"Para entregar-me ao que me invade"
Para pertencer a mim mesmo,
Sem medo, ao clã da liberdade,
Para entregar-me ao que me invade,
Subitamente, todo, a esmo,
Canto o instante que me completa,
O ritmo do rio que varre
As minhas afoitas sinapses,
As voltas no parque, sem pressa,
As corridas de bicicleta,
Os descomedidos desejos,
E o amor, claro, que sequer tenho,
Do quarto, o sangrante silêncio,
Meu mundo pequeno, sob metros
E rimas toantes, sob erros
Importantes, e sob a ausência
De quaisquer regras, pra ser eu
Mais e mais, um pleno Proteu.
Liberto-me até de mim, vejo!
Logo, alheio a quem me penso,
Imerso em amplidão estética,
Reconheço em mim isso apenas:
Como as aves que do céu servem-se
Para fundar o belo baile
Dos seres livres, do poema
Sirvo-me pra que ele apenas
Seja um poema, e assim sendo,
Confirme em meu ser o que atesta
A minha grã felicidade,
Para cantá-la, porque arde
O portento de ser poeta!
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