terça-feira, 1 de julho de 2014

Adriano Nunes: "Astérion"

"Astérion"



Nove anos e é chegada a hora
Do banquete de Atenas vindo. Sinto
Que liberto serei do labirinto
Íntimo que me prende e me devora.

Ouço, ao longe, o barulho que decora
O mar. São negras velas que, co' instinto, 
Avançam para Creta. Mas pressinto
A astúcia e as frias lâminas, à aurora,

Do jovem perspicaz, filho de Egeu.
Nada me dói. O fio encontro, mas não
Ouso cortá-lo. Perco-me em mim: eu.

Deixo-me ser ferido. As Parcas são
Cúmplices e mais torcem por Teseu.
Agarro-me às paredes, com paixão.

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