quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Adriano Nunes: Quando por si faz-se pleno"

Quando por si faz-se pleno"


(I)

Diz-se que um poema é belo,
Além do que o entendimento
Pode constatar, decerto.
Na rua deserta, um prédio
De quatorze andares, velho,
Luminoso se mantém.
Entre edifícios modernos
E luxuosos, o prédio
De quatorze andares bem
Contém miríades de
Seres que parecem ser
De Júpiter, por exemplo.
Assim, um poema é belo:
Prédio pleno de mistérios.

(II)

Só depois de certo tempo
É que o pensamento vê
Que nada pode fazer
Ante um poema, se belo
For mesmo. É que o pensamento
Quando um poema sopesa
Pensa que o pesa pra sempre.
Não percebe que o poema
É que as sinapses sustenta,
Que mundos múltiplos gera.
Portanto, apenas na esfera
Do que inacessível arde
É que um verso por si vale.
Muito além do que é verdade.

(III)

Agora que na rua adentraste,
Olha para o alto, certo
De que verás vários prédios
Muito altos. Imponentes.
E entre eles um prédio
Velho, com alguns remendos
Estéticos, quase feitos
Há tempos, rimas e metros,
Após releituras de
Pedras e cal e cimento.
A noite esconde os defeitos.
Diz-se que um poema é belo,
Além do empreendimento,
Quando por si faz-se pleno.


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