"Antes do ser"
Portanto, quando a minha
formosura
Causava-te incontrolável loucura,
Insaciável eras, áurea Aurora,
Amavas-me sem fim. És fria agora!
A cada branco pelo, a cada ruga
Na face que em mim vês, como me
julgas
Envelhecido e feio! Mas, outrora,
Era o desejo ardente, a tua
glória,
Pois, decerto, o mais belo homem tinhas,
Até chegaste a Zeus pedir a minha
Imortalidade, cega, deveras,
Por beleza que em mim não mais se
atesta!
Hoje, ainda te ouço, de amor tonto,
Chamando-me: Titono! Meu Titono!
Esqueceste-me! E a grácil
juventude
Já não há. Como os amantes se
iludem!
Neste quarto lacrado, a Zeus imploro
Que me acalme o peito, seque meus
olhos,
Liberte-me de mim, quebre as
amarras,
E transforme-me em cantante
cigarra.
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