"alegria ao que se declara"
como não se permitir a
alguma estética mentira?
como não querer mudar a
vida, essa arquitetura rara
feita de quimera e atrofia ?
eis a roleta-russa, fria: a
mesma dor em dose pequena
ou nova ilíada pra helena?
como poder sucumbir a
o poema que o peito admira
e assim ver-se amalgamar a
alegria ao que se declara?
eis a cicuta, dia a dia:
tudo que não se remedia,
o caos que o sentir condena
a repetir vã cantilena.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Adriano Nunes: "saldo"
.............................................................""saldo"
................................................a imagem
.......................................................................por trás
...............................................da imagem
...................................................................- mar gem
.....................................................mar -
..................................................por trás
................................................................a miragem d
......................................................................................
......................................................................................
........................................................................entro d
....................................................a mira
..................................................................gem a mira-
.......................................................gem a mensa-
.....................................................................gem a me
...............................................................................nsa-
...........................................................................gem a
.....................................................................................
....................................................................................
....................................mensagem: fernando pessoa
.....................................................................................
.......................................................................p.....o-
..........................................................................v..o-
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...................................................................- mar gem
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....................................................................................
....................................mensagem: fernando pessoa
.....................................................................................
.......................................................................p.....o-
..........................................................................v..o-
..............................................................................a-a
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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Adriano Nunes: "o natal"
"o natal"
chega o dia.
tudo e sua pressa de tudo.
o mundo é um
milésimo de segundo...
corre-corre.
praias, pontes aéreas, escadas
rolantes, sacolas plásticas,
discos, livros, emeios, cartas
de contas, acertos de contas
com o passado,
nem pensar!
chega
o dia, tudo é
menos que um
milésimo de segundo.
o mundo? um porto
inoportuno, entre sonhos.
bilhetes
de passagens, presentes,
mil e
duas bagagens, saudade, cinema
mais tarde,
quem sabe?
chega o dia.
mesa posta,
uns sorriem e outros
até gostam da monotonia,
da solidão. chega o dia:
o coração acelera,
a vida em si
vida encerra
e pulsa,
catapulta de sentidos
que por muito tempo ficaram
escondidos,
quase ditos. shoppings, chopes,
chamas
de reencontros, redescobertas,
renascimentos e
ponto final.
chega o dia.
nas maternidades,
as mães montam o mito,
olham para o céu e
contemplam o infinito, secando
cordões umbilicais.
táxis,
ônibus,
aviões,
barcos...
um alvoroço
diante da
possibilidade do dia -
é que tudo parece
depender do dia,
descendente do caos -
demonstra o
quanto o dia
tem no sangue os matizes
familiares do desequílibrio,
dos impulsos primitivos,
da pressa.
adianta-se o dia:
outra luz surge
súbita,
além da língua:
nenhuma palavra é
capaz de abrigá-lo,
de desvendá-lo. os homens
violentamente constróem o presépio,
ponderam as suas
íntimas vidas, surpreendem
o deus menino.
chega o dia.
tudo e sua pressa de tudo.
o mundo é um
milésimo de segundo...
corre-corre.
praias, pontes aéreas, escadas
rolantes, sacolas plásticas,
discos, livros, emeios, cartas
de contas, acertos de contas
com o passado,
nem pensar!
chega
o dia, tudo é
menos que um
milésimo de segundo.
o mundo? um porto
inoportuno, entre sonhos.
bilhetes
de passagens, presentes,
mil e
duas bagagens, saudade, cinema
mais tarde,
quem sabe?
chega o dia.
mesa posta,
uns sorriem e outros
até gostam da monotonia,
da solidão. chega o dia:
o coração acelera,
a vida em si
vida encerra
e pulsa,
catapulta de sentidos
que por muito tempo ficaram
escondidos,
quase ditos. shoppings, chopes,
chamas
de reencontros, redescobertas,
renascimentos e
ponto final.
chega o dia.
nas maternidades,
as mães montam o mito,
olham para o céu e
contemplam o infinito, secando
cordões umbilicais.
táxis,
ônibus,
aviões,
barcos...
um alvoroço
diante da
possibilidade do dia -
é que tudo parece
depender do dia,
descendente do caos -
demonstra o
quanto o dia
tem no sangue os matizes
familiares do desequílibrio,
dos impulsos primitivos,
da pressa.
adianta-se o dia:
outra luz surge
súbita,
além da língua:
nenhuma palavra é
capaz de abrigá-lo,
de desvendá-lo. os homens
violentamente constróem o presépio,
ponderam as suas
íntimas vidas, surpreendem
o deus menino.
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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Adriano Nunes: "Outro natal"
"Outro natal"
Senhor, liberta-nos
Do que está lá,
Fora do alcance
Do coração.
Dá-nos apenas
Coisas pequenas
E alguma dúvida.
Nada queremos
Das esperanças.
Senhor, liberta-nos
Da angústia infinda,
Dá-nos o mundo!
Senhor, liberta-nos
Do que está lá,
Fora do alcance
Do coração.
Dá-nos apenas
Coisas pequenas
E alguma dúvida.
Nada queremos
Das esperanças.
Senhor, liberta-nos
Da angústia infinda,
Dá-nos o mundo!
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
FERNANDO CAMPANELLA: "Sinos de Minas"
"SINOS DE MINAS"
Dois sinos tocam ao finado,
um maior, como do céu chamando,
e a alma melancólica respondendo
'Já vou indo, meu pai'
é o sino menor dobrado.
Outro sino
nove vezes na tarde badala
ad aeternum evocando a chegada
do antigo anjo dos mitos.
Aqui, sinos não celebram grandes impérios
nem cataclismos rememoram
nem por isso menos sino se torna
o eco do longínquo que sentimos.
Aqui também bate o sineiro
sinos doces, pequeninos
e da branca torre no natal
todo ano como num encanto
desce do Deus menino
um soprinho.
Observação: a foto, de autoria de Fernando Campanella, é de um vitral da Igreja Matriz de Brasópolis, sul de Minas Gerais.
Dois sinos tocam ao finado,
um maior, como do céu chamando,
e a alma melancólica respondendo
'Já vou indo, meu pai'
é o sino menor dobrado.
Outro sino
nove vezes na tarde badala
ad aeternum evocando a chegada
do antigo anjo dos mitos.
Aqui, sinos não celebram grandes impérios
nem cataclismos rememoram
nem por isso menos sino se torna
o eco do longínquo que sentimos.
Aqui também bate o sineiro
sinos doces, pequeninos
e da branca torre no natal
todo ano como num encanto
desce do Deus menino
um soprinho.
Observação: a foto, de autoria de Fernando Campanella, é de um vitral da Igreja Matriz de Brasópolis, sul de Minas Gerais.
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Adriano Nunes: "o meu mundo era um mapa"
"o meu mundo era um mapa"
completos cinco anos de idade,
o meu mundo era um mapa-
múndi. devorava-o, à socapa,
em mim... quanta felicidade!
repetia tudo em voz alta:
bolívia, la paz capital.
na europa, espanha , portugal.
madagáscar, madeira, malta
são ilhas. (a palavra estranha
atravessava-me, tal ar)
inglaterra era grã-bretanha,
o mar morto, abaixo do mar.
a travessura me acompanha...
é minha infância a me guardar!
completos cinco anos de idade,
o meu mundo era um mapa-
múndi. devorava-o, à socapa,
em mim... quanta felicidade!
repetia tudo em voz alta:
bolívia, la paz capital.
na europa, espanha , portugal.
madagáscar, madeira, malta
são ilhas. (a palavra estranha
atravessava-me, tal ar)
inglaterra era grã-bretanha,
o mar morto, abaixo do mar.
a travessura me acompanha...
é minha infância a me guardar!
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Adriano Nunes: "diáspora" - Para Augusto de Campos
.............................................................."diáspora"
........................................................................ Para Augusto de Campos
.....................................................)))))))))tiro
.....................................................)))))))))tudo
.....................................................))))))))))))do infini((((((((((t
....................................................o))))))))tudo
....................................................))))))))))))do vác((((((((((((u
....................................................o))))))))tudo
....................................................))))))))))))do to((((((.(((((((d
....................................................o))))))))tudo
...................................................))))))))))))do temp(((.(((.(((o
....................................................de))))))tudo
...................................................................))r((((e ))))
.................................................................t i r o - m e
.................................................................................
................................................................
........................................................................ Para Augusto de Campos
.....................................................)))))))))tiro
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Adriano Nunes: " a r e d e / r é d e a"
.......................................................a.. r.. e.. d.. e.. /...r.. é.. d.. e.. a
.................................................................r............is
..............................................................r.....................it
.......................................................................r.................est
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Adriano Nunes: "rasuras de porão"
.....................,,,,"rasuras de porão"
....................Traços....troços....traços
....................troços....tRaços....troços
....................traços....troços....trAços
....................troços....traÇos....troços
....................trAços....troços....traços
....................troços....traços....troçoS
...........................T
......................................troçostR
.....................traçostroçostrA
...................................troçostraÇ
....................................trA
.......................troçostraçostroçoS
.....................osratososratososratos
.....................osra...sosratososr
.........................r......os...............a
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.....................osratos
.....................o.............rato
.....................osratososratososratos
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Adriano Nunes: "ou-s ou-o"
.......................................................................ou-s ou-o
..................................................o) (o)(o)(o).....(o)........................(o)(o)(o) (o
....................................ss(ss)ss(ss)ss.................................(ss)ss(ss)ss
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ANTONIO CICERO: "Noite"
"Noite"
Vêm lá do canal
reverberações
do ladrar de um cão.
Uma dessas noites
tudo vai embora:
Leve-nos,
ladrão.
Abre-se o sinal
pra ninguém passar.
É melhor ser vão
tudo o que pontua
nossa escuridão.
De: CICERO, Antonio. GUARDAR. Rio de Janeiro: Record, 1996 / Vila Nova do Famalicão: Quase, 2002.
Vêm lá do canal
reverberações
do ladrar de um cão.
Uma dessas noites
tudo vai embora:
Leve-nos,
ladrão.
Abre-se o sinal
pra ninguém passar.
É melhor ser vão
tudo o que pontua
nossa escuridão.
De: CICERO, Antonio. GUARDAR. Rio de Janeiro: Record, 1996 / Vila Nova do Famalicão: Quase, 2002.
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
ADRIANO NUNES: "controvérsias, contornos e conchavos"
"controvérsias, contornos e conchavos"
meio-dia.
telefone desligado.
trânsito entrando sobrando
no cérebro,
calor,
vontade
de
sair correndo, dizer
o que
era pra ser dito,
esquecer
o quanto já tinha ouvido,
querer mesmo um
fim
de semana, um dia
pra rever-
ter tudo em
bel-prazer...
mas por que esse pensamento
perigoso,
cisma clínica sexto sentido
intuição,
ciúme, ridículo
arquétipo de
distração
resolveu dar as cartas,
feito diabinho
soprando, na orelha,
o conselho,
a controvérsia,
a centelha
pentelha... a regra
afinal?
e o momento
suspenso-suspense surpreende-me
de tal forma
que a vida deforma,
que o real
desbota-se...
enquanto calculo
a margem de erro
do engano:
o amor
é amor e
sem cláusulas,
contrato (esqueçamos
as fissuras,
as loucuras,
as brigas mais duras,
os vexames!)
o amor é
(um desacordo?)
exato.
meio-dia.
telefone desligado.
trânsito entrando sobrando
no cérebro,
calor,
vontade
de
sair correndo, dizer
o que
era pra ser dito,
esquecer
o quanto já tinha ouvido,
querer mesmo um
fim
de semana, um dia
pra rever-
ter tudo em
bel-prazer...
mas por que esse pensamento
perigoso,
cisma clínica sexto sentido
intuição,
ciúme, ridículo
arquétipo de
distração
resolveu dar as cartas,
feito diabinho
soprando, na orelha,
o conselho,
a controvérsia,
a centelha
pentelha... a regra
afinal?
e o momento
suspenso-suspense surpreende-me
de tal forma
que a vida deforma,
que o real
desbota-se...
enquanto calculo
a margem de erro
do engano:
o amor
é amor e
sem cláusulas,
contrato (esqueçamos
as fissuras,
as loucuras,
as brigas mais duras,
os vexames!)
o amor é
(um desacordo?)
exato.
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Adriano Nunes; "Precisamente, dez pra dez"
"precisamente, dez pra dez."
Precisamente, dez pra dez,
Perto do cais. Entre o arcabouço
Do infinito e a praia e o sol, ouço o
Eco do mar revolto, à tez
Do que não mais serei. Navios
Partindo... Quase em colisão,
Meus sonhos e o que eles são
Pra o meu coração: Sóis vadios
Imersos nos intactos restos
Da contemplação, da espuma
Do encontro. E esta vida é uma
Lembrança de portos e gestos
A eclipsar o flerte, os modestos
Fragmentos do amor, feito bruma.
Precisamente, dez pra dez,
Perto do cais. Entre o arcabouço
Do infinito e a praia e o sol, ouço o
Eco do mar revolto, à tez
Do que não mais serei. Navios
Partindo... Quase em colisão,
Meus sonhos e o que eles são
Pra o meu coração: Sóis vadios
Imersos nos intactos restos
Da contemplação, da espuma
Do encontro. E esta vida é uma
Lembrança de portos e gestos
A eclipsar o flerte, os modestos
Fragmentos do amor, feito bruma.
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "voz-molotov"
"voz-molotov"
o rio à tona:
a zona morte(
a zona súplica,
a zona pública,
a zona marte)
o rio a entona
o rio à tona:
a zona morte(
a zona súplica,
a zona pública,
a zona marte)
o rio a entona
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Adriano Nunes: "oração noigandres"
"oração noigandres"
ó augustos campos!
ó concretos campos!
que os arautos sejam
augustos haroldos!
que os oráculos sejam
augustos augustos!
que vertam o ver-
so: olhai os crisantempos
até os fins dos tempos!
olhai os crisantempos!
ó augustos haroldos!
ó campos poéticos!
ó augustos campos!
ó concretos campos!
que os arautos sejam
augustos haroldos!
que os oráculos sejam
augustos augustos!
que vertam o ver-
so: olhai os crisantempos
até os fins dos tempos!
olhai os crisantempos!
ó augustos haroldos!
ó campos poéticos!
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Adriano Nunes: "A nódoa pública"
"A nódoa pública"
O polvo-pólvora
Povoa o Rio.
Num susto sub-
Reptício, visto,
Explode o âmago
Alheio, receio.
Entre vis fogos,
Bope dá ibope,
Clichê. Não se
Sabe mais o
Que é zona súplica
Ou zona morte.
Fechem as frestas,
Abram os olhos,
Desçam do sonho:
Eis a cidade,
A mera-ilhota,
Sem maravilhas,
Que o globo agora
Nota, publica.
- Engloba-a o público -
Do ônibus, tudo...
A chama inflama,
A propaganda
Mais enganosa.
Sentado, de óculos,
Todo metal,
Carlos Drummond
Assiste, atento
Ao estrago, ao caos,
Parece estar
Lendo-o, relendo-o.
Estorvo-bomba.
Truques de guerra,
Séria miséria.
O polvo-pólvora
Povoa o Rio.
Num susto sub-
Reptício, visto,
Explode o âmago
Alheio, receio.
Entre vis fogos,
Bope dá ibope,
Clichê. Não se
Sabe mais o
Que é zona súplica
Ou zona morte.
Fechem as frestas,
Abram os olhos,
Desçam do sonho:
Eis a cidade,
A mera-ilhota,
Sem maravilhas,
Que o globo agora
Nota, publica.
- Engloba-a o público -
Do ônibus, tudo...
A chama inflama,
A propaganda
Mais enganosa.
Sentado, de óculos,
Todo metal,
Carlos Drummond
Assiste, atento
Ao estrago, ao caos,
Parece estar
Lendo-o, relendo-o.
Estorvo-bomba.
Truques de guerra,
Séria miséria.
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ADRIANO NUNES: "atiraram a primeira pedra"
"atiraram a primeira pedra"
a fala é nada.
esse silêncio
é que estilhaça
toda a vidraça
da minha casa.
a fala é nada.
esse silêncio
é que estilhaça
toda a vidraça
da minha casa.
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "cosmo"
"cosmo"
esc
on
d
ido
esc
and
ido
o
ver
so
vive
per
d
ido
(ome
lete
de
le
tras
e
signos)
no
en
ig
mát
ic
o
cosmo
d
o
que
pen
so
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sinto
esc
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vive
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lete
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signos)
no
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cosmo
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pen
so
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sinto
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terça-feira, 23 de novembro de 2010
Adriano Nunes: TRÊS POEMAS CONCRETOS
"arisca busca"
r a b i s c a r m e
r a b i s c a r m r
r a b i s c a r r e
r a b i s c a r e b
r a b i s c r e b u
r a b i r e b u s c
r a b r e b u s c a
r a r e b u s c a r
r r e b u s c a r t
r e b u s c a r t e
"V I V E R"
R E V I R A R M E
R E V I R A R M R
R E V I R A R R E
R E V I R A R E V
R E V I R R E V E
R E V I R E V E L
R E V R E V E L A
R E R E V E L A R
R R E V E L A R M
R E V E L A R M E
"IDENTIDADE" - PARA CARMEM SILVIA PRESOTTO
D D N H I E
D E H N D I
H I D D E N
E N I D H D
N H E I D D
I D D E N H
T E FINC O *
* variante 2: t e fic o
* variante 3: t e fix o
r a b i s c a r m e
r a b i s c a r m r
r a b i s c a r r e
r a b i s c a r e b
r a b i s c r e b u
r a b i r e b u s c
r a b r e b u s c a
r a r e b u s c a r
r r e b u s c a r t
r e b u s c a r t e
"V I V E R"
R E V I R A R M E
R E V I R A R M R
R E V I R A R R E
R E V I R A R E V
R E V I R R E V E
R E V I R E V E L
R E V R E V E L A
R E R E V E L A R
R R E V E L A R M
R E V E L A R M E
"IDENTIDADE" - PARA CARMEM SILVIA PRESOTTO
D D N H I E
D E H N D I
H I D D E N
E N I D H D
N H E I D D
I D D E N H
T E FINC O *
* variante 2: t e fic o
* variante 3: t e fix o
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segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Adriano Nunes: O poeta Paulo Sabino escreve sobre mim em seu belo blog "Prosa em Poema"
Estou muito feliz com as palavras do poeta Paulo Sabino, ditas sobre mim, em seu belo blog "Prosa em Poema" http://prosaempoema.wordpress.com/2010/11/22/aquisicao-fabulosa/
"AQUISIÇÃO FABULOSA"
"AQUISIÇÃO FABULOSA"
este que vos escreve possui uma estória curiosa com um dos poemas que seguem.
ao findar a sua leitura, fiquei fascinado pelos versos e, por um erro de leitura, pensei que eram da autoria de joão cabral de melo neto; mas não. os versos eram dedicados a joão cabral, foram criados PARA joão cabral, e não POR joão cabral.
daí, a descoberta: na verdade, linhas poéticas delineadas pelo meu AMADO & TALENTOSO poeta das alagoas, que TANTO ADMIRO por uma série de questões, adriano nunes.
antes desse ocorrido, havia dito já ao adriano que, muitas vezes, leio poemas de outros vates, vates que eu e o meu poeta das alagoas admiramos, e vejo que tais poemas poderiam, perfeitamente, ter saído da sua esfero-gráfica afiada, pronta para grandes sobrevôos ao papel.
uma aquisição fabulosa feita por adriano, feita por mim, a partir de tudo o que o mestre joão cabral de melo neto nos deixou de herança:
a lapidação do poema, para que este seja, sempre, lançado lindo à língua, sem o peso do vácuo, sem o peso do que não é cheio (paradoxo poético lindíssimo), sem o peso do vazio, do vão.
cuidar do texto poético, palavra por palavra, pensá-lo milimetricamente, com precisão cirúrgica, sem proezas supérfluas, sem pretensões precárias.
para, assim, devolvê-lo nu aos deuses, devolvê-lo nu, devolvê-lo descoberto, ao seu lugar de origem — ao olimpo, casa dos deuses, ao lado das musas.
acompanhando a pérola poética, uma outra que ilustra bem os meios alcançados pelo GRANDE mestre (meu, do adriano) para transportar a sua poesia:
o trabalho obstinado com os versos, para que eles abriguem estritamente o essencial; para tanto, o estudo no uso de cada palavra lançada ao papel, lançada ao poema, a fim de extrair todo o sumo que elas, as palavras, têm a oferecer e de, assim, criar as imagens as mais potentes possíveis.
(tudo isso sem perder o humor nas linhas, traço forte na poética de joão cabral.)
deliciem-se com os poetas a seguir. ninguém se arrependerá das aquisições feitas, aquisições sempre fabulosas.
GRANDE beijo nos senhores!
um outro, GIGANTE, no meu poeta das alagoas, adriano nunes!
paulo sabino / paulinho.
__________________________________________________________________________________________
(do livro: A educação pela pedra e depois. autor: João Cabral de Melo Neto. editora: Nova Fronteira.)
MEIOS DE TRANSPORTE
§ O câncer é aquele ônibus
que ninguém quer mas com que conta;
não se corre atrás dele,
mas quando ele passa se toma;
que ninguém quer mas sabe;
e que um dia ao sair-se do sono,
lá está, semi-surpresa,
quase pontual, no seu ponto.
§ Sem pontos de parada
solto nas ruas como um táxi,
sem o esperar, querer,
sem ter por que, se toma o enfarte:
táxi que, de repente,
ao lado de quem não se pensava,
pára, no meio-fio,
toma, quem não o vira ou chamara.
(autor: Adriano Nunes.)
AQUISIÇÃO FABULOSA (para João Cabral de Melo Neto)
Lapidar o poema.
Lançá-lo lindo à língua,
Sem o peso do vácuo.
Palavra por palavra,
Sem prematura pressa.
Palavra por palavra,
Sem proezas supérfluas.
Palavra por palavra,
Sem pretensões precárias.
Para depois de pronto,
Devolvê-lo nu aos deuses,
Sem o peso do véu.
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "ambrosia" - Para Paulo Sabino.
"ambrosia" - Para Paulo Sabino.
a alma alimentada
desse tudo-nada.
a alma ali montada
(não seria dada?)
a mente ali atada
ao nada: nonada?
a mente ali alada:
poema, pancada.
a alma clama dá-
diva. chama, alça(da
da vida) pensada:
a alma na morada!
a alma alimentada
desse tudo-nada.
a alma ali montada
(não seria dada?)
a mente ali atada
ao nada: nonada?
a mente ali alada:
poema, pancada.
a alma clama dá-
diva. chama, alça(da
da vida) pensada:
a alma na morada!
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quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "Eunomia"
"Eunomia"
era o tempo
e fugira
feito espectro.
era o tempo
e fundira-se
ao silêncio,
na memória.
era o tempo
e não tínhamos
a saída
de emergência
pela frente.
era o tempo
engolindo
nosso tempo,
outro tempo,
qualquer tempo,
sem a pressa
do momento.
era o tempo
a abrigar
a tal gênese
nominal,
desafio
à existência
do poema,
ao vazio.
era o tempo
e fugira
feito espectro.
era o tempo
e fundira-se
ao silêncio,
na memória.
era o tempo
e não tínhamos
a saída
de emergência
pela frente.
era o tempo
engolindo
nosso tempo,
outro tempo,
qualquer tempo,
sem a pressa
do momento.
era o tempo
a abrigar
a tal gênese
nominal,
desafio
à existência
do poema,
ao vazio.
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terça-feira, 16 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "Confissões de um poeta"
"Confissões de um poeta"
Perdi a cabeça por Medusa.
Circe me cerca com a ideia
De ser só dela, tal Medeia.
Calipso não me ama, me abusa.
Calíope só vive no cio.
Afrodite é não essa cousa
Que dizem. Dice é quem mais ousa.
Às vezes me escondo de Clio.
Ops, Hera, Minerva, Latona -
Larguei todas. Sou tão cafona!
Láquesis, Cloto, Átropos... Feias!
Aos poucos, aos pulos, deixei-as.
Investi nessa tara em Vesta,
Sabendo que ela sequer presta.
Ao inferno fui, por Ariadne...
Restou-nos o fio da amizade.
Agora quero amar Aurora,
Gaia, Antígona, Electra, Helena...
Mas a carne é fraca, pequena.
Recolho-me: o olvido me adora!
Perdi a cabeça por Medusa.
Circe me cerca com a ideia
De ser só dela, tal Medeia.
Calipso não me ama, me abusa.
Calíope só vive no cio.
Afrodite é não essa cousa
Que dizem. Dice é quem mais ousa.
Às vezes me escondo de Clio.
Ops, Hera, Minerva, Latona -
Larguei todas. Sou tão cafona!
Láquesis, Cloto, Átropos... Feias!
Aos poucos, aos pulos, deixei-as.
Investi nessa tara em Vesta,
Sabendo que ela sequer presta.
Ao inferno fui, por Ariadne...
Restou-nos o fio da amizade.
Agora quero amar Aurora,
Gaia, Antígona, Electra, Helena...
Mas a carne é fraca, pequena.
Recolho-me: o olvido me adora!
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Adriano Nunes: "se se abrigasse in situ"
"se se abrigasse in situ"
aquele verso, dado
ao vício de voar
de ultra-leve, do ar,
volta ao solo: que brado!
encontro-o ainda vivo,
envolto em sua veste
de olvido, nada deste
poeta. outro motivo,
estranho. que propósito
não teria alcançado
se se abrigasse in situ,
no âmago do sol, visto
que, à folha, lado a lado,
preso, seria amado?
aquele verso, dado
ao vício de voar
de ultra-leve, do ar,
volta ao solo: que brado!
encontro-o ainda vivo,
envolto em sua veste
de olvido, nada deste
poeta. outro motivo,
estranho. que propósito
não teria alcançado
se se abrigasse in situ,
no âmago do sol, visto
que, à folha, lado a lado,
preso, seria amado?
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sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "Ofício" - Para Lêdo Ivo.
"Ofício" - Para Lêdo Ivo.
Teço versos
Como quem de um segundo a mais de vida precisa,
Como quem um grito de socorro quer dar,
- Onde fica enfim a saída de emergência? -
Como quem nunca soube fazer outra coisa
Senão inventar coisas,
Cosmos,
Sonhos,
Labirintos, fios, Cretas, grutas.
Esperanças,
Espectros,Gretas,
Grades,
Grécias...
E, tudo em tudo, em volta de voos e mergulhos,
Para que se esvaísse o olvido, pouco a pouco.
Em um grã mar de olvidos.
Teço versos
Como quem já não tem silêncios pra guardar,
Como quem esquecera o ser que fora, o ritmo
De um tempo amado ante as feras do impossível.
Ai, permaneço preso às ditas do meu peito!
Que faço com o que não faço, pra que o instante
Mágico aconteça aqui, moldando o poema,
Dando-lhe o matiz que o seu corpo sempre quis,
Sem a interferência violenta do meu gosto?
- Onde afinal fica a fresta que a tudo leva
Pra a felicidade, mesmo aquela sonhada? -
Como quem não pode dar outro passo à frente,
Por correr o perigo de precipitar-se
No báratro mais íntimo, escrevo versos.
E o dia por vir,
Pra mim,
É todo o infinito.
Teço versos
Como quem de um segundo a mais de vida precisa,
Como quem um grito de socorro quer dar,
- Onde fica enfim a saída de emergência? -
Como quem nunca soube fazer outra coisa
Senão inventar coisas,
Cosmos,
Sonhos,
Labirintos, fios, Cretas, grutas.
Esperanças,
Espectros,Gretas,
Grades,
Grécias...
E, tudo em tudo, em volta de voos e mergulhos,
Para que se esvaísse o olvido, pouco a pouco.
Em um grã mar de olvidos.
Teço versos
Como quem já não tem silêncios pra guardar,
Como quem esquecera o ser que fora, o ritmo
De um tempo amado ante as feras do impossível.
Ai, permaneço preso às ditas do meu peito!
Que faço com o que não faço, pra que o instante
Mágico aconteça aqui, moldando o poema,
Dando-lhe o matiz que o seu corpo sempre quis,
Sem a interferência violenta do meu gosto?
- Onde afinal fica a fresta que a tudo leva
Pra a felicidade, mesmo aquela sonhada? -
Como quem não pode dar outro passo à frente,
Por correr o perigo de precipitar-se
No báratro mais íntimo, escrevo versos.
E o dia por vir,
Pra mim,
É todo o infinito.
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "corpo" - Para Régis Bonvicino.
"corpo" - Para Régis Bonvicino.
como concebê-lo
do tarso ao cabelo
sem medo de um erro?
(não seria um erro?)
como revirá-lo
(fala, fome, falo)
no verso, de fato?
com um ritmo exato?
como consegui-lo
agora, em sigilo,
pra vê-lo infinito
sob a luz do escrito?
como conhecê-lo
pela pele, apelo
tátil, em mim mesmo?
(pelo toque, a esmo?)
como dissecá-lo
no vão intervalo
da vida? (que traço
falta? forma? braço?)
como discuti-lo,
sem qualquer grilo,
sem os véus do olvido?
(o que é permitido?)
como descrevê-lo
com esmero, zelo,
sem nenhum tropeço?
(que regra obedeço?)
como desvendá-lo
de vez, num estalo
mágico? (divago...
pra que tanto estrago?)
como descobri-lo
(não será vacilo
dos olhos?) do umbigo
à voz que persigo?
como devolvê-lo
pleno, inteiro ou pelo
menos verdadeiro?
(através do cheiro?)
como repensá-lo,
ao cantar do galo,
conservando o fígado
friamente bicado?
como consumi-lo
(mão, mente, mamilo)
explícito, vivo,
sem um objetivo?
como concebê-lo
do tarso ao cabelo
sem medo de um erro?
(não seria um erro?)
como revirá-lo
(fala, fome, falo)
no verso, de fato?
com um ritmo exato?
como consegui-lo
agora, em sigilo,
pra vê-lo infinito
sob a luz do escrito?
como conhecê-lo
pela pele, apelo
tátil, em mim mesmo?
(pelo toque, a esmo?)
como dissecá-lo
no vão intervalo
da vida? (que traço
falta? forma? braço?)
como discuti-lo,
sem qualquer grilo,
sem os véus do olvido?
(o que é permitido?)
como descrevê-lo
com esmero, zelo,
sem nenhum tropeço?
(que regra obedeço?)
como desvendá-lo
de vez, num estalo
mágico? (divago...
pra que tanto estrago?)
como descobri-lo
(não será vacilo
dos olhos?) do umbigo
à voz que persigo?
como devolvê-lo
pleno, inteiro ou pelo
menos verdadeiro?
(através do cheiro?)
como repensá-lo,
ao cantar do galo,
conservando o fígado
friamente bicado?
como consumi-lo
(mão, mente, mamilo)
explícito, vivo,
sem um objetivo?
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Adriano Nunes: "outro verso" - Para Nelson Ascher.
"outro verso" - Para Nelson Ascher.
outro verso,
entre tantos
sonhos, prantos.
sofro imerso
em sentidos:
uns perdidos
entre a folha
e o grafite,
acredite.
uns são luz
(que os traduz?)
outros vão
ao breu em vão,
sem escolha.
outro verso,
entre tantos
sonhos, prantos.
sofro imerso
em sentidos:
uns perdidos
entre a folha
e o grafite,
acredite.
uns são luz
(que os traduz?)
outros vão
ao breu em vão,
sem escolha.
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quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "babel" - Para Haroldo de Campos
"babel" - Para Haroldo de Campos.
acasO ocAso Ocaos Ácaro
aCaso oCaso oCaos áCaro
Acaso ocAso ocAos ácAro
acasO ocaSo ocaoS ácaRo
acaSo Ocaso ocaOs ácarO
acasO ocAso Ocaos Ácaro
aCaso oCaso oCaos áCaro
Acaso ocAso ocAos ácAro
acasO ocaSo ocaoS ácaRo
acaSo Ocaso ocaOs ácarO
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Adriano Nunes: "para amar"
"para amar"
para amar
basta a rosa
o céu longe
essa chuva
ter um sonho
para amar
basta o cheiro
o poema
esse sol
a saudade
para amar
basta a chama
par perfeito:
o amor e
o silêncio.
para amar
basta a rosa
o céu longe
essa chuva
ter um sonho
para amar
basta o cheiro
o poema
esse sol
a saudade
para amar
basta a chama
par perfeito:
o amor e
o silêncio.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "reflexo II"
"reflexo II"
eu vim
fitá-lo
furtá-lo
de mim
enfim
vendá-lo
velá-lo
sem fim
assim
espe-lho-o
espa-lho-o
em mim
esc o-lho-o
pe lo o-lh o.
eu vim
fitá-lo
furtá-lo
de mim
enfim
vendá-lo
velá-lo
sem fim
assim
espe-lho-o
espa-lho-o
em mim
esc o-lho-o
pe lo o-lh o.
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "Mínima luz"
"Mínima luz"
Enquanto penso
O verso, tento
Dar ao momento
Júbilo imenso.
A rima rege
Que forma? Elege
O ritmo, a métrica?
(Que imagem cética!)
À margem, teço
Outro começo,
À vez me entrego
E, em mim tropeço,
Por estar cego:
Que quer meu ego?
Enquanto penso
O verso, tento
Dar ao momento
Júbilo imenso.
A rima rege
Que forma? Elege
O ritmo, a métrica?
(Que imagem cética!)
À margem, teço
Outro começo,
À vez me entrego
E, em mim tropeço,
Por estar cego:
Que quer meu ego?
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domingo, 7 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "apresse-se" - Para Paulo Sabino.
"apresse-se" - Para Paulo Sabino.
apresse-se!
entre
o trem, o trilho e a trilha
pro infinito,
o ruído esquisito de um mosquito.
resquício de quê?
e se você correr
terá o meio
à mão,
o vínculo,
não terá que sucumbir
ao perigo,
ao mínimo
do tempo.
entre o estático
rumor sem rumo
de um pensamento
convulso e o mito,
o destino segue
inerte,
abrupto,
líquido.
nem o pulsar
disso,
nem a ideia de ir-e-vir
transita,
nem o temor de sorrir
evita que a vida siga,
diáspora contínua,
pelos becos,
pelas dúvidas
infindas.
ora, nem as sequências
do agora,nem mesmo
o cinema fútil
da memória
devolve-lhe o gozo,
o hálito que vem
de fora.
o gozo não se
espelha,
cega.
e se houvesse...
que importa?
o frio
do freio
enfraquece o momento.
estrondo no cérebro,
peri-gozo.
voltemos.
ticket na mão.
calos nas mãos.
sacolas plásticas
com as frutas, com os vácuos
industrializados,
latas de luxo,
legumes,
lugares...
largá-los
ali.
o outro:
desculpe-me,
mas não sei
dizer ou explicar...
sei lá,
talvez seja
o fim do túnel
ou o fim da luz.
do túnel,
volátil despedida
envolvendo o
mundo.
apresse-se!
entre
o trem, o trilho e a trilha
pro infinito,
o ruído esquisito de um mosquito.
resquício de quê?
e se você correr
terá o meio
à mão,
o vínculo,
não terá que sucumbir
ao perigo,
ao mínimo
do tempo.
entre o estático
rumor sem rumo
de um pensamento
convulso e o mito,
o destino segue
inerte,
abrupto,
líquido.
nem o pulsar
disso,
nem a ideia de ir-e-vir
transita,
nem o temor de sorrir
evita que a vida siga,
diáspora contínua,
pelos becos,
pelas dúvidas
infindas.
ora, nem as sequências
do agora,nem mesmo
o cinema fútil
da memória
devolve-lhe o gozo,
o hálito que vem
de fora.
o gozo não se
espelha,
cega.
e se houvesse...
que importa?
o frio
do freio
enfraquece o momento.
estrondo no cérebro,
peri-gozo.
voltemos.
ticket na mão.
calos nas mãos.
sacolas plásticas
com as frutas, com os vácuos
industrializados,
latas de luxo,
legumes,
lugares...
largá-los
ali.
o outro:
desculpe-me,
mas não sei
dizer ou explicar...
sei lá,
talvez seja
o fim do túnel
ou o fim da luz.
do túnel,
volátil despedida
envolvendo o
mundo.
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quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "Termômetro"
"Termômetro"
Estranho brinquedo
De mercúrio. Tudo
Desloca-se mudo,
Em um tubo vítreo.
Escala de graus,
Estado febril,
Desespero a mil...
Estou resfriado.
Descubro o metal
Líquido, de prata
Cor... À tez do peso,
O susto: Fragmentos
De vidro... Tão vivos!
Sub-reptício sonho
De menino astuto,
Entre cacos, medos.
Estranho brinquedo
De mercúrio. Tudo
Desloca-se mudo,
Em um tubo vítreo.
Escala de graus,
Estado febril,
Desespero a mil...
Estou resfriado.
Descubro o metal
Líquido, de prata
Cor... À tez do peso,
O susto: Fragmentos
De vidro... Tão vivos!
Sub-reptício sonho
De menino astuto,
Entre cacos, medos.
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "O grilo"
"O grilo"
sal titan te
sol to
in se to
es perto
a briga-se
no sol o
do ver so
gri ta
gri ta
gri lado:
nem a rã
nem o raio
que o par ta
nem a pulga
ex pulsa
do pê lo
do ga to
nem o ga to
que sal to
al to...
Capto-o!
sal titan te
sol to
in se to
es perto
a briga-se
no sol o
do ver so
gri ta
gri ta
gri lado:
nem a rã
nem o raio
que o par ta
nem a pulga
ex pulsa
do pê lo
do ga to
nem o ga to
que sal to
al to...
Capto-o!
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terça-feira, 2 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "Os mortos"
"Os mortos"
Os mortos... Abrem-se
As portas e
Tudo pronto:
O momento
Sináptico, o tudo-nada
Do tempo, o jogo
De silêncios empoeirados
Da memória.
Somente os fantasmas
Fazem ruídos
Agora. Vestem-se
De fantasias cotidianas,
As esperanças,
Os sonhos.
Aquele lenço azul,
Aquela carta esquecida,
Aquela tarde
(Era primavera... Não sei.)
No campo, com os primos,
Aquele retrato
Sem cor, com vida,
Com fungos.
Recordação estéril...
Não.
Tudo é gozo-fátuo,
Migalhas
Do passado...
Sombras.
O cérebro quer,
O cérebro
Insiste em verter
Em saudade
Esse olhar gratuito
Para dentro,
Para mais além
Do ãmago...
Vértebras,
Vestígios,
Refletores,
Intervalos,
Interstícios...
Nos bastidores, o porvir
Aplaude,
À socapa,
A farsa do coração.
Mas não não há
Coisa alguma.
Não há livros
Nas estantes. Nenhum grito
Desesperado, nenhum
Primo ou tio,
Nem mesmo
O mofo
Das horas inertes
Gravadas
No arcabouço mesquinho
Da lembrança.
Os mortos... Quem somos?
Quantos fomos
Ontem
Ao meio-dia, depois
Do descanso,
Depois da alvorada?
O nascer
De vultos
Revolta-me. Que tristeza
Atreve-se a penetrar
Em meus olhos,
Arrancando-me
Medos,
Lágrimas,
Solidão?
Que nome dar
À voz
Do impossível?
Que nome
Vem à mente
Feito mistério,
Miríade de traços
Tão familiares?
O morto
Sou eu,
Entre tantos
Cadáveres conhecidos,
Personagens
Das tragédias,
Das telenovelas,
Do cinema,
Do meu quarto...
Gente que vivi,
Gente que enterrei,
Gente que matei,
Entre páginas.
A tinta
Sangra só
Lamento e tédio.
(Ninguém me avisou
Da visita súbita
De tais monstros)
O papel
Viverá? O rabisco
Voa rasante...
Sepulto-me,
Seco,
Solto,
Sub-reptício,
Argila,
Pedra,
Vácuo...
O nome?
As sete medidas
Subterrâneas,
Os ossos escondidos
Por cães de caça,
As carnes reviradas
Por vira-latas
Incolores,
Raquíticos...
O mundo emerso.
Sim, o nome.
O olvido presente.
O olvido preservado.
O olvido vivo
Vinga,
Vence.
Sim, o vento...
Os restos,
Os riscos,
As ruínas,
Os vermes.
Os mortos... Abrem-se
As portas e
Tudo pronto:
O momento
Sináptico, o tudo-nada
Do tempo, o jogo
De silêncios empoeirados
Da memória.
Somente os fantasmas
Fazem ruídos
Agora. Vestem-se
De fantasias cotidianas,
As esperanças,
Os sonhos.
Aquele lenço azul,
Aquela carta esquecida,
Aquela tarde
(Era primavera... Não sei.)
No campo, com os primos,
Aquele retrato
Sem cor, com vida,
Com fungos.
Recordação estéril...
Não.
Tudo é gozo-fátuo,
Migalhas
Do passado...
Sombras.
O cérebro quer,
O cérebro
Insiste em verter
Em saudade
Esse olhar gratuito
Para dentro,
Para mais além
Do ãmago...
Vértebras,
Vestígios,
Refletores,
Intervalos,
Interstícios...
Nos bastidores, o porvir
Aplaude,
À socapa,
A farsa do coração.
Mas não não há
Coisa alguma.
Não há livros
Nas estantes. Nenhum grito
Desesperado, nenhum
Primo ou tio,
Nem mesmo
O mofo
Das horas inertes
Gravadas
No arcabouço mesquinho
Da lembrança.
Os mortos... Quem somos?
Quantos fomos
Ontem
Ao meio-dia, depois
Do descanso,
Depois da alvorada?
O nascer
De vultos
Revolta-me. Que tristeza
Atreve-se a penetrar
Em meus olhos,
Arrancando-me
Medos,
Lágrimas,
Solidão?
Que nome dar
À voz
Do impossível?
Que nome
Vem à mente
Feito mistério,
Miríade de traços
Tão familiares?
O morto
Sou eu,
Entre tantos
Cadáveres conhecidos,
Personagens
Das tragédias,
Das telenovelas,
Do cinema,
Do meu quarto...
Gente que vivi,
Gente que enterrei,
Gente que matei,
Entre páginas.
A tinta
Sangra só
Lamento e tédio.
(Ninguém me avisou
Da visita súbita
De tais monstros)
O papel
Viverá? O rabisco
Voa rasante...
Sepulto-me,
Seco,
Solto,
Sub-reptício,
Argila,
Pedra,
Vácuo...
O nome?
As sete medidas
Subterrâneas,
Os ossos escondidos
Por cães de caça,
As carnes reviradas
Por vira-latas
Incolores,
Raquíticos...
O mundo emerso.
Sim, o nome.
O olvido presente.
O olvido preservado.
O olvido vivo
Vinga,
Vence.
Sim, o vento...
Os restos,
Os riscos,
As ruínas,
Os vermes.
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segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Adriano Nunes: "Por dentro do meu coração"
"Por dentro do meu coração"
os grumos do meu coração
a cava não
as gretas do meu coração
o vago não
os gritos do meu coração
a carne não
as greves do meu coração
o ritmo não
os gringos do meu coração
a valva não
as grutas do meu coração
o fluxo não
os grossos do meu coração
a crista não
as grotas do meu coração
o septo não
os grifos do meu coração
a fibra não
as graças do meu coração
o átrio não
os gregos do meu coração
a corda não
as grades do meu coração
o sangue não
os grilos da minha razão.
os grumos do meu coração
a cava não
as gretas do meu coração
o vago não
os gritos do meu coração
a carne não
as greves do meu coração
o ritmo não
os gringos do meu coração
a valva não
as grutas do meu coração
o fluxo não
os grossos do meu coração
a crista não
as grotas do meu coração
o septo não
os grifos do meu coração
a fibra não
as graças do meu coração
o átrio não
os gregos do meu coração
a corda não
as grades do meu coração
o sangue não
os grilos da minha razão.
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sábado, 30 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "mamografia"
"mamografia"
radiotransparente
a mama,
a sua trama
de ductos e
glândulas.
assimetria
perfeita. à luz
poético-tecnológica,
a máquina explora
o tecido,
revira
o que não pode ser
visto. o medo fotografado
além da aréola e
do mamilo.
radiotransparente
a mama,
a sua trama
de ductos e
glândulas.
assimetria
perfeita. à luz
poético-tecnológica,
a máquina explora
o tecido,
revira
o que não pode ser
visto. o medo fotografado
além da aréola e
do mamilo.
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sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Poema s publicados na REVISTA LITERÁRIA CAPITU.
Poemas publicados na Revista Capitu:
Com grande alegria que compartilho, com os meus amigos e seguidores, a publicação de alguns poemas meus na REVISTA LITERÁRIA CAPITU: http://www.revistacapitu.com/materia.asp?codigo=251
Abraço fraterno,
Adriano Nunes.
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quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "Paquera"
"Paquera"
Do lar,
Atiro-me aos
Desvãos
Do além
Do alcance
Do campo
Da minha
Visão,
Abrigo-me
No largo
Espectro
Do cérebro
Dos sonhos
Que são.
Escondo-me
Num ponto
Atrás
Da córnea.
Então,
Sem volta,
Devolvo-me
Ao cosmo
Depois
Da porta.
A fresta,
Lá fora,
Mais fecha-se:
Um flerte
Não resta,
Nem pálpebra
Alerta.
A vida
Esvai-se
Insólita,
Sozinha,
Completa.
Do lar,
Atiro-me aos
Desvãos
Do além
Do alcance
Do campo
Da minha
Visão,
Abrigo-me
No largo
Espectro
Do cérebro
Dos sonhos
Que são.
Escondo-me
Num ponto
Atrás
Da córnea.
Então,
Sem volta,
Devolvo-me
Ao cosmo
Depois
Da porta.
A fresta,
Lá fora,
Mais fecha-se:
Um flerte
Não resta,
Nem pálpebra
Alerta.
A vida
Esvai-se
Insólita,
Sozinha,
Completa.
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quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "o cárcere"
"o cárcere"
em casa,
as quatro
paredes
abrigam
as asas
do ser
que só
eu pude
não ser.
em casa,
é dédalo
ou nada.
em casa,
as quatro
paredes
abrigam
as asas
do ser
que só
eu pude
não ser.
em casa,
é dédalo
ou nada.
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terça-feira, 26 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "Dentro do impossível" - Para meu amado amigo Mariano.
"Dentro do impossível" - Para meu amado amigo Mariano.
Entre o som e o signo,
Sigo só. Divirto-me
Com o que é sem nome.
O sonho designo
Porque é o que sobra
Dentro do impossível.
Tudo é acessível
De uma vez: Manobra
Delicada, dita
De insólito porto.
Nesse tempo torto,
Nunca se cogita
Se a vida é finita,
Absoluto absorto.
Entre o som e o signo,
Sigo só. Divirto-me
Com o que é sem nome.
O sonho designo
Porque é o que sobra
Dentro do impossível.
Tudo é acessível
De uma vez: Manobra
Delicada, dita
De insólito porto.
Nesse tempo torto,
Nunca se cogita
Se a vida é finita,
Absoluto absorto.
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "Pirraça" - Para Zélia Guardiano.
"Pirraça" - Para Zélia Guardiano
O verso
Não vem,
Nem via
Correio ou
Emeio.
O verso
Não tem
Rodeio:
O verso
Não veio!
O verso
Não vem,
Nem via
Correio ou
Emeio.
O verso
Não tem
Rodeio:
O verso
Não veio!
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sábado, 23 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "Babel"
"Babel"
Entre o ar
E o açúcar,
O voo curto,
O descuido,
A vítrea vida.
Uma,
Duas
Drosófilas...
Talvez,
Três.
Em transe,
Transitam
Formidáveis
Formigas,
Ganham o dia.
Sob o cosmo
Infindo,
O abismo,
Babel
De bicho,
O próprio
Instinto,
O propósito
In situ,
O meio propício...
O lixo,
O pouso tímido,
O ovo,
A larva,
O ciclo.
Entre o ar
E o açúcar,
O voo curto,
O descuido,
A vítrea vida.
Uma,
Duas
Drosófilas...
Talvez,
Três.
Em transe,
Transitam
Formidáveis
Formigas,
Ganham o dia.
Sob o cosmo
Infindo,
O abismo,
Babel
De bicho,
O próprio
Instinto,
O propósito
In situ,
O meio propício...
O lixo,
O pouso tímido,
O ovo,
A larva,
O ciclo.
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quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "Sobre Porto Velho"
"Sobre Porto Velho" - Para minha mãe
Chove brutalmente
Sobre Porto Velho.
A noite não tem
Saída. O momento
Estagna entre o vento
Lá fora e o ruído
De vozes herméticas.
Chove... Trama em transe.
Trânsito, propósito,
Programa, promessa
Pra se não chover
Mais. Depois, quem sabe.
Trovões atravessam
A minha tristeza.
Chove. Porto Velho
Adormecerá
Antes da Sessão
De Gala. Nem vida
Nem um movimento
Suportam tal tédio.
Gasta-se a esperança.
Chove brutalmente
Sobre Porto Velho.
A noite não tem
Saída. O momento
Estagna entre o vento
Lá fora e o ruído
De vozes herméticas.
Chove... Trama em transe.
Trânsito, propósito,
Programa, promessa
Pra se não chover
Mais. Depois, quem sabe.
Trovões atravessam
A minha tristeza.
Chove. Porto Velho
Adormecerá
Antes da Sessão
De Gala. Nem vida
Nem um movimento
Suportam tal tédio.
Gasta-se a esperança.
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domingo, 17 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "imenso amor"
"imenso amor"
imenso amor
em mim imerso
metro do verso
mel do melhor
amor intenso
sem ser complexo
sem ter um nexo
amor que penso
amor que invento
amor esperto
amor decerto
nesse momento
íntimo amor
pleno completo
de amor repleto
amor amor!
imenso amor
em mim imerso
metro do verso
mel do melhor
amor intenso
sem ser complexo
sem ter um nexo
amor que penso
amor que invento
amor esperto
amor decerto
nesse momento
íntimo amor
pleno completo
de amor repleto
amor amor!
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sábado, 16 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "O MUNDO"
"O MUNDO"
o mundo não é meu
o mundo não é seu
o mundo em nossa mente
aconteceu.
o mundo dá mil voltas
o mundo deu mil nós
o mundo somos nós
o que o teceu?
o mundo não é lógica
o mundo não é mágica
o mundo? um labirinto
desde teseu.
o mundo é todo mundo
o mundo é tudo em frente
o mundo é tão profundo
pronto, nasceu?
o mundo não tem tempo
o mundo é sem lugar
ao mundo quer chegar
feito odisseu.
o mundo é uma ideia
o mundo não se ensaia
o mundo é mesmo gaia
e os filhos seus.
o mundo é de propósito
o mundo é diferente
o mundo é dessa gente
que criou zeus.
o mundo não é meu
o mundo não é seu
o mundo em nossa mente
aconteceu.
o mundo dá mil voltas
o mundo deu mil nós
o mundo somos nós
o que o teceu?
o mundo não é lógica
o mundo não é mágica
o mundo? um labirinto
desde teseu.
o mundo é todo mundo
o mundo é tudo em frente
o mundo é tão profundo
pronto, nasceu?
o mundo não tem tempo
o mundo é sem lugar
ao mundo quer chegar
feito odisseu.
o mundo é uma ideia
o mundo não se ensaia
o mundo é mesmo gaia
e os filhos seus.
o mundo é de propósito
o mundo é diferente
o mundo é dessa gente
que criou zeus.
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sábado, 9 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "oa r do po et a" - Para Haroldo de Campos
"oa r do po et a" - Para Haroldo de Campos
oa r
v oa
a través
d oa r
a traves s a
oa r
s em press a
o vo o
d o ve r
s oa r a
o po et a.
oa r
v oa
a través
d oa r
a traves s a
oa r
s em press a
o vo o
d o ve r
s oa r a
o po et a.
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "Trânsito" - Para Arnaldo Antunes
"Trânsito" - Para Arnaldo Antunes
Entre a
Boca e o
Ânus
Estranho
Trânsito.
Entre o
Átrio e a
Femural
Fluxo
Total.
Entre o
Cérebro e o
Plexo braquial
Bloqueio
Anestésico.
Entre o
Néfron e a
Bexiga
Rápida
Descida.
Entre a
Narina e o
Alvéolo
Livre
Acesso.
Entre o
Sinal verde e o
Amarelo
Avança o
Verso.
Entre a
Boca e o
Ânus
Estranho
Trânsito.
Entre o
Átrio e a
Femural
Fluxo
Total.
Entre o
Cérebro e o
Plexo braquial
Bloqueio
Anestésico.
Entre o
Néfron e a
Bexiga
Rápida
Descida.
Entre a
Narina e o
Alvéolo
Livre
Acesso.
Entre o
Sinal verde e o
Amarelo
Avança o
Verso.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "pipoca popconcreta" - Para Paulo Leminski
"pipoca popconcreta" - Para Paulo Leminski
o i do ping o pong
do ping e pong o i
do bip do pib a ong
o pub o pab o pop
o i bop e o p
do pop up do ip do
ap o ob o ipod o
ipad o i do it do
if do id e o point
do pingo do ponto do i
do link do bip do pib
do ping e pong o b
do púbis do bis do business
o pub o pop pop up
o ipod o ipad o iphone
a ong o king kong o
o do ob do ibope do
ok o t do todo o
p do pro e do pi
do point da ponte do i
o ing do i ching making
o ping do ping e pong
o pib o pub o pop
o bip o it do ritmo
do hip hop o post mortem
a urbe o abc a coab
o icms o iml o ícone
do id do bope o ícaroo
ácido do ego o eco
do pranto do pingo do i
o i do ping o pong
do ping e pong o i
do bip do pib a ong
o pub o pab o pop
o i bop e o p
do pop up do ip do
ap o ob o ipod o
ipad o i do it do
if do id e o point
do pingo do ponto do i
do link do bip do pib
do ping e pong o b
do púbis do bis do business
o pub o pop pop up
o ipod o ipad o iphone
a ong o king kong o
o do ob do ibope do
ok o t do todo o
p do pro e do pi
do point da ponte do i
o ing do i ching making
o ping do ping e pong
o pib o pub o pop
o bip o it do ritmo
do hip hop o post mortem
a urbe o abc a coab
o icms o iml o ícone
do id do bope o ícaroo
ácido do ego o eco
do pranto do pingo do i
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segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Adriano Nunes: "Montanha-russa - Para Régis Bonvicino."
"Montanha-russa" - Para Régis Bonvicino
Devagar
o m ó v e l v a i
pelo t r i l h o subINDO
SUBINDO SUBINDO SUBINDO SUBINDO...
DE REPENTE,
DESPRENDE-SE E DESPENCA e desce
e desce
e
desce
o
b
e
d
e
c
e
n
d
o
à
grávida gravidade
LoOpInGs
graus SESSENTA e TREZEntos
V A AA AA AI IIII III II I e vem
VeM e V a I
de mil m o v i m e n t o s.
Frio na barriga do artista,
Ululante alegria,
Mais que susto.
dIvAgAnDo A mEnTe VaI...
SseEnnTTiInNdDoO Ee PpEeNnSsAaNnDdOo...
E quando, à tez de um instante qualquer,
Tudo parece findar, forma-se
Um ciclo constante,
Qual signo
Em um verso de Baudelaire.
Devagar
o m ó v e l v a i
pelo t r i l h o subINDO
SUBINDO SUBINDO SUBINDO SUBINDO...
DE REPENTE,
DESPRENDE-SE E DESPENCA e desce
e desce
e
desce
o
b
e
d
e
c
e
n
d
o
à
grávida gravidade
LoOpInGs
graus SESSENTA e TREZEntos
V A AA AA AI IIII III II I e vem
VeM e V a I
de mil m o v i m e n t o s.
Frio na barriga do artista,
Ululante alegria,
Mais que susto.
dIvAgAnDo A mEnTe VaI...
SseEnnTTiInNdDoO Ee PpEeNnSsAaNnDdOo...
E quando, à tez de um instante qualquer,
Tudo parece findar, forma-se
Um ciclo constante,
Qual signo
Em um verso de Baudelaire.
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segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Amor"
"Amor"
Lanço o dado...
Amor, sinto-o.
Amor, sinto
Ser amado.
Labirinto?
Lado a lado, o
Lábio, atado
Ao amor, pinto
Co' o matiz
Que decanto
Deste canto,
Pois me fiz
Mais feliz
E co' encanto.
Lanço o dado...
Amor, sinto-o.
Amor, sinto
Ser amado.
Labirinto?
Lado a lado, o
Lábio, atado
Ao amor, pinto
Co' o matiz
Que decanto
Deste canto,
Pois me fiz
Mais feliz
E co' encanto.
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Adriano Nunes: "Arquitetura da rotina" - Para Domingos da Mota.
"Arquitetura da rotina" - Para Domingos da Mota.
Esquecer o tédio do dia.
Adiar a tempo o diálogo
Com o que me penso, mas logo
Divertir-me: Tudo irradia!
Na gaveta, guardar o verso
Para Ovídio... Dar por temido
O instante mágico, o gemido
Da palavra, no gesto, imerso.
Seguir sempre em frente à procura
Dos dióxidos dos oxímoros,
Fluir leve através dos poros
Da rotina, ater-me à aventura
De escrever, no infinito, o amor,
Como tento, contente, agora.
Enganar Átropos, a Moira,
E à Vida a Esperança propor.
Esquecer o tédio do dia.
Adiar a tempo o diálogo
Com o que me penso, mas logo
Divertir-me: Tudo irradia!
Na gaveta, guardar o verso
Para Ovídio... Dar por temido
O instante mágico, o gemido
Da palavra, no gesto, imerso.
Seguir sempre em frente à procura
Dos dióxidos dos oxímoros,
Fluir leve através dos poros
Da rotina, ater-me à aventura
De escrever, no infinito, o amor,
Como tento, contente, agora.
Enganar Átropos, a Moira,
E à Vida a Esperança propor.
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domingo, 26 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Equação" - Para Péricles e Lídia.
"Equação" - Para Lídia e Péricles.
O amor não cabe na cabeça
O amor não cabe na razão
O amor não cabe em pensamento
O amor não cabe nas sinapses
O amor não cabe em coração
O amor não cabe em batimento
O amor não cabe... não se esqueça!
O amor não cabe em folha ou lápis
O amor acaba-se em silêncio.
O amor não cabe na cabeça
O amor não cabe na razão
O amor não cabe em pensamento
O amor não cabe nas sinapses
O amor não cabe em coração
O amor não cabe em batimento
O amor não cabe... não se esqueça!
O amor não cabe em folha ou lápis
O amor acaba-se em silêncio.
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Adriano Nunes: "A rosa" - Para Márcia Frazão
"A rosa" - Para Márcia Frazão.
De forma formosa
Faz-se a rara rosa,
Faz-se luz, senhora
Das flores, lá fora.
O infinito agora
Dessa vida aflora:
Ó, rainha da flora,
O tempo se cora
De tempo, devora-a.
Primavera, ó rosa,
Que importa? Tal hora,
Desabrocha, rosa.
De forma formosa
Faz-se a rara rosa,
Faz-se luz, senhora
Das flores, lá fora.
O infinito agora
Dessa vida aflora:
Ó, rainha da flora,
O tempo se cora
De tempo, devora-a.
Primavera, ó rosa,
Que importa? Tal hora,
Desabrocha, rosa.
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Adriano Nunes: "ex-pan cada pop creta"
"ex-pan cada pop creta "
o mito ad mito é tudo
is so com que me iludo o
pr óprio in finito mudo
é tudo as sim recôn dito
entre o dito e o não dito
édi po e es finge e e dito
o mito ad mito é nada
dis so: forte pan cada
no si gno tu do e nada
é o mundo en fim transc rito
na mente um ver e dito
todo o amor ir restrito
o mito ad mito é tudo
is so com que me iludo o
pr óprio in finito mudo
é tudo as sim recôn dito
entre o dito e o não dito
édi po e es finge e e dito
o mito ad mito é nada
dis so: forte pan cada
no si gno tu do e nada
é o mundo en fim transc rito
na mente um ver e dito
todo o amor ir restrito
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sábado, 25 de setembro de 2010
Adriano Nunes: Leitura (análise poética) do meu poema "Confissão" pelo poeta Paulo Sabino.
Aos amigos,
Recomendo a leitura do meu poema "Confissão" feita pelo poeta e amigo Paulo Sabino, uma verdadeira aula de análise poética, um clarão!
Blog Prosa em Poema: http://prosaempoema.wordpress.com/2010/09/24/confissao/
http://prosaempoema.wordpress.com/2010/09/24/confissao/
Recomendo a leitura do meu poema "Confissão" feita pelo poeta e amigo Paulo Sabino, uma verdadeira aula de análise poética, um clarão!
Blog Prosa em Poema: http://prosaempoema.wordpress.com/2010/09/24/confissao/
http://prosaempoema.wordpress.com/2010/09/24/confissao/
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Adriano Nunes: "Cola"
"Cola"
A hipotenusa
(Coisa confusa!)
Sempre ao quadrado
Cateto é lado
A hipotenusa
(Não é Medusa
Do tal Perseu)
Pronome: Seu
Prefixo: Per-
Feito: Super-
Homem sou eu
Memória some...
Medo tem nome
A hipotenusa
(Será Medusa
Do tal pronome?)
Cateto ao lado
Feito Perseu
Medo do nome
Prefixo: pre-
sente pra sempre
A mente some...
Coisa confusa
Que mais sou eu?
A hipotenusa
(Coisa confusa!)
Sempre ao quadrado
Cateto é lado
A hipotenusa
(Não é Medusa
Do tal Perseu)
Pronome: Seu
Prefixo: Per-
Feito: Super-
Homem sou eu
Memória some...
Medo tem nome
A hipotenusa
(Será Medusa
Do tal pronome?)
Cateto ao lado
Feito Perseu
Medo do nome
Prefixo: pre-
sente pra sempre
A mente some...
Coisa confusa
Que mais sou eu?
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Despsia" - Para Décio Pignatari
"Despsia" - Para Décio Pignatari
o
pó
poe
pois
pois é
pois é poe
pois é poesia
é vida só vida
é só a vida
é a ida
ida
dia
d
é
p
o
e m
s
i
a
v
i
d
a
voai)des(psia
o
pó
poe
pois
pois é
pois é poe
pois é poesia
é vida só vida
é só a vida
é a ida
ida
dia
d
é
p
o
e m
s
i
a
v
i
d
a
voai)des(psia
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Adriano Nunes: "Pequenas pirâmides popconcretas"
"Mercadoria" - Para Joca Libânio.
me
me ca
me rci
me rcê
me rcado
me rcador
me rcadoria
me rcador
me rcado
me rcê
me rci
me ca
me
"Sou todo seu"
eu
só sou
sou seu só
sou seu sol sol(to do) ser
sou seu sol solto seu sou todo
sou seu sol sol(to do) ser
sou seu só
só sou
eu
"Manhãzinha concreta" - Para Lídia Chaib.
a
am
ama
amanhã
a manhã
ama a manhã
am a a ma a ma a ma a
ama a manhã
a manhã
amanhã
ama
am
a
me
me ca
me rci
me rcê
me rcado
me rcador
me rcadoria
me rcador
me rcado
me rcê
me rci
me ca
me
"Sou todo seu"
eu
só sou
sou seu só
sou seu sol sol(to do) ser
sou seu sol solto seu sou todo
sou seu sol sol(to do) ser
sou seu só
só sou
eu
"Manhãzinha concreta" - Para Lídia Chaib.
a
am
ama
amanhã
a manhã
ama a manhã
am a a ma a ma a ma a
ama a manhã
a manhã
amanhã
ama
am
a
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Confissão"
"confissão"
engulo gullar
durmo com drummond
sou uma pessoa
ando muito a pé
pecador de ofício
dou tanta bandeira
na visão, dois campos
na razão, mil anjos
às quintas, quintana
que sei mais de mim?
descubro cabral
conto pra caminha
confesso a vieira
onde está waly?
no ar? nos túneis? nada!
eu, nunca? nem ela,
minha piva, adélia.
pra circe ou cecília?
os outros, os outros...
lamento, leminski!
engulo gullar
durmo com drummond
sou uma pessoa
ando muito a pé
pecador de ofício
dou tanta bandeira
na visão, dois campos
na razão, mil anjos
às quintas, quintana
que sei mais de mim?
descubro cabral
conto pra caminha
confesso a vieira
onde está waly?
no ar? nos túneis? nada!
eu, nunca? nem ela,
minha piva, adélia.
pra circe ou cecília?
os outros, os outros...
lamento, leminski!
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domingo, 19 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Oração" - Para Paulo Leminski.
"Oração" - Para Paulo Leminski.
Surja solto,
Ó poema,
Surja sol,
Ó poema,
Surja sem
Juras, ó
Meu poema,
Surja, só,
Sem esquema
Matemático,
Sem o tempo
De devir
Indevido,
Indivíduo,
Indizível,
Nessa lida,
Ó poema,
Surja já,
Supra-sumo,
Sempre sonho,
Só poema!
Surja solto,
Ó poema,
Surja sol,
Ó poema,
Surja sem
Juras, ó
Meu poema,
Surja, só,
Sem esquema
Matemático,
Sem o tempo
De devir
Indevido,
Indivíduo,
Indizível,
Nessa lida,
Ó poema,
Surja já,
Supra-sumo,
Sempre sonho,
Só poema!
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "O mar" - Para Péricles e Lídia.
"O mar" - Para Péricles e Lídia
amor sem muro
amor sem rumo
do amor, o sumo
amor só, puro
amor em onda
amor em nado
amor mudado
ó mar,responda!
o som do mar
amor de cor
colar calor
amalgamar
o sol domar
um som maior
mel do melhor
amado mar!
amor sem muro
amor sem rumo
do amor, o sumo
amor só, puro
amor em onda
amor em nado
amor mudado
ó mar,responda!
o som do mar
amor de cor
colar calor
amalgamar
o sol domar
um som maior
mel do melhor
amado mar!
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quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "o poema" - Para Antonio Cicero
"o poema" - Para Antonio Cicero
hoje o poema está
com a agenda lotada:
abrigou-se no tempo
do silêncio da sala,
não precisa louvar
mais nada, nem a flor
de lótus, nem a lógica
do agora, logaritmos,
sequer de ser as fórmulas.
o poema não quer
sorte ou sorteio - fez-se in-
traduzível, à face
do que está cheio, corre
o risco de ser só
vivo pensar, seu mundo
finca-se além, à tez
do que existe, consome-se,
e ao poeta resiste.
quer explodir o nexo,
feito uma dinamite, o
cerne de cada verso.
sem ceder à vontade
alheia, feito teia
de deserto, sem medo
de porvir, feito susto,
às vezes, tende a vir
de quimeras, abrupto.
com a agenda esgotada,
hoje o poema sabe-se:
abrigou-se no umbigo
do mistério da fala,
decantar não precisa
nem matéria nem alma.
sua mágica vale-se
de ver-se livre da
preguiça das sinapses.
hoje o poema está
com a agenda lotada:
abrigou-se no tempo
do silêncio da sala,
não precisa louvar
mais nada, nem a flor
de lótus, nem a lógica
do agora, logaritmos,
sequer de ser as fórmulas.
o poema não quer
sorte ou sorteio - fez-se in-
traduzível, à face
do que está cheio, corre
o risco de ser só
vivo pensar, seu mundo
finca-se além, à tez
do que existe, consome-se,
e ao poeta resiste.
quer explodir o nexo,
feito uma dinamite, o
cerne de cada verso.
sem ceder à vontade
alheia, feito teia
de deserto, sem medo
de porvir, feito susto,
às vezes, tende a vir
de quimeras, abrupto.
com a agenda esgotada,
hoje o poema sabe-se:
abrigou-se no umbigo
do mistério da fala,
decantar não precisa
nem matéria nem alma.
sua mágica vale-se
de ver-se livre da
preguiça das sinapses.
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segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Aos poucos. Um pouco"
"Aos poucos. Um pouco"
A face se faz
Aos poucos. Um pouco
De pó... Que rapaz
Mais voraz e louco!
Colore o nariz
De vermelho. Vive
A ouvir: Bis! Feliz...
Por um triz, não vive
O passado. À luz
De ser, o espetáculo
Em tudo reluz.
Disse-lhe um oráculo:
(Ou somente a voz
do coração?) Vale
A vida, essa foz,
A pena! Propale
O riso! De vez,
Refletiu: que faço?
E, sem timidez,
Vibrou: sou palhaço!
A face se faz
Aos poucos. Um pouco
De pó... Que rapaz
Mais voraz e louco!
Colore o nariz
De vermelho. Vive
A ouvir: Bis! Feliz...
Por um triz, não vive
O passado. À luz
De ser, o espetáculo
Em tudo reluz.
Disse-lhe um oráculo:
(Ou somente a voz
do coração?) Vale
A vida, essa foz,
A pena! Propale
O riso! De vez,
Refletiu: que faço?
E, sem timidez,
Vibrou: sou palhaço!
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sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "À deriva" - Para Fred Girauta
"À deriva" - Para Fred Girauta
Deixo o nexo
À deriva...
Solto sal-
To do céu
Nuvem viva
Nave ao léu
Queda livre
Quase c'al
Ma... Teria
Novo voo
Pouso perto:
Era um verso.
Deixo o nexo
À deriva...
Solto sal-
To do céu
Nuvem viva
Nave ao léu
Queda livre
Quase c'al
Ma... Teria
Novo voo
Pouso perto:
Era um verso.
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quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Valsa avulsa VIII" - Para Marcelo Diniz.
"Valsa avulsa VIII" - Para Marcelo Diniz.
expulso
do vácuo
do ventre
da foz
talvez
um útero
um cais
um cubo
um filtro
ou mais...
palpável
projeto
secreto
pra nada
expurgo
do fato
do feto
da voz
de vez
um número
a mais
um tubo
de vidro
mil ais...
provável
proveta
sagrada
pra tudo
no estúdio
do cérebro
abriga-se em
silêncio
a fera
sináptica a
quimera
perpétua
à espera
do aviso
elétrico:
'resista,
ó, verso!'
expulso
do vácuo
do ventre
da foz
talvez
um útero
um cais
um cubo
um filtro
ou mais...
palpável
projeto
secreto
pra nada
expurgo
do fato
do feto
da voz
de vez
um número
a mais
um tubo
de vidro
mil ais...
provável
proveta
sagrada
pra tudo
no estúdio
do cérebro
abriga-se em
silêncio
a fera
sináptica a
quimera
perpétua
à espera
do aviso
elétrico:
'resista,
ó, verso!'
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domingo, 5 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Do que não podemos"
"Do que não podemos"
Dizer a palavra
Que expresse a saudade
De ti... Toda a busca
Abrupta, por vida.
Mas não há saudade...
Há apenas um vácuo,
Um buraco negro
No âmago de tudo,
Entre os meus ventrículos,
Uma ideia de morte.
Então será mesmo
O nada? Silêncios...
Sucessivos sumos
Do que não podemos
Com o pensamento.
Dizer a palavra
Que expresse a saudade
De ti... Toda a busca
Abrupta, por vida.
Mas não há saudade...
Há apenas um vácuo,
Um buraco negro
No âmago de tudo,
Entre os meus ventrículos,
Uma ideia de morte.
Então será mesmo
O nada? Silêncios...
Sucessivos sumos
Do que não podemos
Com o pensamento.
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sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Aurora"
"Aurora"
Em todo infinito
Há um deus inscrito...
Invento o intervalo
Em que se esvaem os
Gritos de grafite.
Mas, de vez em quando,
Evito calá-los.
Berro alto, solto
Outros verbos, deixo
A língua liberta,
Sem amarra ou eixo.
Erato? Co' a lira
Ofertando os versos,
Recitando a vida
Para mim, contemplo-te.
Teus dedos imergem
Em meus dedos. Técnica e
Desejo. Teu flerte
Reflete o meu ver-te
Em mim. Poesia.
Registras quimeras
Nas folhas, e afago-as.
A morte? A impaciente.
Que não se apavore e
Dê-se convidada,
Descanse ao sofá
Da sala, sossegue,
Lance-se a um bom livro,
Enquanto preparo um
Café. É manhã!
Em todo infinito
Há um deus inscrito...
Invento o intervalo
Em que se esvaem os
Gritos de grafite.
Mas, de vez em quando,
Evito calá-los.
Berro alto, solto
Outros verbos, deixo
A língua liberta,
Sem amarra ou eixo.
Erato? Co' a lira
Ofertando os versos,
Recitando a vida
Para mim, contemplo-te.
Teus dedos imergem
Em meus dedos. Técnica e
Desejo. Teu flerte
Reflete o meu ver-te
Em mim. Poesia.
Registras quimeras
Nas folhas, e afago-as.
A morte? A impaciente.
Que não se apavore e
Dê-se convidada,
Descanse ao sofá
Da sala, sossegue,
Lance-se a um bom livro,
Enquanto preparo um
Café. É manhã!
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quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Ars Poetica"
"Ars Poetica"
O pêndulo
Do pensamento
Apenas pesa o
Poema.
Ó, que prazer
É não poder
Em mim prever
As consequências!
O pêndulo
Do pensamento
Apenas pesa o
Poema.
Ó, que prazer
É não poder
Em mim prever
As consequências!
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quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Adriano Nunes: "Prescrição" - Para Péricles Cavalcanti
"Prescrição" - Para Péricles Cavalcanti
Entre um verso e outro, vou
Percebendo o quanto sou
Solto: por vezes, alço voo...
Invento um cérebro novo.
Onde fica o fim do poço?
Vejo que nada mais ouço.
Traços ou troços? Bem, roço
O eco do ser, arcabouço
De um mundo e outro. Talvez,
Um pouco de mim, de vez.
Mas com quanta lucidez,
Sou eu do encéfalo à tez?
Entre um verso e outro, vou
Percebendo o quanto sou
Solto: por vezes, alço voo...
Invento um cérebro novo.
Onde fica o fim do poço?
Vejo que nada mais ouço.
Traços ou troços? Bem, roço
O eco do ser, arcabouço
De um mundo e outro. Talvez,
Um pouco de mim, de vez.
Mas com quanta lucidez,
Sou eu do encéfalo à tez?
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Adriano Nunes: "O dia em que Maria perdeu o juízo"
"O dia em que Maria perdeu o juízo"
Nenhuma paixão tem tanto poder a ponto de dominar uma alma e subjugá-la. Nem as etéreas. Nem as transcendentais. Assim pensava Maria enquanto tecia comedidamente o seu enxoval. O casamento está próximo. Não posso ficar perdendo tempo com sonhos infantis e ingênuos. Que falta ainda, meu Deus?
Se pudéssemos tocar e sentir todos esses tecidos, todas essas vestimentas, todos os adereços, compreenderíamos bem por que Maria estava há três dias sem sair de casa.
Sua máquina de costurar era de uma antiguidade herdada da sua avó, mas as idéias de Maria calhavam com a modernidade dos acontecimentos peremptórios do seu tempo e até mais além. Cada peça era cosida formidável e implacavelmente como se deusas gregas tivessem engendrado uma disputa contemporânea entre Maria e Aracne. Nada, nenhum detalhe passava despercebido por seus dedos e olhos. O seu vestido de noiva refletia a realeza de uma grande cerimônia, algo incomum para uma cidadezinha como Campos Floridos. Maria de tão cansada adormecera.
Noite boa é aquela em que a farra se perpetua além da madrugada. Os amigos de Zé sabem disso como se tivessem decorado a cartilha do ABC e aquelas regras gramaticais primárias de acentuação gráfica. Todas as proparoxítonas são acentuadas! E o riso invadia rostos e almas ululantes.
--Juca, traz mais uma!
--Beleza, Zé!
Véspera de casamento. Despedida de solteiro. Embriaguez assídua. Desejos e taras à tona. Conversas paralelas. Flertes alcoólicos e perigosas frases de efeito postas à mesa como um petisco cheio de libido. Passavam das onze... Desde cedo esse grupo de mancebos confraternizava-se.
Não só homens estavam ali. Algumas garotas se juntaram à reunião festiva e deliciosamente divertida. Amantes, paqueras, as noturnas, ex-namoradas, as que remoem dividendos e multiplicam rancores... E também os homem que, à socapa, ardem de desejo por outros homens. Secretamente e sem tino, a essa altura, todos se desvencilharam das regras. As brincadeiras deram lugar a jogos da verdade os quais evocam um erotismo comum em mesas de bares.
O sono de Maria era uma nebulosa, um vestígio de morte insípida e colorida. As pálpebras cerradas, cortinas opacas para o mundo dos sentidos e das perdas, tremiam e oscilavam entre as descobertas que só os espíritos conseguem quando estão nesse estado de torpor ilusório. Maria começara a sonhar.
Que angústia, nesse instante, trucidava agressivamente o seu coração? Uma taquicardia súbita e regular fez com que o sangue alcançasse ao cérebro como as águas que despencam de uma cascata e chocam-se com as pedras e a areia embaixo. O cérebro de Maria encheu-se de sinapses confusas e divisoras de momentos. Pensou...
Ou melhor, sonhou que o seu casamento poria um fim em sua liberdade, que estaria para sempre numa redoma de vínculos morais, que acordaria às cinco da manhã diariamente e prepararia o café para o seu esposo, que cozinharia e que lavaria pratos e roupas sem poder descansar, que perderia as amigas, que as conversas femininas iriam ficar restritamente relacionadas às outras mulheres casadas e cansadas, muitas das quais arrependidas, outras atemporais e felizes. Que engordaria, que ficaria velha, que seria traída...
O sonho ia tomando forma e matizes próprios. Maria se viu na hora do "sim" em pleno altar, cercada de gente sorrindo e chorando e se projetou sorrindo e chorando e, mesmo dormindo, uma lágrima caiu fugindo dos olhos ou do destino que está por vir. O sono era um coma e o sonho, um túmulo.
A despedida de solteiro rompera a manhãzinha. Se orgias ocorreram, não sei dizer. Dormi o sono de Maria e pus-me a ficar em sua mente. Zé era alegria e medo... O álcool forte das intempestivas ações carnais dominara o seu corpo e seus impulsos eram tigres famintos. Jorraram gozos e uma sujeira de pernas, braços, órgãos, mãos, bocas e olhos se arquitetaram num espetáculo de decisiva hora: o casamento se aproxima!
Bêbado, barba mal feita, hálito cetônico, olhos avermelhados e uma cefaléia pulsátil fizeram com que Zé se apressasse lentamente do seu próximo mundo, da sua embriagada nova vida, de cama de casal, de comidinha pronta, de alianças trocadas... Do Seu Zé da Dona Maria!
O susto de ter que levar uma vida quase vazia despertou Maria. Sem saber que escolha fazer, ela olhou para o relógio e percebeu que só faltavam duas horas para o seu casamento. Quis correr contra o tempo. Não, quis parar os ponteiros. Desesperava-se com seus medos e dúvidas. Imaginou rasgar o vestido e o véu e queimar o buquê.
Sentou-se na cama. Um sorriso, nunca antes visto, acrescentou à sua face delicada um aspecto irônico e sem motivação. Quis voltar no tempo e lembrou-se dos namorados que teve. Zé era o melhor deles. Fora o escolhido. Esse era o momento de confirmar as dúvidas e deliciar-se com o prazer de tê-lo até que a morte os separasse. Maria vestida de noiva era uma dádiva de Hera.
A cerimônia foi relâmpago. Os convidados logo se dispersaram. Os sons agora são os gemidos e sussurros do sexo convulsivo de uma tarde ensolarada de núpcias. Maria gozou alucinadamente. Sabe que fez a escolha mais adequada. Seus mamilos eriçados, quase pétreos, recebem a língua e a saliva de Zé. Delira.
O ventilador não consegue esfriar o calor do vai-e-vem das objetividades corpóreas e fluidas. Maria perdera o juízo e a sua loucura fizera-lhe feliz e mulher.
Nenhuma paixão tem tanto poder a ponto de dominar uma alma e subjugá-la. Nem as etéreas. Nem as transcendentais. Assim pensava Maria enquanto tecia comedidamente o seu enxoval. O casamento está próximo. Não posso ficar perdendo tempo com sonhos infantis e ingênuos. Que falta ainda, meu Deus?
Se pudéssemos tocar e sentir todos esses tecidos, todas essas vestimentas, todos os adereços, compreenderíamos bem por que Maria estava há três dias sem sair de casa.
Sua máquina de costurar era de uma antiguidade herdada da sua avó, mas as idéias de Maria calhavam com a modernidade dos acontecimentos peremptórios do seu tempo e até mais além. Cada peça era cosida formidável e implacavelmente como se deusas gregas tivessem engendrado uma disputa contemporânea entre Maria e Aracne. Nada, nenhum detalhe passava despercebido por seus dedos e olhos. O seu vestido de noiva refletia a realeza de uma grande cerimônia, algo incomum para uma cidadezinha como Campos Floridos. Maria de tão cansada adormecera.
Noite boa é aquela em que a farra se perpetua além da madrugada. Os amigos de Zé sabem disso como se tivessem decorado a cartilha do ABC e aquelas regras gramaticais primárias de acentuação gráfica. Todas as proparoxítonas são acentuadas! E o riso invadia rostos e almas ululantes.
--Juca, traz mais uma!
--Beleza, Zé!
Véspera de casamento. Despedida de solteiro. Embriaguez assídua. Desejos e taras à tona. Conversas paralelas. Flertes alcoólicos e perigosas frases de efeito postas à mesa como um petisco cheio de libido. Passavam das onze... Desde cedo esse grupo de mancebos confraternizava-se.
Não só homens estavam ali. Algumas garotas se juntaram à reunião festiva e deliciosamente divertida. Amantes, paqueras, as noturnas, ex-namoradas, as que remoem dividendos e multiplicam rancores... E também os homem que, à socapa, ardem de desejo por outros homens. Secretamente e sem tino, a essa altura, todos se desvencilharam das regras. As brincadeiras deram lugar a jogos da verdade os quais evocam um erotismo comum em mesas de bares.
O sono de Maria era uma nebulosa, um vestígio de morte insípida e colorida. As pálpebras cerradas, cortinas opacas para o mundo dos sentidos e das perdas, tremiam e oscilavam entre as descobertas que só os espíritos conseguem quando estão nesse estado de torpor ilusório. Maria começara a sonhar.
Que angústia, nesse instante, trucidava agressivamente o seu coração? Uma taquicardia súbita e regular fez com que o sangue alcançasse ao cérebro como as águas que despencam de uma cascata e chocam-se com as pedras e a areia embaixo. O cérebro de Maria encheu-se de sinapses confusas e divisoras de momentos. Pensou...
Ou melhor, sonhou que o seu casamento poria um fim em sua liberdade, que estaria para sempre numa redoma de vínculos morais, que acordaria às cinco da manhã diariamente e prepararia o café para o seu esposo, que cozinharia e que lavaria pratos e roupas sem poder descansar, que perderia as amigas, que as conversas femininas iriam ficar restritamente relacionadas às outras mulheres casadas e cansadas, muitas das quais arrependidas, outras atemporais e felizes. Que engordaria, que ficaria velha, que seria traída...
O sonho ia tomando forma e matizes próprios. Maria se viu na hora do "sim" em pleno altar, cercada de gente sorrindo e chorando e se projetou sorrindo e chorando e, mesmo dormindo, uma lágrima caiu fugindo dos olhos ou do destino que está por vir. O sono era um coma e o sonho, um túmulo.
A despedida de solteiro rompera a manhãzinha. Se orgias ocorreram, não sei dizer. Dormi o sono de Maria e pus-me a ficar em sua mente. Zé era alegria e medo... O álcool forte das intempestivas ações carnais dominara o seu corpo e seus impulsos eram tigres famintos. Jorraram gozos e uma sujeira de pernas, braços, órgãos, mãos, bocas e olhos se arquitetaram num espetáculo de decisiva hora: o casamento se aproxima!
Bêbado, barba mal feita, hálito cetônico, olhos avermelhados e uma cefaléia pulsátil fizeram com que Zé se apressasse lentamente do seu próximo mundo, da sua embriagada nova vida, de cama de casal, de comidinha pronta, de alianças trocadas... Do Seu Zé da Dona Maria!
O susto de ter que levar uma vida quase vazia despertou Maria. Sem saber que escolha fazer, ela olhou para o relógio e percebeu que só faltavam duas horas para o seu casamento. Quis correr contra o tempo. Não, quis parar os ponteiros. Desesperava-se com seus medos e dúvidas. Imaginou rasgar o vestido e o véu e queimar o buquê.
Sentou-se na cama. Um sorriso, nunca antes visto, acrescentou à sua face delicada um aspecto irônico e sem motivação. Quis voltar no tempo e lembrou-se dos namorados que teve. Zé era o melhor deles. Fora o escolhido. Esse era o momento de confirmar as dúvidas e deliciar-se com o prazer de tê-lo até que a morte os separasse. Maria vestida de noiva era uma dádiva de Hera.
A cerimônia foi relâmpago. Os convidados logo se dispersaram. Os sons agora são os gemidos e sussurros do sexo convulsivo de uma tarde ensolarada de núpcias. Maria gozou alucinadamente. Sabe que fez a escolha mais adequada. Seus mamilos eriçados, quase pétreos, recebem a língua e a saliva de Zé. Delira.
O ventilador não consegue esfriar o calor do vai-e-vem das objetividades corpóreas e fluidas. Maria perdera o juízo e a sua loucura fizera-lhe feliz e mulher.
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CONTO
Adriano Nunes: "Cabeça, traços e membros"
"Cabeça, traços e membros"
A ereção súbita fez Dimitri suspirar e pensamentos libidinosos e recheados de tara invadiram a sua mente. Ser vassalo dos desejos inconscientes, numa hora dessas, deitado na cama, apenas de cueca, depois de um dia intenso e de preocupações, proporcionou aos corpos esponjoso e cavernoso uma dilatação prazerosa.
As mãos inicialmente tímidas roçaram os pelos pélvicos que, como uma trilha, alcançavam um emaranhado de outros pelos suados. Um vai-e-vem de alisamentos e de toques, de batidas rápidas e de delírios visuais concretizou o êxtase. Deliciosos ais e jargões vulgares completaram o espetáculo. Cecile era mesmo capaz de ter participado desse cinema secreto e voluptuoso?
Os encontros casuais não eram suficientes para acalmar a alma de Dimitri. Ele compreendia que possuir alguém, como espectro, não sacia vontades e não devolve a certeza de que sonhos podem tornar-se reais. O trabalho diário, as visitas à mãe aos domingos, o futebol, os jogos de baralho, a cerveja e toda a sujeira dos bordéis violentamente não eram decisivos para a sua felicidade.
Um vazio insólito, uma intranquilidade contemporânea, uma solidez solitária, um vagar atrás de quem possa se enquadrar em seu mundo de perspectivas, tudo era só ruína e desalento. Faltava Cecile!
Compromissada com os estudos, sua vida nada tinha de esplendor ou descomedidas aventuras amorosas. Suas paixões eram os livros e os discos. Gostava de pôr na vitrola um disco de Caetano, Araçá Azul, e ficar horas e horas repetindo as músicas e encantando-se com o que fora feito "para entendidos".
Ou deliciava-se com as imagens cruas e secas quando bebia de João Cabral de Melo Neto. Nunca reparava em homem algum a não ser os dos romances franceses e das tragédias gregas e shakespearianas. Amar era uma vaidade ilusória que não calhava com seus planos profissionais e pessoais.
Queria ser uma jornalista ou uma arquiteta. Desvencilhava-se das atividades burocráticas e cheias de inveja e disputas por ascensão.
Se naquele instante Dimitri tivesse admitido que a amava há muito tempo, tudo também não estaria resolvido como não está agora. Seus dotes sexuais, seu cheiro de macho copulador, sua mandíbula, todo o seu corpanzil, a sua virilidade explícita, nada mesmo e nem os seus olhinhos brilhantes, faróis mais perdidos que os navios de sua alma, conseguiriam atrair Cecile para seu nicho de sentimentos puros e veementemente carnais.
O tempo passou e Cecile sequer se lembra de como foi abordada por aquele homem, por aquela cantada insípida e incolor.
Vidas opostas. Desejo único e agressivo invadindo corpo e espírito. Carreira profissional, diploma, felicitações, viagens, culpas, desesperos. Cecile já não se encontra à vista. Partira em busca de seus ideais.
Queria ser entendida. Arquitetara seus estudos numa batalha jornalística e a grande Capital abraçara o seu esforço e a sua determinação. Chegara a flertar com alguns garotos da turma, mas sempre sentia que ainda não lhe era permitido traçar por paixões infantis, meramente tentadoras de gozo certo, contínuo.
Se a masturbação era a conquista do objeto não possuído, Dimitri não economizava em suas tentativas vãs e alicerçadas de finalidades com clímax e êxtases. Gozava a felicidade de ser bem dotado e de satisfazer todas as suas amantes sem que o amor atracasse em seu coração.
Sexo era o ato de sentir que a sua potência proporcionava às mulheres um delírio indizível e imensurável. Cada gota de suor e sêmen transcendiam ao pedido daquelas que imploravam por algo a mais...
Quero você para sempre! Você é tudo de bom! Serei eternamente a sua amante! Frases sem força ou impulso que não o impressionavam. Apenas sorria e uma alegria momentânea assombrava o seu semblante.
Festa de reencontro com amigas é a dádiva cotidiana das ações humanas. Saudade sempre mata a gente quando não existe mais. Rever é bem mais intenso do que perder de vista. Sorrisos e novidades, detalhes de como é uma grande cidade, sobre os homens e as mulheres, moda, culinárias, cinemas e baladas...
Tudo sob a ilusão de que já não adiantam pedidos de regresso ou de estada definitiva. Cecile voltara para visitar os pais. Solteira ainda. Leve libélula. Dimitri a viu de longe. Não teve empolgação. Continuava amante de muitas...
A ereção súbita fez Dimitri suspirar e pensamentos libidinosos e recheados de tara invadiram a sua mente. Ser vassalo dos desejos inconscientes, numa hora dessas, deitado na cama, apenas de cueca, depois de um dia intenso e de preocupações, proporcionou aos corpos esponjoso e cavernoso uma dilatação prazerosa.
As mãos inicialmente tímidas roçaram os pelos pélvicos que, como uma trilha, alcançavam um emaranhado de outros pelos suados. Um vai-e-vem de alisamentos e de toques, de batidas rápidas e de delírios visuais concretizou o êxtase. Deliciosos ais e jargões vulgares completaram o espetáculo. Cecile era mesmo capaz de ter participado desse cinema secreto e voluptuoso?
Os encontros casuais não eram suficientes para acalmar a alma de Dimitri. Ele compreendia que possuir alguém, como espectro, não sacia vontades e não devolve a certeza de que sonhos podem tornar-se reais. O trabalho diário, as visitas à mãe aos domingos, o futebol, os jogos de baralho, a cerveja e toda a sujeira dos bordéis violentamente não eram decisivos para a sua felicidade.
Um vazio insólito, uma intranquilidade contemporânea, uma solidez solitária, um vagar atrás de quem possa se enquadrar em seu mundo de perspectivas, tudo era só ruína e desalento. Faltava Cecile!
Compromissada com os estudos, sua vida nada tinha de esplendor ou descomedidas aventuras amorosas. Suas paixões eram os livros e os discos. Gostava de pôr na vitrola um disco de Caetano, Araçá Azul, e ficar horas e horas repetindo as músicas e encantando-se com o que fora feito "para entendidos".
Ou deliciava-se com as imagens cruas e secas quando bebia de João Cabral de Melo Neto. Nunca reparava em homem algum a não ser os dos romances franceses e das tragédias gregas e shakespearianas. Amar era uma vaidade ilusória que não calhava com seus planos profissionais e pessoais.
Queria ser uma jornalista ou uma arquiteta. Desvencilhava-se das atividades burocráticas e cheias de inveja e disputas por ascensão.
Se naquele instante Dimitri tivesse admitido que a amava há muito tempo, tudo também não estaria resolvido como não está agora. Seus dotes sexuais, seu cheiro de macho copulador, sua mandíbula, todo o seu corpanzil, a sua virilidade explícita, nada mesmo e nem os seus olhinhos brilhantes, faróis mais perdidos que os navios de sua alma, conseguiriam atrair Cecile para seu nicho de sentimentos puros e veementemente carnais.
O tempo passou e Cecile sequer se lembra de como foi abordada por aquele homem, por aquela cantada insípida e incolor.
Vidas opostas. Desejo único e agressivo invadindo corpo e espírito. Carreira profissional, diploma, felicitações, viagens, culpas, desesperos. Cecile já não se encontra à vista. Partira em busca de seus ideais.
Queria ser entendida. Arquitetara seus estudos numa batalha jornalística e a grande Capital abraçara o seu esforço e a sua determinação. Chegara a flertar com alguns garotos da turma, mas sempre sentia que ainda não lhe era permitido traçar por paixões infantis, meramente tentadoras de gozo certo, contínuo.
Se a masturbação era a conquista do objeto não possuído, Dimitri não economizava em suas tentativas vãs e alicerçadas de finalidades com clímax e êxtases. Gozava a felicidade de ser bem dotado e de satisfazer todas as suas amantes sem que o amor atracasse em seu coração.
Sexo era o ato de sentir que a sua potência proporcionava às mulheres um delírio indizível e imensurável. Cada gota de suor e sêmen transcendiam ao pedido daquelas que imploravam por algo a mais...
Quero você para sempre! Você é tudo de bom! Serei eternamente a sua amante! Frases sem força ou impulso que não o impressionavam. Apenas sorria e uma alegria momentânea assombrava o seu semblante.
Festa de reencontro com amigas é a dádiva cotidiana das ações humanas. Saudade sempre mata a gente quando não existe mais. Rever é bem mais intenso do que perder de vista. Sorrisos e novidades, detalhes de como é uma grande cidade, sobre os homens e as mulheres, moda, culinárias, cinemas e baladas...
Tudo sob a ilusão de que já não adiantam pedidos de regresso ou de estada definitiva. Cecile voltara para visitar os pais. Solteira ainda. Leve libélula. Dimitri a viu de longe. Não teve empolgação. Continuava amante de muitas...
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segunda-feira, 30 de agosto de 2010
ADRIANO NUNES: "Boletim de Ocorrência"
"Boletim de Ocorrência"
Que pobre rima!
Que pobre rima!
Um verso branco,
Um saltimbanco,
Andando manco...
(Com pé quebrado?)
Agora mesmo,
Furtou-lhe o fim!
Que pobre rima!
Que pobre rima!
Um verso branco,
Um saltimbanco,
Andando manco...
(Com pé quebrado?)
Agora mesmo,
Furtou-lhe o fim!
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POEMA
sábado, 28 de agosto de 2010
ADRIANO NUNES: "instante"
"instante"
pequeno ou
gigante,
o instante
não teme
aqui
estar.
ai, falta um
segundo
pra o fim
do frêmito
do adeus
à deusa
Metáfora!
o instante...
gratuito,
eterno,
rebento
do cérebro.
pequeno ou
gigante,
o instante
não teme
aqui
estar.
ai, falta um
segundo
pra o fim
do frêmito
do adeus
à deusa
Metáfora!
o instante...
gratuito,
eterno,
rebento
do cérebro.
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010
ADRIANO NUNES: "FARPAS, CARTAS E REVERBERAÇõES"
"FARPAS, CARTAS E REVERBERAÇÕES" - de Adriano Nunes.
O sono não vem. Penso em como te pedir desculpas, por isso a nebulosa de tédio e enxofre não é capaz de fazer com que as minhas pálpebras caiam súbitas e encerrem o espetáculo de cores e matizes que compôs o meu dia. Não sei o que ainda me atormenta. Não ensaiei coisa alguma. Sei apenas que iria dizer-te como tudo se processou, como não poderia ter acontecido, como poderíamos ter evitado os desassossegos e as amarguras, como as mentiras não teriam força, como chegaríamos aos clichês de sempre sem que saíssemos machucados ou desconfiados de que era mesmo uma reprise, uma conversa banal, um mal-entendido.
O travesseiro foi jogado às infinitas dimensões da solidão. Levantei-me e, como um cágado, consegui alcançar o botão mágico que faria dessa noite um dia de sol em meu quarto. A claridade doeu-me na retina. Assustei-me. Estou exausto. Sou a bola de tênis, o vai-e-vem veloz que a qualquer momento mudará de trajetória. Ponho as mãos à testa e um frio me invade.
Por que insisto em pedir-te desculpas? Por que não esqueço as horas e ponho-me no vazio das incertezas do que possam vir a ser as incertezas, os erros e as entrelinhas? E se o jogo terminar por falta de quem está por competir? E se não houver jogo e as bolas só existem para que eu possa acreditar que há a relatividade dessa existência? E se não me perdoares por eu dizer-te o que eu não supus ser o essencial e o tudo-nada do pensamento ficar mudo? Cento e vinte batimentos! Esse dever ser o meu coração!
Desculpas? Perdão? Ah! Deves-me também se confrontarmos os fatos e as exatas tempestades de conchavos que alcançaram o meu lobo temporal enquanto a tua ausência se revestia de sonho e fidelidade. Então terei eu que aceitar todas as notícias advindas das trevas, que conciliar o meu espírito com a minha dúvida, apaziguar o meu coração e destruir os vestígios de uma traição só por que argumentas que a minha audácia e o meu ciúme são monstros, que as minhas idéias são corais verdadeiras, que as minhas suspeitas são humanamente iguais às de Otelo?
Não sei se a insônia me tem por eu não conseguir explicar-me ou por saber demasiado que fui traído.
Júlia bem que poderia nada ter comentado comigo. Mas naquele instante, naquele segundo insólito, todo aquele movimento, toda aquela minha saudade, todos os lances da vida noturna, as doses de tequila, a música e... Eu sabia! Eu sabia!
O amor não suporta carregar o Everest, não agüenta as armadilhas do desejo e da solidão, não resiste às artimanhas dos olhos e dos lábios, os toques ardentes das mãos, dos sussurros, dos dias passando como favônios e cercando a superfícies de portentos e novidades. Eu sabia!
Clara alimentou os leões que agora me devoram. Por que acreditei que duraríamos eternidades? Por que fizemos juras secretas, furamos os dedos, tatuamos nossos corpos, gritamos alto e ecoamos únicos, transamos nas escadas, em elevadores, em becos escuros, em casas de amigos e parentes, deixando rastros de gozo e preservativos, nossos pecados e nossa saúde, por aí? Que a mágoa de ti não me torture nessa madrugada.
Os ponteiros do relógio giram como hélices de ventilador. Nocauteia-me o sono. Estou preso ao que dizer sem entender cegamente o que é real ou malícia. Talvez essa carta resolva a minha inconstância, a minha carapaça de Minotauro arrependido... Que lamúria? Que farpa? Que prova? Não sei.
Clara! Clara! Clara! Um tormento de dissabores consome o meu ser. Desespero-me. Sou fraco. Tenho que aceitar estar convencido. O amor sempre vence? Os dragões do amanhecer rasgam o céu com o seu fogo solar. Deus não pestaneja. Decido começar a carta. As palavras somem como se estivessem contaminadas por meu cansaço e meu sono.
O meu vôo sai às oito e meia. Melhor seria não ir, mas o tempo de reparação já não mais permite vacilo. Concluo o escrito e o envelope é lacrado com lágrimas de insegurança e medo. São cinco e quarenta e cinco. O táxi me aguarda com sua buzina ululante.
O sono não vem. Penso em como te pedir desculpas, por isso a nebulosa de tédio e enxofre não é capaz de fazer com que as minhas pálpebras caiam súbitas e encerrem o espetáculo de cores e matizes que compôs o meu dia. Não sei o que ainda me atormenta. Não ensaiei coisa alguma. Sei apenas que iria dizer-te como tudo se processou, como não poderia ter acontecido, como poderíamos ter evitado os desassossegos e as amarguras, como as mentiras não teriam força, como chegaríamos aos clichês de sempre sem que saíssemos machucados ou desconfiados de que era mesmo uma reprise, uma conversa banal, um mal-entendido.
O travesseiro foi jogado às infinitas dimensões da solidão. Levantei-me e, como um cágado, consegui alcançar o botão mágico que faria dessa noite um dia de sol em meu quarto. A claridade doeu-me na retina. Assustei-me. Estou exausto. Sou a bola de tênis, o vai-e-vem veloz que a qualquer momento mudará de trajetória. Ponho as mãos à testa e um frio me invade.
Por que insisto em pedir-te desculpas? Por que não esqueço as horas e ponho-me no vazio das incertezas do que possam vir a ser as incertezas, os erros e as entrelinhas? E se o jogo terminar por falta de quem está por competir? E se não houver jogo e as bolas só existem para que eu possa acreditar que há a relatividade dessa existência? E se não me perdoares por eu dizer-te o que eu não supus ser o essencial e o tudo-nada do pensamento ficar mudo? Cento e vinte batimentos! Esse dever ser o meu coração!
Desculpas? Perdão? Ah! Deves-me também se confrontarmos os fatos e as exatas tempestades de conchavos que alcançaram o meu lobo temporal enquanto a tua ausência se revestia de sonho e fidelidade. Então terei eu que aceitar todas as notícias advindas das trevas, que conciliar o meu espírito com a minha dúvida, apaziguar o meu coração e destruir os vestígios de uma traição só por que argumentas que a minha audácia e o meu ciúme são monstros, que as minhas idéias são corais verdadeiras, que as minhas suspeitas são humanamente iguais às de Otelo?
Não sei se a insônia me tem por eu não conseguir explicar-me ou por saber demasiado que fui traído.
Júlia bem que poderia nada ter comentado comigo. Mas naquele instante, naquele segundo insólito, todo aquele movimento, toda aquela minha saudade, todos os lances da vida noturna, as doses de tequila, a música e... Eu sabia! Eu sabia!
O amor não suporta carregar o Everest, não agüenta as armadilhas do desejo e da solidão, não resiste às artimanhas dos olhos e dos lábios, os toques ardentes das mãos, dos sussurros, dos dias passando como favônios e cercando a superfícies de portentos e novidades. Eu sabia!
Clara alimentou os leões que agora me devoram. Por que acreditei que duraríamos eternidades? Por que fizemos juras secretas, furamos os dedos, tatuamos nossos corpos, gritamos alto e ecoamos únicos, transamos nas escadas, em elevadores, em becos escuros, em casas de amigos e parentes, deixando rastros de gozo e preservativos, nossos pecados e nossa saúde, por aí? Que a mágoa de ti não me torture nessa madrugada.
Os ponteiros do relógio giram como hélices de ventilador. Nocauteia-me o sono. Estou preso ao que dizer sem entender cegamente o que é real ou malícia. Talvez essa carta resolva a minha inconstância, a minha carapaça de Minotauro arrependido... Que lamúria? Que farpa? Que prova? Não sei.
Clara! Clara! Clara! Um tormento de dissabores consome o meu ser. Desespero-me. Sou fraco. Tenho que aceitar estar convencido. O amor sempre vence? Os dragões do amanhecer rasgam o céu com o seu fogo solar. Deus não pestaneja. Decido começar a carta. As palavras somem como se estivessem contaminadas por meu cansaço e meu sono.
O meu vôo sai às oito e meia. Melhor seria não ir, mas o tempo de reparação já não mais permite vacilo. Concluo o escrito e o envelope é lacrado com lágrimas de insegurança e medo. São cinco e quarenta e cinco. O táxi me aguarda com sua buzina ululante.
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quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Adriano Nunes: "Sinusal"
"Sinusal"
uma estrela ou
uma estrada:
qualquer tralha ou
qualquer trilha?
lá do céu,
lá de casa,
onde lança-se
a palavra.
lá de cima,
aqui dentro um
pensamento:
quase nada.
um estrondo,
um estralo um
lapso no
coração.
uma escala ou
uma escolha:
qualquer ômega ou
qualquer âmago?
lá de longe,
lá do lar,
onde more
a metáfora.
lá do teto,
aqui mesmo um
Sentimento:
Sempre nada.
um estouro,
um estrago um-
a elegia
à razão.
uma estrela ou
uma estrada:
qualquer tralha ou
qualquer trilha?
lá do céu,
lá de casa,
onde lança-se
a palavra.
lá de cima,
aqui dentro um
pensamento:
quase nada.
um estrondo,
um estralo um
lapso no
coração.
uma escala ou
uma escolha:
qualquer ômega ou
qualquer âmago?
lá de longe,
lá do lar,
onde more
a metáfora.
lá do teto,
aqui mesmo um
Sentimento:
Sempre nada.
um estouro,
um estrago um-
a elegia
à razão.
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terça-feira, 24 de agosto de 2010
ADRIANO NUNES/TIAGO TORRES DA SILVA: "momento zero"
"momento zero " - Tiago Torres da Silva/Adriano Nunes.
quando?
a qualquer instante sangrante
do
próximo milésimo de se-
gun-
do.
o próximo se-
gun-
do
é o menor infinito que há
no mun-
do.
o mundo
de
um segundo
não
cabe no eu
mais
profun-
do.
o eu
mais
pro-
fun-
do não
cabe no
maior infinito.
o que há
entre tudo
isto é
que é,
no fun-
do,
bonito!
quando?
a qualquer instante sangrante
do
próximo milésimo de se-
gun-
do.
o próximo se-
gun-
do
é o menor infinito que há
no mun-
do.
o mundo
de
um segundo
não
cabe no eu
mais
profun-
do.
o eu
mais
pro-
fun-
do não
cabe no
maior infinito.
o que há
entre tudo
isto é
que é,
no fun-
do,
bonito!
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domingo, 22 de agosto de 2010
ADRIANO NUNES: "Textura" - Para Mirze Souza.
"Textura" - Para Mirze Souza.
Do
Meu
Coração
Ao
Seu
Reflexo
Seu
Sou
Ou
Não
Sou
Nada
Sou
Esse
Espelho
Sem
Prata.
Do
Meu
Coração
Ao
Seu
Reflexo
Seu
Sou
Ou
Não
Sou
Nada
Sou
Esse
Espelho
Sem
Prata.
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sábado, 21 de agosto de 2010
Adriano Nunes: "Arte poética" - Para Antonio Cicero
"Arte poética" - Para Antonio Cicero
O poema só
Surge quando quer,
Com razão. Qualquer
Dia desses, só-
Brio, ganharei
Toda a sua luz.
Isso não traduz
Fuga alguma: é lei,
Entre as muitas musas,
O cérebro ver-
Ter formas confusas
De sinapses, ver
As ideias reclusas,
Fora do viver.
O poema só
Surge quando quer,
Com razão. Qualquer
Dia desses, só-
Brio, ganharei
Toda a sua luz.
Isso não traduz
Fuga alguma: é lei,
Entre as muitas musas,
O cérebro ver-
Ter formas confusas
De sinapses, ver
As ideias reclusas,
Fora do viver.
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Adriano Nunes: "Transe"
"Transe"
Trans
Tornado
Trans
Formado
Trans
Fixado
Trans
Atlântico
Em trânsito...
Por dentro
Do ópio
Do âmago.
Trans
Tornado
Trans
Formado
Trans
Fixado
Trans
Atlântico
Em trânsito...
Por dentro
Do ópio
Do âmago.
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sexta-feira, 20 de agosto de 2010
ADRIANO NUNES: "diáspora" - Para Augusto de Campos.
"diáspora" - Para Augusto de Campos.
)))))))))tiro
)))))))))tudo
))))))))))))do infini((((((((((t
o))))))))tudo
))))))))))))do vác((((((((((((u
o))))))))tudo
))))))))))))do to(((((((((((((d
o))))))))tudo
))))))))))))do temp(((((((((o
de))))))tudo
))r((((e ))))
t i r o - m e
)))))))))tiro
)))))))))tudo
))))))))))))do infini((((((((((t
o))))))))tudo
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o))))))))tudo
))))))))))))do to(((((((((((((d
o))))))))tudo
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t i r o - m e
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Adriano Nunes: "Pirâmide" - Para Leo Cavalcanti
"Pirâmide" - Para Leo Cavalcanti
Do córtex,
O feixe
Entona a
Re vir
A volta
Motora
Cruzada.
Que deixe
O nex
O vir
À tona: a
O agora a
O nada
Em volta.
Do córtex,
O feixe
Entona a
Re vir
A volta
Motora
Cruzada.
Que deixe
O nex
O vir
À tona: a
O agora a
O nada
Em volta.
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