segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Adriano Nunes: "engasgo"

"engasgo"



dizer a ele
que leia o poema,
que não fique, à socapa, fingindo
ser a metáfora de tudo,
enquanto tudo.
dizer a ele
que a teia está tecida há tempos,
que o intervalo mágico não se desfaz,
que o instante raro raptou o sonho,
sem memória.

e se, por acaso, os dragões
voltarem à torre, com rajadas
de fogo sulfúrico e fumaça, em voo
rasante, nada
lhe diga mais.

o poema não tem pressa
e a sua
existência não é mero anexo
de folhas de urânio, de estantes
sombrias, de entranhas.
o seu sol pertence àquela galáxia
inalcançável.
e todo silêncio repousa sobre
a sua tez.




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