quinta-feira, 31 de julho de 2014

Adriano Nunes: "À espera" - para Antonio Carlos Secchin

"À espera" - para Antonio Carlos Secchin



Notícias
Não dá
O verso.
Chamadas
Não faz,
Recado
Não deixa. 
Emeio
Sequer
Na caixa
De spam
Altera a
Manhã.
Nem uma
Palavra
Escrita,
Já gasta,
Dá o
Seu ar
De graça,
Não chega
À vista
A rima.
Nem ritmos
À orelha.
E, pelos
Correios,
Nenhum
Vestígio
De carta,
Cartão,
Malote.
É, tudo,
Sim, tem
Um Norte.
Bilhete,
Rascunho,
Anúncio
No outdoor,
No rádio,
No quadro
De avisos,
Nem mesmo
No espelho
Um mínimo
Rabisco.
Nem isso.
Não há
Sinais
Implícitos
Nos lápis,
Nos dígitos
Da máquina
Que escreve.
Erato
Bem deve
Estar
Distante,
Sem tempo,
Além,
Co' a lira
Perdida.
De férias?
Sob um
Torpor
Intenso,
Inerte,
Quem sabe
Não se
Encontra
Euterpe?







quarta-feira, 30 de julho de 2014

Nathalie Handal: "Tiny Feet"

"Pés pequenos" (Tradução de Adriano Nunes)


Uma mãe olha pra outra -
um mar de pequenos corpos
incinerados ou decapitados
em redor delas -
e interpela,
Como prantear isso?



Nathalie Handal: "Tiny Feet"



Tiny Feet

A mother looks at another—
a sea of small bodies
burnt or decapitated
around them—
and asks,
How do we mourn this? 






HANDAL, Nathalie. "Three Poems for Gaza". In____. World Literature Today. (
http://www.worldliteraturetoday.org/blog/three-poems-gaza#.U9mdYYFdXVQ). July 29, 2014. Accessed on July 30, 2014.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Pode ser impróprio"

"Pode ser impróprio"


Peso o amor e
Parto, pasmo, sem um pedaço.


Sem tédio ou trauma,
O sexo dos riscos e ritos
Bem faço. E logo me acho


Feliz. Não é que o dia
Arrebenta no báratro


Infinito do íntimo
Como o amor fazer
Jamais poderia?


Prático é só o prazer
Que emerge dos meus olhos


Ao ver um verso
De propósitos despido.
Então gozo.


Mas escondido em meu ser,
Sei o quanto finjo.


Anoto no caderno de rabisco
O sumo dos desejos desertos.
Melhor seria ter


O corpo lambido,
Os músculos despertos,


Os pés muito próximos,
Nada de nexos,
Aquele negócio


Que aqui dizer - que dizer? -
Pode ser impróprio.





Adriano Nunes: "Que a grã felicidade, ele a leu" - Para Saul Tourinho Leal

"Que a grã felicidade, ele a leu" - Para Saul Tourinho Leal



Silêncios de silício são os seus
Sítios de sonhos, onde, ali, a lei
É Lançar-se ao labor de outra lei,
A da felicidade, para os seus.

Porém não é segredo, eu bem sei,
Que a grã felicidade, ele a leu
Na Justiça que não ser deve ao léu,
Iuris et de iure, a vida em si, sim, sei.

Imerso o ser na Constituição,
A Katiba, do Quênia, co' emoção,
Entregou aos amigos o seu fito

Que se fez de fulgor dentro do escrito,
Jure et de facto, tão denso e infinito.
Não só seria o amor no coração?

domingo, 27 de julho de 2014

Adriano Nunes: "With other skin"

"With other skin" 



Take out the clothes. 
Free of 
The eyes of others, 
Lie on the ground 
Of loneliness. 
Perceive that 
Life goes on 
In a counterattack. 
No hate, besides 
Feel the ode 
That flows from 
All will. 
The Poetry 
Does not come
From the obvious, 
It comes from the bliss 
Of what impossible 
Even would be. 
Now you can 
Look around 
And reveal 
The good news
To the land and
To the sea. 
Do not stand up
Sudden. But 
Before observe 
That a verse dresses 
You with another skin. 
Do not you see? 

Adriano Nunes: "Com outra pele"

"Com outra pele"


Retire as roupas.
Liberto de
Alheios olhos, 
Deite-se ao solo
Da solidão.
Perceba que
A vida segue em
Um contra-ataque.
Sem ódio, além,
Lance-se à ode
Que brota de
Toda vontade.
A poesia
Não vem do óbvio,
Vem da alegria
Do que impossível
Até seria.
Agora pode
Olhar em volta
E revelar
À terra e ao mar
A boa nova.
Não se levante
De vez. Mas antes
Observe que
O verso o veste
Com outra pele.
Não a percebe?

Juan Ramón Jiménez: "¡Sí!"

"Sim!" (Tradução de Adriano Nunes)


Adiante, ao ocaso, o sim infinito 
a que nunca se chega, 
                                 - Siiiiim! 
                                              E a luz, 
incolor, 
aguça-se, chamando-me ... 

Não era o mar ... Chegados
às bocas de fulgor que o proferiam 
com largo infinito, 
vibra, outra vez, imensamente débil 
- siiiiim! - 
em um além que a alma sabe alto
e quer acreditar além, só além...




Juan Ramón Jiménez: "¡Sí!" 


¡Sí!


Delante, en el ocaso, el sí infinito 
al que nunca se llega, 
                               - ¡Sííííí! 
                                         Y la luz, 
incolora, 
se agudiza, llamándome... 

No era del mar... Llegados 
a las bocas de luz que lo decían 
con largo infinito, 
vibra, otra vez, inmensamente débil 
— ¡ sííííí I — , 
en un lejos que el alma sabe alto 
y quiere creer lejos, sólo lejos... 




JIMÉNEZ, Juan Ramón. "Diario de un poeta recién casado". In: ____. Antología poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madri: Alianza Editorial, 2006, p. 211.






Adriano Nunes: "Altar"

Adriano Nunes:  "Altar" 


                 "Who are these coming to the sacrifice?
                                                       John Keats


Além o mar.
Janela aberta.
Do olhar a fresta 
Que se alargar
Quer mais e mais
Daqui do cais.
A vela mor
Acesa ao alto.
Tudo é um salto.
Tudo é melhor
Sem embaraço.
De mim meus deuses
De luz abraço,
Diversas vezes,
Para atingir
A paz, o ápice
Do que queria,
Vasta alegria,
Papel e lápis.

sábado, 26 de julho de 2014

Antonio Machado: "Noche de verano"

"Noite de verão" (Tradução de Adriano Nunes)


É uma grácil noite de verão. 
Mantêm as altas casas
abertas as varandas
do velho vilarejo à vasta praça.
No sobejo retângulo deserto,
bancos de pedra, evónimos e acácias
simétricos desenham
suas negras sombras na areia branca.
No zênite, o luar,e junto à torre,
a esfera do relógio iluminada.
Eu nesse velho vilarejo andando
Só, tal qual um fantasma.


Antonio Machado: "Noche de verano"


Noche de verano

Es una hermosa noche de verano.
Tienen las altas casas
abiertos los balcones
del viejo pueblo a la anchurosa plaza.
En el amplio rectángulo desierto,
bancos de piedra, evónimos y acacias
simétricos dibujan
sus negras sombras en la arena blanca.
En el cénit, la luna, y en la torre,
la esfera del reloj iluminada.
Yo en este viejo pueblo paseando
solo, como un fantasma.



MACHADO, Antonio. Poesías completas. Madrid: Publicaciones de la Residencia de Estudiantes, 1917, p.140-141.

Paul Laurence Dunbar: "Compensation"

"Compensação" (Tradução de Adriano Nunes)


Compensação

Porque amei tão intenso,
Porque amei tanto tempo,
Deus com grã compaixão
Deu-me o dom da canção.
Porque amei tão em vão,
E cantei sem ar forte,
Deus co' infindo perdão
Dá-me a graça da morte.


Paul Laurence Dunbar: "Compensation"


Compensation

Because I had loved so deeply,
Because I had loved so long,
God in His great compassion
Gave me the gift of song.

Because I have loved so vainly,
And sung with such faltering breath,
The Master in infinite mercy
Offers the boon of Death.



DUNBAR, Paul Laurence. The Collected Poetry of Paul Laurence Dunbar. Charlottesville: University of Virginia Press, 1993.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Lirismo"

"Lirismo"



Acorda cedo
E não sorri.
Segue ao trabalho
E volta assim

Sem um sorriso.
Faz mesmo tudo
Lícito, lúcido,
E dizem ser

Ríspido, rápido
No gesto prático
Que o denuncia
Ser um ser sem

Uma alegria.
Porém, privado
Do mundo em volta,
Musas bendiz,

Volta-se a si.
Ao cerne dado,
Escreve um verso e
Vê-se feliz.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Mesmo que almeje muito mais"

"Mesmo que almeje muito mais"


Contento-me incontido em ser
O imperador mor do meu quarto,
Mesmo que almeje muito mais
Do que me oferta a intimidade.

Quando ainda criança, era
Desse modo que me engendrava
No cosmo, alheio aos tais anseios
De infinitude que teria

Um dia. Então, papéis e lápis
Vingavam como as esperanças
Legítimas do meu império
De rimas pobres sem um norte.

Era o descobrir do prazer
Da poesia. E, aos cinco anos,
Debruçado sobre um mapa-múndi,
Lançava-me ao labor de versos.

Digo versos e poesia,
Porque é o que penso saber,
Hoje, preso do próprio império.
Digo prazer porque entregava-me

Inteiro àquele raro instante
De luz, e não me amalgamava
Na necessidade de ser
Lido, relido, exposto a críticos.

Nunca a lua fora tão rosa!
Nunca os dragões foram tão dados
Às leis da liberdade, à lida
Do impossível! Tudo viria

A ser a quântica quimera
Para tudo. E que me importava
Saber de ritmo, regra e métrica,
Se escrever era uma alegria?




domingo, 20 de julho de 2014

Sara Teasdale: "It is not a word"

"Não é uma palavra" (Tradução de Adriano Nunes)


Não é uma palavra falada,
Poucas palavras são proferidas;
Nem mesmo dos olhos um olhar
Sequer da cabeça um arquear ,

Porém apenas a paz do peito
Que tem a sustentar o bastante,
Somente memórias vigilantes
Que dormem um sono tão ligeiro.

Sara Teasdale: "It is not a word"

It is not a word

It is not a word spoken,
Few words are said;
Nor even a look of the eyes
Nor a bend of the head,

But only a hush of the heart
That has too much to keep,
Only memories waking
That sleep so light a sleep.


TEASDALE, Sara. Collected Poems. New York: Buccaneer Books, 1996.

sábado, 19 de julho de 2014

Marianne Moore: "Appellate Jurisdiction"

"Jurisdição de Apelação" (Tradução de Adriano Nunes)


Fragmentos de pecado são uma parte de mim.
Vassouras novas deverão limpar meu coração.
Deverão? Deverão?
Quando esta vida radiante tiver findado,
Deus haverá de redimir-me, um náufrago.
Haverá? Haverá?


Marianne Moore: "Appellate Jurisdiction"


Appellate Jurisdiction
Fragments of sin are a part of me.
New brooms shall sweep clean the heart of me.
Shall they? Shall they?
When this light life shall have passed away,
God shall redeem me, a castaway.
Shall He? Shall He?



MOORE, Marianne. Complete Poems. London: Penguin Classics, 1994.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Tudo que dela se concebe"

"Tudo que dela se concebe"



Quatro horas da madrugada.
Intrigante como dispara,
Às pressas, aquela senhora
De vestido rosa. Não olha
Para os lados, parece que
Quer alcançar alguém, dizer
Algum recado, entregar algo,
Pedir socorro. Assim prossegue, 
Sem que se saiba se possui
Rota incerta ou certa, lei, luz.
Tudo que dela se concebe
É esse instante breve, rápido.
Talvez não se reduza ao ritmo
Dos seus inumeráveis passos
Nem se enfeite com o infinito
Do que possa assim ser descrito.
Talvez, um dia, pare e - quem diria! -
Atenda, atenta, ao ser chamada,
Sem tédio ou trauma, Poesia.

Adriano Nunes: "Ao retrovisor"

"Ao retrovisor"


Entre idas e voltas,
O carro é a mola
Pra medo e mistérios.
O sonho se molda
À paisagem nova


Para ser compacto.
Todo o olhar é verso
Onde o existir mora.
Tudo em redor quero.
Tudo é mesmo certo


Ao retrovisor,
Até o implacável
Amor. Gozo outro
Que já perpassou
Muito além do corpo.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Juan Ramón Jiménez: "Ellos"

"Eles" (Tradução de Adriano Nunes)


Tudo para eles, tudo, tudo:
vinhas, colmeias, pinhos, trigos...

- Eu, bastante
tenho obtido
com minha ilusão de luz,
com meu acento divino.
Sido tal qual a rosa, todo essência;
Símile à água, apenas desvario;
e foram eles terra sã à minha raiz ansiosa
e leito humano ao meu tesouro altivo. -

... Tudo; que se eles não pensaram nunca,
que pobres terão sido! 



Juan Ramón Jiménez: "Ellos"


Ellos

Todo para ellos, todo, todo:
viñas, colmenas, pinos, trigos...

- Yo, bastante
he tenido
con mi ilusión de luz,
con mi acento divino.
He sido cual la rosa, todo esencia;
igual que el agua, sólo desvarío;
y fueron ellos tierra sana a mi raíz ansiosa
y cauce humano a mi raudal altivo. -

... Todo; que si ellos no han pensado nunca,
¡qué pobres habrán sido!





JIMÉNEZ, Juan Ramón. "Bonanza". In:____. Antología poética. Prólogo y selección de Antonio Colinas. Madrid: Alianza Editorial, 2006, p. 161.

Adriano Nunes: "A traspassar o céu de Gaza" - Para Roberto Bozzetti

"A traspassar o céu de Gaza" - Para Roberto Bozzetti


Na calçada cariada, a criança
Amedronta-se com o resplendor
Móvel a traspassar o céu de Gaza.
Em seu báratro íntimo, nem mesmo
As ilusões são capazes de dar
À existência a medida exata para
Brindar o dia seguinte, sem medo.
Um míssil, outro míssil, novo míssil.
Ruínas humanas erguem-se às tantas.
Restos de ser e de não-ser mais sangram
A desesperança que ter é crível.
Esvai-se a criança. Sequer se sabe
Se tem um rosto aquele morto olhar.
Vinga a chacina com astúcia e arte.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Pra as ilusões que quero"

"Pra as ilusões que quero"



Entre pedras, cimento e
Alento, a casa ergue-se
Aos poucos. Tudo tende
Ao devir. Mas aqueles
Sentimentos intensos
Por ti mais permanecem.
O lar refaz-se pleno
Perante o entendimento
De olvido haver. Por que
Arde em mim o que se
Veste de sons, Euterpe?
E fincam-se em uns versos
As vontades estéticas
Pra as ilusões que quero.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Um constante quase"

"Um constante quase"


Quantos portentos e mágicas! -
Ele repetia para
As paredes, as portas, as
Janelas abertas. Mas
Os olhos se amalgamavam
Com o além-lar, com a arte
Que emergia pelas mãos
Já exaustas. Relutava
Para não aceitar a
Lida prêt-à-porter, dada
Às cláusulas demais práticas.
Pensava o ar das entranhas
E o lance de ser amante
De qualquer palavra alada.
Não bastava o abracadabra.
Arriscava-se em ser vate,
Pois entendia ser a
Poesia sempre um acertar
Na trave, um constante quase.

Adriano Nunes: "Pra tudo que quero" - para a minha mãe

"Pra tudo que quero" - para a minha mãe



Às vezes, não é 
Preciso dizer
Nada. Apenas serve
À vida e acontece.
O ser mesmo leve
Ou, sim, o que quer
Existir adentro.
Talvez, o silêncio. 
A verve, talvez.
Às vezes, um verso
Pra tudo que quero -
Quântico mistério
De saber-me até.
Mas que há a saber?

domingo, 13 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Ao vácuo do olvido"

"Ao vácuo do olvido"



Tristeza, desculpa-me
Por abandonar-te
Naquela vã tarde
De segunda-feira.
Sei que não foi mesmo
A primeira vez
Que fiz isso, mas
Foi preciso. Um erro,
Quem sabe, até grave
Seria se eu
Procedesse de
Distinta maneira.
Entende, tristeza.
Vê! A noite esvai-se
Sem o teu matiz,
E tudo em redor
Finca-se, feliz,
No existir e só.
Mas... Espere um pouco,
Há algo que devo
Revelar-te: esconde-te,
Longe, muito longe!
Toda a humanidade
Quer eliminar-te
Pra sempre, lançar-te
Ao vácuo do olvido.
Sim, às vezes, volta
Para que eu possa
Escrever poemas
E tentar ser outro.
Até mais, tristeza!




quarta-feira, 9 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Virem versos"

"Virem versos"


Como o céu
Está belo.
Quanto azul!
Amplo branco!
Que amarelo!
Da janela
Do meu quarto, 
Ser é leve.

Por que eu,
Solto em mim
E disperso
Sobre métodos,
Tanto quero
Que o existir
E o impossível
Virem versos?

terça-feira, 8 de julho de 2014

Adriano Nunes: "A crônica"

"A crônica"


Do apito
À marca
Do centro,
A aula
Duríssima,
Uníssona,
A falta
De garra,
A taça
Às traças,
As garras
Do time
Contrário,
O eco
Do rádio,
O efeito
Da fossa,
A página
Virada,
As lágrimas.

Adriano Nunes: "Consuetudinis magna vis est"

"Consuetudinis magna vis est"


Reclama
Do tempo
Do trânsito
Do trampo
Da tara
Da tática
Da trama
Do texto
Do teto
Do tédio
Do tanto
De todos
De tudo


Reclama
Reclama
Reclama
E assim
Cimento
Sedento
De si
Não se
Levanta
Da cama.

Adriano Nunes: "Consummatum est" - para Adriana Calcanhotto

"Consummatum est" - para Adriana Calcanhotto


Agora,
Depois
De tudo,
Quem dera
O amor
Pudesse
Bem ser
Citado
Nos autos,
Julgado
Culpado
Por tantos
Estragos
Causados.
Que dera,
De fato,
O amor
Viesse
A ser
Achado
Pra a pena
Cumprir,
Trancado
No peito,
Nos olhos,
Nos sonhos,
Nos braços,
Nos gestos,
Nos lábios,
Nos versos
Do amado.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Que em mim tanto vingou"

"Que em mim tanto vingou"



Apenas sei do amor
O que dele ficou,
Não a convulsa moda
De que se leva pouco,
Que se lava e é novo,
Do que só vale o gozo,
Que se apaga com outro.
Ainda arde o fogo
Do gosto na memória
Daquele primo amor,
Madrugadas sem hora,
O mor fulgor do sonho
Da eternidade, a volta
Que em mim tanto vingou,
Cartas em pleno voo,
Silêncios dolorosos,
Planos, pragas, propósitos.
Nestes versos, as rosas
Murchas, desculpas só,
Desde que fugaz foste
Para Ítaca embora.

sábado, 5 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Liras e flautas e máscaras"

"Liras e flautas e máscaras"



Era quase madrugada
Quando, à calçada, sentadas,
Sós, Euterpe, Erato e Tália
Estavam. Eu não sabia
Ainda que o existir tinha
Concebido a tênue linha
Que ao meu ser uniria
O farol da poesia.
Corri até o jardim
Da praça, e três dálias belas
Arranquei. Eram pra elas,
As musas, as musas minhas!
Mas lá somente restavam
Liras e flautas e máscaras.

Adriano Nunes: "De ser tão só"

"De ser tão só" 



E ainda que
Eu tenha medos,
Tenha-me entregue
A vãos desejos,
Mudado a esmo
O status quo
De ser tão só, 
Seria até
Pior se desde
Cedo eu nem
Tivesse o verso em
Meu bruto ser
Bem descoberto.
Seria, vejo,
Um pesadelo
Jamais poder
A alguém dizê-lo,
O que interessa:
Como se é
Pleno por ser
Mesmo poeta.

Adriano Nunes: "Ad corpus"

"Ad corpus"



Sim o corpo
Quer bem mais
Do que gozo
Do que braço
Do que perna
Do que gesto
Do que bucho
Do que pleura
Do que gene
Do que bunda
Do que papo

Do que o que
Aqui possa
Ser listado

Do que gosto
Do que baço
Do que pênis
Do que gaze
Do que beijo
Do que pelo
Do que grito
Do que brinco
Do que parto

Do que o que
Aqui deva
Ser lembrado

Do que graça
Do que boca
Do que peito
Do que grude
Do que beiço
Do que plano
Do que glande
Do que busto
Do que palco

Do que o que
Aqui seja
Tão ligado

Do que gripe
Do que briga
Do que pose
Do que grilo
Do que bronze
Do que posse
Do que gala
Do que brisa
Do que plágio

Do que o que
Aqui se
Dê ao lado

Do que gula
Do que blusa
Do que peso
Do que gládio
Do que palma
Do que gesso
Do que baba
Do que pacto

Do que o que
Aqui se
Faça laço

Mas parece
Que sequer
Quer o corpo
Ser um outro
Ser o mesmo
Quer aos poucos
O que não
É - que louco! -
Mesmo pouco

Sentir só
O calor
De um - Sol? -
Outro corpo,
Corpo a corpo,
Pra à razão
Dar o troco
Do que - todo? -
Fora o amor.






terça-feira, 1 de julho de 2014

Adriano Nunes: "E não há nada"

"E não há nada"



Estou tão triste, e
As estrelas atrelam-se ao infinito e
Não dão por isso.
A lua iluminada 
Lança-se além
E não há nada.
Os carros apressados passam sem
Que minha dor avistem
Pelo retrovisor.
Postos e postes vingam
Acesos. Alguns sonhos
Adormeceram hoje muito cedo.
Estou tão triste, e o
Caderno de rabiscos
Sequer atenta para o que confesso
A toda linha e às margens.
A noite findará
Indiferente a tudo
Que mais me penso e sinto,
Sem deixar um vestígio
Do que possa alcançar-me.
Mas estes versos têm
Desejado demais
Vir à vez, dar a cara
Ao que de sons e sombras
Todo o amor se impregnara.
Eles fizeram a
Existência ter íntimo.
Não é que o falcão de
Circe veio comigo
Ter agora! Não digo
O que a mim revelado
Fora. Estou mesmo triste.
As estrelas atrelam-se ao infinito e...
Quem se importa com isso?
Bateram forte à porta.