segunda-feira, 21 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Mesmo que almeje muito mais"

"Mesmo que almeje muito mais"


Contento-me incontido em ser
O imperador mor do meu quarto,
Mesmo que almeje muito mais
Do que me oferta a intimidade.

Quando ainda criança, era
Desse modo que me engendrava
No cosmo, alheio aos tais anseios
De infinitude que teria

Um dia. Então, papéis e lápis
Vingavam como as esperanças
Legítimas do meu império
De rimas pobres sem um norte.

Era o descobrir do prazer
Da poesia. E, aos cinco anos,
Debruçado sobre um mapa-múndi,
Lançava-me ao labor de versos.

Digo versos e poesia,
Porque é o que penso saber,
Hoje, preso do próprio império.
Digo prazer porque entregava-me

Inteiro àquele raro instante
De luz, e não me amalgamava
Na necessidade de ser
Lido, relido, exposto a críticos.

Nunca a lua fora tão rosa!
Nunca os dragões foram tão dados
Às leis da liberdade, à lida
Do impossível! Tudo viria

A ser a quântica quimera
Para tudo. E que me importava
Saber de ritmo, regra e métrica,
Se escrever era uma alegria?




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