me, enfim?

Nesta madrugada,
Em eus penso.
Ser é tudo ou nada,

Ah, ser é tão tenso!
Por que cada
Ser me soa intenso?

Adriano Nunes: "Nudez"

"Nudez"


Quando deita, quase
Madrugada, sobre
A página nobre,
Alva ainda, em fase

De teste, da frase
Ao verso, da pobre
Rima à rica, sobre-
Tudo quando à base

De sinapses, ela,
Minha poesia,
Não quer dar-se bela

Apenas. Seria
Querer pouco, à tela
De tanta alegria!

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Adriano Nunes: "VAZIO"


"VAZIO"




TANTACASASEMGENTE
TANTACASASEMGENTT
TANTACASASEMGENTA
TANTACASASEMGETAN
TANTACASASEMGTANT
TANTACASASEMTANTA
TANTACASASETANTAG
TANTACASASTANTAGE
TANTACASATANTAGEN
TANTACASTANTAGENT
TANTACATANTAGENTE
TANTACTANTAGENTES
TANTATANTAGENTESE
TANTTANTAGENTESEM
TANTANTAGENTESEMC
TATANTAGENTESEMCA
TTANTAGENTESEMCAS
TANTAGENTESEMCASA




Adriano Nunes

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Adriano Nunes: “Leveza”

“Leveza”

Do Lácio
Ao Leme

Ah, leve-me
Pra sempre!

Do Lete
A Lesbos

Ah, claro
Que o levo!

Da Lua
À Lícia

Deleite,
Delícia...

Da Líbia
A Laos

Do cais
Ao caos!

Do livro
Ao lar

Mais há
Lugar.

Adriano Nunes: "Uma alegria"

"Uma alegria"


Um outro verso
Pra ser diverso.
Que de mim quero,
Com vasto esmero?

Sentir? Pensar?
Uma alegria
Qualquer, no olhar,
Bem valeria.

Perguntarás
Se estou imerso
Em mim, se um às
Eu não teria

Para jogar
No instante certo.
Respondo: já
Estou, sim, mas

Somente o verso
Estando perto
É que capaz
Sou de ter paz.

Adriano Nunes: “Viver é cedo” - para minha mãe

“Viver é cedo” - para minha mãe


Passa das quatro.
Escrevo quadras
De quatro sílabas.
Estou no quarto,

E sonhos saltam
Do coração
Pra tudo ou nada.
Viver é vácuo.

Ah, solidão
Desmesurada,
Teus sóis que sabem
De mim, então?

Das quatro passa.
Quadras escrevo.
Sílabas? Quatro!
Viver é cedo.

E dores cravam-se
No peito. São
Os versos vãos?
Arte é sinapse.

Adriano Nunes: "O poema"

"O poema"


Sob chuva ou sol,
O poema se abre,
Desabrocha.
Põe tudo à prova.

Rocha a rolar sobre
A casca do tempo,
Vez ou outra
Resolve estar dentro

Do âmago do vate
Como se quisesse
Fugir da própria arte
De pronto entregar-se

À folha em branco.
O poema se expande
Quase espanto quase
Estrondo quântico.

Ri das regras rígidas
E dos limites estéticos
Dos ritmos, rimas e metros.
O poema de si se vale.

Adriano Nunes: "Da massa"

Da massa”


No meio
De todos
Um outro

Qualquer
Um mesmo
Quer mais

Que isso,
Mais que
Tem sido.

Até
Na massa
Acéfala

Resolve
Estar
Imerso.

Não tem
Um norte.
Nem sorte!

E curte
E transa
E vai

Atrás
Do que
Atrai,

Ainda
Que não
Entenda

De nada.
Do acaso
Fez casa.

Vai como
Um burro
De carga.

Adriano Nunes: "Depois de cada angústia domesticada"

"Depois de cada angústia domesticada"



Sempre a mesma aflição noturna.
O silêncio de tudo a corroer vorazmente
As expectativas. Quase assombro!
Ah, quimeras quânticas! Onde está Baco?
Por que parece não haver mais reparos?
Tragam-me a cicuta!
Tragam-me os açoites!
Ah, arquétipos humanoides
Que a Providência engendrou monstruosamente
Para dar cabo às esperanças!
Não me contem das suas conquistas transatlânticas!
Não me remetam aos seus descasos cibernéticos!
Tragam-me a forca e o banquinho!
Tragam-me a guilhotina e o riso do carrasco!
Está a vida ciente de todas as suas firulas frívolas.
Está o tempo sabendo de cada vontade e medo.
Será que chegaremos ao êxtase em existir
Depois de cada gole de algaravia,
Depois de cada angústia domesticada?
Tragam-me o fel das horas dilacerantes!
Tragam-me os ferros em brasa!
Que me importa o canto das cotovias, em Shakespeare?
Que me importa o piar do corvos, em Poe?
Ah, não me falem em milagres!
O único milagre de que bebo é o de Walt Whitman!
Ah, estranhíssima madrugada!
Ah, abalos de tempo! Como saber-te, Ilusão,
Sem que dilaceres o meu coração faminto?
Tragam-me os banquetes helênicos!
Tragam-me as Bacantes e os Faunos!
Deixem-me não ser quem me sinto e peso!
Nunca busquei salvação em meus versos.
Tenho horror ao conformismo comportadinho
Das cocotes metafóricas e dos verbinhos inúteis!
Rasguem os meus horizontes!
Queimem os meus murmúrios e minhas modas!
Ah, madrugada dos que se exilam em si!
Ah, hora que passa sem dizer a que veio!