quarta-feira, 25 de março de 2015

Adriano Nunes: "Proeza"

"Proeza"


Não gosto de desafiar os deuses.
Eles são eles em elo: um nó técnico,
São todos os seus risíveis remendos.
Os escombros de Troia em mim acesos
Ardem ainda. Os mistérios de Elêusis
Não me anteciparam a primavera, e
Vestiu-me apenas o devir de inverno.

Por ser-me e sonhar-me, só me esfacelo.
Nessa intermitência de morte e tédio,
Não sou quem me penso ou sinto, decerto.
Mas ante as estrelas e a treva estética
Desta noite, em que o inesperado cega-me,
Em que a vida é escrever, é o que resta,
Constato: que alegria é ser poeta!

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