quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

"Era entender quase alegria" - para Péricles Cavalcanti


Quando não havia palavra,
Só selva e os primos primatas,
Só o corpo bruto importava.
Quando já se ouviam ruídos,
Só a gritaria alertava.
Qual fora o signo primitivo
Imaginado pelos símios?
Quando não havia grafito
Nem folha, a pedra reinava
Furada, pintada, riscada,
A gruta era a galeria
Da arte que sequer sabia
Que arte viraria um dia,
Imagens de todo o convívio,
A vida visual vingava.
Quando os fenícios, no princípio,
Deram na telha e edificaram
A primeira letra - vertida
Para os negócios do comércio
Marítimo - que rebuliço!
Quando até ler não se sabia,
Era entender quase alegria.
Que palavra: amor, arma, água,
Deus, pai, mãe, sede, fome, casa,
Fora - quem a confirma? - escrita?
Quando não havia papiro,
Mandar mensagem era um risco,
Tudo mudava de sentido,
Não-dito era o dito, e nada
Era certo ao longe, só mito!
Quando não se escrevia carta
Nem havia sequer telégrafo,
Nem telefone ou telegrama,
Sedex, fax, celular, WhatsApp,
Facebook, essas máquinas rápidas
De qualquer mensagem levar
A distantes destinatários,
Só o gesto e o olhar importavam,
Não havia ânsia nem drama,
E o silêncio era sagrado.


Nenhum comentário: