quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Adriano Nunes: "Tudo enquanto tudo"

"Tudo enquanto tudo"


Os tudologistas 
Descobriram que
Sabem sim de tudo,
Na lógica própria
Que só eles têm,
Dentro de seus muros. 
Mas há um estorvo
Grave, gigantesco:
Como descrever
Tudo enquanto tudo?
O que é tudo mesmo?

Na tudologia
A regra do jogo
É outra, e, tampouco,
Importa se tudo
Precisa ser tudo
Pra que eles saibam
Que de tudo sabem.
O que eles sabem
Já é tudo. Pronto:
Certezas também
Como ninguém têm.

Ah, quantas certezas
Eles tanto têm!
Será que as constatam
Enquanto eu sonho
Como dar à fala
A medida exata,
Ou arrumar a sala,
Reler Epicuro?
Os tudologistas
Devem de férias
Estar, neste instante.

Ó quantas questões
Demais importantes
Pra ser resolvidas,
E um sinal de vida
Deles sequer há! 
A dor, a miséria, 
A fome, o rancor, 
As guerras, a inveja, 
O amor, a morte, a ira,
A solidão nítida, 
As doenças tantas,

A falta de água, 
A falta de alma,
A falta de falta,
O ser, o futuro, 
Os medos, as mágoas, 
Muitas coisas sérias,
Que nem pra pensar
Dá, porque não há
Como pensar em
Tudo, tudo, tudo..
Tudo a tudo basta?


Os tudologistas
Não servem pra nada?

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