sábado, 30 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: “Este que volta à ágora, sem presa”

“Este que volta à ágora, sem presa”


Em mim não há nada que seja teu.
Disso até bem sei desde quando era
Um ateniense, na arcaica Grécia,
Quando do fígado de Prometeu
O corvo não tinha arrancado mera
Migalha, desde quando a esfera pétrea
De Sísifo repousava no breu

Das sinapses sincréticas de Zeus.
Este que volta à ágora, sem pressa,
Agora sabe como a vez se deu,
Feito metáfora, quase quimera.
Ah, tudo já se espraia e se esfacela,
Por cada ritmo do que aconteceu!
De mim jorram lágrimas de Teseu.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: “Ó, poor pooh-bahs”

“Ó, poor pooh-bahs


Pooh-bahs
Behind the bars,
Cloistered are.

Strange stars
Of crime so far
From the poor

People and their
Desires and scars.
They have grabbed

Their lifes and
Ruined them.
They do not care!

They are happy
With their cruel acts,
Oppressing

The most needy
Human beings.
Ó, poor pooh-bahs!

Adriano Nunes:"Solidão"

“Solidão”


Os indivíduos solitários
Parecem ter dentro de si
O mundo. Parecem levar
Na aljava dos seus pensamentos

Cada sentido, cada mar
De silêncios, a cada passo.
Devem ser felizes sozinhos.
Devem ser tristes também,

Sem que ninguém os interrogue
Sobre a sua luz e o seu norte.
Por que amam demais os matizes

Da solidão? Que ganham, em
Segredo? Que estimado bem
Retêm em seus corações fortes?

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: "Proteu"

“Proteu”


No meio
De ritos
E ditos
Alheios,
Mais vivo.
Sei sê-los.

Não digo
De mim,
É cedo!
Mas sim
Dos que
Concebo

Da pele
Ao cerne
Do vasto
Desejo
De não
Ser mesmo -

Refiro-me
Àqueles
Que não
Sei - medo? -
Se são
Refeitos,

Por sonhos,
A cada
Momento,
Se são
Do âmago
Efeitos,

Ou se
Só são
Espectros
De outros
Que aceito,

Que vingam
Em mim,
Nos versos,
Sem, - juro! -,
Sabê-los
Inteiros,

Se usam
Meus métodos,
As mãos
Que são
As minhas,
Com jeito,

E instauram
O que
Já penso,
Ainda
Que trêmulos,
- Faceiros? -,

Ou se
São seres
Sós, cegos
De si,
Que, enfim,
Por vê-los

Efígies
Estéticas
Emprestam
À vez
Sóis, louros,
Voz, zelos.

Será
Que não
São, vê,
Ignoto
Leitor,
Espelhos,

Ou isso:
Espanto e
Instinto
Enquanto
A-penas
Escrevo?

Adriano Nunes:"Ser é alvo"

“Ser é alvo”


Madrugada.
Tudo e nada.
À palavra 
Dou-me intacto.
Ser é válido.

Madrugada.
Tudo é nada.
À palavra
Dou-me incauto.
Ser é vácuo.

Madrugada.
Tudo ou nada.
À palavra
Dou-me impávido.
Ser é alvo.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: “λιμός”

“λιμός”


Não sabemos os nomes
Daqueles que têm fome.
Sabemos qu’ eles são 
Muitos, nesta nação.


Seus risos? Vimos não!
Seus olhos como estão?
Não sabemos seus nomes...
Sabemos das grãs fomes!


Que sonham? Moram onde?
Por que o Estado os esconde?
Em que gelado chão 
Dormem, sem proteção?


Que sabemos, então?
Sabemos mesmo em vão?
Quantos apenas comem
A ilusão do ser homem?

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: "Proeza"

“Proeza”


Nem tudo
Que quero
Agora
Eu quis
Outrora.

Nem tudo,
De forma
Idêntica,
A mim
Importa.

Nem tudo
É mesmo
Igual.
A busca
É órfica:

Que adianta
Olhar
Pra trás?
A vida
Dá corda...

Até
O meu
Desejo
Já me
Fez sobra.

Se abro
A porta
Pra o que
Em mim
Aflora,

Por que,
Então,
Sentir,
Às vezes,
Sufoca?

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: "Do prazer"

“Do prazer”

Do desejo
Só desejo
De prazer

Até não
Mais haver
Tal desejo.

Um prazer
Que já valha
O infinito 

Do teu sexo,
Falso ou vero,
Mais que isto,

Tudo mesmo.

Adriano Nunes: “Πηνελόπη” - para Péricles Cavalcanti

“Πηνελόπη” - para Péricles Cavalcanti


A insônia... Sempre ela,
Pela madrugada, a lançar-me
Nos arredores de Ἰθάκα, antes
Mesmo da chegada de Οδυσσεύς.
Sempre ela a atirar-me aos cães vorazes
Dos portentos do passar das horas.
Por onde perambula Μορφεύς?
Por que não me entrega àquele
Sonho que o porvir e o além revigora,
Sem dores ou culpas peremptórias?
Por que não me afaga o Λήθη?
Silêncio! Quem se aproxima, trôpego,
Do quarto de Πηνελόπη?
Quem ousa observar através das frestas
Da ilusão tudo que se passa, ali,
Entre os móveis e a astúcia humana?
Quem desafia Μῆτις?
Por que há um desfazer de bordados,
Uma pressa em desconstruir o feito,
A arte, o engenho mesmo? Por que há
Uma angústia dilacerante e risonha,
Por trás de cada fio que se solta e pende, livre, fio apenas,
Como se estivesse perdido o sentido
Enquanto tudo é alegremente desfeito?
Quem acaba de dar vez ao devir?
Quem ousa detectar, em silêncio, o ato
Calculado, por amor, por esperança,
Enquanto as Μοῖραι dão êxtase ao existir?

Adriano Nunes: "Modernidade"

"Modernidade"


Entre a lua cheia
E o caos que semeia
Poemas na veia,
A vida passeia.
Beijos densos, ei-a:
A ilusão alheia?
O michê diz: "ei, a
Moeda é a ceia,
Bitcoin, sem mais meia
Conversa. Deixei a
Atrasada aldeia..."
E não titubeia!

Adriano Nunes: "Will"

“Will”


My dear friend Will,
This is a simple poem
That I am trying to compose
For you. Receive it as if
I were giving you an Im-
Measurable fragment
Of everything that I think and feel.
My sweet friend Will,
This simple poem is a rose
That changes its color every instant.
It knows, ó it knows, it always knows
My heart, any heart, full or empty!
Why is chance even inconstant?
Ó, my gracious friend Will,
Friendship is a bridge to good will!
With joy and wonder, my verses will fill...
For you, because this is an
Innocent poem, yes, just one
That I am trying to compose...
While I hide in old drawers some clothes
Of the Infinite and the Solitude.

Adriano Nunes: "Oblivion"

“Oblivion”


Do not just think.
Evenly a pendulum toward
Reason and emotion
You can be.
To be a being more human.
Do not just to look like.
Forget everything
That has already ceased.
And in this never-ending
Balance,
Try to know yourself
At least.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: "Os corpos todos" - para Alberto Lins Caldas

"Os corpos todos" - para Alberto Lins Caldas


Os arredores
De Troia. As chamas.
O horror se vale
Do que aqui pode.
Os corpos todos
Mortos e quase,
Pela memória.
Sangue, suores,
Seiva de ódio e
Do que se clama
Por amor e
Erro, o que morre,
O que já mata.
Ainda há
Um barco intacto.
Se o pegaremos,
Não sei. Sem norte,
Estamos mesmo.
E temos medo
Do que mais somos.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: "Das saídas"

"Das saídas"

Pode ser
Beco, fresta
- Nada é muito! -
Pode ser
Porta aberta,
- Eis o rumo! -
Pode ser
De emergência,
- Somos únicos!
Pode ser
Pelo ser
- Eis o mundo! -
Pode ser
Pelo verso
- Não é tudo? -
Pode ser
Até mesmo
- Pelos fundos? -
Pelo jeito
Pode ser...
- Nós dois juntos! -

Adriano Nunes: "Saudade"

“Saudade”


Saudade
Dos braços,


- tão rápidos! -

Saudade
Das pernas,

- Elétricas! -

Dos lábios
Que eram

- Que faço? -

Mais que
Dois lábios

- Que festa! -

- Prazer -
Pois laços

- Desfaço-os? -

Que eram
Quimeras

- Que impacto! -

Fixavam
A vida

- A estética? -

Em um
Desejo:

- O acaso? - 
Seus beijos

- Quem dera! -

Só ter.
Seus toques!

- Que máximo! -

Pra que
Fui dar

- Na vera! -

A volta
Por cima

- Não era? -

Do que
Ainda

- É claro! -

Clamava
Por lógica,

- Qual meta -

Só por
Você?

sábado, 9 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: "Abraço"

“Abraço”

Elo
Entre o
Olho e
Eros

Sol
Do
Peito
Perto

Certo
É
Que
Quero-o

Átimo
Entre
Laço e
Sexo

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: "Outdoor"

"Outdoor"


Quando você veio,
- Não sei bem se era
Março ou fevereiro -
Tão pouco me disse.

Não disse a que veio,
- Ah, não disse mesmo! -
Não disse goodbye
E partiu ligeiro...

Acertou-me em cheio,
Tirou minha paz.
Por que, enfim, me disse
Que me amava mais?

Quando você veio,
Estava uma fera
Sem rédeas, sem freios,
Reconheço! Triste

Estava, sem meios
De nada, já preso
A ideias banais...
Aí você veio!

Adriano Nunes: “A linguagem do amor”

“A linguagem do amor”


A linguagem do amor
É o silêncio - dizem os
Que temem falar sobre
Os sentimentos e os

Que já vítimas foram
Dos seus dolentes jogos.
Outros - e não são poucos! -
Porém, dizem que só

Dizendo muito do amor
É que, a priori, se pode
Entendê-lo melhor.
Há aqueles que, por

Medo ou timidez, logo
Que percebem o modo
De atuar do amor, põem
De lado a fala: os olhos

Usam como propósito.
Porque parece óbvio
Que do amar é ignoto
O sol. Outros dão voto

Para algo como a sorte:
A língua do amor move-se
Sem gramática ou norte.
Uma vez pensei - tolo

No todo - que era o amor
Que ditava do corpo
À alma, todo o escopo
Da linguagem, rei solto

De regras, pouco a pouco.
Que equívoco! O amor foge
Das palavras, dos nomes,
Para fincar-se forte

No coração dos homens.
Todo lugar é onde.
Todo tempo é corte.
Toda voz o consome.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: "In totum" - para o amigo Richard Fonseca (por seu dia)

"In totum" - para o amigo Richard Fonseca (por seu dia)

Se entre
O nada
E o tudo
Há o
Caos múltiplo,

Se entre
O vácuo
Dinâmico
Do mundo
E os deuses

Ignotos,
Já surdos
E mudos,
Há algo
Profundo,

Talvez,
Quem sabe,
Qualquer
Vontade
Ou rumo.

Talvez,
Da idade
O risco
Abrupto,
O sumo.

Adriano Nunes: "Desejo"

“Desejo”


Eu vejo
Você.
Você 
Também
Me vê.
Quem tem
A ver?

Ninguém
Vê que
Você
Eu vejo.
Nem que
Você
Me vê.

Parece
Até
Que flerte
Há entre
A gente.
Desejo,
Decerto:

Há mesmo
Um nexo
Esperto.
Parece
Que é
A lei
Do verso.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Adriano Nunes: “Can you hear the larynx of graphite?”

“Can you hear the larynx of graphite?”


I have had many dreams.
And now my heart is
Complaining about me 
Because there is not any-
Body here to hear
Its beats, be-
Cause I am alone here,
With my endless dreams.
I think that I
Will use those wings
Of wax, to fly high,
Higher and higher.

Against my eyes
Its pleading beats conspire.
Tonight it might hear
Another beat, different from these.
I will be quiet. I will remain quiet.
I will not say anything.
My silence will be
The password of desire.
Can you hear it,
Pulsating unknown infinites?
Can you hear
The larynx of graphite?