quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Adriano Nunes: "A plena poesia"

"A plena poesia"


Por baixo dessa
Arquitetura de esperanças singela
Terra sob terra
Sob terra
Sob terra sob terra
E por debaixo dela
Caveiras ossos de braços e pernas
Esqueletos sem braços e sem pernas
Incontáveis cadáveres deveras
Desde o primeiro agora fóssil peça
Que ninguém mesmo não sabe se era
De algum ancestral ser comum daquela
Longínqua era a mais antiga dessa
Quase esfera a terra
Da mais funda terra desde a palavra terra
Sob a terra mais que terra
Sob a terra na terra mais imersa
E por debaixo desta
Os restos de todas as guerras
Destroços das coisas efêmeras e certas
O que pra sempre já se viu que não se leva
Impérios reinos Estados estrelas metas
Deuses príncipes reis pobres profetas
Arquitetos artesãos filósofos regras
Soldados políticos bichos plantas pedras
Gregos egípcios etruscos medos e persas
Romanos fenícios incas maias astecas
E sobre tudo e indiferente ao que se vela
E até se considera
Acima de tanta riqueza e bagatela
Insólita rosa se abre bela
Só sob o sol de quântica quimera:
A plena poesia expõe as suas pétalas.

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