sábado, 21 de janeiro de 2017

Adriano Nunes: "Alielevitch"

"Alielevitch"


Passeia Alielevitch pelas ruínas
De Artriev. Há só pó e o vestígio
Das Parcas. Elas trabalharam duro
Todos os dias. Ah, os cadáveres
De Artriev! Há só pó e a lembrança
De que a esperança é uma tarântula.
Dez para dez da manhã. Tudo esmaga
Tudo por ser humanamente tudo.
Foge Alielevitch do voraz vácuo
De Artriev. Há uma miríade de corpos
Que não são corpos. A morte fede.
As bombas e os tiros tirânicos trotam
Violentamente sobre o que já não há.
Não haverá para Alielevitch sonhos
Que não sejam a ordem grave de não ter
Que sonhar. A morte é poeira e sangue.
Dez para dez. O tempo não anda mesmo.
Pernas, braços, troncos, tudo misturado
Qual quebra-cabeça de ignotas peças.
Mosaico ilusório de dor e horror e
Constatação. As Parcas apressam-se.
Alielevitch olha para o alto atônito.
A face faminta da existência gargalha.
Outra bomba. Outros tiros. Outro nada.
Corre Alielevitch do caos cáustico
De Artriev. Há só pólvora e a marca
Do descaso. O horror trabalha muito
A cada segundo. Ah, os indigentes
De Artriev! Há só perda e a astúcia
Da gasta esperança. Tudo fede a tudo.
Dez para dez de outro tempo. A álea afaga
O absurdo. Alielevitch explode junto.

Nenhum comentário: