sábado, 30 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Gratuita totalidade"

"Gratuita totalidade"



Desprende-se a madrugada

Dos báratros do infinito, e
Meu coração, por pensar-te, 
Cora-se das áureas íris
Do momento e dos matizes 
De alegórica alegria, 
Da gratuita totalidade

Que, em êxtase, o existir há-de
Invadir, firme, agarrando-se  
Aos liames da ilusão,

Que desses versos se vale.
Como bem sabe bater,
Bater, bater, bater forte,
Legítimo amor, pancada  

Por pancada, por amor, 
Por amar, pelo fulgor
De não desejar mais nada!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Uma ilusão sei que sobra"

"Uma ilusão sei que sobra"



Rolam os inúteis números
Sobre a existência de tudo.
De ubíqua equação se cobre
O coração já sem prática
Paciência, quase mudo.
Sob uns clichês, com desgaste,
Parece que de si salta,
E, pancada por pancada, a
Palavra amor pronuncia,
A palavra amor o invade.
Talvez seja mesmo Arte
Essa estranha loteria:
Há dias não te vejo, amor.

Enquanto isso, até me visto
De sonhos, sombras e sustos.
Uma ilusão sei que sobra
No fundo, no fim da contas,
Entre regras, ritmos, riscos,
Prazos e preços e datas
Marcadas, indicações
Redigidas em ideias
Enlatadas, mágoas pagas,
Endereços que não se
Encaixam, altura, idade,
Índices, cintura, massa,
O peso de tudo sobre
Tudo que se sabe e se

Disse, gravidade, órbita,
Elétron, lugar, instante,
Velocidade, Newton, Euler,
Galileu, Einstein, Copérnico,
Gozos e enganos mais cegos,
Sóis de probabilidades,
Os cálculos e as incógnitas...
Como poderia então
Conceber que o coração
Abrigaria a alegria
De amar-te, num brusco lance
De acasos estonteantes,
Dia após dia, qual mágica,

Numa estatística exata?




quarta-feira, 27 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Das entrelinhas"

"Das entrelinhas"


Ao teu flerte
 entrego-me,
Sem receio,
E abrigo-me, adentro,
Tal recheio.

Em mim, no centro

Do que me penso e
Sinto, o amor bem
Sabe a que veio.

sábado, 23 de junho de 2012

Adriano Nunes: "A romper a estrutura do amor"

"A romper a estrutura do amor"


O meu coração nunca resiste

Às intempéries do inesperado.
Às vezes, com seu ruído triste,
Lança-me a um instante envenenado

Pela memória, temido, em riste.

É outro estranhamento encontrado
Dentro das laringes de grafite,
Outra chave pro deserto ao lado,

A querer dar veraz voz à vida,
A romper a estrutura do amor,
Enquanto a dúvida me trucida.

Coração, que te posso propor
Nesta existência comprometida,
Para que amarras, pétreo pudor?

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Instante"

"instante"


o in
fi
ni
to

em
mim

é o
am
or
ad

mi
to

as
sim
in
sta

nte
in

tac
to
por
ti

terça-feira, 19 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Liame íntimo"

"Liame íntimo"


Acredite:
Eu não ligo pra  limites,
Não me alimento de disse-me-disse,
Não me abrigo no que não possa ser
Infinito.

Dou mais crédito ao
Que  mexe insolitamente comigo,
Vivo, às vezes, de impulsos primitivos,
Agarrei-me ao prazer de conhecer-me,
E só isso.

Eu não me vejo vencido,
Mudo de modos, de gostos, de âmago,
Amo o amor dos meus inimigos, brinco
De desafiar também quem me penso e
Tudo sinto.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Diâmetro"

"Diâmetro"


Pletora de plenitude,
Êxtase por existir,
Quase vasto orgasmo agora.
A saliva sobre a carne

Sabe o que mais quer, deseja.
Minha língua, além da língua,
Sobre a linguagem, à míngua,
Mina: o elixir da memória,

Aquele enfeite, a cereja
Do bolo, o recheio álacre
Da saudade, do devir,
O poema a piscar o olho.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Máquina de engendrar quimeras"

"Máquina de engendrar quimeras"



Enquanto espero 
Que o inesperado me sequestre

O meu coração pira, ao ter que
Presumir ser

O teu espectro 
Qualquer pedestre
Que passa, porque muito quer,
E acredita que, estando preso

Às batidas desse momento,
Alcance o que
Demais o agrada, o que lhe serve
De luz, de bem.

É tudo ou nada, não tem jeito.
Arranquem de mim, tirem mesmo,
Essa máquina de quimeras, 

Do meu mediastino médio!

terça-feira, 12 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Íntimo"

"Íntimo"


Depois,


Nós aproveitamos o vendaval,
As pedras que gritavam através
Da memória e desejos, ante a trilha,
Aquela angústia bruta de  saber
A que a ubíqua alegria veio, e, súbito,
Brincamos de esconder todo o infinito
Dentro do coração, como um poema.


Era o imenso amor envolto em catarses -

Ai, o receio de ter que prestar contas
À vida! -
Suores, 

Atritos,
Instintos

Imprevistos, improvisados, íntimos,

Graus máximos...

E isso, 

Agora,
Exposto,
Expulso,
Explícito,

Instante
Em êxtase.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Adriano Nunes: "manhã de trovões" - Para Arícia Mess

"manhã de trovões" - Para Arícia Mess

sinais, sins, sais

e sons...

trovas, trololós,

transes,

trânsito pétreo

nesta

estranha manhã de trovões.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Adriano Nunes: "nina" - Para Nina Cavalcanti

"nina" - Para Nina Cavalcanti

pela lente
a luz mina
da menina.

diferente-
mente, a sina
se aglutina

sobre a gente.
de repente,
o sol, nina!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Adriano Nunes: "nunca entenda nada" - Para Augusto de Campos

"nunca entenda nada" - Para Augusto de Campos

n e c t

u a a n
d n n e

n a d a

Adriano Nunes: "o amor"

"o amor"

os dragões ainda
brincam de cabra-cega,
amedrontados.

ai, por que não finda
essa quântica ilusão
(quanta ilusão!

os dias estão contados,
ó pétreo coração!) 

que me carrega

para a fácil satisfação
de sentir-te,
sem limite?

terça-feira, 5 de junho de 2012

Adriano Nunes: "deleite" - Para Péricles Cavalcanti

"deleite" - Para Péricles Cavalcanti

lanço-me
ao liame
de tudo 
que tenho
lido 
e ouv
ido.

não have
ria outra
constatação:
que a ar
te me
salve
te louve

e nos mude
e nos molde
não me
iludo...
que nome
dar à
emoção

de verou
vir
o que vem
do instante
rar
o de ter
te conhecido?

Adriano Nunes: "enfeite"

"enfeite"

finca-se in-
finito
o inaudito
in
loco:

olho no olho
lábio
no molho
salivar do outro
rápido gozo

depois
silêncios de
silício
o amor entre
nós dois.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Adriano Nunes: "Eco"

"Eco"


Então
Era preciso
Outro improviso,
Dar à questão
Outro interesse,
Não mais só esse
Que ao próprio bem
Convém.

D'água o sorriso...
(Vê-se Narciso
Em sombra imerso
E a vida pulsa
Sombria, avulsa
E assombra e sobra
Ao ser, soçobra.)
Pedras? Qual obra?

Era preciso
Fazer um verso,
Dar à emoção
O paraíso
Possível ou
O que restou...
Satisfação?
Um coração!