"Os mapas" - Para a minha amada avó Raimunda
Nasci numa cidade do sertão
alagoano. Um oásis ante o calor
e a seca. Mas não passei ali tempo
suficiente a ponto de adotá-la
como a cidade do meu coração.
Pão de Açúcar poderia ter sido
Tão doce mesmo para a minha vida.
Entretanto, fora nesse lugar
de incontáveis lembranças que me pus
a entrar no mundo do conhecimento.
Na infância minha, os mapas do mundo
eram os meus livros mais adorados.
Geograficamente, pertenço a eles.
Por isso não me sinto pertencer
a lugar nenhum. Sabia de cor
todos os países e suas capitais.
E só tinha cinco anos! Amava
esses lugares presos ao papel
como se neles até habitasse.
A minha avó sempre comprava mapas
para mim. E, nas feiras, às segundas,
os vendedores de mapas e livros
batiam à nossa porta. Fui náufrago
no mar Mediterrâneo várias vezes.
Como a Groenlândia era gigante!
Como me sentia alegre a saber
que a capital da União Soviética
era Moscou! A Alemanha já era
dividida - e não sabia o porquê.
Estranho é lembrar-me de que eu não
gostava de ir à escola. E aprontava
todas para faltar às primas aulas.
Pelas antenas da tevê subia
para alcançar o telhado da casa.
Ficava quieto, bem escondido,
até que a hora de ir para o Bráulio
passasse. O que mais me agradava era
aprender com os mapas. Eles eram
minha nau e, certamente, levaram-me
a ser o que agora me penso e sinto.
Vate a vagar pelos desvãos do íntimo.
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