terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Adriano Nunes: "Sob a mira de Tétis. Enfim,"

"Sob a mira de Tétis. Enfim,"




Naquele dia, fui convidado
Às pressas. Era a célebre festa
Do pensamento. Agora me resta
Apenas o tempo consumado

Entre a descoberta e o devaneio.
Que espetáculo! Que algaravia!
E o porvir quem imaginaria?
Ó, por Zeus! De viés, Éris veio

E lançou-se, em segredo, à babel.
Penetra, esquecida, nem aí,
Com um presente - E como sorri! -
Para a deusa mais bela e fiel.

Aquele pomo era para mim,
Refleti. Todos em um só flerte:
É meu! Sim, sou eu, disse Deméter
Sob a mira de Tétis. Enfim,

Olho por olho, dente por dente.
Afrodite cobiça com graça
A peça rara. Até Hera laça
À vista o tesouro reluzente.

Combina com a tez de Atená,
Alguns disseram. Eu quero! Quero
Essa joia! Juraram por Eros,
Enquanto ela irradiava lá.

Bradava Zeus: Onde estará Hermes,
Nessas horas? Que é que irei fazer,
Se nada posso? Dê-me o prazer
Da presença de Páris! - Que queres,

Mestre dos raios? Já entre nós
Encontra-se o rapace rapaz
Para ser da decisão capaz
E, em discórdia, deixar-nos a sós.

Legitima Afrodite a mais bela
E lança, à tez do sentir, desgosto
Em quase todos: Almeja o posto
De esposo de Helena, apenas dela.


E o porvir quem imaginaria?
Éris partira...  Nem aí
Pra a guerra que poderia advir...
Sem presente, com grave alegria.








domingo, 27 de dezembro de 2009

Adriano Nunes: "Para criar um tempo diverso"

"Para criar um tempo diverso" 



Aquela palavra faltava
Pra criar um tempo diverso.
Sangrava a vez de vivo verso:
Corte fundo na veia cava

Do mundo mágico de um vate.
De que valeria a alegria
Se nada mesmo vingaria
Fora do papel? Que a resgate

A procura infinda na Língua!
Página a página, sem medo,
Sem temer o porvir, à míngua,

Fugir de todo labirinto
Da dúvida e perguntar: Cedo,
Às pressas, ao que apenas sinto?





Adriano Nunes.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Nessas horas fugazes"

"Nessas horas fugazes"




Meu tempo: O momento
Agora. Não me aguento
Nessas horas fugazes.
Como fazer as pazes
Comigo, enquanto só,
Do instante, resta o pó?





segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Adriano Nunes: "Em cada imagem criada"

"Em cada imagem criada"




Vinga a alegria do vate
Em cada imagem criada.
É revelada a palavra
À tez da memória, à margem
De sombras, leitura e espanto,
Feito insólito espetáculo,
Ante um sonho relembrado.

O seu tempo é mesmo vasto
E não marca o mero instante
De fuga: Só há a vontade
De o pensamento  abrigar
Em signos, significados, 
- Mágica festa sináptica -
À revelia do acaso.

Verso, do que sois capaz?
Como nos determinais?
Servos da contemplação,
Dos ritmos, somos, vassalos
Dessa arquitetura abstrata,
Dessa perigosa estrada
Construída de esperança

E mais... Ó bardos amados,
Sobre o infinito em nós haja
Pra sempre a nossa canção
Às grãs Musas!  Salve! Salve!
À bruta felicidade!
Assim, estaremos salvos
Do abismo da folha em branco.





sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Do amor para assim entender"

"Do amor para assim entender"




Do amor, que se pode dizer
Se dito fora mesmo tudo,
Se quem ama fica até mudo
Ante magnânimo prazer?

Do amor, que se pode querer
Se querendo nada se tem,
Se tendo não há nenhum bem
De fato? É somente morrer

De amor para enfim entender
A falha de qualquer remédio:
Não calha a melhora do objeto,

Tempo, sequer o faz temer,
Ausência, nunca o torna ausente,
Ingratidão, é que não sente!





segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

ADRIANO NUNES: "De um amor além"

"De uma amor além"




Agarro-me agora
À grande alegria.
Aguardo: daria
Gozo à vida, fora

O amálgama forte
Dessa intensa luz.
(Em que tempo pus
O temor da morte?)

Aguento o momento
Em que só me invento:
(Jogo o mesmo dado

De volta ao passado)
Pasmo! Amo alguém
De um amor além.





domingo, 13 de dezembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Ante do infinito o pó"

"Ante do infinito o pó"




Entre as ilusões, transito,
Muitas vezes. Vivo o rito
De ser quem só sou, mas só
Fixo n'alma um frouxo nó.

Em outro momento, admito
Ser isso um íntimo mito,
Ante do infinito o pó,
Tal um lance de dominó.

Depois, o sonho me agrada
- Não sei ter outra alegria -
E assim sigo pela estrada

Do nada. Dia após dia,
Frágil, minha efígie brada:
Ter máscaras me entendia!





ADRIANO NUNES: "Apontamento" - Para Antonio Cicero

"Apontamento" - Para Antonio Cicero 




Claro que um poeta não  pode
Prometer a quem quer que seja
O seu pensar numa bandeja
Nem seu cosmo servir em ode.

Com sorte, nada possa mesmo
A não ser se deixar, à leva
De grácil tentação, qual Eva
E Pandora, sentir, e, a esmo,

Sucumbir a todo desejo.
Mas para quê? Para que tanto,
Se se forja o enigma, em seu canto,
Ante o olvido, em um só lampejo,

Para iluminar toda a vida
Co' amor, decerto? Assim, o verso
Vinga e em si permanece imerso,
E, liberto, ilusões lapida.





ADRIANO NUNES: "O que não seria" - Para Vivianne Accioly.

"O que não seria" - Para Vivianne Accioly.





É quase silêncio
O que vivencio.
É quase saudade
Isso que em mim arde.

É quase um tormento
O que agora aguento.
É mais que alegria,
- O que não seria,

Se eu me desse ao sonho? -
O que aqui suponho:
É outra ilusão
Em meu coração.





sábado, 12 de dezembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Instante"

"Instante"



O passado deixei
De lado, numa caixa
Lacrada, na memória.

Agora a minha vida
Vale o momento. Tudo
Só me alegra, é sem fim.

Apenas outro sonho
Vinga dentro de mim.
Pra que vir o porvir?





sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

ADRIANO NUNES: "O meu mundo"

"O meu mundo"



Um quarto. Sim, meu quarto,
Onde em mim me recolho,
Onde só fecho um olho,
D'onde pra o existir parto.

Meu mundo. Sim, meu mundo
Pequeno, quase um cofre.
Lá fora, meu ser sofre:
Tudo é sempre profundo!

Às vezes, sonho e choro.
Que querer dessa selva
De pedra? Por qual poro

Posso fugir, sem medo?
Que saída me salva?
Que porta a mim concedo?





ADRIANO NUNES: "O crepúsculo dado"

"O crepúsculo dado"





Aceito ser escravo
Desses versos que faço.
Da vida fiz um laço
Feliz. Assim me salvo

Do salto para a morte.
O cosmo todo noto
Focar-se em mim: Só foto-
Grafo o fim (traço forte

Do labor sobre-humano)
O crepúsculo dado
Aos ídolos, tutano

Do ser demasiado.
Humano por humano,
Um deus desmascarado.





quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Confortam-me as ondas" - Para Antonio Cicero.

"Confortam-me as ondas" - Para Antonio Cicero.




Saudade do mar,
Dessa vida aberta
A todo horizonte,
Dessa vista atenta
A tudo: Sereias,

Surfistas, faróis.
Confortam-me as ondas
Das rádios, ruídos
De sirenes, rastros
De seres que passam.

Que agora se diga
Do gosto de sal
À língua: que fiz
Dos versos na areia
Da praia do sonho?








domingo, 6 de dezembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Inter (esse) dito" - Para Mariano.

"Inter (esse) dito" - Para Mariano.




Esse verso corte
Esse, ainda não
Esse, sobre morte
Esse, coração

Esse quase cala
Esse quase vinga
Esse se fez fala
Esse, feito pinga

Esse me embebeda
Esse me atormenta
Esse à tez da queda
Esse, mágoa benta

Esse a si procura
Esse não é nada
Esse, só loucura
Esse, que mancada

Esse, sempre assim
Esse, redondilha
Esse calhe em mim
Esse um dia brilha.





segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Nada - Nem mesmo o tempo a ti faz jus"

"Nada - Nem mesmo o tempo a ti faz jus" 

Recolho dos meus olhos, coração,
- Eram as madrugadas da alegria -
O tesouro, palavra que seria
Dita por mim sem medo, uma canção

Grácil. Tua existência fora  assim:
- Nosso  cerne cansado da verdade -
Mais que sonho! Quem sabe nos invade
Outra estável vontade, sóis sem fim?

Decifras-me por ter-te como amigo,
Abrigando-me, alegre, em tua luz,
Ó, verso! Sinto estar pleno contigo,

Além da poesia. Bem supus
O que aconteceria - Não te digo
Nada - Nem mesmo o tempo a ti faz jus!







sábado, 28 de novembro de 2009

Adriano Nunes: "Fez-se só razão" - Para Antonio Cicero.

"Fez-se só razão" - Para Antonio Cicero


Fez-se só razão
Do vácuo dinâmico,
Extensa explosão,
Acima do barro,
Além das costelas.

Que ágil bactéria! -
Fosse talvez Eva?
Aquele gorila,
Adão, de viés?
As coisas que são?

Nunca houve pecado.
O cérebro pensa!
Outro grande achado,
Outra recompensa...
O cérebro pensa!







segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Em mim, só por um dia!"

"Em mim, só por um dia!"




Tendo que sentir tudo,
Sinto. O mundo é sem fim,
Enquanto, dentro, em mim.
Ai, por que, às vezes, mudo

O pensamento? Agora
Pesa todo o momento:
Em que impulso me invento?
Que Cila me devora?

Sonhei ter coração,
Teatro e algaravia...
Que densa sensação

Ser quem me perderia
(As fugas, quais serão?)
Em mim, só por um dia!




sábado, 21 de novembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Arquivo vivo" - Para Antonio Cicero.

"Arquivo vivo" - Para Antonio Cicero.




Na estante, tudo
Que quero: o mundo,
O mais profundo,
Imóvel, mudo,

Quase um poema,
Onde estou salvo...
E em mira o alvo:
Vida suprema.




quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Tarde intensa" - Para a minha mãe.

"Tarde intensa" - Para a minha mãe.



Tarda a noite
A cair.
Que fazer
nesta tarde
Que é sem fim?

Que querer
Desta vida
Tão sentida,
Dividida
Entre versos

E vontades?
Não há nada
Que me salve
De mim. Nem
Mesmo o tempo

Que é me dado.
Sou de fato
Toda angústia,
Bomba atômica
De sentidos...

Só preciso
Implodir!



terça-feira, 10 de novembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Canção VI"

"Canção VI"




Descansa a minha vida,
Sob as vestes da aurora.
A alma se esvai agora,
Feito nuvem, perdida

Entre tanta miragem.
Todo sonho me invade
(Temo que seja tarde
Sentir tal gozo, à margem

Do amor, dessa alegria)
- De nada mais preciso -
Nenhum pranto, nem riso!
Salvar-me... Poderia?


Adriano Nunes

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Sinto-me ser tantos"

"Sinto-me ser tantos"


Sinto-me ser tantos
Nessa solidão...
É que os sonhos dão,
Às vidas, encantos

Vastos, outra cor.
Sou mesmo infiel
Ao frágil papel
De ser quem só sou?

Ou meu coração
Abrigou-se apenas
Em densa emoção,

Sob profusas penas?
Custa-me ser tantos
Nessa solidão!








domingo, 8 de novembro de 2009

ADRIANO NUNES: "O tempo ausente"

"O tempo ausente"



Entre nós dois,
Porvir, presente,
Devir. Depois,
O tempo ausente.

Procuro, à-toa,
A vida agora,
Outra pessoa
Em mim, lá fora.

Vejo o desejo
Roer o sonho.
Não tenho nada...

Que mesmo almejo?
Assim me exponho,
Minh'alma é dada.




segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Adriano Nunes: Crítica Musical - "Adriana Partimpim II"

Adriano Nunes: Crítica Musical - "Adriana Partimpim II"





Continuar a ser o que é é quase uma impossibilidade e voltar a ser criança então? Mas "O amor modifica/ O amor a modo de ficar" e Adriana Calcanhotto, outra vez, resgata-nos dessa dor: "Todo mundo pode/ Pode tudo". É assim, abrindo alas à alegria e à infância, que começa esse encantador disco-sequência "Adriana Partimpim II".

O primeiro Partimpim revelou-nos o lado infantil dessa sublime cantora/compositora, com músicas lindamente escolhidas, arranjos doces, tudo certo e no lugar. Resultado: Sucesso de crítica e público... E a criançada adorou!

Agora o baile é mais além, "é massa" e tem "lugar pra qualquer um": Preto, branco, pobre, nobre, menino, menina, adulto, velho, jovem, moicano, plebeu, macedônico, gatinha, borboleta, todos os animais, você e eu.

Como não se espantar e não se admirar com o talento ímpar dessa menina-camaleoa, artista completa, madura, cantando, com tanta leveza e delicadeza, para qualquer público? As suas escolhas musicais perpassam o gosto popular, têm visão coerente com o ensino moderno, apresentando moldura límpida, objetiva, aberta, sem preconceitos, permitindo às criancinhas, desde já, ter acesso à Poesia, à História, aos ritmos todos, à boa música. Partimpim pode tudo... E nós ganhamos tudo dela mais uma vez.

O disco inicia-se com a bela marchinha carnavalesca "Baile Particundum" de autoria de Partimpim e Dé Palmeira. É uma alegoria contagiante, alegre. Dá vontade de sair pelas ruas cantando em voz alta.

A segunda música, "Ringtone de Amor", composta por Adriana, é uma pérola, novíssima bossa. Notar a mudança na letra conforme a música segue.

" O Trenzinho do Caipira", de Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar, e "Alface", de Cid Campos e Edward Lear, com tradução de Augusto de Campos, revelam o amor da menina Partimpim pela Poesia. A meninada entra em contato com o Concretismo... E que contato!

"Menina, Menino", de Adriana Partimpim, é uma ode ao amor. Muito boa!


A ótima canção "Na Massa", do Arnaldo Antunes e do Davi Moraes, ganhou uma interpretação memorável. É um dos grandes momentos do álbum.

"O homem deu nome a todos animais", de Bob Dylan e versão de Zé Ramalho, surpreende-nos. É o reconhecimento que Adriana dá ao trabalho pioneiro do Zé Ramalho.

O ápice desse genial conjunto artístico se dá justamente quando a maravilhosa canção "Alexandre", de Caetano Veloso, é interpretada de forma magnífica por Partimpim. "Alexandre" é uma obra-prima da música brasileira e está presente no excelente disco "Livro" de Caetano. Deve ser ouvida repetidamente!

"Gatinha Manhosa", de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, e "Bim Bom", de João Gilberto" encaixam-se adequadamente no projeto e brilham.

O disco termina com "As Borboletas", de Vinícius de Moraes e Cid Campos. Suave e linda. O baixo de Dé Palmeira nos faz viajar.

Acabou, mas... Que massa!







Adriano Nunes.

domingo, 1 de novembro de 2009

ADRIANO NUNES: "Talvez, com versos"

"Talvez, com versos"



Nunca estou pronto
Pra a vida. Volto
Ao mesmo ponto,
Pasmo. Revolto,

Prendo-me a tudo,
A todo sonho.
- Ou só suponho
Quanto me iludo? -

Talvez, com versos,
Invente o amor,
- Seja o que for,

Serão só versos
Em mim imersos -
Com outra cor.




ADRIANO NUNES: "Caso"

"Caso"



Vírgula a
Vírgula,
Cláusula a
Cláusula,

Sou
Seu,

Seu.

Servo
Sem
Hora,

Verso-o,
Sem
Mora.




quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Às vezes, só me faz calar"

"Às vezes, só me faz calar"


A minha alegria tem nome
E certidão de nascimento.
Em seu cerne me crio, invento...
Este verso que me consome.

A amada alegria tem lar,
Logradouro certo, conversa
Quando convém, vive dispersa...
Às vezes, só me faz calar.

A alada alegria, sem mais
Nem porquês, desata meus nós,
Desafia-me a fundo, e, a sós
Comigo, curte o mar, do cais.

A minha alegria tem braço,
Perna, boca, cérebro, cor,
Cerca meu ser por onde eu for...
E, quando a canto, outros laço.




BLOG POEIRA DE SEBO - UMA PÉROLA ÁUDIO-VISUAL!

BLOG POEIRA DE SEBO - LITERATURA E MÚSICA!

Recomendo aos meus leitores, enfaticamente, que sempre visitem o BLOG POEIRA DE SEBO, do meu amigo Mariano. É um (en)canto onde a Cultura se faz plenamente presente, um mergulho raro na Literatura e na Música, uma verdadeiro achado, pura pérola, pepita áudio-visual nessa blogosfera infinita, um aprendizado ímpar, preciso, fundamental!

Poeira de Sebo (http://peneiradorato.blogspot.com/)

Adriano Nunes.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Soneto de amor IX"

"Soneto de amor IX"



Dentro de um verso, clamado amor
Dispersa-se alegre... O cosmo agora
Vibra diferente, mas lá fora
Outra efígie à minha quer se opor,

Presa à vã memória. Por loucura,
Às pressas, minh'alma a refletir,
Em êxtase, deixa-se, e,
 a fluir
Mais imprecisa cura procura,

Espectro que ao espelho busca,  bem
Que o sentir  turva, quase prazer:
Quimeras e promessas por quem?

Ante a ilusão, como refazer
O coração, se ao porvir convém

A mudanças só satisfazer?








domingo, 25 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Soneto de Amor VIII"

"Soneto de Amor VIII"




Digo ser amor esse engano
Guardado no peito, esse encanto
Que meus olhos escondem tanto.
Que gosto perigoso e insano

Dizer por dizer 'eu te amo',
Cobrindo a existência de pranto,
De dor tudo que agora canto,
Com as sobras do teu 'te amo,

Meu bem'. Para o meu próprio bem,
Proclamo: como amar alguém
Se mal sei 'te amo' dizer?

Assim, entre o medo e o prazer,
Grito: Não consigo dizer
Por dizer 'amo-te também!'.





Adriano Nunes: "Musical" - Para meu amigo Péricles Cavalcanti

"Musical" - Para meu amigo Péricles Cavalcanti



nota a nota
nossa nata
nessa nave
etc e tal.

gota a gota
gesto gosto
grande gozo
musical.




quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Soneto de Amor VII"

"Soneto de amor VII"



Bem denominado, amado,
Sem o qual tudo é perdido,
Quisera ter-te esquecido.
(Quimera, ter-te a meu lado)

De nada adiantaria
Viver sem (viver-te). Agora,
Vejo o desejo ir embora,
Levando a minha alegria.

Talvez, houvesse outras vidas
Entre esta, escrita, e a pensada,
(Outrora sempre sentidas)

Mas que sorte é só lançada?
Enquanto vingam tais dúvidas,
Amar-te é ter tudo e nada.




domingo, 18 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Tesouro"

"Tesouro"


Ou ter o sonho
Ou ter o sumo
Do ser que sou
(Tudo do ser)

Outro sentido
Outro sumiço
Outrora sombras
Outrora sobras

Ou ter o Sol
Ou ter em si
Todo o silêncio
Do sentimento.






segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Dita diversa" - Para Flávio Côrrea de Mello.

"Dita diversa" - Para Flávio Côrrea de Mello



Nem todo dia,
Sou como sou.
Vivo do voo
Do verso, via

Diversa, dita
Dispersa, festa
Feita em mim, desta
Forma infinita.

Às vezes, sonho
Tocar o céu.
(Folhas ao léu,

Em branco?) Ponho-o
No que componho:
Capto seu véu.








domingo, 11 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Três da madrugada"

"Três da madrugada"



Três da madrugada.
Tudo é quase nada.
Que dor não me guarda?
Que amor quer que eu arda?

Três da madrugada.
Tudo é mesmo nada.
(Minh'alma, mansarda!)
Que verso me aguarda?

Três da madrugada.
Tudo é tudo ou nada.
(Tiro de espingarda!)
A vida até tarda.




quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Suave Coisa"- Para Mariana Botelho

"Suave Coisa" - Para Mariana Botelho


Aqui, toda coisa é certa
Medida, de peso. A métrica
Risca a vima e tudo arrisca,
Até mesmo a rima flerta.

A natureza de um verso
É sempre farsa. Só dura
O sonho. Talvez, loucura
Seja ver do modo inverso

Ou tecer o avesso em tédio,
Entre as tramas. Termo médio,
Nosso tempo, uma equação

Que se dá no coração:
As coisas são como são
E não há nenhum remédio.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "E quase sempre faltava uma palavra"

"E quase sempre faltava uma palavra"


E quase sempre faltava uma palavra.
(Era a vida em jogo por uma palavra)
O verso se dava como um feto morto
Retido no corpo, navio sem porto

A vagar no vácuo, no olvido da vida.
Como se nada tivesse a vez devida,
Assim era fazer um poema apenas:
Horas a fio, dores e duras penas!

Depois... E, talvez, nem houvesse depois
Para toda arte, sequer para mim. (Pois
Como poderia ter meu pensamento

Tamanha certeza à margem do que invento?)
Aos poucos, papel rasgado, outro rabisco
Surgindo, sugando-me, correndo o risco.







Adriano Nunes: "Poema"

Adriano Nunes: "Poema"


poe m arte
poe m orto
poe m ilha
poe m olho
poe m el hora
poe m allar métrico






sábado, 3 de outubro de 2009

Adriano Nunes: "Dez para dez" - Para Antonio Cicero.

"Dez para dez" - Para Antonio Cicero



Dez para dez. Talvez,
Baco apareça aqui,
No bar. Sem timidez,
Prove do vinho. A qui-

Mera mágica é ver-
Ter tudo em bel prazer,
Em vertigem, em ver-
So, pra satisfazer

O corpo antes de ser
lançado à dor, ao pó
Das horas, desse nó.

O que mesmo vai ser?
E de nada se ser-
Ve. O tempo passa só.




Adriano Nunes: "O mar" - Para Dr. José Mariano Filho

"O Mar" - Para Dr. José Mariano Filho


O mar, Mariano,
Amo-o por amar.
Por amá-lo, ó mar,
Amo Mariano,

Omara, Marina,
Sonho e maresia,
Portos, poesia,
D'onde o pensar mina,

Onde ponho a mira,
Maritmo, Maré,
Péricles, Tom Zé.
O que o mar admira?




Adriano Nunes: "Porto Velho" - Para a minha amada mãe

"Porto Velho" - Para a minha amada mãe


A tez rubra da cidade,
À vista. Talvez, a vida,
De vez, de si subtraída,
Ateste tudo, enquanto arde.

Vaga paisagem?Em volta,
O ver vibra em construção
E as coisas são como são.
Tempo? Do sonho se solta

Plástica amplidão: progresso,
Represas, prédios, o povo
Em convulsão. Réu confesso

Da contemplação, de novo,
Na mesma alegria ingresso
E assim muito me comovo.





sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Adriano Nunes: Poemas Rondonienses

"Poemas Rondonienses"


"Enquanto me invento"



Peso o pensamento.
Em que tanto penso?
Meço o meu silêncio
Enquanto me invento.

O tempo é tormento.
Depois, quando, agora,
Sem volta, indo embora.
O que ainda aguento

Desse sentimento?
O que me incomoda?
Por que nada tento

Mudar? Em que moda,
Move-se o momento,
Se o poema o poda?





"É quase nada"



Falta um elétron
Para o amor ser completo.
Falta um só átomo
Para o amor ser compacto.

Falta um pedaço
Pra ser amor de fato.
Falta uma parte
Pra ser amor de filme.

Falta a mentira
Para amor de verdade.
Falta a metade
Do amor, para ser verso.





"Fragmento Noturno" (Para meu amigo Sócrates)




Foge ao coração
Volátil lembrança.
Os sonhos que são
Se a alma só os alcança?





"Todo amor é mesmo um mar" (para Isabel Santos)




Eu te amei e como te amei
Não mais poderia amar.
Todo amor é mesmo um mar.
Um rio fora da lei,

Eu era. Assim, como eu era,
A vida era quase dada,
Vibrava, de madrugada,
Volátil, à nossa espera.

Tudo era mera mentira.
Amor, vida, morte, verso,
O rio, o mar: Nada os vira.

Tudo era mesmo disperso,
Fora de foco, de mira,
Só mistério do universo.





quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Puerto Viejo"

"Puerto Viejo"


Mi incierto y dulce cielo,
Cuerpo luciente alado,
En memoria grabado,
Glorioso, grande y bello.

Nuevo horizonte, Puerto
Viejo, otro amor rendido.
Mi corazón, un ruido,
Al desengaño, muerto.

Silencio, cuasi un nudo
- Piedra, planta, persona -
Que tu peso corona
Con mi gemido mudo.






Porto Velho/Rondônia 30 de setembro de 2009.
Adriano Nunes.





domingo, 20 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "À vista"

"À vista"


Em casa,
Outra casa me interessa.
Então,
Eu corro, com toda pressa,
Pra ver,
Da janela, em que se esconde
Tal lar.
Meu ser não sabe por onde

Começar a procurar.
O verso,
A vida que vou levar,
O ritmo,
O risco que vou correr,
A métrica,
A parte que vou perder
De mim

Enquanto me vejo em tudo,
Agora
Que importa? Penso desnudo
O mundo,
À porta do que há lá fora,
E o sonho
Sequer finda nem me leva 
Embora.








sábado, 19 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Drummond"

"Drummond"


Pesam os poemas
No papel. São pedras
Preciosas, pedras
Lapidadas, gemas

Geniais. Palavras
Pedras são, só pedras.
Pesam as tais pedras
Nos versos. Palavras

Têm peso medido.
Só, são cerusita,
Galena, anglesita,

Em lugar polido,
Rubi, rubelita,
Amada ametista!






sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Verso, que te quero"

"Verso, que te quero"


verso, que te quero
vasto, que te quero
visto, que te quero
verso, que te quero

vida, que te quero
verve, que te quero
verbo, que te quero
vida, que te quero

livro, que te quero
livre, que te quero
leve, que te quero
livro, que te quero

vício, que te quero
veste, que te quero
vídeo, que te quero
vício, que te quero

visgo, que te quero
virgem, que te quero
vítreo, que te quero
visgo, que te verso.





quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Maragogi"" - Para Janaína Amado

 "Maragogi"" - Para Janaína Amado


Agora Maragogi,
Agarro-me todo ao mar.
Aguento-o. Por tudo amar,
Água, sal, Sol, convergi

Ao teu brilho, abrindo o céu,
Abrigando todo o ver-
So: prata praia, rever-
Tendo-me em miragem, céu

No mar, mergulho profundo
Na paisagem, pensamento,
De passagem pelo mundo,

Ambíguo, grande tormento
Em que meus olhos circundo,
Prisma com que me alimento.








segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "O pequeno pardal" - Para Édith Piaf

"O pequeno pardal" - Para Édith Piaf


No prostíbulo, mal
Poderia pensar
Em planar, em pleno ar,
O pequeno pardal

De Paris. Da pobreza
Ao primeiro poema,
A promessa suprema
Dos palcos. Que proeza

Plástica do porvir!
Do pássaro à pessoa,
De quem vive a quem voa,

Do verso que servir
Ao que o coração soa,
À canção, mesmo à-toa.





sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Desencontro"

"Desencontro"


Eu não me encontro
Em nenhum verso.
Vivo disperso
Num desencontro

Eterno, preso
Ao tempo. Enfim,
Procuro a mim
Em mim. Que peso!

De madrugada,
Pleno apogeu:
Penso ser eu
E não sou nada.





quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Pepita" - Para Glauco Mattoso

"Pepita" - Para Glauco Mattoso


Todo poema tem data
Pensada, tempo de vida
Indeterminado, lida
Com liames, nós desata,

De tudo trata, retrata
Tudo, sofre e sempre dita
A regra do jogo, fita
A métrica, toda nata

Da alma, à palavra, credita
Vingar, à luz dilatada,
Procura-a, a pura pepita

Perdida, nessa empreitada
Sináptica, não transcrita
À prova do tudo ou nada.






Adriano Nunes: "Poema" - Para a minha amada mãe

"POEMA" - Para a minha amada mãe


Poema: ponte
Entre o poente
E o sol nascente,
Formosa fonte

Da juventude,
Felicidade
Que tudo invade,
Que tudo ilude,

Primeiro amor,
Primeiro laço,
Prisma a compor,


Onde me caço,
Sublime ardor
Em que me faço.



segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Tempo"







"Tempo"



Tempo para o quê?
Tempo para quando?
E até mesmo quando
Ou mesmo por quê?

Tempo para o verso
Ou versos ao tempo
Desse contratempo
Temido e perverso?

Por que o tempo passa
Demolindo a linha
Da vida que é minha
E tudo devassa

E tudo devora,
Símiles, opostos,
Mantendo-os expostos
No momento agora?

Por que não se despe-
De, volta a ser deus
E vislumbra os seus,
Do céu, não se despe

Do relógio, dígito
Do despertador,
De toda essa dor,
Do caos que cogito?

Por que nunca foge
De si, da Seara-
Láctea, gira e pára
Para ver São Jorge

Na Lua e na sua
Responde: Pra quê?
Pra quando? Por que
Mais se perpetua?






domingo, 6 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Exérese poética"

"Exérese poética"


É preciso expor o poema
No vão da folha, revelá-lo
À vista, dentro do intervalo
Existente, exérese extrema,

Suprimindo qualquer verdade,
Qualquer promessa, mesmo que
Pese a pergunta 'mas por quê?'
Relevando tudo mais tarde?

Ou quem sabe abraço esse fardo
Factível de fracasso e farpa
E, refaço a vida, enquanto ardo,

Enquanto nem um verso escapa
Ao corte temido do dardo
Lançado por mim, à socapa.






sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Adriano Nunes: "Retratamento intensivo"

"Retratamento intensivo"



Todo poema tem pernas,
Perambula por aí,
Passeia, tonto tropeça,

Às vezes, foge de si,
Vadia, vagueia só,
Vagabundo, solto, bêbado,

Às vezes, fratura um osso,
Fêmur, fíbula, uma vértebra,
Ou surge com pé quebrado.

Todo poema tem braços
Rimados ou livres, laça
Vácuos, abraça metáforas,

Atira pedras, as asas
Inventa com as palavras,
Atiça-se , acena adeus.

Todo poema tem olhos
Vendados e bem abertos,
Flerta o que quer, quando quer

Cega, observa, mira, admira,
Penetra através das frestas
Das pupilas, feito luz,

Profundo, no olhar alheio,
Vasculha os nervos, os músculos,
Desvenda-se por ser único

E muitos, todos e tudo
E nada: pálpebras, prisma,
Ponte, precipício, lágrima.

Todo poema tem língua,
Boca, dentes, lábios, glote,
Grita, bebe, come, morde,

Fala, xinga, berra, cala,
Tem a voz aguda ou grave,
Vibra a fibra da garganta

De grafite da memória,
Das páginas apagadas
Do agora: diz o que diz.

Todo poema tem pênis,
Vulva, vagina, testículos,
Ovários, útero, trompas,

Excita e fica excitado,
Transa, masturba-se, goza,
Engravida, aborta, pare.

E como rejuvenesce,
Ninguém consegue explicar.
Alma? Se há, sabe-se lá.







sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Nômade"

"Nômade"


Tendo que ir,
Eu vou. Fundo,
Eu vou. Dentro,
Em mim, tento

Todo o tempo
Ter aqui
Versos, vôos,
Todo o mundo.

Fica longe
Do que penso
Aonde vou?
Me pergunto:

E por onde
É partir?
Quem eu sou
Não responde.






quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Tic-tac" - Para a minha mãe e minha avó

---------------------------"Tic-tac"
--------------------------------Para a minha mãe e minha avó



-------------Clique na imagem para ler o poema



ADRIANO NUNES:

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Dos antípodas"

"Dos antípodas"


Deste mar,
Verso, além,
Vejo alguém
A te amar.

Deste cais,
Onde estou,
Tento voos,
Tudo e mais.

Deve haver
Outro sol,
Outro ver

-Um farol?-
A envolver
O arrebol.







segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Mercúrio"

"Mercúrio"


Quando criança,
Tudo é possível,
Somos um míssil,
Tudo nos lança.

A vida vale
A pena, mesmo
Pesada e a esmo,
Mesmo que cale.

Ainda lembro:
Febre, termômetro
Quebrado, membro

Ferido, cetro
De vidro, dentro,
Espanto elétrico.











terça-feira, 18 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Valsa para Paulinho" - Para Paulo Sabino

"Valsa para Paulinho" - Para Paulo Sabino


p a u t a
d a
m e n t e

p r o s a
e m
p o e

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t u d o :

p e l e
p e n a
p é

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t e l a

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p r e t o
p r a t a
p r o t o

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v u l s a a
l e n t o a

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l e n d o o
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s i n t o o
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s í n

t e s e :
l e n h a
l i n h o

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p e d r a
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f o c o
f o r m a
f ó r m u l a

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v e r
v e e n

v o l
v e n
d o o ?

p o u c o a
p o u c o a
m o (r

e
p o u s o)
p o u n d ?

p a u s a
d a
m e n t e .







domingo, 16 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Violável" - A Augusto de Campos

"Violável" - A Augusto de Campos 


Veio, via
Veia-vídeo,
Vasta vasca,
Vício, vínculo.

Ver-vos, vós,
Verso vítreo,
Vibro, vingo,
Valho, vazo,

Visgo, verve,
Vida vária,
Verbo vero,
Viva Vaia.








sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Dessa empreitada"

"Dessa empreitada"


O que fazer
Agora? Nada
Dessa empreitada
É só prazer.

Na noite em claro,
Clamo por verso,
Divago. Imerso
Em mim, declaro

Trégua: não há
Tempo pra vida,
Pra tanto. Já

É manhã. Lida?
Arte, quiçá,
Adormecida.






terça-feira, 11 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Souvenir" - Para Waly Salomão

"Souvenir" - Para Waly Salomão


ver o ver
so dis sol
ver o ver
so dis sol

ver se ver
so por vir
de vol ver
per se vir

se só ver
ve sor ver
se só vir

do de vir
o de ver
de vi ver






segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Estilhaços poéticos"

"Estilhaços poéticos"


Passo a passo, um compasso
Trôpego, um troço, um brado,
Sem pressa, ao pé, quebrado,
Devaneio devasso,

Fruto, da Flor do Lácio,
Exótico, expugnável,
Da angústia inesgotável,
Pilar desse palácio

De palavras, extrato
Rítmico, um embaraço,
De rima, absurdo trato,

Um grande estardalhaço
Espelhado - verso abstrato? -
Na lida em que me laço.








sábado, 8 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Foz" - Para a minha amada mãe

"Foz" - Para a minha amada mãe


Da garganta
Do diabo,
Do céu, alto
Do penhasco,
Queda d'água,
Queda livre,
Que lembrança!

Dessa Foz
Sem fronteira,
Desse rio à
Vida inteira,
Sobressalto
Sobre o sonho,
Voz e medo,

Gravidade
Gota a gota,
Gesto líquido,
Grande força
Propulsora,
Pedra a pedra,
Que cratera!

Na retina,
Movimento
In natura,
Vento, verso
Vindo, vinga
Tudo agora,
Que moldura!

Entre as rochas,
Braços hídricos,
Entre as íris,
Traços íngremes,
Vácuo em volta,
Outro quadro,
Outro molde

Na memória.
O vestígio
Da alegria,
Revestido
De quimera,
Salta ao risco,
Desabrocha.









Adriano Nunes, Foz do Iguaçu, 06 de agosto de 2009.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Tubo de ensaio"

"Tubo de ensaio"


Ponho o meu sonho
Dentro de um frasco
De vidro. A vida,
No fundo, fica.

Um outro pranto
Quer vir à tona.
Aquela dúvida,
Que tanto apronta?

Todo meu mundo
Torna-se visto,
Quando, no filtro,
De papel, brilho.









segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Adriano Nunes: "Caos movediço" - Para Flávio Corrêa de Mello

"Caos movediço" - Para Flávio Corrêa de Mello


É madrugada.
A vida, corre-
Corre, concorre
Para a guinada

Dessa alegria
Densa, contida.
Nada se olvida,
Nada varia.

Só o coração
(Nos versos lidos?)
Cede aos sentidos

Dos dias idos.
Restam ruídos
Que amores são.






segunda-feira, 27 de julho de 2009

Adriano Nunes: "In locus" - Para Mário de Sá-Carneiro

"In locus" - Para Mário de Sá-Carneiro


Converso com as gavetas.
Paquero mesmo as paredes.
Os armários? Posso amá-los,

Sem medo. Movem-se os móveis
Pelo quarto. São só quatro
Horas da tarde e tudo arde,


Em segredo, sob silêncios.







domingo, 26 de julho de 2009

Adriano Nunes: "Oligoego" - Para Dr. José Mariano Filho

"Oligoego" - para Dr. José Mariano Filho


Expor apenas poemas
Prematuros, pensamentos
Ainda indefesos, versos
Placentários, sem espíritos,
Sem reflexos, para quê,

Feito feto cianótico,
Sem choro, quase chocando,
Sem as tais linhas impressas
Do tempo, da gestação,
Sufocado pela pressa

Espessa, por esse sonho
De vir à luz, dando a face
À porrada, à roda-viva,
Enquanto, à tez do papel, 
Desesperado, vencido,

Um preguiçoso poeta?

Parafusos soltos, sumo
De conversa, esconderijo
De rimas, masturbações
Turbulentas -  as lembranças
Engessadas em meu cérebro -

Essas quimeras quebradas,
Essas metáforas frágeis,
As fórmulas desgastadas,
As estrofes repetidas,
Estradas sempre trilhadas...

Tinta destile esse tino;
Tela desfalque essa falta;
Forma deforme essa força;
Ego desgaste esse gozo;
Elo desloque esse calo;

Frase desfrute essa fresta;
Traço destrua essa treva;
Timbre destranque esse trinco;
Fala desfolhe esse laço;

Folha desfaça essa farsa!








sábado, 25 de julho de 2009

Adriano Nunes: "Testamento"

"Testamento"


Tempo
Passa

Tempo
Pêndulo

Tempo
Plástico

Tempo
Pênsil

Tempo
Prêmio

Tempo
Plácido

Tempo
Prisma

Tempo
Pinto o

Tempo
Pasmo o

Tempo
Pássaro

Tempo a
Pressa o

Tempo
Pondo o

Tempo
Trânsito

Tempo
Trégua

Tempo
Triste

Tempo
Tendo o

Tempo
Traço o

Tempo
Trago o

Tempo
Trapo

Tempo
Tento o

Tempo
Passo a

Passo o
Tempo

Todo
Tempo

Tenso
Tempo

Templo
Túmulo

Tempo
Tudo

Para o
Tempo.







quarta-feira, 22 de julho de 2009

Adriano Nunes: "R i s c o'

"R i s c o"


E u
V i v o
D e n t r o
D a
C á p s u l a -
T e m p o, a-
T e n t o.

V e n ç o o
M e d o
D e
S e r
Q u e m 
M e
P e n s o. O

Q u e
S i n t o e
P e s o, o
Q u e
M i r o e
Q u e r o, 
V e r s o. E

T u d o à
P a r t e, 
A l t o
P r e ç o
P a g o,
P o r
S e r

U m
B a r d o.
R i s c o e
R e g r a, u m
R i n g u e: e o
 m a g o
R a s g o.

E m
M i m,
O
A t o,  i n-
T a c t o
F a z - s e
M á g i c o.

N a
P á g i n a
I n d a
A l v a,
V i n g a a 
H o r a
G r á v i d a

D a
V a s t a
D á d i v a,
D a
M é t r i c a
D a
M á x i m a,

S e m p r e,
Q u a n d o 
P a s s o
P e l a
P o n t e
D e
S o n h o e

L e v o à
L í n g u a
O
Ê x t a s e e m
Q u e a
L i d a
P o n h o.





segunda-feira, 20 de julho de 2009

Adriano Nunes: "Memória"

"Memória"


Volto dos versos
Em convulsão.
Que vultos são
Esses dispersos


Em minha mente?
Que vozes vêm
Varando o além,
Tão de repente,


Amedrontando-me,
Apavorando-me,
Nessa manhã?


Por que não some,
De vez, seu nome,
Ó musa vã?




Poema inédito, postado pelo meu amigo Domingos da Mota em seu belo blog Fogo Maduro  em 16/07/2009.








sábado, 18 de julho de 2009

Adriano Nunes: "Vida"

"Vida"


Vida: quase dada a
Quase tudo, fado
Indeterminado,
Quimera adorada,

Macondo, Eldorado,
Ítaca, Pasárgada,
Mágica emboscada...
Das Moiras,  legado

Legítimo, exato,
Quântico ultimato,
Homérica saga

Que mitos esmaga.
Ou que a paz propaga
No último ato.





sexta-feira, 17 de julho de 2009

Adriano Nunes: "Incontesti"

"Incontesti"


Compreenda
Que o poema
Sequer pensa
Sequer pesa
Sequer tenta
Ter qualquer
Consciência

Compreenda
Que o poema
Sequer sente
Sequer serve
Sequer segue
Qualquer regra
Ou ciência

Nada deve
Ao papel
Nem ao lápis
Só se impregna
De sanguínea
Prece - o instante -
Tangencia

O infinito
Do que é dito
Nada prova
Nada quer
Nada prega
Tudo traga
Da alegria

Compreenda
Que o poema
Sequer sonha
Sequer sabe
Que quer ser
Sequer é
Vibra apenas

Não tem pressa
Leis dispensa
Não se prende à
Penitência
Do que pode
Ser só, brilha,
Cabe em si.








quinta-feira, 16 de julho de 2009

Adriano Nunes: "Qualquer parte" - Para Nelson Ascher

"Qualquer parte" - Para Nelson Ascher


Qualquer ponte
Que me leve
Dessa neve
Para longe

Qualquer pista
Inventiva
Que me sirva
Que me assista

Qualquer traço
Do universo
Que atravesso
Se te abraço

Qualquer beijo
Dessa língua
(Sol do Lácio!)
Só desejo

Qualquer rumo
Qualquer parte
Que me farte
Desse sumo

Qualquer fenda
Qualquer fresta
Que ao que presta
Mais se estenda

Qualquer vida
Que me lace
Qualquer face
Concebida

Qualquer trilha
Que me trague
Que me afague
Porque brilha.




terça-feira, 7 de julho de 2009

Adriano Nunes: "ÁTOMO(GRAFIA)"

ÁTOMO(GRAFIA)











Observação: para ler o poema, clique na imagem!

domingo, 5 de julho de 2009

Adriano Nunes: "Calos" - Para Marlos Barros

"Calos" - Para Marlos Barros

"A kiss may ruin a human life." -- In “A Woman of No Importance”
Oscar Wilde


Essas gretas construo
Com todos os meus gritos
E concretos de lágrimas,
Laringes de grafite,
Pranto, prece, papéis...
Que importam para mim

Os túneis sob as trevas?
Por que neles adentro,
Com medo? Por que em tudo
Trago o triste lembrar
De inúmeros tropeços?
Feito cego, de pedras,

De quedas, com os braços,
Por que me desvencilho?
Por que não me protejo
Do susto insuportável?
Por que nunca me lanço,
De vez, a todo risco,

À vasta vida? Nada
É possível querer?
Sonhos... Eis a metáfora
Que mui me ilude e fere-me,
Que me ilumina e forja-me,
Eis alma, seiva e carne,

Despidas, desgastadas, 
Entre tantas promessas,
Momentos e mancadas,
Dentro do labirinto
De palavras, sentidos,
De itinerários íntimos.

Por que não me refiz
Co' a alegria do encontro
Co' a métrica, co' o ritmo,
Quando estive sozinho,
Perdido, entregue às rimas,
À imensidão dos versos,

Entre as estalactites
De ferro dos acervos
Das livrarias todas,
Entre os fungos e os ácaros,
Ante as estalagmites
Das divisas dos sebos? 

Quantos mundos busquei, 
Quanto alimento e alívio,
Em segredo, sob sonos,
Consumindo-me, vivo,
Escavando um abismo
Sem fronteiras, infindo!

Meu ser em tudo pus,
Em tudo me finquei...
Supus-me assim Proteu.
Acreditei na forma in-
Alcançável do tempo,
No silêncio de Sísifo.

Amei o amor e quis
Fechar-me nos exílios
Dos impulsos, da angústia.
Afastei-me de mim...
Posso agora explodir:
Sou a faísca e a pólvora.












terça-feira, 30 de junho de 2009

ENTREVISTA CONCEDIDA AO DR JOSÉ MARIANO, DO BLOG POEIRA DE SEBO.

ENTREVISTA CONCEDIDA A DR. JOSÉ MARIANO FILHO, DO BLOG POEIRA DE SEBO.




Adriano Nunes é o poeta-dínamo da blogosfera. Através da sua arcádia eletrônica, “quefaçocomoquenãofaço”, presenteia-nos com uma produção poética imensa, em qualidade e quantidade, ecoando seus preciosos timbres, em alucinante obra em progresso. Influenciado na primeira infância pelas letras das canções, experimentou seu verdadeiro ritual de passagem para a Poesia através da obra de Fernando Pessoa, mestre maior que o inspirou também a conceber uma outra persona poética: o heterônimo feminino Cecile Petrovisk do blog “Poesia Nômade”.

Exímio artesão do verso, Adriano incorpora influências múltiplas ao seu canto – dos simbolistas aos concretos – caracterizado por técnica apurada, condensação e incomum sensibilidade, que marcam profundamente o leitor, sem a aridez e o hermetismo característicos de grande parte da produção poética contemporânea.


1) Com que idade você escreveu os primeiros poemas, e qual foi o impacto da experiência poética durante sua infância?

Quando criança, a música foi o meu primeiro contato com a Poesia. Não me lembro de ter estudado algum poeta na infância. Para mim, Poesia/Poema eram as letras das canções. Então, os meus poetas eram músicos. Comecei a escrever poemas, possivelmente, aos cinco ou seis anos de idade, quando ainda morava em uma cidade do sertão alagoano chamada Pão de Açúcar. Eram versos simples, rimados, sem nenhuma pretensão artística. Não entendia como aquilo surgia em minha mente e porque queria estar no papel. Talvez, fosse como se encenasse um teatro, essa brincadeira de inventar personagens, de criar situações, de compor certas canções ao acaso, muito comum nessa idade.

A mudança da cidadezinha para a Capital, quando eu tinha uns oito ou nove anos, trouxe nova luz para a minha vida. Morávamos em uma casa alugada, próxima ao SESC onde havia uma biblioteca. O primeiro poeta que entrou em meu mundo, em minha infância/pré-adolescência foi Fernando Pessoa. A paixão por tudo aquilo que eu li/memorizei dele viria a se confirmar depois com o porvir. Não entendia como alguém tinha sido capaz de escrever aquilo, como se desdobrava em outras pessoas. A minha primeira decepção com a Poesia também viria nesse período: Fernando Pessoa tinha apenas conseguido um mero segundo lugar com o seu poema Mensagem em um concurso, o que, para mim, era inadmissível. Além disso, uma frase de Tabacaria me roía o coração, aquela em que ele fala existirem muitos gênios no mundo e , talvez, nenhum o tempo marcará. Como me doía isto! Como penetrava fundo em meu egocentrismo e machucava-me!

Nova mudança de lar. O aluguel da casa agora era um estorvo. Como meus pais, à época, estavam sem condições financeiras para custear estudos, aluguel e tudo o mais, decidiram transformar o nosso lar em uma pensão familiar, assim pagariam as despesas da casa e nada nos faltaria. Na pensão, vim a conhecer o poeta alagoano Jurandir Mamede, um poeta revolucionário moldado de acordo com a ideologia cubana e soviética. Foi a ele que mostrei, pela primeira vez, o que eu escrevia... E não sei dizer o porquê, mas ele gostou do que leu.

Com a amizade de Jurandir, veio a avassaladora atração pela Poesia, por tudo que ela representava. Acompanhei-o em quase todos os eventos dos quais ele participava e terminei por conhecer e conviver com os poetas alagoanos dessa época, principalmente, os mais rebeldes, os boêmios. Ia inclusive a programas de rádio recitar poemas, meus, de Pessoa, dos poetas russos, dos loucos alagoanos, enfim, o programa O Brilho da Cidade, da Rádio Gazeta de Alagoas, rendeu-se ao encanto de uma criança com apenas dez anos de idade. Fui ao lançamento do primeiro livro de Jurandir, o "O Ocaso Não É Por Acaso" e lá também recitei poemas. Estava ficando cada vez mais ligado à Poesia.



2) Quais os poetas que fazem parte do seu cânone, e que qualidade particular de cada um deles o influenciou mais?
Depois de conviver com os poetas alagoanos aos 10 anos de idade, vi nascer em mim um grande amor pela poesia. Pessoa já era o maior para mim, mas eu também só conhecia praticamente Pessoa e os poetas alagoanos contemporâneos e os russos revolucionários.

Quando comecei a cursar o curso de Química Industrial (segundo grau) na ETFAL, tive uma professora de Português chamada Alice Marques de Freitas cujos dois filhos eram médicos. Nessa fase da minha vida, escrevi poemas todos os dias. O poema "Vernáculo", já postado em meu blog, pertence a essa fase que correponde a 1989/1990. Quando recitei tal poema, Alice disse assim: "Estamos diante de um gênio!" "Você precisa entender o que é ser gênio" "Você não pode se perder!". Aos 15/16 anos, passei no Vestibular da UFAL, para o curso de Engenharia Química. Uma façanha! Nem tinha terminado o segundo grau e minha colocação era ótima. Alice mais uma vez me orientou: "você tem que fazer Medicina" " você quer ser peão a vida toda?". Quando cursava o 3 ano de Química, passei no Vestibular da UFAL em 2 lugar e primeiro entre todos os alagoanos, aos 17 anos. Nasce o Concretismo em minha vida.

Arnaldo Antunes me levou a conhecer os concretistas. e a amá-los. Fase de grande admiração por Caetano, os Titãs, Péricles Cavalcanti e Adriana Calcanhotto. Antonio Cicero ainda não tinha entrado em minha vida, via o nome dele nos encartes dos discos, mas não sabia quem era e o que era. Devorei, nos primeiros anos de Medicina, toda a poesia de Pessoa e dos concretistas. Sabia de cor as "músicas concretas".

Ainda não tinha dinheiro para ter livros e a biblioteca da UFAL era o meu baú secreto de tesouros, nas horas vagas. Conheci, a partir desse momento, Manuel Bandeira (passaria a ser o meu poeta preferido depois de Pessoa), Drummond, João Cabral, Mário Quintana e os simbolistas. Augusto dos Anjos me atormentava e eu gostava e ainda gosto muito da sua poesia.

Na metade do curso, os tempos eram outros (financeiramente e literariamente): já falava e escrevia em inglês. Passei a ler então os poetas ingleses: Keats, Yeats, Shakespeare e o maior de todos, para mim: Walt Whitman! Shakespeare e Whitman influenciaram Pessoa muito e eu tinha como obrigação lê-los, entendê-los e amá-los, pois amava Pessoa. Aí, aconteceu outro drama-cômico: comecei a gostar desesperadamente de ler prosa (não citarei os autores porque foram e são muitos... E aqui o que mais me interessa é mesmo a Poesia). Shakespeare ocuparia, em prosa, a partir daí, o lugar que Pessoa ocupa na poesia.

Os poetas franceses também me influenciaram muito: Baudelaire, Verlaine e Arthur Rimbaud. Praticamente, não li poesia alemã. Só alguns filósofos, entre eles Nietzsche e Schopenhauer. Identifico-me com eles. Nunca li Kant. Nunca li Hegel. E tenho livros de ambos. A Filosofia veio a fincar-se mais forte em mim através de Aetano Lima, grande amigo, e depois de frequentar, assiduamente, o Blog Acontecimentos, do Antonio Cicero.

Antonio Cicero faz parte do fim do meu curso e da minha ida a São Paulo para fazer a residência médica. Guardar, o seu livro, foi o primeiro contato, a primeira admiração... (Seria hoje, para mim e por mim, impossível tecer qualquer discussão filosófica ou poética sem citá-lo!). Amo-o, como amo Pessoa.

Como cada um me influenciou, não sei ao certo dizer; são vários os motivos: a vida deles, a temática dos seus poemas, as estruturas poéticas, a técnica, enfim, uma impossibilidade infinita de considerações.


3) Quanto aos poetas mais novos, quais são agraciados com sua leitura? Há algum que você inclua na classificação poundiana de inventor?

Leio Eucanaã Ferraz, Arnaldo Antunes, Nelson Ascher, entre outros, e muitos poetas da Blogosfera. Aprendo com todos!

Sim, Arnaldo Antunes.

Não poderia deixar de explicitar que sempre leio Waly Salomão, Augusto de Campos, Ferreira Gullar e Augusto dos Anjos, mais que atuais e novos.


4) Qual é a hierarquia da inspiração e da técnica no seu processo criativo? É possível um equilíbrio entre essas instâncias ou o poema para ser finalizado sempre estará à mercê da tirania de uma delas?

Não me prendo à regra nenhuma e a nenhum processo de criação. Se quero fazer um poema concreto, faço-o. Se penso em um soneto, construo-o. Uso as técnicas todas porque todas me são acessíveis. A mágica é não pertencer a tempo algum e ser, ao mesmo tempo, clássico, rebelde e experimentalista. Gosto do visual e do impacto que uma palavra é capaz de causar em um poema, por isso aprecio os ritmos, a métrica, os sentidos e estudo como poderia tornar (o poema) cada vez melhor, apesar da minha ansiedade de expô-lo urgentemente ao público.


5) Qual é a sua visão em relação a textos de prosa poética, como em Lautréamont e Gerard de Nerval?


Conheço pouco de ambos. De Lautréamond, li alguns fragmentos de "Les chants de Maldoror"; de Gerard de Nerval, li "Les filles du feu". Gosto dos textos de prosa poética. Adoro o Livro do Dessassossego, de Pessoa, por exemplo.


6) O memorialista e poeta bissexto Pedro Nava dizia ironicamente que a Medicina era sua mulher e a Literatura sua amante. No seu caso, como fica o seu afeto diante das atividades poética e médica?


Essa é uma questão muito dolorosa para mim: amo as duas intensamente! Seria incapaz de separar-me da Poesia ou da Medicina. Ou dar valor maior a uma ou a outra.


8) A sua poesia, além de bela, é notoriamente angustiada. O processo de criação é um bálsamo para você ou é bico de águia no fígado?


Todos os meus poemas vêm da dor. Que dor é essa, não sei defini-la. Sou uma pessoa angustiada, ansiosa, mas feliz, muito feliz. Criar é felicidade máxima. Quando faço um poema, vibro, pareço criança quando ganha presentes, brinquedos.


9) Quais são suas expectativas quanto aos mecanismos tradicionais de edição de livros de poesia? Ao editar seus poemas nos blogs você se exime da nostalgia-fetiche do livro?


Creio estar bem mais fácil lançar livros, sejam de poemas ou de quaisquer temas. No fim deste ano, pretendo lançar um livro com alguns poemas já publicados e outros inéditos. Livros são essenciais. A internet não tem como ocupar o lugar deles.


10) Você vislumbra a possibilidade de escrever letras para canções? Quais são seus letristas preferidos na música popular brasileira?


Sim. Já escrevi algumas letras de músicas para amigos meus que compõem, aqui em Alagoas, e que tocam em barezinhos, mas tudo de forma engraçada, sem planejamento, a pedidos loucos e vorazes. Combinei com a Marina compormos uma canção... Mas ainda são só planos.

Gosto muito de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque. Aprecio as letras de Antonio Cicero, Arnaldo Antunes, Péricles Cavalcanti, José Miguel Wisnik e Adriana Calcanhotto.


11) O múltiplo e saudoso José Lino Grünewald editou em 1996 o livro “Pedras de toque da poesia brasileira”, onde ele mesmo introduzia: “Pedra de Toque (do inglês touchstone) é um termo que, no caso, se refere a trechos, frases, expressões, ou, às vezes simples flashes da maior/melhor densidade poética dentro de um texto.” Cite alguns versos, trechos de canções ou de textos filosóficos, que foram “pedras de toque” marcantes na sua formação.


São muitas e dizer algumas, esquecendo outras, seria uma fatalidade cruel. Deixo essa aqui, do meu amigo Antonio Cicero, que sempre me traz uma alegria e uma possibilidade de alcançar novos horizontes: "Quem sabe o fim não seja nada e a estrada seja tudo".