sexta-feira, 10 de julho de 2015

Adriano Nunes: "Os mapas" - Para a minha amada avó Raimunda

"Os mapas" - Para a minha amada avó Raimunda



Nasci numa cidade do sertão 
alagoano. Um oásis ante o calor 
e a seca. Mas não passei ali tempo 
suficiente a ponto de adotá-la 
como a cidade do meu coração. 
Pão de Açúcar poderia ter sido 
Tão doce mesmo para a minha vida. 
Entretanto, fora nesse lugar 
de incontáveis lembranças que me pus
a entrar no mundo do conhecimento. 
Na infância minha, os mapas do mundo
 eram os meus livros mais adorados.
 Geograficamente, pertenço a eles. 
Por isso não me sinto pertencer 
a lugar nenhum.  Sabia de cor 
todos os países e suas capitais. 
E só tinha cinco anos! Amava 
esses lugares presos ao papel 
como se neles até habitasse. 
A minha avó sempre comprava mapas 
para mim. E, nas feiras, às segundas, 
os vendedores de mapas e livros 
batiam à nossa porta. Fui náufrago 
no mar Mediterrâneo várias vezes. 
Como a Groenlândia era gigante! 
Como me sentia alegre a saber 
que a capital da União Soviética 
era Moscou! A Alemanha já era 
dividida - e não sabia o porquê. 
Estranho é lembrar-me de que eu não
 gostava de ir à escola. E aprontava 
todas para faltar às primas aulas.  
Pelas antenas da tevê subia 
para alcançar o telhado da casa. 
Ficava quieto, bem escondido, 
até que a hora de ir para o Bráulio 
passasse. O que mais me agradava era
 aprender com os mapas. Eles eram 
minha nau e, certamente, levaram-me 
a ser o que agora me penso e sinto.
Vate a vagar pelos desvãos do íntimo.

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