terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Silêncio" - para Péricles Cavalcanti

"Silêncio" - para Péricles Cavalcanti

Não há silêncio
Nem nunca houve.
O que há mesmo
É esse não
Ouvir e essa
Ilusão de
Que nenhum som
Foi produzido.
Não temos tímpanos
Bons pra o infinito.
Não há silêncio
Nem fora nem
Dentro de alguém.
Se no princípio
Silêncio houve,
Foi por não ter
Como medi-lo.
E se o princípio
Era o vil Nada
Então não se
Deve pensar
E confundir
Silêncio com
Nada. Silêncio
Só poderia
Haver se já
Silêncio fosse
Em si rebento
Duma retórica
Contradição
Na consciência.
Silêncio não.

Adriano Nunes: "Agir comunicativo" - para o prof. Edson Farias

"Agir comunicativo" - para o prof. Edson Farias


Enquanto releio des
Atento Habermas, vejo
Em redor da luminária 
Tontas formigas aladas
Encantadas pela luz.
Onde pôr o peito e os pés?
Não seremos todos tontos
Insetos por algum ponto
De fulgor mesmo encantados,
Para cegar até prontos?
Encantado me supus.
E caem mortas formigas -
Que fazem a Ícaros jus.
Eis que tudo mais se liga.

Adriano Nunes: "Do acaso"

"Do acaso"

Você,
Enigma
Do acaso
Da noite.
Não sei
Se o mesmo
Serei
Agora.
Um vácuo
Arrasta o
Desejo,
Lá fora.
Você,
Esfinge
Que finge
Perder.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Que é profundo?"

"Que é profundo?"

Entre o surf
E o self,
Sua pele
Sobre a
Minha, sorte
Sem rédea.
Pelo olhar,
O apelo
Ao mar tátil
Do orgasmo
Das sinapses.
Que é profundo?
Êxtase quase
Ao contato.
Acaso mágico.
Os números
Trocados.
Tudo ou nada
Nos lábios
Da palavra
Caminho.
Depois, cada
Um para
O seu lado,
Pertinho
Da praia.
Com qual tática
A paixão
Implacável
Já se ensaia?

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Medusa"

"Medusa"


Estou
Sem mim,
Mas não 
Sei se
Estive
Um dia.
As serpes,
As pedras,
As górgonas
Eternas,
Irmãs
De sina.
Que marca
No ser
Que sonho
Ser finca-se
No instante
Do grito
Do olvido?
Que mais
Parece-se
Comigo
Se sou
Só íntimo,
Só vulto e
Descuido?
Estou
Sem mim,
Agora,
Tão livre.
Ah, como
Saber
Quem faz
A rima
Dar voltas
Ainda?
Ah, como
Fugir
Do espelho
Do mito
Que fixo
Na vida?

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Adriano Nunes/Leoni: "Alice" (a canção)


 Adriano Nunes/Leoni: "Alice"


Compartilho com os meus amigos, admiradores, fãs, leitores de poesia, um vídeo em que o cantor/compositor Leoni, estimado amigo, canta a nossa parceria "Alice". Viva! Viva

domingo, 22 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Alice" - Para Alice Ruiz

"Alice" - para Alice Ruiz, por seu dia

Ler Ali
Ce, do céu
Ao mar, e
Ver o ver
So ruir
O que há.
Ali, leve.
Ali, livre.
Pondo os is
Nesses pingos
Infinitos
Do cantar.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Alielevitch"

"Alielevitch"


Passeia Alielevitch pelas ruínas
De Artriev. Há só pó e o vestígio
Das Parcas. Elas trabalharam duro
Todos os dias. Ah, os cadáveres
De Artriev! Há só pó e a lembrança
De que a esperança é uma tarântula.
Dez para dez da manhã. Tudo esmaga
Tudo por ser humanamente tudo.
Foge Alielevitch do voraz vácuo
De Artriev. Há uma miríade de corpos
Que não são corpos. A morte fede.
As bombas e os tiros tirânicos trotam
Violentamente sobre o que já não há.
Não haverá para Alielevitch sonhos
Que não sejam a ordem grave de não ter
Que sonhar. A morte é poeira e sangue.
Dez para dez. O tempo não anda mesmo.
Pernas, braços, troncos, tudo misturado
Qual quebra-cabeça de ignotas peças.
Mosaico ilusório de dor e horror e
Constatação. As Parcas apressam-se.
Alielevitch olha para o alto atônito.
A face faminta da existência gargalha.
Outra bomba. Outros tiros. Outro nada.
Corre Alielevitch do caos cáustico
De Artriev. Há só pólvora e a marca
Do descaso. O horror trabalha muito
A cada segundo. Ah, os indigentes
De Artriev! Há só perda e a astúcia
Da gasta esperança. Tudo fede a tudo.
Dez para dez de outro tempo. A álea afaga
O absurdo. Alielevitch explode junto.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "RoTtEn RuLiNg"

"RoTtEn RuLiNg"

RuLiNg
rUlInR
RuLiRo
rUlRoT
RuRoTt
rRoTtE
RoTtEn

Adriano Nunes: "Poder"

"Poder"

PODER
PODEP
PODPO
POPOD
PPODR
PODRE

Adriano Nunes: "Que bem basta"

"Que bem basta?"


Noite triste.
Poderia
Ser só noite
Como toda
Noite insiste
Em ser: noite
Após tarde.
Não há nada
Pra sondar?
Alma, estrelas,
Leis, luar...
Tudo encalha.
Ao notá-la,
Noite vasta,
Que não cessa?
Outra treva
Faz-se além
Do que o olhar
Já retém.
Noite tétrica,
Quase lágrima.
Que bem basta?
Que até arde?
Que mais leva?

Adriano Nunes: "Para ser"

"Para ser"

Pode ser
Que o amor, cego,
Apareça
Pra você.
Pode ser
Que apareça
Pra valer.
Que assim seja
Só prazer.
Pra você,
Pra valer,
Por prazer.
Para ser
Tudo que
Você quer
Que aconteça.
Para sempre
Na cabeça.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Manhã"

"Manhã"

Desprende-se a aurora
Do que o olhar agora
Agarra, pletora
De existir que cora
Por ti, sem demora.

Ó, nascer que aflora
Da esperança e doura!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Em que vingava o amor, seus voos"

"Em que vingava o amor, seus voos"


Todas as vezes em que amou
Um homem a si mesmo amou.
Todas as vezes em que amou
Uma mulher amou um outro -
Nunca era pouco: deu-se todo.
O amor era o dar-se mais solto
De si, dos cárceres do corpo.
Todas as vezes, o amor mor
Amou, sob o intenso fulgor

Do ser, sob o sol sedutor.
Amar era o lânguido jogo
De astúcias em que ilhados olhos
Lançavam-se além dos propósitos
Da ilusão: bastava o amor, cosmo
De prazer, sem gênero imposto,
Sem o sexo ameaçador.
Tud' era pra fluir - um porto
Em que vingava o amor, seus voos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Bauman"

                                                 "BAUMAN"


                                                  MoDeRnIdAdE
                                                  mOdErNiDaDa
                                                  MoDeRnIdAaM
                                                  mOdErNiDaMb
                                                  MoDeRnIaMbI
                                                  mOdErNaMbIv
                                                  MoDeRaMbIvA
                                                  mOdEaMbIvAl
                                                  MoDaMbIvAlE
                                                  mOaMbIvAlEn
                                                  MaMbIvAlEnT
                                                  aMbIvAlEnTe

Adriano Nunes: "O amor ainda é melhor"

"O amor ainda é melhor"

O amor ainda é melhor
Mesmo quando dá um nó
Em tudo que deve ser
Curtido por um ser só,
Quando verte-se em não-ser,
Sob os olhos do devir.
O amor é para mais vir
Do amor - por amar e ser
Dos acasos do porvir
A alegria: o amor é só
Alegria - de Espinoza
Isso outrora pude ouvir.
O amor ainda é melhor
Por ser mito, mas não só.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Dar-te uns versos só"

"Dar-te uns versos só"

Só o silêncio ignoto
Desse despropósito
Saberá que posso
Dar-te uns versos só
Com os olhos nossos.
Veloz parte a moto
Para além do óbvio.
Do desejo, os ossos.
Das taras, um nó
De nexos exóticos.
Ensaio monólogos...
Para o instante sóbrio,
O acaso, a seu modo,
Molda o amor-negócio.

Adriano Nunes: "Do Olvido - quem dá a sentença?"

"Do Olvido - quem dá a sentença?"


Como será que as estrelas
Expressam suas tristezas?
Como será que as anêmonas 
Bailam sobre a folha anêmica
Do Olvido - quem dá a sentença?
Ó, quando virás Euterpe?
Que até seja o instante breve,
Desde que em ti me reveles.
Ó, doce Erato, que queres
Do meu arriscado metro?
Ah, vida de vácuo e vendas!
Todos com as suas réguas
De desconfiança e éticas!
De Tróia, cruéis e eternos,
Como escapar dos incêndios?
Príamo, essa tua prece
Só te fere! Heitor esquece!
Esquece os tempos, as gentes
Ironizadas por Hera,
Pois já tudo muito fede.
A encenação toda, a velha
Encenação dos arquétipos,
Devorará teus desejos
De um Outro, as tuas inércias,
O teu medo de pretérito.
Ó, Musas mudas, que tédio!
Como voltarei à Grécia,
Se bem me levam a sério?
Como contar para Homero
As minhas grãs peripécias?

Adriano Nunes:"De tudo que será"

"De tudo que será"


Manhã, nova manhã.
Não há galos, há sonhos
De canto e sol se erguendo
Timidamente. A vida
Vai-se alerta compondo.
Somas de sóis adentro
Sondam a espera vã
De que tudo será
Diferente. Há gente
E gestos e a gangorra
De gostos. Mar de outro
Acaso. Aurora agora
Sobre as sobras do ontem.
Cantam carros ao longe.