terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Adriano Nunes: "O sono de Trieminant"

"O sono de Trieminant" 



Desde o século dois
Que Trieminant os olhos
Não abre. Em coma 
Não está. Nem morto.
Apenas dorme, dorme.
Acordará logo, logo,
Antes do jornal das nove.
Talvez antes das oito.
Ela sabe que logo
Acordará. Pouco a pouco,
Irá estirar todo o corpo,
Bocejar e ver em volta
Tudo como tudo pode
Ser e estar. Que sonhos
Devem tê-lo invadido, por
Que demorou tanto por
Isso? Faz parte do
Jogo de Trieminant só
Acordar depois de todo
Esse tempo. Pouco
A pouco, erguerá a fronte,
Os ombros, a voz,
E pedirá, de novo,
Como antes, que lhe mostrem
Que ainda tem os tesouros
De Ualaroévnia em cofres
De diamantes e ouro.
Todos estão curiosos
Para saber que gostos
Terá Trieminant agora,
Depois de tanto tempo solto
De tudo que há no cosmo
Infinito, do que há lá fora.
Trieminant apoiou-se no
Mastro da cama e na cômoda.
Olhou para todos. Havia outros.
Repetiu o que lhe era óbvio.
Trouxeram-lhe os cofres.
Trouxeram-lhe a água forte.
Trouxeram-lhe as dores e o amor.
Ah, é o amor que importa
Para Trieminant! Que estorvo!
Nada disso mesmo importa!
Súbito, bastante trôpego,
Tombando nos velhos móveis,
Chega à janela. O mundo olha,
Põe os seus desejos à prova.
Põe tudo de novo à prova.
Ah, ele não quer mais a sorte
De não poder ir mais longe!
O dia parece que já some.
Dá uma gargalhada, retorna
À cama. E, sem dizer por
Que à janela fora, dorme.


Adriano Nunes

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