quinta-feira, 26 de abril de 2018

Adriano Nunes: "Razão"

“Razão”


Eu não quero em minha face
O riso escancarado dos que comemoram
A prisão de seres humanos.
Sei que eles são tantos. São tantos!
Eu não quero em meu peito
O estufar de músculos da arrogância
Dos meritocratas tupiniquins.
Eu não preciso dos seus pódios e louros!
Só os tolos são cheios de si!
Eu não quero em meu âmago a indiferença sartriana
Ante as violações dos direitos fundamentais.
Eles são inúmeros e são os tais.
Eu não quero as nefastas alianças heideggerianas
Infestando a minha luta cotidiana.
Eles são múltiplos e não se cansam
De ser os homens de bem, os bacanas!
Eu não quero em meu ser a estupidez virulenta dos racistas.
Eles são invisíveis até! Não brincam
Em serviço! São sempre racistas!
Eu não quero o silêncio hipócrita
Dos que amam o eterno status quo
Apenas porque se beneficiam dele,
Enquanto padece uma miríade de vidas.
Eu não quero em meus olhos
As lágrimas dos tiranos e dos carrascos.
Eles estão por todos os lados!
Eu não quero dos assassinos os propósitos.
Eles fazem da morte negócio!
Eu não quero em meu coração
As batidas aceleradas dos traidores e dos que tramam
Para que tudo dê sempre errado.
Eles amam, à socapa, os vis conchavos!
Eu não quero o impulso selvagem dos estupradores de esperanças.
Eles em bando até andam!
Eu não quero em minha língua o analfabetismo
Inibitório dos políticos corruptos.
Eles veneram os cidadãos burros!
Eu dispenso o mundo dos sanguinários.
Eu repudio a autoridade dos autoritários!
Eu não quero o ódio panfletário dos haters tecnoligoides
Atando-se aos meus sentimentos.
Eles estão agindo neste momento
Contra tudo que podem!
Eu não suporto as verdades convenientes
Àqueles que mandam e desmandam.
Eles se espalham, com artimanha!
Eu não quero a vingança dos rancorosos
Impregnando o meu pensar.
Ah, eles se fincaram em todo lugar!
Eu não quero o poder dos egoístas.
Eu não quero a truculência dos trogloditas.
Ah, eles cercam todas as saídas!
Eu não quero em meu espírito quaisquer vestígios
De barbárie e fascismo.
Ah, que o meu querer me queira crítico!

Nenhum comentário: