segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Adriano Nunes: "As fronteiras de Lamur-Tarkiv" - para Ricardo Silvestrin

"As fronteiras de Lamur-Tarkiv" - para Ricardo Silvestrin


São velas alvas que se arriscam
No mar altíssimo das expectativas.
São velas velozes que vão livres.
Vê: são velas que querem ir
Além das fronteiras de Lamur-Tarkiv.
Mas por que querem partir, digo,
Querem fugir, atirar-se ao perigo
Dos abismos elípticos
Das folhas em branco, das forças do destino,
Das forças armadas de algum mito
Peremptoriamente nocivo?
São velas ao vento seguindo.
Sim! Observa bem! É nítido
Que agora estão passando por Ítaca.
Elas não sabem que estão passando por Ítaca.
São velas vestidas de sol perdidas.
Querem ir além de Lamur-Tarkiv.
Querem apenas além ir.
Rotas? Não lhes importam o mínimo.
Reinos? Que lhes importam? Repito:
São velas a vagar além das divisas.
Não sabemos ainda
Por que seguem soltas e unidas.
A lida de todos em que implica?
São velas que fogem de algum conflito?
São velas que velejam a algum risco.
Dizem que estão há muitos dias
Almejando uma saída
Do labirinto que é o mar de Lamur-Tarkiv.
São velas em busca de ritmos precisos,
São velas em busca de rimas.
Dizem que estão navegando em círculos.
Mas não acredito. Não, não é possível.
Lamur-Tarkiv será que é um vestígio
Do que não se quer do íntimo?
Será que fora saqueada pelos ritos
Do inconsciente desconhecido,
Pelas áleas aliciadoras de algum signo
Ainda não descrito, ainda
Não concreto, cognoscível?
São velas de mágicos matizes.
São velas várias que vivas vingam.
Elas parecem estar aflitas.
Não, ninguém dizer saberia
Que rumo certamente têm esses navios
De palavras e sentidos inatingíveis. Ao infinito?
Ah, essa insólita tentativa
De encontrar a poesia!

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