"Nem o que não há sequer" - para a minha mãe
Não é o mundo que o meu coração
Quer nem o que não há sequer.
Às vezes, quer só sair dessa
Gaiola torácica, quer bater
Por outros matizes de amplidão,
Pelos labirintos íntimos do que não
Pode ser apenas ritmo e eco.
Às vezes, é que em mim dá-se
O seu mistério de ser mais que carne.
Um engano métrico!
Talvez isso expresse o agora,
Essa tormenta de sentidos e angústias,
Essa solidão sem mesura,
Esse despertar descomedido.
Talvez apenas constate
Um pouco do que fora a saudade
De mim, por em mim faltar-me.
Ou essa dor de existir,
Porque só existir já pesa.
Eu, Sísifo a amar a pedra,
A subida árdua, a descida frustrante.
Ilusões de estranheza num único lance.
Ah, e esses olhos de humanidade
Sem norte, sem bússolas!
Tudo do até-mais-sentir-tudo
De mim se ocupa.
Não é qualquer lugar
Que o meu coração quer.
O amor é recanto pra o que é livre.
Não é qualquer tempo
Que o meu coração quer amalgamar
Em cada batida intensa, única.
Ai, os desejos se dissolvem adentro,
Mesclam-se a sonhos tirânicos,
À vez dos acasos!
Deve ser por isso que me penso
Mesmo triste.
Deve ser por isso que me desfaço,
Sísifo pela pedra encantado.
Deve ser por isso que a noite se alarga,
Construindo quimeras em minh'alma,
Deve ser a poesia, prisma que pulsa.
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