quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Adriano Nunes: "Pobre poeta!"


“Pobre poeta!”


Ainda criança, uma dúvida
Logo me alcança: a poesia
Bela era somente aquela
Com rimas ricas feita, era

Apenas aquela de métrica
Perfeita, com a forma única?
Não se devia amor rimar
Com flor, porque, rudes, diziam

Que o verso belo era mesmo o
Que seguia as regras direito.
E, eu, todo ilusão e peito,

Amava rimar flor e amor
Porque o amor era a frágil flor
Que tudo perfuma com luz.
Pobre poeta me supus

Por causa de rígida regra
Que à grã beleza nunca leva.
Agora sou demais feliz:
Rimo amor e flor, como quis!

Adriano Nunes: “Deste estranho arcabouço”

“Deste estranho arcabouço”


Só ruídos de rodas
Sobre as ruas, ao longe,
Alongam-se, aqui, onde
Moro em mim, entre rotas

De desejos e nomes
Que muito me consomem.
Vez ou outra até ouço
O silêncio que brota

Deste estranho arcabouço
De memórias e fontes.
São rasuras e notas
De rodapés, em volta.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Adriano Nunes: “Das Táticas”

“Das Táticas”


No escuro
Do quarto,
Por ti
Procuro.

Há só
O vácuo
Dinâmico
Do mundo

Do âmago
Que com
O pó
Difuso

Das horas
Reparto.
Que bom
Que tudo

Dará
Um nó
Se fores
O fruto

Astuto
De algum
Elástico
Futuro.

Quimera
Apenas?
Acasos
Espúrios?

Memória?
As dores,
As penas,
Tumultos...

Os atos
São já
Da esfera
Do lúdico.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Adriano Nunes: "A esperar por las Ménades"

"A esperar por las Ménades"


Mi pequeño griego escondrijo
Tiene ágora y templos tantos.
En las noches tensas, 
me encuentro intacto, sin miedo,
junto a la hoguera
de los sentidos infinitos,

A Homero y Platón . ¡Qué potentes signos!
Una pena que no ha recordado
De mis ojos fondos y de mi astucia!
Entre Odiseos, Aquiles, Helenas y Príamos,
Siempre nos olvidamos,
siempre nos engendramos.

¡Somos esos diálogos, esas sabidurías!
Todavía hay que celebrar los acasos y los sueños.
Mañana temprano
estaremos todos en el campo
A esperar por las Ménades,
Para cantar y bailar con Dioniso.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Adriano Nunes: "Solto: por vezes, alço voo" - para Péricles Cavalcanti

"Solto: por vezes, alço voo" - para Péricles Cavalcanti

Entre um verso e outro, vou
Percebendo o quanto sou
Solto: por vezes, alço voo,
Invento um âmago novo.

Onde fica o fim do poço?
Por que as sereias não ouço?
Traços ou troços? Bem, roço o
Eco do amor, o arcabouço

De um cosmo e outro. Talvez,
Um pouco dos ais, de vez.
Mas com quanta lucidez,
Sou eu do encéfalo à tez?

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Adriano Nunes: "Do flerte"

“Do flerte”

Da língua
Ao lábio
Carnudo,
Um elo
Elástico.

Um átimo
- Segundos? -
Que os olhos
Marcaram,
Abraço

De áleas
Sinápticas:
As pernas
Nas pernas,
- Que faço? -

Os pés
Prendendo
Os pés,
- Que encaixe! -
Um laço

De músculos,
Disfarces,
De mútuos
Orgasmos
Sonhados.

Depois,
Trocamos
Contatos,
Vontades,
Tão rápidos!

Ah, claro
Que nos
Tocamos!
Quem sabe
Do acaso?

Adriano Nunes: "Por um fio"

"Por um fio"

A
Cho
Que
Des
Sa
Vez
Di
Go
Que
Te
A
Mo
De
Fa
To.
Vou
Sa
Ir
Do
La
Bi
Rin
To
Do
A
Ca
So.
Cla
Ro
Que
O
A
Mor
É
Mes
Mo
E
Nig

Ti
Co.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Adriano Nunes: "A Mauro" (ao amigo Mauro Sta Cecília, por seu aniversário)

"A Mauro" (ao amigo Mauro Sta Cecília, por seu aniversário)


Mais mar
À vista,
Ainda
Que seja
O Rio
Cidade.
Atá-lo
Ao ato

Dos arcos
Aéreos
E áureos,
À letra,
Ao som,
À álea,
Ao sol
Elástico.

Além
Do dito,
Do ritmo
Infindo,
Que pode
A ode
A Mauro?
Ser bálsamo?

No átimo
Da festa
Do dia
Em que
Nasceu
O bardo,
Já ouso
Cantá-lo!

Adriano Nunes: "Tudo é voo"

"Tudo é voo"


Sol a ponto
De ser sol,
Prisma, a pino.
Imagino-o

Quase pronto,
Deste ponto
Em que estou.
Não me finco

Ao que sou.
Não me encontro
No que sinto.
Tudo é lindo,

Tudo é voo.
Ó, que estrondo
Forte, infindo
Faz o amor!

Adriano Nunes: "Carnaval"

"Carnaval"


De repente,
Serpentina,
Pierrôs,
Purpurina,
Tanta gente,

Os confetes,
Os enfeites,
Os feitiços,
Tudo isso
Para sempre

Tão presente,
Trio elétrico,
Fantasias,
Quatro dias,
Tudo ardente,

Colombinas,
Alma e máscara,
Até quarta,
Como marca
Nossa mente!

Adriano Nunes: "Sem fim, ser a fissura, a foz, o agora"

"Sem fim, ser a fissura, a foz, o agora"


Ao longe, primeiro. Alvoroço
A passar através das nossas
Íris. Estratégico porto.
Encontrar-te em ti, quase foco
Para a força, portento que transforma

O que será e o que já fora,
Adentro de tudo de nós,
Feito flexível flerte, como
Sóis de signos sugando o sonho.
Sem fim, ser a fissura, a foz, o agora

Que, pouco a pouco, é mesmo toda
Asa de mar, a verve solta
Dos assombros do que há, outra
Saída - cosmo de propósitos
Que se verte em amor e se renova.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Adriano Nunes: "Os eus soltos"

"Os eus soltos"


Não me formem
Com os troços
Ou destroços 
De mim, pouco,
Enfim, podem
Sonho e sorte.
Eis o jogo!

Tantos nomes!
Quantos gozos,
Olho a olho,
Geram nortes?
Pra que pôr
Novo amor
Em meu corpo?

Nesta noite,
Os eus solto,
De propósito,
Contra o óbvio.
O melhor
Disso, lógico,
É ser outro.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Adriano Nunes: "Oferta"

“Oferta”


Quaisquer meias verdades
A preço de banana.
A verdade dos outros
Já é vendida a grosso.

A verdade de tudo
Sobre todos, aos poucos,
Em estoque, sem data
De validade exata.

A verdade de todos
Sobre os mistérios, em oito
Vezes iguais, sem juros.
Quase migalha custa

A verdade absoluta.
Não precisam nada
Dizer - paguem no caixa!
A mentira é de graça.

Adriano Nunes: "Só"

"Só"


No mundo,
Não se está só.
Mesmo que não entenda grego,
Mesmo que nada ouça ou veja,
Mesmo que não se guarde algum segredo,
Mesmo que, um dia, a esmo,
Possa esquecer-se de dizer a que veio,
Por vergonha ou medo,
Mesmo que aconteça de ser o mesmo
O tempo inteiro, ainda que
A sala, a casa, a rua, o bairro estejam sem
Qualquer pessoa, sem saber
Do que pulsa, sem saber de si a fundo,
Ainda que o vácuo de tudo enquanto tudo
Engula a lua, o lar, o lápis, a luta, o lixo, o luxo,
A lagartixa livre e linda sobre o muro,
Mesmo que aconteça de não haver futuro,
De não ter outro jeito de a vida resplandecer,
Ainda que não haja nada em redor,
Ainda que não haja pensamentos para o melhor,
Ainda que se sinta só, que só se sinta e só,
Ainda que deuses não existam (ou existam) nem além,
Ainda que seja além disso também.
No mundo,
Não se está só,
Nem por um segundo.
Nem por um.
Nem por.
Nem.