domingo, 6 de setembro de 2015

Adriano Nunes: "Do que sequer saber quero"

"Do que sequer saber quero" 


Não me quero conhecer
Além do que inevitável
É. Pra que todos os dados
De mim, sem que possa haver
Algum mistério ou surpresa?
Deixa-me ter do deslize
A sensação de que existe
A angústia, a dor, o prazer,
O erro. Saber-me a quê?
As horas sem hora, o ato
Impensado, o gesto rápido
E desprevenido, a carne
De cada instante vivido
Sem nenhuma régua exata.
Deixa-me entregue ao que valha
Um raio de sol, um pássaro
Voando sem direção,
A emitir seu livre canto,
As coisas como só são.
O espelho já me diz tanto
Do que sequer saber quero.
Até levo o acaso a sério.
Que em mim tudo seja qual
Um verso: estranho e total.

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