"Ad impossibilia nemo tenetur" - Para a minha mãe
As hienas de Ysmamuth estão domesticadas.
Elas são mesmo a alegria da sua casa.
Riem alto, saltam cada trapo, troço, tralha,
Tantos móveis antigos como se estivessem
Num picadeiro, num espetáculo pago.
Aprenderam a comer com a faca e o garfo,
Não se espantem. Ysmamuth , de fato, já sabe
Que, dia após dia, as suas caras hienas
Serão os homens e as mulheres de verdade.
Vez ou outra, com fúria, alguma fere e rasga
A carne de algum estranho andante que passa.
Não há castigos ainda. Ysmamuth pressente
Que as hienas estão com a veraz vontade
De devorá-lo, uma vontade quase humana.
Porque elas desconfiam, hoje, com mágoa,
Que é um bem incalculável humanizá-las.
Mas Ysmamuth fecha os olhos, pra a sua arte,
Para a realidade das hienas, acha
Que elas gostam de estar de terno e gravata.
Ele só as tem. E uma área baldia vasta
Que costuma chamar de mundo, de grand monde.
Ah, como as hienas suspeitam fortemente
De que Ysmamuth seja uma farsa, a própria farsa!
Dez para as dez. Reunidas, as hienas pensam
Que a hora é chegada. Ysmamuth não lhes diz nada.
Aprenderam a comer com o garfo e a faca.
É o que lhes resta. O destino não é leve
Na vasta área baldia chamada mundo.
A hiena mais velha e mais sábia, humana quase,
Há anos que não cheira mesmo as próprias fezes.
Ysmamuth fede à ética e à civilidade,
E isso incomoda as hienas, de algum modo.
Dez e quatro. Ysmamuth sangra desnorteado.
O jogo agora é outro: Ysmamuth está morto!
As hienas dispensam todos os talheres.
Como Ysmamuth à esperança e às ilusões fede!
Com presas e garras afiadas, alegres,
Estraçalham-no. E, completas, como hienas,
Dão gargalhadas, as eternas gargalhadas,
Na vasta área suja de mundo chamada.
Elas geram o estrume estridente do nada.
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