domingo, 22 de janeiro de 2012

Adriano Nunes: "o amor"

"o amor"


quer o amor?
então o conceba...
do tímido pentelho
ao espalhafatoso topete
do cabelo,
do prepúcio solto
ao occipital osso,
do mínimo dedo
à cabeça do fêmur esquerdo,
do intestino grosso
ao cristalino do olho,
da patela do joelho
à abertura da boceta,
do médio artelho
ao umbigo caolho,
do aparado pelo da perna
à fissura natural do peito.

quer o amor?
então o invente...
da sexta costela
à segunda sacral vértebra,
do cerebelo
ao perímetro do pé,
do esmalte do dente
ao ereto pênis,
do frontal lobo
ao escroto,
do labirinto do som
ao labirinto deferente,
do nervo hipoglosso
à grossa sobrancelha,
da íris iridescente
à arquitetura perfeita
da orelha.

o amor?
não o encontrou?
verse-os uns pelos outros.
o corpo é pouco.
o melhor é ser outro.
o tempo é pouco.
é preciso ser outro.
o sonho é pouco.
é preciso estar outro.
o cosmo é pouco.
é preciso estar roto.
o peso é pouco.
é preciso entrar no jogo.
o pouso é pouco.
é preciso morrer de novo.
o veto é pouco.
é preciso ser todo

poeta.






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