sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Adriano Nunes: "Não desiste o acaso" - Para Fred Girauta​

"Não desiste o acaso" - Para Fred Girauta​



Não desiste o acaso
De fazer de tudo pouco caso. 
Vem às vezes fantasiado
De alegria, engano ou engasgo. 
Vem às vezes sob o passo 
Trôpego qual de um velho carrasco, 
Ofertando a forca e o cadafalso. 
Vem - ó várias vezes vem! - disfarçado, 
Coberto com os gastos trapos
Da  traiçoeira esperança, 
- E como a valsa da vida dança! -
Às vezes vem sob máscaras
E parece que dita o tudo-ou-nada,
E parece que dura, enquanto passa.
Vem às vezes fazendo graça, 
Pirraça, palhaçada, até piadas
Sobre por que vem, é claro,
Vem qual lance inexplicável,
Sobre o tabuleiro dos fatos, de dados
Por si treinados, numa aposta furada. 
Vem diversas vezes trajado
De gala, com grácil fala,
Dá-nos a mão, tão educado!,
Quer-nos ao lado, quer-nos levar às
Profundezas de íntimos báratros.
Não desiste o acaso
De fazer de tudo pouco caso.
Por fim, quando amargo e cansado,
Atira a sua última carta:
À socapa, pede o apoio de Átropos,
Não quer saber mais de papo,
Grita: corta o fio, corta o fio, rápido!

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