terça-feira, 29 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "Freedom" - To Marjorie Perloff

"Freedom" - To Marjorie Perloff


Freedom is
A beautiful bird
That, hungry
For some grains,
Unwary, lands
Near at hands.
With a trap,
We try to catch it
Fastly. And
We raise
Our cunning
In the air, in vain.
We stumble then!
And, during
The fall,
Without wishing,
We step
On its head.

Adriano Nunes: "Liberdade"

"Liberdade"


Liberdade é
Uma ave bela
Que, por uns grãos
Ávida, pousa
Bem ao alcance
Das nossas mãos.
Com uma rede,
Tentamos, rápido,
Logo pegá-la.
E a rede alçamos
Ao ar, em vão.
Já tropeçamos!
E, com a queda,
Sem desejar,
Pisamos na
Cabeça dela.

domingo, 27 de novembro de 2016

Ralph Waldo Emerson: "Eros" (Tradução de Adriano Nunes)

"Eros" (Tradução de Adriano Nunes)

O senso do mundo é parco, -
Vasto e vário o relato, -
Amar e ser amado;
Homens e deuses não o alcançaram;
E, quantas vezes o alteraram,
Não para ser melhorado.

Ralph Waldo Emerson: "Eros"

The sense of the world is short,—
Long and various the report,—
To love and be beloved;
Men and gods have not outlearned it;
And, how oft soe’er they’ve turned it,
’Tis not to be improved.

EMERSON, Ralph Waldo. "Eros". In: ____. The complete works of Ralph Waldo Emerson. Vol. 9. With a preface by Ralph Waldo Emerson. Boston: Houghton, Mifflin and company, 1904, p. 100

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "Além da linguagem"

"Além da linguagem"


Às vezes, esvai-se
A vida em sinapses.
Às vezes, mais vale 
A vez de vazar-me
Dos sóis que interagem,
Sem fim, com as faces
De mim. Quem bem sabe
O porquê da arte?
O que em si não cabe,
Se da casca à carne
Da verve, a voz arde
Além da linguagem?

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Voltaire: "Vers au bas d'un portrait de Leibnitz" (tradução de Adriano Nunes)

"Para pôr na parte inferior d'um retrato de Leibnitz" (tradução de Adriano Nunes)

Ele foi no mundo tido por seu trabalho,
E em seu nativo país se fez respeitar;
Ele iluminou os reis, instruiu os sábios:
Mais sábio do que eles, soube duvidar.

Voltaire: "Vers au bas d'un portrait de Leibnitz"

Il fut dans l'univers connu par ses ouvrages,
Et dans son pays même il se fit respecter;
Il éclaira les rois, il instruisit les sages:
Plus sage qu'eux, il sut douter


VOLTAIRE. "Poésies mêlées - CXVII". In:_____. Œuvres complètes de Voltaire. Tome Septième. Paris: Librarie Hachette et Cie., 1893, p. 328. Disponível em Gallica (Biblioteca Nacional da França)

sábado, 19 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "Amor era, decerto"

"Amor era, decerto"


Era amor e avisei
Às árvores e às pedras,
Dei dicas para as tardes
E para aqueles tédios
Engavetados de
Séculos e mais séculos.
Ouviam-me: "que quero?"
Pus numa aljava o tempo e
Lancei-me ao que me penso.
Era amor, com certeza!
Não poderia a mesma
Certeza em tudo ser
Falsa, qual falso é
O que o olhar pode ver,
De imediato, sem
Questionar até
O que mesmo já vê.
Sei, porém, que amor era
Porque já primavera
Enquanto frio inverno.
Bem que alertei as telhas
E os cômodos, talheres
E pratos, pás e pregos.
Para todos falei
Das proezas do cérebro,
Das astúcias do peito.
Não era outra lei
Da ilusão, outro erro.
Meu grito foi aos céus,
E aves, nuvens, ventos,
Do amor estão sabendo.
Como não pode ser
Amor, se faço versos
Até, se em mim me perco?

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "Quando bem quer"

"Quando bem quer"

O verso vem
Quando bem quer.
Não a qualquer
Tempo, meu bem.
Apenas vem
Para o que der
E o que vier,
E nada além
Disso. Não vês
Que o verso
A si só serve?
Não vês a verve
Vir, sem porquês,
De um outro verso?

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "Os outros" - para Carmen Silvia Presotto

"Os outros" - para Carmen Silvia Presotto


Que se sabe dos poetas
Da Mongólia,
Que rabiscam nesta hora
Em que escrevo sobre
Outros poetas que desconheço?
Serão os seus poemas
De amor ou de passadas eras,
De guerras, da vida e da morte,
Ou algo mais denso e forte
Do que o que o ritmo do Ocidente
Imprime e pode?
Que outro tema impera?
Que sabemos dos vates da Moldávia?
Que andam lendo nesta
Noite em que os penso?
Que grito de esperança
Dos seus versos lançam?
Como se dá das rimas a festa?
Com que métrica alteram o cosmo inteiro?
Com que metáforas abraçam as armadilhas do amor urgente?
Como em meu âmago reconhecê-los?
Ah, os bardos de Kosovo!
Ah, os letristas do Sri Lanka!
Ah, os versificadores da Tanzânia!
Ah, os menestréis de Montenegro!
Ah, os cantores da Eritreia!
Ah, os aedos da Chechênia!
Ah, os trovadores do Timor-leste!
Ah, todos aqueles que o existir alcança!
O que tanto cantam?
O que mesmo escrevem?
Será que almejam fama e glória?
Será que nada disso importa?
Será que abriram também a Caixa de Pandora
Por descuido ou curiosidade?
Que engendram com a poética arte?
Será que usam formas fixas?
Quais são as musas de suas vidas?

sábado, 12 de novembro de 2016

Ralph Waldo Emerson: "Days"

"Dias" (Tradução de Adriano Nunes)


Filhas do Tempo, os hipócritas Dias,
Surdos-mudos qual dervixes descalços,
E a marchar sós em uma fila infinda,
Trazem diademas e adornos nas mãos.
A cada um ofertam prendas à vontade,
Pão, reinos, estrelas e o céu que as guarda.
Eu, no meu trançado jardim, vi a pompa,
Esqueci matinal desejo, às pressas
Tomei ervas e maçãs, e o Dia
Virou-se e partiu silente. Atrasado,
Vi o desdém sob seu solene laço.


Ralph Waldo Emerson: "Days"


Daughters of Time, the hypocritic Days,
Muffled and dumb like barefoot dervishes,
And marching single in an endless file,
Bring diadems and fagots in their hands.
To each they offer gifts after his will,
Bread, kingdom, stars, and sky that holds them all.
I, in my pleached garden, watched the pomp,
Forgot my morning wishes, hastily
Took a few herbs and apples, and the Day
Turned and departed silent. I, too late,
Under her solemn fillet saw the scorn.



EMERSON, Ralph Waldo. Essays and poems by Ralph Waldo Emerson. Introduction and notes by Peter Norberg. New York: Barnes & Noble Classics, 2004, p. 461.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "A ilusão remendada"

"A ilusão remendada"


Tudo está remendado.
As roupas novas,
Os trapos todos, o jogo mimético 
De contrariar as expectativas
Do gozo sem gozo e sem expectativas.
Os sentimentos e o asco
De só ter sentimentos
Para o dizer que só se tem
Sentimento já gasto. Como uma vírgula.
Comme une folie à deux.
A ilusão remendada.
O silêncio e os conchavos.
A casa e a memória e os pedaços
Do desejo que se arruinou enquanto
Ainda pulsava.
Ah, até a ética! Até a estética!
Ó saudade corrosivamente moribunda!
Ó solidão astuta, mas vassala
Das peripécias dos acasos!
A instrumentalidade que não nos esfacele!
Todas as noites os remendos de tudo.
Todas as noites as desconversas epilépticas.
Todas as horas o infortúnio do medo de ver
Pregados à parede o nosso desassossego blasé,
A nossa barbárie bêbada de nossa podridão,
O alegórico desfile de metáforas cariadas,
O nosso clichê sub-reptício
Sempre à espera de que tudo dê certo.
Tudo está remendado e fétido.
As elegâncias trôpegas prontas para
Iluminarem o tudo-nada do sonho.
O nosso tédio que não mais incomoda.
Senhor, a sua ficha!
Senhora, portão dezoito!
Por ali. Por lá. Por onde. Para quando. E estamos
Desafiados por nossas antipatias de classe,
Nossos estereótipos rabugentos.
Senhor, espere um pouco mais!
Senhora, só amanhã!
Saímos do esgotamento vencidos.
Traímo-nos desdenhando da algaravia perniciosa
Dos outdoors da paciência.
Remendados ex officio. Subprodutos da pressa
E das pressões contingentes.
Mecanizados. Robóticos. Amarguradamente
Caminhando pelas vielas do conformismo.
E acenamos com delicadeza
Para cada transeunte desconhecido
Porque desonestamente temos reprimido
Em nós a vida inteira e os seus matizes
De amplidão.

Adriano Nunes: "Quando bem mais"

"Quando bem mais"


Abre-se o breu
Para abrigar
O meu olhar
Que até é teu.
Entre as estrelas,
Quem sabe, possa
Estar a nossa
Lógica em vê-las...
E a lua leva-me
À leve lida
Da vista: o exame
Da noite nítida.
O que nos liga
Em nós? O que
Forja o porquê
Da lira antiga?
E o amor cedeu
Quando bem mais
Pôs-se a amar. Eu
Duvidei: vais
Arriscar tanto
Assim? Ou não?
O coração
Deu-se ao encanto,
Só suspirou,
Não respondeu.

Adriano Nunes: "Pra compor um novo dia"

"Pra compor um novo dia"


Tímido um fio de sol
Surpreende-me. É manhã!
Pela fresta vítrea, observo
Do infinito vir a esp'rança
De tudo dar mesmo certo.
A dor de ser não é vã!
Porque há vontades, ergo-me
Do catre dos nós estéticos
E escrevo outro poema,
Pra louvar a vida plena
Deste instante de alegria.
Não vês que Erato me acena,
Com a lira, a folha e a pena,
À mão, pra compor o dia?

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "A Poesia"

"A Poesia"

Mudança em casa.
Metamorfose
Feita de pó,
De mofo, fotos
Antigas, gastas
Vassouras, pás,
Panos, sabão,
Poentes, sonhos,
Papéis e lixo
Cotidiano.

Disso me livro
Com que vontade?
Com que verdade
Preciso disso?
Vasta limpeza
De que adianta?
Rearrumar
Todo o meu lar
De que me vale?
Toda mobília,
Todos os traumas,
Raspa da vida
Que me edifica -              
Onde pôr tudo?
Quem mesmo sabe
Onde me deixo?
Qual de mim guarda
Queixas e táticas?
Perpassa o dia...
Às nove horas
Em ponto, prontos
Para a batalha
Contra o meu ser,
Armários, roupas,
Pratos, talheres,
A imprecisão
Que nada cede,
A ideia inerte.
Com que sorriso
Vou cativar-me?
Com que infinito
Sondar-me a carne?
Vasta alegria?
Às doze e meia
Já de saída,
Com as metáforas
Na Língua, sério,
Aquecendo-me
Sob sóis do metro,
Dentro de mim,
Dentro do cérebro,
A Poesia.


Adriano Nunes
*Poema escrito por mim em 19 de maio de 2009, sob o heterônimo Cecile Petrovisk, modificado, hoje.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "Φιλοσοφία" - para Alberto Lins Caldas

"Φιλοσοφία" - para Alberto Lins Caldas


Kantiano
Desde quando
Apresentado
Fui à Crítica
Da Razão.
Foi um choque
Forte, então.
Dos amigos
Que mais amo,
Muitos são
Nietzscheanos.
Outros tantos,
Hegelianos.
Mas há, claro,
Exceção:
Um que curte
Espinoza
E que sabe
Da Ética
Cada parte, e
De Heidegger
Já não gosta!
Há aquele
Que se pudesse
À Antiga Grécia
Retornava,
Para ouvir
Os filósofos,
Lá, da Ágora.
Como um
Que conheço
Bem, que mata
E até morre
Por Demócrito,
Heráclito
E Zenão.
Ah, sem falar
De uns nove
Que só leem
Aristóteles.
E são vários
Os sábios
Que nos cercam
Com suas ideias
Loucas, erradas
E certas.
Agora entendo
O porquê
De Platão
Ter vasto medo
Dos poetas.

Adriano Nunes: "Ars poetica"

"Ars poetica"


Primeiro, a dor
Desta existência,
Do mundo inteiro.
Não vês que entre
O tudo e o nada, a
Métrica e o ritmo e as
Rimas não bastam?
Que necessários
São os sentidos
E imagens tidos,
E a voz também?
A vida quase
Que se mantém
Sagrada, intacta,
Serpe suspensa,
Além da página
Pálida, além
Do que vir pode
Acontecer
Sendo metáfora.
Labor apenas?
Depois, o que
Preciso for
Para fazer
Ruir certezas
Demais densas,
Valer a pena.
Eis que maior
Que tudo só
Mesmo o poema.

domingo, 6 de novembro de 2016

Adriano Nunes: "Eco"

"Eco"


Eco, a ninfa
Rejeitada
Por Narciso,
Pede a Átropos
Que bem corte o
Fino fio
Da existência.
Ser espera
Tudo ou nada.

Quanto aguenta
Quem o peito
Tem ferido
Pelas flechas
De Cupido?
Que palavra
Incompleta
Serve de
Sonho, alerta?

Eco, ainda
Forças acha
Pra chorar.
E comove
Todo o bosque.
Acredita,
Ó leitor
Já sem norte,
Lá estive e

Vi a deusa
Afrodite
Consolá-la,
Encantada
Co'a voz bela,
- Que eloquência! -
Recortada
Pela ira
Da grã Hera.

Adriano Nunes: "A Beleza"

"A Beleza"

Calor e calmaria. O instinto cede
À vez. O que há que se possa ser,
Sem antes não ser engolido pela
Incerteza do instante de prazer?
A ti, curvo-me até, Beleza inteira,
Intacta. Por que não consigo ver-te?
Sumo e silêncio.... A lida dá-se sem
Amarras. E nada tens a dizer.
Com quem acertar contas nunca tens.
Nem mesmo com as pálidas paredes
Da ilusão. Ah, com que espelhos reter-te,
Ó, peregrina proeza, deleite
Do olhar, do que no sentir mais se deixa?
Que fazer pra que os meus versos aceites?

sábado, 5 de novembro de 2016

Odysséas Elýtis: “Λακωνικόν” (tradução do grego de Adriano Nunes)

"Lacônico" (tradução do grego de Adriano Nunes)

A ânsia da morte me incitou tanto que ao sol regressou o meu fulgor.
Ele agora me lança ao perfeito liame entre pedra e éter,
Logo, aquele que eu buscava, sou.
Ó verão de linho, outono douto,
Ínfimo inverno,
Da folha de oliva a vida paga o óbolo
E na noite dos tolos com um pequenino grilo outorga
A legitimidade do Acaso de novo.

Odysséas Elýtis: “Λακωνικόν”

O καημός του θανάτου τόσο με πυρπόλησε, που η λάμψη
μου επέστρεψε στον ήλιο.
Kείνος με πέμπει τώρα μέσα στην τέλεια σύνταξη της
πέτρας και του αιθέρος,
Λοιπόν, αυτός που γύρευα, ε ί μ α ι.
Ω λινό καλοκαίρι, συνετό φθινόπωρο,
Xειμώνα ελάχιστε,
H ζωή καταβάλλει τον οβολό του φύλλου της ελιάς
Kαι στη νύχτα μέσα των αφρόνων μ’ ένα μικρό τριζόνι
κατακυρώνει πάλι το νόμιμο του Aνέλπιστου.


ELÝTIS, Odysséas. “Λακωνικόν”In:____. “από το Έξη και μία τύψεις για τον ουρανό, Ίκαρος” – 1960. URL: http://odysseas-elitis.weebly.com/904xiiota-kappaalphaiota-…. Acesso em 05/11/2016.

Adriano Nunes: "Ah, que acasos me dei?"

"Ah, que acasos me dei?"

Tudo sem abrigo.
Até o eu que inventei
De carregar comigo,
Enquanto era o rei
Dos meus medos mais íntimos.
Ah, que acasos me dei
Para correr o risco
De impor-me a minha lei?
Por que só me deixei
Levar pelos instintos
Do que ser impossível
Podia, por que errei,
Por aí, sem destino,
Sem proeza? Pois, eis
Que, em mim, já não me finco,
Do que sou me exilei.

Adriano Nunes: "A saída" - para a minha mãe

"A saída" - para a minha mãe


A saída.
Sem o fio
De Ariadne.
Sem saída.
Sem ter porta
Que se feche
Ou se abra.
Para o agora.
Que memória
Leva mesmo
Ao futuro
Que se doura?
Ou quem sabe a
Tudo-ou-nada.
O que era
Para ser
A palavra
Demais vasta?
Todo o amor
Cego e mudo?
Outro rumo?
Para a chance
Magna e mítica,
Outra arte?
Que quimera
Não encerra
Em si esta
Nossa vida?

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Odysséas Elýtis: "Έρως και ψυχή" (Traduzido por Adriano Nunes)

"Eros e Psiquê" (Traduzido por Adriano Nunes)

Um mar escuro e selvagem colide em mim
A vida dos outros. Tudo o que clamas na noite
Deus o altera. Velozes as casas vão
Algumas chegam até o cais com as luzes acesas
Parte (dizem) a alma dos mortos
Ah tu que serás a que chamam "alma" ainda que o ar
Não alcançou para fazer-te matéria nem a penugem
Para a arrancar alguma vez ao passar
Que bálsamo ou que veneno derramas então
Em outros tempos, a nobre Diotima
Cantando com sabedoria chegou a modificar
A mente do homens e o curso dos rios de Suábia
De modo que os que se amam estejam aqui e lá
De duas estrelas e uma sina apenas
Incauta estar parece ainda que não esteja
A Terra. De carbonos e diamantes saciada
Porém sabe falar e desde lá donde flui a verdade
Com percussão subterrânea ou fontes de inefável pureza
Vem para que a confirmes. Qual? O quê?
A única que afirmas e que Deus não altera
Esse algo insondável que há
Apesar de tudo no Vão e no Nada.

Odysséas Elýtis: "Έρως και ψυχή"

Άγρια μαύρη θάλασσα χτυπιέται πάνω μου
Η ζωή των άλλων. Οτιδήποτε μέσα στη νύχτα ισχυρίζεσαι
Ο Θεός το μεταβάλλει. Ελαφρά πάνε τα σπίτια
Μερικά φτάνουν κι ώς την προκυμαία μ’ αναμμένα φώτα
Η ψυχή πηγαίνει (λένε) των αποθαμένων
Α τί να ’σαι που σε λεν «ψυχή» αλλά που μήτε αέρας
Έσωσε ύλη να σου δώσει μήτε χνούδι ποτέ
Στο πέρασμα να σου αποσπάσει
Τί βάλσαμο ή τί δηλητήριο χύνεις έτσι που
Σε καιρούς παλιούς η ευγενική Διοτίμα
Νοερά τραγουδώντας έφτασε να μεταβάλει
Το νου του ανθρώπου και τον ρου στης Σουαβίας τα ύδατα*
Ώστε κείνοι που αγαπιούνται να ’ναι κι εδώ κι εκεί
Των δύο αστέρων και του ενός μονάχα πεπρωμένου
Ανύποπτη μοιάζει να είναι αν και δεν είναι
Η γη. Χορτάτη από διαμάντια και άνθρακες
Όμως ξέρει να ομιλεί κι από κει που η αλήθεια εκβάλλει
Με κρουστά υποχθόνια ή πηγές μεγάλης καθαρότητας
Έρχεται να σ’ το επιβεβαιώσει. Ποιό; Τί;
Το μόνο που ισχυρίζεσαι κι ο Θεός δεν μεταβάλλει
Κείνο το κάτι ανεξακρίβωτο που υπάρχει
Παρ’ όλα αυτά μέσα στο Μάταιο και στο Τίποτα.


Οδυσσέας Ελύτης. [1991] 2006. Τα ελεγεία της Οξώπετρας. 6η έκδ. Αθήνα: Ίκαρος.

Odysséas Elýtis: "Του Αιγαίου" (Tradução de Adriano Nunes)

"Do Egeu" (Tradução de Adriano Nunes)*

O amor
O arquipélago
E o arco de suas espumas
E as gaivotas de seus sonhos
No mastro mais alto o marinheiro acena
Uma canção
O amor
Sua canção
E os horizontes de sua viagem
E o eco de nostalgia
Em sua mais úmida rocha a espera prometida
Um barco
O amor
Seu barco
E o desprezo por seus mistrais
E o braço de sua esperança
Em seu mais rápido ondear uma ilha embala
A chegada

Odysséas Elýtis: "Του Αιγαίου"

Ο έρωτας
Το αρχιπέλαγος
Κι η πρώρα των αφρών του
Κι οι γλάροι των ονείρων του
Στο πιο ψηλό κατάρτι του ο ναύτης ανεμίζει
Ένα τραγούδι
Ο έρωτας
Το τραγούδι του
Κι οι ορίζοντες του ταξιδιού του
Κι ηχώ της νοσταλγίας του
Στον πιο βρεμένο βράκο της ή αρραβωνιαστικιά προσμένει
Ένα καράβι
Ο έρωτας
Το καράβι του
Κι η αμεριμνησία των μελτεμιών του
Κι ο φλόκος της ελπίδας του
Στον πιο ελαφρό κυματισμό του ένα νησί λικνίζει
Τον ερχομό.

*Todos os direitos reservados da tradução diretamente do grego pertencem ao poeta Adriano Nunes.