quinta-feira, 24 de junho de 2010

Adriano Nunes: "Naufraguemos" - Para Alberto Lins Caldas

"Naufraguemos" -  Para Alberto Lins Caldas



Naufraguemos...
E larguemos ao mar
Tudo que nos restar
Para vão salvamento:
Pesados pensamentos,
Sintéticos silêncios,

Preces, promessas, prantos,
Esperanças, estéticas-
Salva-vidas e os remos.
Entre corais, no abismo
Dos segredos marítimos,
Talvez exista a vida

Que já não temos, tudo
Que nos respira, o sonho
De um emergir agora.
Deixemo-nos em nós,
Dentro da nossa nau
Abandonada, a Atlântida

Afogada, a quimera
À tona, espectros sós.
Lancemo-nos ao vácuo...
Cabeça, tronco, membros,
Mentiras, taras, traumas,
Porquês, desculpas, tédios...

Entreguemo-nos vivos
Àquele escafandrista
De primeiro mergulho,
Àquele que nos quer
Relíquia, pedra rara,
Ouro, prata, memória.





terça-feira, 22 de junho de 2010

Adriano Nunes: "Não se morre... Somente" - Para Antonio Cicero.

"Não se morre... Somente" - Para Antonio Cicero


Não se morre... Somente
O tempo é que se esquece
De ser o tempo, e apressam-se
As Parcas, ao presente.

Nada se desvencilha
Do instante fugidio.
Vê-se o vasto vazio,
N'alma, feito armadilha.

A memória de tudo
Vinga, e o flerte, disperso
Num universo mudo,

Afunda-se no inverso
Da morte. Porque tudo
É viver... Viver só.





Adriano Nunes: "Pensar" - Para Péricles Cavalcanti.

"pensar" - Para Péricles Cavalcanti.


que pulse
a vida

que passe
o vento

que pese o
poema

que pire
o tempo

que pênsil
o sonho!

que pense o...
sol-cérebro

apenas.
pulsando o

pretérito o
presente

pra sempre
pesando

passando
pra quê?

o sono
que expire

que expulse
o sonho

quem sonho?
quem soma?

que sumo?
que senda?

que surto?
quem sendo?

quem sangra?
(o risco

mais íntimo,
no mínimo)

canção
que surge.



segunda-feira, 21 de junho de 2010

Adriano Nunes: "Proeza" - Para José Mariano Filho

"Proeza" - Para José Mariano Filho


Para que
Alcançar
O mar, se
Para trás
Resta a areia?

Pra se ter
Tudo, não
É preciso
Dispensar
O querer

Mais que tudo?
Nessa vida,
Em um verso,
Noutro sonho...
Quem me busco?



sexta-feira, 18 de junho de 2010

Adriano Nunes: "Valsa para esta noite"

"Valsa para esta noite"



Pela sala, a
Vida voa,
Pede passa-
Gem e mira:

É vertigem!
Vinga a valsa,
Pés em dança,
Vem e vai,

Movimento
Repetido,
Passo nítido,
Olho no

Olho, atento
O poema
Vibra. São
As batidas

Tensas do
Coração,
As saudades,
As lembranças...

Pela casa, a
Valsa voa,
Cede passa-
Gem e mira:

É quimera!
Feito mágica,
Vinga a vida -
Olho, dança

E revira-
Voltas, todas
As imagens
Desse tempo

Refletido -
Vem e vai.
Mãos em mãos,
Coração

Acelera-
Do, poema
Atento, olho
Para os lados...




Que silêncio!







sábado, 12 de junho de 2010

ADRIANO NUNES: "valsa para dirceu"

"valsa para dirceu" - para meu amigo dirceu, pelo seu aniversário.



volta e
meia, à
meia
luz,
lança-se o
céu
ao a-
zul...

a-
mar-
elo o
sol
se
sol-
ta à
toa.

a-
briga-se
em
ci-
ma
do
teto o
mundo

do
ver-
so.
tu-
do
é
ver-
tido,

re-
ver-
so
do
ser,
si-
lên-
cio.






sexta-feira, 11 de junho de 2010

ADRIANO NUNES: "O gato" - Para Ferreira Gullar.

"O gato" - Para Ferreira Gullar.



Vive o gato de ver
O novelo a envolvê-lo,
Pata, dente, unha, pelo,
Aos pulos, num pulôver.

Vinga o gato: miado
Alto, salto mortal
Do sofá pro quintal,
Atrás de rato, alado

Feito pássaro. Vive
O gato pelo teto,
Todo solto, inquieto,
Bicho sem nicho, livre.

Sem rumo, pelos muros
Equlibra-se. Atento,
Eriça-se - Rebento
Dos agouros obscuros

Da crença. Pinta o sete:
Que encrenca! Rouba a cena
Nessa lida pequena.
As vidas? São só sete!



ADRIANO NUNES: "soneto para esta noite"

"soneto para esta noite"



noite turva.
tenho medo
deste medo.
temo a chuva,

caos nas ruas,
acidentes
comoventes,
trevas cruas.

noite tensa.
eis a vida!
quem a pensa?

noite lida-
recompensa-
consumida.




quarta-feira, 9 de junho de 2010

ADRIANO NUNES: "O sonho a solver" - Para Sandra Santos.

"O sonho a solver" - Para Sandra Santos.



Os sonhos? Não os tenho.
Tenho sono.
Tenho ócio.
Tenho tédio.
Quase vertigem,
Mas é sério:
O que é dormir?

Os sonhos? Não os sonho.
Tenho medo.
Tenho mágoas.
Tenho planos
Enterrados a sete palmos
Nas planícies da minh'alma.
Tenho náuseas.

Os sonhos? Não os conheço.
Tenho pensado
Pouco mesmo em
Tê-los. Nunca os vi.
Tenho sim em mim
Um desejo: Torná-los
Quem mais sou ou sê-los.






terça-feira, 8 de junho de 2010

NYDIA BONETTI: "(XIII)"

Nydia Bonetti:

(XIII)


etérea
a ponte que atravesso

um passo

entre o papel em branco
e o verso

um risco

(na ponta do lápis)






Nydia Bonetti é poetisa - ou melhor - grande poetisa. Lapida palavras, transforma-as em pérolas, em versos de grafite d'ouro! Recomendo o seu blog:
http://nydiabonetti.blogspot.com/ "Longitudes".

Adriano Nunes: "Arte Poética" - Para Haroldo de Campos

"Arte Poética" - Para Haroldo de Campos

Do
Ventre

Ao
Voo

Livre, o
Verso,


Feto
Sem

Termo,
Sem

Vez,
Sem 

Forma a
Inda, 

Signo
In

Válido,
Re

Tido,
Preso,

Dentro
Do a


Caso
Cômodo

Do 
Ócio,

À es
Pera

Do
Tempo


Est
Ético, o


Prazo
Métrico,


Do
Ritmo

Mais
Vivo,

De 
Si,

Que a
Vir

Muito
Custa,

Do
Rígido e

Fundo
Corte

Do
Cérebro.


Como
Lutam

Por
Ele

As
Musas!





domingo, 6 de junho de 2010

Adriano Nunes: "Através da vidraça" - Para Lêdo Ivo.

"Através da vidraça" - Para Lêdo Ivo.

Chove voraz. A vida
Não vacila. A cidade
Mergulha no caos. De
Açoite, a noite, é tida

Através da vidraça.
A rua, gota a gota,
Vai-se tornando rota.
O gesto tudo embaça.

Transita tanta gente
Às pressas. Essa chuva
É turva, oblíqua, curva, a-
Briga-se diferente

Em meu verso. Talvez,
Não vocifere o vento
Por minha voz. Invento-o
Em silêncio, de vez.

Tod'água continua
Caindo do céu. Tudo
Despe-se do azul do
Firmamento, na rua.

A alegria se esconde
Agasalhada em lata
D'água - Cascata nata
Sobre o telhado de

Casa - no grito da
Criançada, babel
De sonhos. No papel,
A vida plena, toda.




sábado, 5 de junho de 2010

ADRIANO NUNES: "Obelix e o romano"

"Obelix e o romano" 

Acabo de vir da aldeia
Bárbara. Que coisa feia
Querer ser tal Obelix,
Ter pra sempre 'ideé fixe',
Não crer nunca na razão,
Viver de ingênua poção

Mágica, porque caiu
Dentro do caldeirão! Psiu!

A Gália é bela de fato!
Torcer o nariz? Que chato
É não poder saber tudo!
Sou romano? Não sou mudo,
Nem cego, nem sigo tribo.
Somente o cérebro exibo.






sexta-feira, 4 de junho de 2010

Adriano Nunes: "Soneto LXXVIII"

"Soneto LXXVIII"


Era haver o dia, o vento a
Derrubar portas, ter a
Vida em um verso, ser mera
Matéria, pessoa à toa,

Brindar a Baco, sentir
Tudo, tentar mudar a
Azáfama, roda-rara, a
Trama dos astros, sem ir-

Reais taras, sem a morte
A pôr medo, natural-
Mente. Era provocar tal

Deus ou demônio mais forte:
O amor! Risco e ritual...
Perante um tempo total.




quarta-feira, 2 de junho de 2010

Adriano Nunes: "O Sol poético" - Para Nélson Ascher

"O Sol poético" - Para Nélson Ascher

Ouço o meu grito
Sobre o poema.
Que alçada extrema
Se tudo dito,

Âmago e vida,
Áurea alegria:
Almejaria a
Alma ser lida

Por este verso,
Pra desta vez,
Doar-me, imerso,

À tersa tez
Do sol diverso
Que me refez.





terça-feira, 1 de junho de 2010

ADRIANO NUNES: "Adorno"

"Adorno"



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a
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n a
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