sábado, 30 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "The new clothes of censorship"

"The new clothes of censorship"


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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Que és, mundo?" - para a minha mãe e meus irmãos

"Que és, mundo?" - para a minha mãe e meus irmãos


Do sertão
Para cá,
Nunca quis
Encontrar
Um tesouro
Que pudesse
Dar-me o mínimo
Que procuro,
Pouco a pouco,
Sem estorvos.
Não sou tolo.

Antes, digo,
Bem prefiro
O sossego
Do silêncio,
A memória
Do instante
Que me ignora.
A saída
Para o canto
Dos acasos.
Pra que tanto?

Entre medos
E mentiras
Que me deram,
Fui crescendo.
Muito livre,
Muito lúcido,
Entre os livros.
O perigo
Era o cosmo
Conhecido.
Não sou tímido.

Depois, vi
Que ter vida
Era mesmo
Ter que dar
Outro salto
Para o íntimo.
Diferente
Era o jeito
De saber-me
Tão pequeno!
Já me entendo.

Então, posso,
Sem propósitos,
Propor a
Meu ser, outro
Ser agora.
Sou feliz
Com as sobras
Dos enganos
E tropeços,
Já me fundo.
Que és, mundo?

Adriano Nunes: "Nu"

"Nu" 


Antes da folha
na pelve
Antes da pele 
na pele
Antes do couro
de bicho
Antes até
dessa noção
de corpo explícito
Muito antes mesmo
De algum vestido
Antes da sunga
Antes da capa
Antes da blusa
Antes do short
Antes do corte
E da costura
Antes da moda
Antes da bruta
Lei da censura
Antes da agulha
Antes da linha
Antes da estética
Antes do belo
Antes do feio
Antes até
Do que já veio
Por carta e email
Antes da meia
Antes do nó
Do fixo laço e
Do da gravata
Quase sem graça
Antes da marca
Antes da grife
Antes da loja
Antes do olhar
Pela vitrine
Antes do preço
Antes da nota
Antes do dólar
Antes de tudo
Entregue ao mundo
Todo desnudo
De leste a oeste
De norte a sul
O corpo nu.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Tristeza"

"Tristeza"


De alguma
Maneira,
Eu queira
Ou não,


Bem fundo
Na alma,
Já quase
Cravada

Na carne,
Na córnea,
Na verve,
Na voz,

A vasta
Tristeza.
Ao menos,
Não deixa

De ser
Precisa
Às raspas
Da vida.

Talvez,
Um dia
Termine,
De vez,

Virando
Só verso,
O qu'eu
Queria.

terça-feira, 26 de setembro de 2017

T. S. Eliot: "Song" (tradução de Adriano Nunes)


"Canção" (tradução de Adriano Nunes)


Se espaço e tempo, dizem os cultos,
São coisas que não podem ser,
A mosca que vive um dia único
Viveu o que podemos viver.
Então vivamos enquanto é justo,
E livres são o amar e o viver,
Pois o tempo é tempo e segue o rumo,
Embora discordem a valer.
As flores enviei-te quando o orvalho
Estava trêmulo na videira,
Úmidas antes do voo da abelha
Para sugar o roseiral bravo.
De novo, rápido, vamos colhê-las
Sequer lamentemos pinho vê-las,
E embora as flores do amor poucas sejam
No entanto, que elas divinas sejam


T. S. Eliot: "Song"

If space and time, as sages say,
Are things which cannot be,
The fly that lives a single day
Has lived as long as we.
But let us live while yet we may,
While love and life are free,
For time is time, and runs away,
Though sages disagree.
The flowers I sent thee when the dew
Was trembling on the vine,
Were withered ere the wild bee flew
To suck the eglantine.
But let us haste to pluck anew
Nor mourn to see them pine,
And though the flowers of love be few
Yet let them be divine.


ELIOT, T.S. The complete poems and plays. 1909-1950. San Diego: Harcourt, Brance Jovanovich, 1971.

domingo, 24 de setembro de 2017

William Carlos Williams: "Portent" (tradução de Adriano Nunes)

"Portento" (tradução de Adriano Nunes)


Rubro berço da noite,
Em ti
O sombrio bebê
Dorme logo até que
Seu poder tenha fim
Tendão por tendão.

Rubro berço da noite,
O sombrio bebê
Dormindo fica em pé.
Ó como
Os ventos sopram agora!
Ele retorna,
Os ventos suaves já são.

Quando os braços estende,
Rubro berço da noite,
Berram os alarmes
Da árvore nua à árvore,
Selvagens
De repente!
Forças irá ter,
Rubro berço da noite,
O sombrio bebê.


William Carlos Williams: "Portent"


Red cradle of the night,
In you
The dusky child
Sleeps fast till his might
Shall be piled
Sinew on sinew.

Red cradle of the night,
The dusky child
Sleeping sits upright.
Lo how
The winds blow now!
He pillows back;
The winds are again mild.

When he stretches his arms out,
Red cradle of the night,
The alarms shout
From bare tree to tree,
Wild
In afright!
Mighty shall he be,
Red cradle of the night,
The dusky child!!

WILLIAMS, William Carlos. "Portent". In:_____. "The Tempers". In:____. The collected poems of William Carlos Williams. Vol. I. Edited by Walton Litz & Christopher MacGowan. New York: New Directions, 2001, p. 10.

Adriano Nunes: "Do mercado"

"Do mercado"


Caixa livre!
Em dinheiro 
Ou cartão?
Aproveita a
Promoção!
Façam fila!

Caixa livre!

Vê se não
Dá pra em dez
Dividir!
Paga aqui?
Quanto fica?

Caixa livre!

Olha o troco!
Olha a nota!
Pra presente?
Não divide,
Se comida!

Caixa livre!




"Do mercado II"


Esvai-se o expediente.
Tudo é lacrado à chave.
Pronto o alarme somente.
De repente, qual mágica

Abrem-se, em coro, ardem
As gavetas dos caixas
Como se houvesse nada
Mais a fazer: e fazem,

Indomáveis, as farras:
"Caixas livres à frente!"
"Caixas ágeis que atendem!"

Como se fossem gente!
"Caixas livres à frente!"
"Caixas hábeis que falam!"

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Amor"

"Amor" 


Contra o amor nada pode
Nem mesmo a morte


Nada pode a força
Nada pode a flecha
Nada pode o fogo
Nada pode o ferro
Nada pode a forca
Nada pode a farsa
Nada pode o fel
Nada pode o fim
Nada pode a fúria
Nada pode a foice
Nada pode o freio
Nada pode o fútil
Nada pode a física
Nada pode a fórmula
Nada pode o fato
Nada pode o fardo
Nada pode a fama
Nada pode a fala
Nada pode o faro
Nada pode o falso
Nada pode a firma
Nada pode a farpa
Nada pode o forte
Nada pode o fraco
Nada pode a farda
Nada pode a faca

Contra o amor a lei
Não pode nada

domingo, 17 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Marina" - para Marina Lima, por seu dia

"Marina" - para Marina Lima, por seu dia


Do mar
À margem
Da língua,


Do encanto
De Circe
À lida

Mais linda,
Aquela
Que ainda

Mais brilha
Por ser
Infinda:

Da nota
À música
Que a adota,

A marca
Da gata:
Marina.

sábado, 16 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Átimo"

"Átimo"


Cidade
À tarde.
Ruídos
E riscos.

Não há
Trem bala.
Não há
Silêncio

A não
Ser dentro.
Pra não
Ser, penso-o.

E neste
Vai-vai,
Vem-vem,
A vida

Encanta
Meu ser
Que já
Não sabe

Ser quem.
Quem ser?
É tanta
Voz íntima,

Estranha!
Sequer
Dá para
Saber

Se vinga
Lá fora
Ou na
Memória

Que aflora
Agora.
Cidade
À tarde...

Retinas,
Rebentos,
Rotinas
Retendo-os.

De mim
Que sei
Sem fim,
Quem sabe?

Adriano Nunes: "Som sempre" - para Mauro Santa Cecília

"Som sempre" - para Mauro Santa Cecília


Poderia
Ser textura
Cor mais pura

Alegria
Que até dura
Porventura

Poderia
Ser leitura
Que se apura

Rebeldia
Sem frecura
Travessura

Dia a dia
A estrutura
Da cultura

Que irradia
Desventura
Que captura a

Poesia
Que é semente
Do som, sempre,

De rasura
Em rasura.
Quem diria?

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Solilóquio"

"Solilóquio"


Verso, leva-me
Pra a Mongólia,
Para fora
Dos tentáculos
Dessa lógica
Que precisa
De sentido,

Para longe
Da memória,
Para além
De alguém ser,
Pra não ser
Coisa alguma,
Não ser nada,

Verso, vê
Se não falhas!
Se puderes,
Nem que seja
Por um breve e
Frio instante,
Bem carrega-me

Para lá
Onde há
Outro tempo
Pra pensar,
Pra sentir,
Para dar
Outra volta

Muito acima
Do que já
É possível
Mesmo dar.
Verso, joga
O meu âmago
E o meu corpo,

Para dentro
Do infinito
Do que vinga
Em ti, quando
Viras canto.
O que peço
Não é tanto.

Verso, deixa a
Folha em branco.

Adriano Nunes: "Do amor"

"Do amor"

Ah, sempre
Amei!
Errado
Ou certo,
Amei,
Decerto!
Quis ser
Amado
Urgente,
De fato,
É claro,

Mas não
Sei se
O amor
É isso
De estar
Atrás
De algo
Que se
Quer válido
Pra ambos
Os lados.

O amor
Ser deve
Mais leve
E solto,
Um sopro...
Qual verso
Que se
Constrói
Aos poucos
E engendra um
Ser outro.

Adriano Nunes:"De todo escrito"

"De todo escrito"


Agora o grito
De todo escrito,
De tudo dito.
Outro infinito
No peito inscrito
A moldar isto,
O veredito :
Corpo e conflito!
Mesmo sem rito,
O amor, aflito,
Finge ser visto,
Por amor, mito.

sábado, 9 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "já é quase tarde" - para Augusto de Campos

"já é quase tarde" - para Augusto de Campos


manhãqueparte
manhãquepartj
manhãqueparjá
manhãquepajáé
manhãquepjáéq
manhãquejáéqu
manhãqujáéqua
manhãqjáéquas
manhãjáéquase
manhjáéquaset
manjáéquaseta
majáéquasetar
mjáéquasetard
jáéquasetarde
jáéquasetardn
jáéquasetarno
jáéquasetanov
jáéquasetnove
jáéquasenover
jáéquasnovers
jáéquanoverso
jáéqunoversod
jáéqnoversodo
jáénoversodov
jánoversodova
jnoversodovat
noversodovate

Adriano Nunes: "Poesia" - para Adriana Calcanhotto

"Poesia" - para Adriana Calcanhotto


A face mais fácil da palavra,
Qual é? Brada!
Qual a próxima astuta investida
Contra a lida
Que se alarga?
Será que dá pra ver esquecida
A mancada
Que tudo esfacelara e acabara,
Quando retirei do verso a máxima
Alusão
Demais íntima
Ao que em mim se via e arquitetava?
Bem deixaste
Escondidas a saída e a chave?
Para que
Macular
De tédio o tempo, o devir, a tara?
Que universo
A ti basta?
Por que rasgaste a última página
Da memória
Quando por ti atirei-me às máscaras
Do que vinga
Além, fora,
Da história parca que tinha nós dois
Qual metáforas?
Por que foste
Logo embora,
Deixando riscos, na folha alva,
Que não geram
Áleas, átimos, Ítacas, almas?
E por que
Dos meus braços
Tomaste a lira, a linguagem clara?
Por que, livre,
Já partiste,
Dizendo que também me adoravas?
Ah, e agora,
Poesia?
Com qual rima e qual metro te agarro
De vez, sem
Embaraços,
Neste momento de tudo ou nada?


Adriano Nunes: "Bel" - para Isabel Santos (in memoriam)

"Bel" - para Isabel Santos (in memoriam)


E entre as
Manhãs
E as tardes,
Durante o
Trabalho,
E as noites,
Na sala,
Ouvindo
Canções...
Manaus
- Tão vasta! -
Achava-se
Pequena
Perante
Nós dois:
Passeios,
Poemas,
Baladas,
As nossas
Conversas
Espertas
E mágicas,
E tudo
Que dito
Não fora,
Sequer
Escrito.
Ah, isso
Que rasga
O peito,
A dor
Que salta,
Qual lágrima
Que cai
Pra dentro
Da alma!

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Das áleas da emoção"

"Das áleas da emoção"


A lâmpada apagada.
Não há mais a ilusão
De haver nova ameaça 
Ao tédio. Tudo escapa
Das áleas da emoção
E avança contra a elástica
Indeterminação
Do porvir, do que não
Mais cede à razão, para
Deixar, sem regra clara,
As coisas como estão.
E tudo sangra, então,
Como se fosse, em vão,
Alarme que dispara.

Adriano Nunes: "Ode à enxaqueca"

"Ode à enxaqueca"

Entre o piscar
Das luzes ávido
E o abrupto estalo
Sobre o que há

Por trás do olhar
De cada átimo,
O impulso rápido
Que a fibra dá:

E tudo dói
Por mesmo ser
Tudo, por ser-

Vir-se do ser,
Pra só doer...
E como dói!

Adriano Nunes: "Medusa" - para Emerson Oliveira Do Nascimento

"Medusa" - para Emerson Oliveira Do Nascimento


Então, muito cansado, chego à gruta
Onde se encontra a górgona mortal,
Que outrora fora bela, sem igual,
E, agora, agita serpes, luz refuta.

Vê-la é revertê-la em pedra, bruta
Matéria que se engendra crucial-
Mente em astúcia e grito, em ritual.
Ela sabe a que vim, mas não me escuta,

Não me procura em si. De que se furta
Enquanto a vida vinga cruel, curta?
Por que se deixa à lâmina, tal qual

Vítima de algum sonho, do seu mal?
Escondo-me. Perseu, tão jovial,
À cega, o alvo acerta e, assim, só, surta.

domingo, 3 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Como se dá a alma"

"Como se dá a alma"


Eu sei que eu poderia te ofertar
O mar e as ondas altas,
O ar e para voar as asas,
O que não há,
Toda álea,
O que pode já o pensar,
Até a alegria que Spinoza retrata.

Ah, eu dei para me conformar
À tua ausência vasta,
À tua outra casa,
Àquela viva valsa
Que insiste em povoar a mente cansada,
Porque, dizem, que o amor basta,
Porque disseste: "basta, não é nada!".

Eu sei que eu poderia chegar a
Teu ser, com o furor lírico de uma rima rara,
Presentear-te com o que pode a fala,
O silêncio de um átimo que te caça
Pelos arredores e corredores das palavras,
Eu bem que poderia voltar atrás...
Mas por que parece não dar mais?

As plantas secaram, rasguei as cartas nunca enviadas,
Deixei também de dá-las!
Ah, furtei-me de ir mais fundo sem traumas,
Deixei o medo cercar-me qual dádiva,
Cantei o tédio e a raiva mais demorada
Para ver se me sonhavas.

Ah, eu poderia dar-te céus e estradas
E tudo que tudo enfim significa às claras,
O lado de lá, as ilhas Galápagos, Saaras,
Gobis, Atacamas, as montanhas geladas,
Atlântida, Macondo, Ítaca, Esparta!
Ah, eu poderia retirar de tudo o que tudo exala,
Só para te dar, como se dá a alma.

sábado, 2 de setembro de 2017

Adriano Nunes: "Mais que 7 bilhões"

"Mais que 7 bilhões"


Eu, que agora estou conectado
À minha solidão, ao fado
De ficar conectado, lado
A lado co' a solidão, dado
Como constatável tomado,
Até acho que seja válido
Estar a tudo conectado,
Mesmo que apenas para, do
Coração à voz, ver atado
À existência um significado:
O que possa já ser sonhado
Sonhar, amar demasiado.

Adriano Nunes: "Faz tempo que sonetos eu não faço "

"Faz tempo que sonetos eu não faço "


Faz tempo que sonetos eu não faço.
Não sei se por receio de fazê-los
Com múltiplos defeitos, por apelos 
Do peito que os deseja qual abraço.

Então tento fazer, sem embaraço,
Um só, entre cuidados, lapsos, zelos.
Ao fim destes quartetos, por tecê-los
Assim, mesmo será que me desfaço?

Sem perceber que ao báratro da arte
Lancei-me inebriado, novo verso
Fiz para concluir este terceto,

Esfacelando a rima, pois me meto
À besta, ainda que negue, e, diverso,
Deixo-te, metro, porque sei moldar-te!