sábado, 14 de novembro de 2015

Adriano Nunes: "Mais de cem versos para a Paris de mais de cem mortos"

"Mais de cem versos para a Paris de mais de cem mortos"




Mais de 100 mortos indefesos.
Ainda estamos a crenças presos.
Mais de 100 mortos em solo estrangeiro.
Ainda estamos a dogmas presos.
Mais de 100 mortos de todo jeito.
Ainda estamos a deuses presos.
Mais de 100 mortos a frio a esmo.
Ainda estamos a sonhos presos.
Mais de 100 mortos - um pesadelo!
Ainda estamos a medos presos.
Mais de 100 mortos - como esquecê-los?
Ainda estamos a modas presos.
Mais de 100 mortos com seus desejos.
Ainda estamos a regras presos.
Mais de 100 mortos - que grave erro!
Ainda estamos a farsas presos.
Mais de 100 mortos - muitos tão cedo!
Ainda estamos a dores presos.
Mais de 100 mortos - como revivê-los?
Ainda estamos a raivas presos.
Mais de 100 mortos com seus segredos.
Ainda estamos a tédios presos.
Mais de 100 mortos sem um respeito.
Ainda estamos a crimes presos.
Mais de 100 mortos - como os vejo!
Ainda estamos a mágoas presos.
Mais de 100 mortos sob tiros certeiros.
Ainda estamos a riscos presos.
Mais de 100 mortos - quem são mesmo?
Ainda estamos a teses presos.
Mais de 100 mortos - como em vós retê-los?
Ainda estamos a brigas presos.
Mais de 100 mortos sob ódio verdadeiro.
Ainda estamos a signos presos.
Mais de 100 mortos - que dia imperfeito!
Ainda estamos a mitos presos.
Mais de 100 mortos em nós mesmos.
Ainda estamos a ódios presos.
Mais de 100 mortos - que horror sabê-los!
Ainda estamos a gostos presos.
Mais de 100 mortos - temor e desespero!
Ainda estamos a genes presos.
Mais de 100 mortos - como os concebo?
Ainda estamos a feudos presos.
Mais de 100 mortos - que instante negro!
Ainda estamos a termos presos.
Mais de 100 mortos sem paz pra protegê-los.
Ainda estamos a ritos presos.
Mais de 100 mortos sob covarde enredo.
Ainda estamos a fardos presos.
Mais de 100 mortos a bombas e balas - ei-los!.
Ainda estamos a sangue presos.
Mais de 100 mortos - um a um, dói-me sê-los!
Ainda estamos a graças presos.
Mais de 100 mortos - insólito lajedo!
Ainda estamos a modos presos.
Mais de 100 mortos com seus anseios.
Ainda estamos a castas presos.
Mais de 100 mortos - nada é ledo!
Ainda estamos a prazos presos.
Mais de 100 mortos com seus conselhos!
Ainda estamos a tramas presos.
Mais de 100 mortos - como entendê-los?
Ainda estamos a fraudes presos.
Mais de 100 mortos - em pedaços e inteiros!
Ainda estamos a transes presos.
Mais de 100 mortos sem um direito.
Ainda estamos a planos presos.
Mais de 100 mortos - como os percebo!
Ainda estamos a manhas presos.
Mais de 100 mortos por projéteis ligeiros.
Ainda estamos a trevas presos.
Mais de 100 mortos - quem pode vê-los?
Ainda estamos a queixas presos.
Mais de 100 mortos - quem é humano mesmo? 
Ainda estamos a reinos presos.
Mais de 100 mortos por ódio costumeiro.
Ainda estamos a berços presos.
Mais de 100 mortos por monstros sem eixos!
Ainda estamos a credos presos.
Mais de 100 mortos espalhados qual brinquedos.
Ainda estamos a templos presos.
Mais de 100 mortos - que horror dizer-vos!
Ainda estamos a lanças presos.
Mais de 100 mortos - somos toscos espelhos.
Ainda estamos a juras presos.
Mais de 100 mortos - bebamos desse veneno azedo!
Ainda estamos a farpas presos.
Mais de 100 mortos - será que a eles chego? 
Ainda estamos a mapas presos.
Mais de 100 mortos por ódio traiçoeiro.
Ainda estamos a vestes presos.
Mais de 100 mortos - Átropos e seu cortejo!
Ainda estamos a pedras presos.
Mais de 100 mortos de modo animalesco.
Ainda estamos a símios presos.
Mais de 100 mortos - como apreendê-los?
Ainda estamos a vícios presos.
Mais de 100 mortos na Paris de vinhos e queijos.
Ainda estamos a senhas presos.
Mais de 100 mortos - alerta vermelho!
Ainda estamos a erros presos.




Adriano Nunes

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