terça-feira, 28 de novembro de 2017

William Blake: "The Smile" (Tradução de Adriano Nunes)

"O Sorriso" (Tradução de Adriano Nunes)

Há um Sorriso de Amor
Há um Sorriso de Engano
Há um Sorrir de Sorrisos
No qual se amalgamam ambos
E há um Esgar de Ódio
E um Esgar há de Desdém
E há um Esgar de Esgares
Que em vão tentas esquecer
Pois no Ictus Cordis finca-se
Fundo na Espinha Dorsal
E Sorriso sem ter sido
Mas Sorriso só somente
Que entre o Berço e o Jazigo
Vez só Sorrir pode ser
Mas quando Sorriso é
Finda as Misérias até

William Blake: "The Smile"

There is a Smile of Love
And there is a Smile of Deceit
And there is a Smile of Smiles
In which these two Smiles meet
And there is a Frown of Hate
And there is a Frown of Disdain
And there is a Frown of Frowns
Which you strive to forget in vain
For it sticks in the Hearts deep Core
And it sticks in the deep Back Bone
And no Smile that ever was Smild
But only one Smile alone
That betwixt the Cradle & Grave
It only once Smild can be
But when it once is Smild
Theres an end to all Misery

BLAKE, William. "The Smile". In:______. Poetry Foundation. Acesso em 28/11/2017.

Adriano Nunes: "Anywhere"

“Anywhere”


There or here.
Everything is
As everything 
Is. Like this.


Here or there.
All thoughts flare
Because they’re
Free in the air.

There or here.
Here or there.
All matters matter.
Ear is to hear.

Eye is to see.
All doubts dare.
There or here.
Here or there.

Adriano Nunes: "Cantar basta"

“Cantar basta”


Madrugada.
Das duas passa.
Talvez, nada
Mais me faça
Feliz. Alma -
Quanta para
Quê? Quem capta
A vez rara
Do que calha
Quando mágica
Faz-se a fala?
Solto, em casa,
Ser me afaga:
Dou-me asas...
Cantar basta!

Adriano Nunes: "Também este soneto"

“Também este soneto”

Já noite alta. Imerso
Em princípios e regras,
Em conceitos diversos,
Vou-me, assim, desfazendo,
Como se fosse essa a
Lida que me interessa.

Entre artigos e textos
Jurídicos me perco.
Da doutrina ao que atestam
Os precedentes, vejo
Quão complexo o Direito
É, cheio de incertezas.

Também este soneto
Estranho-o ao concebê-lo!

sábado, 25 de novembro de 2017

Adriano Nunes: "Pela arte"

"Pela arte"

Ler-te em cada
Canto da
Sala, em toda
Casa, sem
Mais mancada,

Dar-te, enfim,
Outro verso,
Outro abraço,
Cais diverso
Em que caço o

Mar sem fim
Do ser, laço
De algum bem
Que enfeitou
Nosso sonho.

Editar-te
Feito o dia
Que renasce,
Feito arte
Que irradia.

Reviver-te
No que vale
E componho,
Quase estrondo:
Por amor.

Adriano Nunes: "A beleza"

“A beleza”


Nem a lua
Sobre o teto.
Nem aquela
Bela estrela

Tão distante
Que parece
Um planeta
Que se deixa

Voltas dar
Em seu eixo,
Por não já
Ser ao sê-la,

Piscar, lá.
Nem o báratro
De um olhar?
Não se esqueça

Do reflexo
Sobre o mar!
Sequer rastros
De um cometa

Que pareça
Ser estrela.
O que quer
Que bem seja.

Talvez vácuo
Vasto, o átimo
Do pensar
- Verve acesa! -

Que há noite,
Sobre tudo
Que há, sobre
As certezas...

Que mais há
Nesta noite,
Sobretudo?
A beleza?

domingo, 19 de novembro de 2017

Adriano Nunes: "Entre esperanças"

“Entre esperanças”

Novembro esvai-se.
Quase dezembro.
Quase me lembro
Do que não arde
Mais, nesta tarde.
Quase outro ano.
E foram tantos!
Presa, contida,
A eternidade!

Sem ti, segui.
Doeu bastante
Naquele tempo,
Porque do amor
O fim é, antes
De tudo, corte
Demais sangrento.
Ah, livre olhar
Que molda a arte

Do que não há
Entre esperanças
Sem norte! Sorte
De quem em ti
Pode pousar!
O verde estando
Mesmo presente
E assombros que
Do sol se valem:

Marrom e cinza,
O campo aberto
Mais se estende...
Ser de repente?
Sem ti, que tenho
Feito de ti
Em mim, se quase
Não há mais nexo
Para a saudade?

Adriano Nunes: "Manhã"

“Manhã”

Não sei
Se segue
O carro
Dourado
De Hélio
A trilha
Por Zeus
Traçada.

Será
Que Apolo,
De novo,
Sob manha,
Furtou
Do dia
As rédeas,
A saga,

E brinca
Co’ a sina
De tudo
Que a vida
Anima?
Ah, clara
Aurora
Sináptica!

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Adriano Nunes: "Saudade"

“Saudade”

A tarde
Desfaz-se.
Que fiz
De mim?
Que anseio?
Que vale
Ser mesmo?

Feliz
Quem é,
Se antes
Do fim
Até
A álea
Lançada

Já não
Diz nada?
Desfaz-se
A tarde
Perante as
Palavras
Sem rédeas.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Adriano Nunes: "Ars poetica"

"Ars poetica"

A arte
Com calma
Tem carne
E alma,

Não tem
A pressa
Que tudo
Tem, mas

Bem antes
De ter
O que
Tem tudo,

A arte
Tem tempo
Pra ter
Seu tempo

No mundo.
Pois bem:
A arte
Vez tem.

Alexander Posey: "Autumn" (tradução de Adriano Nunes)

"Outono" (tradução de Adriano Nunes)

No sonhador silêncio
Da tarde, uma
Veste áurea é tecida
Sobre o prado e a mata;
E o pássaro, há pouco
Caído do cosmo,
Acenos cordiais espalha,
E o ar é preenchido com
Folhas rubras, que, caindo,
Erguem-se de novo, como sempre,
Com um suspiro inútil para
Repousar - e é Outono.

Alexander Posey: "Autumn"

In the dreamy silence
Of the afternoon, a
Cloth of gold is woven
Over wood and prairie;
And the jaybird, newly
Fallen from the heaven,
Scatters cordial greetings,
And the air is filled with
Scarlet leaves, that, dropping,
Rise again, as ever,
With a useless sigh for
Rest—and it is Autumn.

POSEY, Alexander. "Autumn". In:_____. The Poems of Alexander Lawrence Posey (Crane & Co., 1910). This poem is in the public domain.

sábado, 11 de novembro de 2017

Adriano Nunes: “Canção da manhã”

“Canção da manhã”


Alto cantam os pássaros
A aurora anunciando.
Não só os galináceos 
Sobre o muro. Rápidos
Ritmos de periquitos
Vêm além e contínuos,
Como se fossem hinos
Em louvor matutino
À vida do que ferve
Ante a força das rédeas
Do deus Hélio. Decerto,
Os cavalos despertos
Estão! Sonhos tão novos!
Ah, quantos vãos propósitos
Abrem bocas e olhos
Pra desejos ignotos!
Avexam-se avestruzes
Ao primo raio. Urge
O devir que mais supre
O sol de cada um.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Adriano Nunes: “Yarelitzev”

“Yarelitzev”


Naquele dia, Yarelitzev morreu.
Não se ouviu pranto.
Não se ouviu pio de corujas.
Não foram vistos peregrinos na estrada
Que leva a Kranóvia.
Seu corpo estendido no piso frio do quarto
Apenas indicava que nada mais poderia
Ser feito para Yarelitzev.
Precisamos ter um pouco de calma.
Não se deve ter pressa para dizer dos mortos
Que eles não mais poderão ter sonhos,
Que eles não mais poderão ter sorte,
Que eles não mais poderão ter somas ou subtrações
Entre as subidas e descidas de escadas,
Entre o abrir-fechar das gavetas e o tilintar das moedas.
Sim, devemos ter cautela.
Os mortos podem não estar tão mortos
Como pensamos. Pode ser que sejamos
Nós os mortos e tudo se passa em flashback,
Como tortura ou alívio,
Como escárnio ou experiência de laboratório.
Naquele dia, sem saber por que morreria,
Entre o caos e o determinismo perigoso
Dos ponteiros do grande relógio da sala,
Yarelitzev constataria que a vida é breve.
Não se ouviu grito de desespero.
Lágrimas, quem poderia tê-las visto?
Ninguém acusou ninguém.
Nem o vazio de tudo pulsou seu horror.
A vida continua em Kranóvia. São dez para as dez.
Tudo se refaz. Parece que
Em algum lugar da casa, há um sentido
De ilusão ou desatino: o corpo
Despido, sem movimento algum.
Ah, vão dizer: é o velho Yarelitzev!
Será que irão mesmo dizer
Que a vida fora injusta e cruel
Para o velho Yarelitzev?
Naquele dia, Yarelitzev morreu.
Não se viu luz nas línguas de marfim.
Não se ouviu o uivo dos lobos.
Não foram vistos Dioniso e o séquito de ébrios na estrada de silêncios
Que leva ao vácuo da álea
De haver tudo e nada, perto do fim.
Seu corpo, outra metáfora, no liso piso do quarto
Apenas indicava que nada mais poderia
Ser feito para Yarelitzev.
Ninguém jamais perguntou se
A felicidade ao velho Yarelitzev
Ainda à verve serve?

Adriano Nunes: "Angústia"

"Angústia"

Meu ser e o vácuo
Inescapável
Do quarto... Átimo
De alívio paira

Sobre a palavra
Que se faz dada
À foz da fala.
Que mais me marca

Enquanto a alma
Ignota vaga
Por aí? Crava-se,
Em mim, o nada.

Adriano Nunes: "Esperança"

"Esperança"


O mundo
Lá fora
Fervilha.

Profundo,
Perigoso,
Distante.

Enquanto,
Adentro,
Em mim,

Há ilhas,
Sem fim,
De gozo e

Espanto.
Apenas
O tempo

É, antes
De ser
Meu tempo,

Instante.
Portanto,
Portento.

sábado, 4 de novembro de 2017

Adriano Nunes: "Relâmpagos"

"Relâmpagos"

Aflito
Eu grito:
Erato,
Que faço

Pra estar
Em mim,
Urgente,
Imerso,

Pra atar,
Pra sempre,
Na mente,
Tal laço?

Euterpe,
Que verve
Mais serve
Ao verso?

Diante
Do vácuo
Silente
Do quarto,

Relâmpagos
Sinápticos,
Rabiscos
Diversos.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Adriano Nunes: "Corpo"

“Corpo”


Não há tempo
Que seja só raro.
Não há espaço
Que seja só centro.
Há, máxime, claro,
Este pensar o
Mundo adentro
Enquanto me caço.

Adriano Nunes: "Ilusión"

"Ilusión"


Ven, palabra, ven
No hay más saga
Que alegre me haga
No hay nadie también

Ven, palabra alada,
Con tus sentidos
Y ritmos imprevistos...
¡Ven parir el mundo!

Ven, hecho brasa
U otra cosa brava
Que alivio traiga...
O tormento, ven,

Palabra loca,
Ven, allá de la boca,
Del ser-palabra,
¡Ven a ser todo y nada!

Adriano Nunes: "Angústia" - para a minha mãe

"Angústia" - para a minha mãe


Angústia. Esta palavra
Entre palavras que se lançam leves
À amplidão da página alva.
Esta palavra que diz do porvir,
Do que ainda não é,
Do que já fere, fermenta, maltrata.
Quase corpo. Quase âmago. Palavra.
Talvez, fosse um bálsamo
Sabê-la, desde logo.
Saída de algum absurdo báratro?
Talvez, fosse possível
Prevenir-me de minhas sinapses,
Dos seus assaltos de dor, dúvida e tormento.
Talvez, fosse necessário
Rasurá-la, sob as incógnitas dos desejos,
Do amanhã, do não haver nada.
Ah, mas ela surge, abrupta, no verso
Como se quisesse dizer que está presente,
Que tem força, táticas e estratégias exatas,
Que tem fôlego para fazer o peito ser sentido apertado,
Como se não houvesse outra coisa
A não ser sabê-la intacta, de fato.
Angústia. Tudo abraça átimos...
Quem, quem mesmo escapa
Da semântica inocente e fatal das áleas?
Angústia. Esta palavra
Entre signos, sons e detalhes
Da cada artefato da casa, do vácuo do quarto...
Talvez, revele as minhas tristezas estranhas,
As entranhas do que minto.
Talvez, dilacere a delicadeza, por instinto.
Palavra dada a labirintos de insônias,
Chás de hortelã, livros tantos, auroras flagradas.
À flor do que me basta, quem me sinto?

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Adriano Nunes: "Judith Butler"

"Judith Butler"


She comes like a strong wind
That knocks down fences,
That destroys prejudices and violences,
She comes like a dragonfly
That in the air dances,
That gives hope to our soul.
She comes with her calm, as Thinker.

She comes like a colossal wave
That stands up against the hate
Of those who hate,
Against the nefarious dogmas,
Against the pernicious status quo,
Against hypocrisy. She comes
With her festive joy.

She comes against all oppressions,
Against patriarchy and its damaging effects .
She comes against binary conformism,
Against cruel censorship,
Against the dangerous stupidity of common sense.
Everything for her goes by.

She comes because she must come,
Because it is necessary to fight
Against the darkness
Of terror and ignorance.
She comes like a bird.
To teach us
How it is still possible to fly.

Yes, against tyrants she comes,
She comes like a bomb!