segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Adriano Nunes: "Tarniarav e a graxa"

"Tarniarav e a graxa"


Os carros roídos, estragados,
Vieram fazer parte da salsa
Contagiante da lida já
Tarde. As peças férreas, sujas da
Graxa da existência, bem como estar
Parecem à mão que não é mais
Mão, a não ser gestos, giros, graxa.
A esperança desatenta passa.
Nenhum sonho se atreve a dar a
Última cartada. Das ferragens
Salta o corpo, sol e suor, quase
Às três da tarde. Tarniarav
Trabalha. Sua pele é a graxa.
É sob a graxa que se constata
Que há músculos tesos e vasos
Calibrosos. Não há distinção
Entre o que era e o que agora há.
Tarniarav age sem parar.
Vez ou outra alguém sente até tara
Nas suas mãos que graxa só são.
Fios, porcas, parafusos, tralhas,
Trapos enferrujados por lados
Tantos. Tarniarav costumara-se
Com frases de ferro, com a graça
Metálica sobre as placas mágicas
Dos elos mecânicos que falham.
E que a ele falam quando o lapso
Dos desejos cheira mesmo à graxa.
Tarniarav bem sabe que basta
O sol lançar-se alto pra dar-se
À vontade de ser todo graxa.
Alguém o seu peito esculhambara.
Até suas palavras são graxa
E transes de bateria e caixas
De marchas que não mais à saudade
Servem. Tarniarav só trabalha.
Agora é máquina: não tem sangue
Nos sentidos mais óbvios. Diante
Do olhar-farol queimado, repara
Que, do outro lado da calçada,
O seu ser de outrora dá risadas.

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