segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Adriano Nunes: "Os tesouros da Duquesa de Zert"

"Os tesouros da Duquesa de Zert"


Avisam pergaminhos e trombetas
Que a Duquesa de Zert
Chegará muito em breve
Ao convulsivo cerne
Da cidade. Que vem
Trazendo as novidades doutras terras
Distantes e não vistas pela gente
De Zert. Que vem contente
Porque acredita ser
A legítima herdeira
Do mundo antes de
Zert. Que louca parece
Estar, pois fala que
Além de Zert há bens
Bastante valiosos, reluzentes.
Fala que são dois esses:
Liberdade e silêncio.
A vida está em festa.
A Duquesa de Zert
Ouro outro e tesouros não quer mesmo.
Andam contando que
Seus olhos foram feitos
Pérolas para um Chefe
De algum Estado pra lá das fronteiras.
Que ela nada enxerga.
Por isso espalha que demais conhece
Os bens de que defende.
Observemos atentos!
A Duquesa de Zert boca não tem!
Como poderia falado ter
Sobre tesouros desse
Jeito? Através de gestos?
Mas as gentes de Zert
Não são assim espertas
Para entender de gestos.
Atentos observemos!
A Duquesa de Zert
As mãos - não as tem mesmo!
Alegam alegres os vários velhos
Que as mãos cortadas lhe
Foram, porque, até versos
Escrevia! Até versos!
Observemos despertos!
A Duquesa de Zert
Não está triste e nem
Estar triste pretende.
Ela não tem orelhas!
Por muito que gritemos,
Será perda de tempo.
E nada mais a fere.
Não há tato! É sem pele!
Avisam pergaminhos e trombetas
Que a Duquesa de Zert
Chegará logo em breve
Ao corrosivo cerne
Da cidade. Que vem
Dois grandes bens trazendo:
Liberdade e silêncio.
Observemos espertos!
Ela traz consigo, dentro
Da aljava a alma, a boca, as mãos e os versos.
E os seus olhos a seguem
De perto. Com a pele.
Decerto. Nada a fere.


Adriano Nunes

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