"Ars poetica"
Então o criador,
- um bardo, por favor! -
Repleto de esplendor
A imaginar ficou
Seu infinito cosmo.
Pedras e plantas pôs.
Pensou: do bicho homem,
A vã semente só
Depois! E a engendrar foi
A serpente, e o pior:
Em sua mente um corpo
De um deus amorfo e morto.
Assustou-se. E, por pouco,
Não se viu mesmo louco.
Criou a cabra e o porco.
A vaca, o breu e o boi.
Em preto e branco todos.
Somente o tempo cor
Tinha. E de medo logo
Encheu-se. Era óbvio
Que poderia só
Criatura ser, pois
Não tinha sequer nome.
Precisava do homem.
Era preciso o homem!
Súbito, teceu rosto,
Pernas, pau, braços, boca.
E à semelhança do
Ser criado de assombro
Fora tomado. Solto
De si moldou-se molde
Já supondo em que ponto
Fincava a própria morte.
Fez orelhas e olhos,
A língua, a carne e os ossos.
Co' imensurável sopro,
Encheu d' ar o protótipo
De si, enquanto sonho.
Contente do controle
Sobre o incrível esboço,
Postergou o seu gozo:
Era um deus, era homem!
E, tirânico e tonto,
Soube que estava pronto.
Do barro dos negócios
Mundanos outro tornou-se.
E das costelas dos
Ditos deliciosos
Forjou o sexo oposto.
Era tudo por seu modo.
Era tudo pra seu jogo.
Cansado, descansou
No grã trono. Pesou:
Agora tudo posso.
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