terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Adriano Nunes: "Por que assim ser há de?"

"Por que assim ser há de?"

Não sei por que me invade
Tal tristeza tamanha,
E, logo, me abocanha
Casca e carne, a unidade

Do que me penso, a entranha
Sináptica da tarde,
Tudo que em meu ser arde.
A vida até me estranha!

Ah, vã perplexidade
De estar triste, barganha
Que apático me apanha!
Por que assim ser há de?

Adriano Nunes: "Desejo"

Adriano Nunes: "Desejo"

Para que um amor só,
Se posso mesmo ter-te, ó desejo
De ter uma miríade de.
Para que me prender à
Expectativa doutra primavera,
De ficar de um verso à espera,
Se o verão já me incendeia,
Se me implode volta e meia?

Para que um amor só,

Se posso lamber-te, ó querer
Ter músculos, braços, olhares e bocas tantas!
Para que ficar mofando, perdendo o sono
Se posso romper as barreiras do possível,
Com um sorriso?
Ah, sede de gozos e delícias quânticas!
Ah, emaranhado de pernas e suores
Que há muito o mundo move!

Adriano Nunes: "Que pode um poeta?" - para Antonio Cicero

"Que pode um poeta?" - para Antonio Cicero


Que pode um
Poeta?
Abrir
As portas,
As frestas,
Os trincos,
As celas,
Gavetas,
Armários,
Os cofres,
As caixas,
As malas,
Os mares,
Prisões,
Algemas,
Os símiles
Sinônimos,
Análogos
Sentidos,
E mais
Que isso,
De fato,
As tantas
Janelas
Do instante
Sináptico,
Pra então
Criar
Mil cosmos
Elásticos,
Dar voz
Ao vácuo
Do amor,
Em nome
Do sonho
Depor,
Dizer
A que
Vem, veio,
É seu
Mor meio,
Pra expor
As múltiplas
Feridas
De si,
Tingindo-as
De mito,
Do misto
De verve e
Devir,
Mentindo, e
Curá-las,
Ainda
Que nada
Importe.
Dar um
Calote
Na morte,
Porque,
Sim, tudo o
Mais pode.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Adriano Nunes: "Carnaval"

"Carnaval"


Carnaval
Nunca é
Mesmo um.
Sem vã pressa
Ou pressão,
Decidi:
Irei não
À folia
Da ilusão.
Serei rei
Do meu lar.
Por aqui,
Vou brincar,
Entre métricas,
Ritmos, rimas,
Do que já
Ser ainda
Pode - essa
Alegria
Que dá norte
Ao pensar.
Carnaval
Nunca fora
Isso apenas.
Ah, quisera
Ofertar
Mais quimeras
Às palavras,
Asas dar
Ao que quero!
Sem mistério,
Tecer um
Outro verso.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Adriano Nunes: "Yarelin e a morte"

"Yarelin e a morte"


Quando Yarelin tentou matar-se,
Parecia não mais existir tarde
Nem a ideia de existir mesmo tarde.
Era uma noite chuvosa, e tudo
Desatou-se em desassossegos e
Desmedidas quimeras de devir.


A saída é por aqui! Por aqui! -
Gritavam os mil demônios de si.
Seu âmago buscava a morte, certo
De que a morte viria como vem
Sempre quando se procura por ela
Os que só podem procurar por ela.


Fechou o ser e todas as janelas.
Sobre suas pernas, pôs a esperança,
Gasta, cansada, carcomida, manca.
A morte nem aí. Yarelin era
Só outro Yarelin que iria só...
Implacável e intolerante, a morte,


Cética de qu' essa existência exala
Chances  e recomeços portentosos,
Calcula cada gesto e golpe. Pode
Ser que dê bem certo dessa vez! - pensa em
Voz alta, já especulando o pranto
De todos os que poderiam ver


O seu corpo sendo apenas um corpo.
Era outro enigmático jogo. Um lance e...
Sentado, na beira da cama, triste,
Como parecem estar os que insistem
Em não ver sentido no fato de
Estarem sentados, na beira da


Cama, tristes,sós, esperando o click
Fatal. Eis que ela se aproximou,
Com arrogância e ganância. Adianta
Sonhar agora, Yarelin, já no fim?
Adianta a memória, com seus gozos?
Assustou-se. Não poderia ser


A morte essa contradição esnobe.
Por que não era mais forte do que
O pensamento de morte? O não-ser?
Quando o frágil jovem ousou matar-se,
Parecia não mais existir arte
Nem a ideia de existir arte. Quase


Às quatro da madrugada. Silêncio
Dentro das metáforas. Desatento,
Yarelin do ato a seguir não sabe
Senão que será o próximo ato.
Tira os sujos sapatos. Faz um laço.
Cria um norte. Um riso tímido salta


Do desejo de não ser Yarelin.
Deita sobre o chão da fria saudade.
Se a vida é tediosa, a morte é chata,
Constata. Afaga o átimo que passa.
Ri da torpe tolice. Estás mais triste? -
Interroga o cadafalso, deixado


De lado. A morte, à socapa, se esvai
De soslaio. Leitor, que importa mais?
A cidade se agita - dá pra ver
A aurora através da vasta vidraça.

Adriano Nunes: "Do outro"

"Do outro"

Acusas-te
No outro
Por não 
Saberes
Bem ser-te.
O outro
É quem
Desejas,
Sem fim,
No todo,
Ser? Como
Movê-lo
Do âmago
Teu, sem
Mais erros?
Desprezas,
Às pressas,
A ti.
Estás
Tão triste,
Percebo.
Estás
Tão só,
Adentro
Do medo.
Por que
Criaste
No ser
Que és
O mesmo
Abismo
De tédio
E anseio
De tempos
Primevos?
Caos? Pêndulos?
Existes?
Por que
Não cedes,
Ao menos,
À imagem
Reflexa
Que vês
Apenas
No esboço
Da ausência
Do gozo?
Que óbvio
Tens como
Negócio?
Amálgama
De olhos,
De senhas?
Por que
Não tentas
Viver
Além
Do espectro
Do ódio
Robótico?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Adriano Nunes: "Objetividades obsessivas"

"Objetividades obsessivas"


É muito tarde.
Não nos perturbem
Agora. Não nos moldem
Aos seus desejos de conformidade
A regras ridículas, risíveis.
Talvez seja tudo ou nada.
Talvez seja...
Tivemos tempo apenas para
Fugir com incertezas e desassossegos.
Mas estamos com a caixa!
Sim, ela nos pertence, de alguma forma.
Ah, noites de cálculos e memórias corrosivas!
Ah, fragmentos de mundos presos às
Nossas expectativas! A caixa intacta!
Todos os portentos! Todos os mistérios!
Todas as delícias do imaginário!
Todos os atalhos! Todos os porquês!
Ah, nossa intempestiva promiscuidade!
Ah, nossa arrogância santificada
Pelos eruditos com pedigree!
Qual proeza libertar-nos-á de nossos metros ,
Dos horizontes hipócritas do nosso bom senso?
É muito tarde? Como sempre abrir a caixa?
Pandora já deve estar mesmo morta.
Não haverá mal maior do que sermos tudo
Isso remendado que já pensamos que somos. Não há
Nada que nos possa redimir do caos
Que sub-repticiamente não engendramos.
Ah, cocotes e michês das subjetividades sucessivamente sufocantes!
Ah, modelos inacabados das objetividades obsessivas!
Ah, vontade de ritmos, ritos e rompantes!
Ah, miríade de medidas e hipóteses hipnóticas!
Que abramos a caixa! Que o acaso nos rapte
Como se não pudesse haver cedo ou tarde!
Ah, noite de estigmas e estatísticas estéreis!
Por que sonhar ainda a tantos serve?
Pandora deve estar mesmo morta.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Adriano Nunes: "Meteoro"

"Meteoro"

Meteoro
Meteori
Meteoig
Meteign
Metigno
Meignor
Mignoro
Ignoroo

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Adriano Nunes: "Amor"

"Amor"

poucoapouco
poucoapouct
poucoapoutu
poucoapo
tud
poucoaptudo
poucoatudop
poucotudopr
pouctudopra
poutudoprat
potudopratu
ptudopratud
tudopratudo

Adriano Nunes: "Cantar" - para Mauro Sta Cecília

"Cantar" - para Mauro Sta Cecília


Macera a
Maçã
Do instante
O acaso
Sináptico.
E já
Não há
Rompante
Qual antes.
Cantar?
Reinar?
Os cacos
Dos átimos
Tão gastos
Espalham-se
No chão
Do olhar.
São lágrimas
Do amar
Demais
As marcas
Do nada.
Que são
Palavras
Senão
A arte
De não
Ter paz?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

"Nihil obstat"

De
Morte
A
Morte,

De
Dado
A
Dado,

De
Fonte
A
Fonte,

Do
Sul
Ao
Norte,

Eis
Que
Fez
Ser

Vista
A
Causa
Gay

O
Mestre
Luiz
Mott.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Adriano Nunes: "Ah, como tudo fica já sem rédea!"

 "Ah, como tudo fica já sem rédea!"

A vida não é mesmo fácil - diz
O que em meu ser jamais fora feliz.
Sequer uma ignota grega tragédia.
Às vezes, é regresso à Idade Média,
Outras vezes, o presente que quis.
Ah, como tudo fica por um triz!
Ah, como tudo fica já sem rédea!
Oh, infinito alegre de mim conserve-a!
O que das quimeras quânticas fiz?
Quando o devir à vez dará seu bis?
Toda a vida? Incompleta enciclopédia
Onde se escondem as questões mais sérias