sábado, 31 de dezembro de 2011

Pablo Neruda: ""Canto General XV/II"

"Canto General XV/II" - Pablo Neruda


Amor, tal vez amor indeciso, inseguro:
sólo un golpe de madreselvas en la boca,
sólo unas trenzas cuyo movimiento subía
hacia mi soledad como una hoguera negra,
y lo demás: el río nocturno, las señales
del cielo, la fugaz primavera mojada,
la enloquecida frente solitaria, el deseo
levantando sus crueles tulipas en la noche,
Yo deshojé las constelaciones, hiriéndome,
afilando los dedos en el tacto de estrellas,
hilando hebra por hebra la contextura helada
de un castillo sin puertas,
oh estrellados amores
cuyo jazmín detiene su transparencia en vano,
oh nubes que en el día del amor desembocan
como un sollozo entre las hierbas hostiles,
desnuda soledad amarrada a una sombra,
a una herida adorada, a una luna indomable.
Y entonces dulce rostro, azucena quemada,
tú la que no dormiste con mi sueño, bravía,
medalla perseguida por una sombra, amada
sin nombre, hecha de toda la estructura
del polen,
De todo el viento ardiendo sobre estrellas
Impuras:
oh amor, desenredado jardín que se consume,
en ti se levantaron mis sueños y crecieron
como una levadura de panes tenebrosos.



Canto Geral XV/II
(Tradução de Adriano Nunes)


Amor, talvez amor indeciso, inseguro:
Somente um golpe de madressilvas na boca,
Somente umas tranças cujo mover-se subia
fez minha solidão como uma pira negra,
e tudo mais: o rio noturno, os vestígios
do firmamento, a fugaz primavera aguada,
a enlouquecida frente solitária, o desejo
levantando suas cruéis tulipas na noite.
Eu desfolhei todas constelações, ferindo-me,
Afiando os dígitos no tato de estrelas,
tecendo fio por fio a contextura fria
de um castelo sem portas,
oh estrelados amores
cujo jasmim detém sua transparência em vão,
oh nuvens que no dia do amor desembocam
como soluços entre as herbáceas hostis,
desnuda solidão amarrada a uma sombra,
a uma ferida adorada, a uma lua indômita.
Nomeia-me, disse talvez aos roseirais:
eles talvez, a sombra de confusa ambrosia,
cada tremor do mundo conhecia meus passos,
me esperava no canto mais oculto, a estátua
da árvore soberana na planície:
tudo na encruzilhada chegou a meu desvario
dissecando meu nome sobre a primavera.
E sendo assim, doce rosto, açucena queimada,
tu a que não dormiste com meu sono, bravia,
medalha perseguida por uma sombra, amada
sem nome, feita de toda a estrutura do pólen,
de todo o vento ardendo sobre estrelas impuras:
oh amor, desenredado jardim que se consome,
em ti se levantaram meus sonhos e cresceram
como uma levedura de tenebrosos pães.






In: NERUDA, Pablo. "Canto General". Mexico: Ediciones Oceano, 1954; Canto XV (Yo Soy); II; páginas 534/535.




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