sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Adriano Nunes: "Mas não é só isso apenas"

"Mas não é só isso apenas"



A construção se faz pouco
A pouco. O esqueleto estético
Segue o seu trajeto de
Sol para ter algum norte -
Cimento, tijolos sobre
Tijolos e logo a obra
Projeta-se em seu propósito,
E evita a lógica, o óbvio.
Metáfora por metáfora,
Metro ante metro, o ritmo
Imprevisível dos versos
Dá-se assim por descoberto.
O prédio de sons e signos
Traspassa o indizível, pois
Tudo vingará depois
Que for dado à expectativa
Dos leitores e dos críticos -
Certo é pintar o edifício
Co' as cores do raciocínio.
A fachada aberta à vista
Do que pode a prosa, a arte
De desvendar o poema -
Mas não é só isso apenas:
A voz de Paulo Sabino,
Mistério de haver mistério,
Anotações no caderno
De rabisco, o esforço nítido
Para divulgar o cosmo
Imperecível que vai
De Cicero a Safo, até
De Bandeira a Baudelaire.
Palavra sobre palavra,
A casa se monta e nada
Parece faltar à peça.
O ethos, o pathos, o moto-
Contínuo, e o olhar se dispersa.
A criação se fez pouso
E ponte. O arcabouço estético
Chega ao seu percurso de
Sonho para virar ode.

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