sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Adriano Nunes: "Depois da solidão, tudo"

"Depois da solidão, tudo"



Depois da solidão, tudo
Poderá acontecer, vai
Que de mim alguém bem goste,
Que essa espera se esfacele,
Que enfim eu diga: não mais
Engano-me nem me iludo,
Chega de ser tolo inseto
Perante o clarão do poste,

Trôpego, bêbado, tonto,
Cego do miolo à pele, 
E até que, solto, me aprumo,
Estando de mim repleto,
Pleno, prolífero, pronto, e
Arquiteto um novo rumo.

Depois da solidão, tudo
Poderá acontecer, ai,
Vai que todo o ser se dobre,
Que o meu coração se mostre,
Que eu diga assim: jamais
Vou voltar a dar-me, mudo,
Às tantas quimeras, quieto,
Ante a comoção, e apele
Para a razão, bruto, a ponto
De muito revirar sumo,
Sangue, sonhos, o trajeto, 
O corpo, o clima, o confronto, e, 
Sozinho, (Não me acostumo?)
Todo alegre me revele.

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