sexta-feira, 29 de abril de 2016

Adriano Nunes: "Homo alienati"

"Homo alienati"


Da fonte
À fala
- Catraca -
Da força
À forma,
- Qual broca -
Da farme
À feira,
- Marreta -
Da fábrica
À farsa
- Qual caixa -
Das férias,
Da firma
- Pá e tinta -
À fome
Da fera,
- Qual peça -
Do fundo
Do fosso
- Só máquina -
Sem mente,
Sem nada.

Adriano Nunes: "Alienus"

"Alienus"


Da fonte
À fala

- Quem fala? -
Da força
À forma,
- Que forma? -
Da farme
À feira,
- Qual feita? -
Da fábrica
À farsa
- Que farpa! -
Das férias,
Da firma
- Que fica? -
À fome
Da fera,
- Qual fera! -
Do fundo
Do fosso
- Sem fôlego -
Ao fim.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Adriano Nunes: "Autre coup de dés"

"Autre coup de dés"


Então, mesmo triste,
Diz-me o coração:
Dá pra começar,
Dá pra seguir em
Frente, ir além
Daquele lugar
Em que tudo insiste
Em vingar em vão,
Para fluir dá,
Para sonhar dá,
Sussurra, acredite,
A cada batida
Rítmica da lida,
Dá para ser livre
Com somente um tíquete
Para a grã saída
Do amor que se adquire
Na desilusão.
Agora, bem diz-me
Que as coisas só são
O que podem, não
Mais o furor nem
A estricnina íntima
Para um lance ainda:
Et, contre Mallarmé,
Autre coup de dés
Finit le hasard.

Adriano Nunes: "Num quase delírio"

"Num quase delírio"


Domingo tem isso
De ser um domingo.
Dia consumido
Por tédio profícuo.
Melhor o porvir
Impregnado em mim,
Em meus raptos íntimos.
Ou correr o risco
De mudar, no mínimo,
O nome "domingo",
Num quase delírio
Lírico, pôr i
No pingo, por vínculo,
Por sábado, digo,
Apenas seguir,
Sem dor, sem domínio
De nada, com trinco
Fechado, dormindo.

sábado, 23 de abril de 2016

Adriano Nunes: "Descoberta"

"Descoberta"


Coração
Em reparo:
Sou poeta.
O que caço
Nessa lida
Inquieta?
Ver minh'alma
Iludida
Já não basta?
Tanto sonho
Mesmo vale?
Que palavra
Até salta
Do caderno?
Todo verso
Que me rapte
Desse fado
Enfadonho.
Eis o fim
Do que em mim
É só canto.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Adriano Nunes: "Ao pensar"

"Ao pensar"


Despede-se o tempo
Do seu próprio tempo.
O lugar
Não quer mais ficar
No mesmo lugar.
Até pra o ser ser
Já não basta.
O nada por nada
Nada mais declara.
Bem-vindos ao lar
Da grã álea!
Tudo, tudo existe
Só por causa
Desse devir e
Do que livre
Mais se adquire
Ao pensar.

sábado, 16 de abril de 2016

Adriano Nunes: "Outra vez, não!"

"Outra vez, não!"


Corruptos contra
A corrupção.
Os ladrões contam
Roubos de ponta.
De mãos atadas
Seguem, alegres,
A força e a farsa.
Querem estar
Vestidas, prontas,
Pra o grande golpe
Dos que mais fortes
Foram, e contra os
Coitados pobres,
Tão excluídos
Desde o princípio.
Não tem razão
De haver o império
Do que remonta ao
Fuzil e às balas
Do vil canhão.
Não é só isso:
Corremos todos
Vasto perigo!
A Carta Magna
Em podres mãos!
Notem, amigos,
Não somos tolos,
Não somos poucos!
Outra vez, não!

sábado, 9 de abril de 2016

Adriano Nunes: "Ao deslizar da pena"

"Ao deslizar da pena"


Tudo é o mais
Que possa ser
Concebido como
Tudo. Sempre mais
Do que o que posso
Conceber. Mas
Só o poema faz
Tudo mesmo ser
Tudo e possível,
Até mesmo lógico!
Será que podes ver
As assanhadas asas
Dessas libélulas
Que agora saltam,
Alegres, da folha anêmica,
Para o tudo-ou-nada,
Ao deslizar da pena?

domingo, 3 de abril de 2016

Adriano Nunes: "Os olhos de Édipo"

"Os olhos de Édipo"


Somente
A noite me entende.
Desde o seu começo.
Nenhuma das gentes
Que conheço.
Nenhum lugar que
Devo ter
Passado bom tempo.
Não mesmo!
Corpo aberto
Que se estende
Além do que haver
Possa. Mistério
Que vem, por prazer,
À porta, de repente.
Molde métrico,
Os olhos de Édipo.
Sorte, soma e seta.
A noite, sempre
Semente.

sábado, 2 de abril de 2016

Adriano Nunes: "Zíngaro"

"Zíngaro"


Aziago
Foi uma das primeiras
Palavras que pesquisei
No dicionário.
O tempo passou rápido.
Ser constato Zico
Talentoso, de fato.
Memorável é dona Zica
Da Mangueira,
De Cartola,
A esposa derradeira.
Žižek, talvez.
Ainda não bem sei.
Algum lugar preservado
No Zimbabwe..
Alguns desenhos do
Ziraldo?
O diminutivo
Aparentemente carinhoso
"Zinho".
Mas nunca o zinco
Do trabalho escravo
Advindo.
Nem a zika
Tão íntima do mosquito.
Vez ou outra, s
er 
Como um zíngaro.