quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Adriano Nunes: "ego"

"ego" 

esse estranho espectro
que passa
a vista através das vidraças

da casa,
que atravessa a avenida
movimentada,
carros, gente, gestos,
gritos,
algaravia vital, pulsátil,
em direção à praça,
que observa as vitrines,
as camisas de tantos
times,
que não dá a cara
para a próxima porrada,
que um dia desses
entendeu o que é mesmo seu,
a sua vibe,
que vez ou outra lê
the new york times,
que aprendeu a dizer
fim,
look for me,
find me,
enfim,
pasmo de si, sente
- contente -
que nada sabe. e

vinga a ser
esse estranho espectro
que escapa
sempre pela tangente
mal calculada, que
mergulhado no que pensa,
naufraga,
que faz versos, tenta
moldar seu metro
com o coração, pondo
os sonhos no ralo ininterrupto
do eu profundo,
que não se redime
da graça
de não ter graça,
que já deu de cara
com tropeços,
topadas,
tormentos, tristezas,
trapaças,
tombos, quedas,
risadas,
que vive a ouvir
caetano veloso,
vê, agora, pouco
a pouco,
que não mais quer
ser outro.

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