sábado, 31 de dezembro de 2011

Adriano Nunes: "Ano Novo"

"Ano Novo"



Fulano
Sicrano
Poema
E música.
E não eram os trezentos de Esparta
Nem brincavam de cabra-cega às dez
Para dez, toda noite, com dragões,
Tigres dente-de-sabre, mil libélulas
Loucas. Não eram aquelas meninas
Paradas na esquina, depois das dez.
O intervalo de vácuos sobre o vácuo
Do coração. Não eram cento e onze
Detentos esmagados na ilusão
De ter ilusão. Fulano, Sicrano,
Poema e música. Não haveria
Tempo para haver tempo e frágeis sonhos.
Ai, todas essas páginas viradas!
Ai, todos esses sentidos não tidos!
E o buraco negro sugava a mágica
Quimera de um dia que vingará.
Não eram os exilados de Cuba
Nem o rapaz ante o tanque chinês.
Não eram as luzes de Paris, não
Eram palavras presas ao vernáculo,
O espetáculo de um circo estrangeiro.
O ano para todos, o instante raro
De paz e luz, de humanidade plena.
Não eram aqueles reis peregrinos,
Seguindo um disco-voador, a vida.
Não eram os carrascos de Nuremberg
Nem mesmo o vídeo de Kadafi
Diante da morte. Não poderia
A existência ser um simples anexo.
Fulano
Sicrano
Poema
E música.




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