"Não desiste o acaso" - Para Fred Girauta
Não desiste o acaso
De fazer de tudo pouco caso.
Vem às vezes fantasiado
De alegria, engano ou engasgo.
Vem às vezes sob o passo
Trôpego qual de um velho carrasco,
Ofertando a forca e o cadafalso.
Vem - ó várias vezes vem! - disfarçado,
Coberto com os gastos trapos
Da traiçoeira esperança,
- E como a valsa da vida dança! -
Às vezes vem sob máscaras
E parece que dita o tudo-ou-nada,
E parece que dura, enquanto passa.
Vem às vezes fazendo graça,
Pirraça, palhaçada, até piadas
Sobre por que vem, é claro,
Vem qual lance inexplicável,
Sobre o tabuleiro dos fatos, de dados
Por si treinados, numa aposta furada.
Vem diversas vezes trajado
De gala, com grácil fala,
Dá-nos a mão, tão educado!,
Quer-nos ao lado, quer-nos levar às
Profundezas de íntimos báratros.
Não desiste o acaso
De fazer de tudo pouco caso.
Por fim, quando amargo e cansado,
Atira a sua última carta:
À socapa, pede o apoio de Átropos,
Não quer saber mais de papo,
Grita: corta o fio, corta o fio, rápido!
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